tag:blogger.com,1999:blog-63751712577345391292024-03-13T12:20:25.377-03:00Sem LeriadoPor: Roberto HomemRoberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.comBlogger110125tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-31935160603482615212013-10-11T08:40:00.001-03:002013-10-11T08:44:24.176-03:00Entrevista: Valdir Julião<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 26.0pt;">O
OPERÁRIO DA NOTÍCIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-GUEQFaW8ylk/UlffuQw0aHI/AAAAAAAABYs/1hcqDiOQOOA/s1600/DSC_0009.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-GUEQFaW8ylk/UlffuQw0aHI/AAAAAAAABYs/1hcqDiOQOOA/s320/DSC_0009.JPG" width="320" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">José
Valdir Julião comemora, em fevereiro de 2014, 35 anos de jornalismo. Apesar de
há quase três décadas e meia estar correndo atrás da notícia para bem informar
aos seus leitores, esse cerro-coraense ainda não demonstra sinais de cansaço. Ao
contrário: ele continua tão entusiasmado com o que faz que sequer cogita trocar
a caderneta de anotações e o gravador – ferramentas que utiliza para arrancar
as declarações que se transformarão em manchete do dia seguinte – por softwares
manuseados pelos editores como Quark Express e Pagemaker. A conversa com Julião
ocorreu via Skype, no comecinho da noite de uma sexta-feira. Convido o leitor a
acompanhar a história que Julião me contou. </span>Os créditos das fotos são de João Maria Alves, o primeiro fotojornalista sindicalizado do Rio Grande do Norte. <span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">(robertohomem@gmail.com)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Antes de
qualquer coisa, quero registrar que essas entrevistas que o <i>Zona Sul </i>tem publicado </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">são maravilhosas.
Por aqui já passou gente de todo o tipo: tanto pessoas humildes, como outros
que têm uma posição vitoriosa na vida e na carreira. Adorei, por exemplo, a
entrevista que você fez com o jornalista João Bosco. Ri demais com as histórias
que ele contou.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Naquela
ocasião, durante mais de quatro horas Bosco foi sabatinado por mim e pelo
repórter fotográfico Roque de Sá, aqui de Brasília; e por meu irmão Ronaldo
Siqueira e o jornalista Roberto Fontes - via Skype - aí de Natal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Com Bosco
você recolheu histórias para publicar um livro. Comigo vai ser diferente, sou
um cara do interior, um matuto...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Bosco também conta
muitas de suas histórias em seu blog, que pode ser acessado no endereço <a href="http://www.assessorn.com/">http://www.assessorn.com/</a>. Vale a pena
conferir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Vou dar uma
olhada, até porque gosto muito dele. Mas acho que já podemos começar a nossa conversa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Onde você
nasceu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Em Cerro
Corá, no dia 13 de abril de 1958. A cidade tinha acabado de se emancipar
politicamente de Currais Novos. Nasci na Maternidade Clotilde Santina. O nome
foi escolhido em homenagem à filha de Sérvulo Pereira de Araújo, magnata da
scheelita no Rio Grande do Norte entre os anos 1940 e 1960. Ele foi dono da
Mineração Bodó, que, embora explorasse minério no município de Santana do
Matos, tinha escritório em Cerro Corá, devido à maior proximidade com Natal e
ao fato de Sérvulo ser filho de um dos fundadores da cidade, Tomas Pereira de
Araújo (primo do ex-governador Cortez Pereira). Essa maternidade foi uma das
primeiras do Rio Grande do Norte a ser administrada pela extinta Fundação
Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Os apartamentos onde as mães tinham
os seus bebês levavam nomes de minérios. Eu nasci na sala “Berilo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Seus pais
faziam o que da vida?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Meu pai, José
Julião Neto, foi eleito 12 vezes vereador de Cerro Corá. Também foi vice-prefeito
e chegou a assumir a prefeitura durante um ano, em 1971. Ele era filho do que
naquele tempo se chamava tropeiro. Era o cara que saía em lombo de burro
negociando em uma cidade e outra. Meu avô era lá do Pataxó, do Vale do Açu.
Depois ele mudou para São Romão, que hoje é Fernando Pedroza. Ele andava no
sertão vendendo as mercadorias que transportava em tropa de burro. Como meu pai
não queria essa vida, meu avô pediu a um amigo, lá em Santana do Matos, que o
empregasse e ensinasse a ele o ofício do comércio, das vendas no balcão de
mercearia. Depois meu pai mudou para Cerro Corá, onde fez muitos amigos. Pelas
mãos de Chico Canário, que não queria mais mexer com política, meu pai foi
eleito vereador. Só saiu da política em 1976, depois que perdeu uma campanha para
a prefeitura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – A vida de um
vereador nas pequenas cidades do interior do estado não era como hoje...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TkQT4T5t1PY/UlfipPrJnYI/AAAAAAAABZY/yizAMiB9otY/s1600/Juliao3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-TkQT4T5t1PY/UlfipPrJnYI/AAAAAAAABZY/yizAMiB9otY/s320/Juliao3.jpg" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Naquele tempo
o vereador não ganhava dinheiro, nem tinha salário. Só se dedicava à política </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">aquelas pessoas que gostavam de prestar favor. Meu pai era um desses. Por
exemplo: naquela época ele era o doador de sangue da cidade. Hoje em dia, ainda
é difícil conseguir quem faça isso. Ele salvou muitas vidas doando sangue na
maternidade onde eu nasci. Meu pai foi dono de padarias e abriu falência várias
vezes por causa da política. Ele também gostava muito de jogar futebol, mas
costumava dizer que só conseguia um lugar no time porque era o dono da bola.
Não jogava porra nenhuma!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por qual time
ele torcia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Pelo Botafogo
e pelo América de Natal. Começou a torcer pelo Botafogo em 1948, com 18 anos,
quando o time – depois de mais de duas décadas sem ser campeão – venceu o Vasco
por 3 a 1, lá no antigo estádio de General Severiano. Naquele tempo se ouvia
muito, em rádios a válvula, as emissoras do Rio de Janeiro, como Nacional,
Globo e Tupi. Ele começou a torcer pelo Botafogo por ter achado engraçada a
história de Biriba, um cachorro preto e branco que se tornou amuleto da sorte
do time. Toda vez que o diretor Carlito Rocha levava Biriba para o gramado, o
Botafogo ganhava. O time tem muito dessas superstições. Naquele ano de 1948, o
Botafogo derrotou o Vasco e foi campeão com Biriba entrando em campo. Por causa
dessa história engraçada, meu pai simpatizou com o Botafogo. Por consequência,
eu e o meu irmão gêmeo - José Vanilson Julião, que também é jornalista -
viramos botafoguenses. Tornei-me americano ouvindo, pela Rádio Nordeste, a
final na qual o América venceu o ABC por um a zero, com um gol de Alemão. (Com
a vitória o América forçou uma quarta partida e derrotou o rival por 2x0, com
gols de Bagadão e Alemão, levantando o título de campeão estadual de 1969). O
ABC era favorito e o América era mais humilde, mais fraquinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale um pouco
sobre a sua mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – É dona de
casa, mas quando meu pai teve bar e padaria, ela era uma espécie de anjo da
guarda. Meus pais são a confirmação daquele ditado que diz “por trás de um
grande homem sempre tem uma grande mulher”. Minha mãe é quem sustentava o
tranco no balcão, ou administrando a padaria e o bar. Quando sobrava um
dinheirinho, meu pai tirava da gaveta para gastar com time de futebol ou com as
pessoas necessitadas de Cerro Corá. Anos depois de ter perdido a campanha
política para prefeito, ele arranjou um emprego público na Companhia de
Desenvolvimento de Recursos Minerais do Rio Grande do Norte (CDM), atualmente
extinta. Quem conseguiu para ele foi o deputado Cipriano Correia. Naquele tempo
as pessoas conseguiam se empregar sem concurso. O nome da minha mãe é Damiana
Ribeiro Julião, mas ela é mais conhecida pelo apelido de Tinoca. Ela ainda está
viva, mas meu pai morreu em 1989, de enfarte, depois de fazer uma cirurgia para
troca de válvulas. Meu irmão Vanilson Julião já trabalhou na Tribuna do Norte,
Diário de Natal, Jornal de Natal e hoje atua como freelance. Tenho também uma
irmã, Maria José Julião, que é dona de casa. A gente a chama de Mariazinha. Minha
mãe tinha um irmão gêmeo, que já faleceu, minha irmã é gêmea com nosso irmão
que morreu recém-nascido. Uma irmã da minha mãe também teve filhos gêmeos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Até quando
você morou em Cerro Corá?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Até fevereiro
de 1975. Para estudar o segundo grau, a gente teve que mudar para Natal. Mesmo
financeiramente falido, meu pai fez um esforço enorme e trouxe toda a família
para cá. A gente morou em uma vilazinha que ficava onde hoje é a esquina da
Romualdo Galvão com a Bernardo Vieira. A gente foi morar lá porque era fácil ir
e voltar a pé para a Escola Técnica Federal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O que de mais
expressivo você recorda dos tempos de Cerro Corá?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Tive uma
infância normal, dentro das condições da época, sem muitos atropelos. A gente
brincava de cavalo de pau, bola de gude, carrinho de rolimã e jogava bola de
meia. Cerro Corá era pacata e maravilhosa. A gente não tinha jornais, nem TV. A
televisão só chegou na década de 1970. Um compadre do meu pai, que morava em
frente, foi o primeiro da rua a ter uma TV em casa. A casa dele virava um
verdadeiro cinema pois todos iam assistir a única emissora que pegava, a Tupi.
Os sucessos eram “Meu pé de laranja lima”, “A fábrica”... Hoje a gente ainda
tem o prazer de rever alguns seriados daquele tempo, como “Jeannie é um gênio”,
“A feiticeira” e “Perdidos no espaço”, que faziam o maior sucesso entre a
garotada da época. Quando meu pai foi prefeito comprou uma televisão e instalou
na praça, em frente à prefeitura. Começou assim a era da mídia eletrônica em
Cerro Corá. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você já se
interessava pelas notícias?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-_-9VtKIxbJg/UlfiDw4WaKI/AAAAAAAABZI/FV-mQvrQkho/s1600/DSC_0008.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-_-9VtKIxbJg/UlfiDw4WaKI/AAAAAAAABZI/FV-mQvrQkho/s320/DSC_0008.JPG" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Naquela época
não havia as facilidades de hoje. Eu costumava ler jornais de outro comerciante </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">da cidade, João Bezerra Galvão. Quando ele vinha a Natal, comprava jornal velho
para enrolar sabão. Eu conhecia principalmente “O Poti” e o “Diário de Natal”,
que eram as coqueluches da época. João Bezerra deixava esses jornais em cima do
balcão. Eu, menino, encostava no balcão e lia esses jornais de enrolar sabão.
Por sinal, foi “n’O Poti” que eu vi a famosa entrevista que Alberi deu, dizendo
que tinha recebido de luvas uma radiola para renovar seu contrato com o ABC.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como foi
trocar Cerro Corá por Natal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Uma tia nossa
já morava nas Quintas desde os anos 1940. Então, desde os seis ou sete anos a
gente vinha para cá passar férias. Naquele tempo não tinha ônibus regular. Hoje
também não tem mais, depois dessas crises. Certa vez a gente veio em cima do
caminhão de Maria de Chico de Brito, que era comadre da minha mãe. Quando
chegou na altura de Macaíba, ele deu o prego. Fui dormir em uma rede, embaixo do
caminhão. Só que o caminhão também estava levando para a feira goma, milho,
galinha... Acordei às cinco da manhã, o sol já levantando, todo cagado por duas
galinhas que estavam bem em cima da gente. Alcancei o tempo em que o cobrador
andava com o dinheiro enrolado no dedo para passar o troco aos passageiros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como foi sua
vida estudantil?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Em 1970, como
não tinha o ensino do ginásio em Cerro Corá, meu pai - que na época era
vice-prefeito - fez um movimento com alguns amigos e juntos fundaram o Ginásio
Comercial Pedro II, que era vinculado à Campanha Nacional das Escolas da
Comunidade (CNEC). Depois, quando o governo do estado construiu uma escola, esse
Ginásio foi extinto. Fiz as três primeiras séries do ginásio em Cerro Corá. A
quarta série fiz em Açu, no Ginásio Estadual JK. Fui com meu irmão morar na
casa de uma tia. Ao concluir, prestamos um minivestibular para a ETFRN, em
1975. Muitos amigos de Cerro Corá também se submeteram a essa prova. Todos nós
passamos, para você ver o nível do ensino público daquela época, mesmo em uma
cidade pequena do interior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você concluiu
o curso na então Escola Técnica?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Terminei o
curso de Geologia em 1977 e fiz o estágio na Nuclan, que era subsidiária da
Nuclebras. Depois fui contratado pela empresa. Trabalhei cinco meses
pesquisando urânio em Patos, Campina Grande, Borborema, Dona Inês, São José de
Espinharas e Pirpirituba. A gente trabalhava 20 dias e tinha uma semana de
folga. Em um desses períodos de descanso, resolvi fazer vestibular em Natal. Como
não era bom em Física, Química e Matemática, nem tentei Geologia. Eu poderia
ter feito História, mas optei por Jornalismo. Depois que saí da Nuclan, abracei
o jornalismo. No próximo ano comemoro 35 anos dentro de redação. Entrei nessa
brincadeira e não consegui sair mais. Vou ser dos poucos jornalistas que
aposentaram como repórter, na essência da redação. A maioria não aguenta o
tranco, o repuxo. Vira publicitário, assessor de imprensa ou dono de jornal, ou
desiste da carreira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Onde foi o
seu primeiro emprego como jornalista?<b><u><o:p></o:p></u></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Quando fui
estudar jornalismo na UFRN, fui procurar emprego, já que era um cara pobre,
liso, solteiro e estava doido para ganhar dinheiro pelo menos para pagar as
farras. Um dos meus companheiros de faculdade era o radialista Exmar Tavares.
Uma semana depois de eu ter falado para a turma toda que estava querendo
trabalhar, ele me procurou. Disse que Givaldo Batista, o Gigi da Mangueira,
estava precisando de um repórter. Dessa forma entrei no jornal A República. Minha
primeira tarefa foi entrevistar um diretor do América. Hoje em dia o estagiário
chega e já ganha uma bolsa do IEL, entregam a ele um telefone, a pauta e
orientam a pegar um carro da empresa para ele cumprir seu trabalho. Comigo foi
o contrário. Não recebi orientação nenhuma. Chovia torrencialmente na cidade.
Peguei um ônibus, fui ao trabalho do meu pai pegar o carro dele emprestado para
fazer a entrevista. Muitos anos depois eu soube que esse diretor disse a
Givaldo Batista que eu não tinha condições de ser repórter. Como alguém pode
analisar um iniciante que nunca tinha sequer entrado em uma redação, na sua
primeira pauta? Como prever se esse cara dá ou não para o troço? Pelo menos
para ser um jornalista de província, acho que dei o meu recado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quem era esse
diretor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nem vou dizer,
para não criar constrangimento. (risos). Mas ele é gente boa, polêmico. Talvez
nem lembre mais disso. Mas eu fui trabalhar na editoria de esportes com Givaldo
Batista. Como ele também era dublê de editor de polícia, pedia para eu fazer as
matérias que Ubiratan Camilo trazia das delegacias. Ubiratan não escrevia, só fazia
as anotações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Era igual a
Pepe dos Santos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sim. Hoje Pepe
vive uma situação difícil, está com mal de Alzheimer, internado há alguns meses
e precisando de ajuda financeira. A entrada de Ubiratan Camilo n’A República foi
interessante. Ele veio de Recife cumprir em Natal um resto de pena por
homicídio cometido lá. Ubiratan me contou que um vizinho xingou a sua esposa e
ele, quando chegou do trabalho, foi tomar satisfação. Terminou atirando no
rapaz. Em Natal, quando saiu da prisão, desempregado, foi pedir emprego a Lavoisier
Maia. O então governador o mandou ir falar com o diretor do jornal A República.
Trabalhou uns dois anos com a gente e foi para a Rádio Cabugi. Lá n’A República
trabalhei com grandes profissionais como Carlos Morais (editor e jornalista),
Franklin Machado (hoje da TV Tropical e Rádio CBN) e Fernando Farias, que foi
atleta de basquete e atualmente mora em João Pessoa. Fiquei no jornal até o seu
fechamento, no governo Geraldo Melo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Que matéria
ou acontecimento poderia simbolizar sua passagem pelo jornal A República?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nossa
editoria de esportes não tinha sequer carro para acompanhar o treino dos
clubes. A gente ia a pé ou de ônibus. Muitas das matérias que redigi foram
baseadas em entrevistas transmitidas pelas emissoras de rádio. Para complicar
mais ainda, a ordem era fechar a página de esportes às quatro da tarde, horário
em que ainda estão rolando os treinos as notícias começando a surgir. Mesmo
assim, em 1982 conseguimos ser eleitos pela crítica como a melhor página de
esportes de Natal. Paulo Tarcísio era o diretor geral da Companhia Editora do
Rio Grande do Norte (CERN), responsável pelo Diário Oficial e pelo jornal. Eu,
Carlos Morais e Fernando Baleia fizemos um suplemento sobre a Copa de 1982. Com
menos condições logísticas e operacionais, conseguimos bater o Diário de Natal,
campeão de vendas no estado, e a Tribuna do Norte, o segundo lugar. Lembrei
agora de um personagem interessante, gazeteiro chamado Alberi, que vendia
jornais nas redondezas da Rodoviária Velha. Quando acabavam os exemplares do
Diário de Natal, ele enrolava ou a Tribuna ou A República em uma capa do Diário
e vendia para os matutos no bom sentido. Ele gritava assim: “olha o Diáris!”.
Fazia isso para ganhar o dinheirinho dele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Com o
fechamento d’A República você foi fazer o que?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Passei um
tempo como plantonista esportivo na Rádio Tropical, levado pelo jornalista e
amigo Wilson Gomes. Depois de oito meses, saí por razões que não vale a pena
comentar agora. Foi bom porque adquiri uma experiência no rádio que eu não
tinha. Quando saí da rádio, Roberto Guedes me chamou para ser subeditor do
jornal Dois Pontos. Ele era o diretor de redação. Quando Roberto saiu,
continuei lá. Um dia, perto do feriado de 7 de setembro de 1989, fui visitar
meu irmão na Tribuna do Norte. A gente tinha combinado de sair para tomar uma,
depois do expediente. É difícil ter um jornalista que não seja boêmio, você
sabe bem disso. Roberto Guedes era o editor de política da Tribuna. Quando me
viu, perguntou: “quer vir para cá?”. Eu perguntei se era para começar na
segunda-feira. Ele disse que não: era para iniciar já no dia seguinte. Véspera
de 7 de setembro, uma quarta-feira, comecei na Tribuna do Norte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Lá você
começou trabalhando em qual editoria?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Política.
Daquele tempo para cá, passou muita gente pela editoria, e eu fui ficando:
Conceição Almeida, Márcio César, Herbert de Freitas, Aldemar Freire (que hoje é
editor), Vicente Neto, Alexandre Cavalcanti, Edilson Braga, Paulo Tarcísio
Cavalcanti... Aprendi com todos, mas foi maravilhoso trabalhar com Paulo
Tarcísio, um gentleman. Ele só tem um defeito: é torcedor do Fluminense. Na editoria
geral passaram vários, como Talvane Guedes, Roberto Guedes, Osair Vasconcelos,
Edilson Braga, Paulo Tarcísio e, agora, Carlos Peixoto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como é
trabalhar em um jornal que pertence a uma das mais tradicionais famílias
políticas do Rio Grande do Norte?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – É mais fácil.
A linha editorial da Tribuna é conhecida por todos. Complicado é estar em um
veículo sem saber quem é o dono ou quem manda. Não tive muitos problemas, tanto
é que estou lá há tanto tempo. Não tenho muito a reclamar. Teria com relação ao
salário, mas a gente sabe que jornalista não ganha. Quem quiser enricar, vai
ter que ser em outra profissão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – A questão
salarial dos jornalistas parece ser mais complicada aí do que na maioria dos
estados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quem está começando
agora no jornalismo e é contratado para receber o piso, enfrenta séria
dificuldade. Com a Internet, cada dia estão exigindo mais do jornalista, mas
não está havendo uma contrapartida. Isso é contraditório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – A dificuldade
salarial não é específica de um veículo. Alcança até os jornalistas que
trabalham no Governo do Estado. Eu soube que o salário pago hoje não sofre
alterações há mais de 15 anos! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Eu ia dizer
isso a você agora. É o mesmo salário de quando Garibaldi Filho deixou o governo.
De 1995 pra cá é o mesmo salário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você foi
eleito para compor a diretoria do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio
Grande do Norte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Eu não estava
pensando em ingressar em nenhuma chapa, entrei por acidente. Eu já tinha sido
duas vezes do Conselho Fiscal. Dessa vez eu só topei entrar em uma chapa porque
achava que ela seria única, não haveria disputa. Só soube que teria
concorrência quando fui fazer a minha inscrição. Mas aí eu já tinha
comprometido a minha palavra, não ia quebra-la. O jornalismo é uma categoria
diferenciada, onde o corporativismo não é tão acentuado quanto em outras
categorias. É muito difícil tocar uma política sindical sem haver união, sem
que as pessoas se ajudem ou compareçam ao sindicato. A gente está iniciando
essa gestão e vamos ver no que vai dar. O Breno Perruci é uma pessoa boa e bem
intencionada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E do seu
trabalho na Tribuna, o que você destacaria?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-v_63FYtSgMs/UlfiWpCGH2I/AAAAAAAABZQ/Cq9JoRw0bwY/s1600/Juliao1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-v_63FYtSgMs/UlfiWpCGH2I/AAAAAAAABZQ/Cq9JoRw0bwY/s320/Juliao1.jpg" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O que mais me
gratifica no jornalismo não é premiação, nem salário enorme. É o feedback da </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">rua. É quando vou cruzando uma esquina e alguém comenta que gostou de
determinada matéria que eu escrevi. Ou então quando uma fonte confessa que
prefere me dar entrevista porque sabe que suas ideias não serão deturpadas. Dia
desses Demétrio Torres me disse: “Julião, você não repete ipsis litteris o que é
dito, mas transmite com fidelidade o pensamento e a ideia do entrevistado”.
Isso não é uma questão de ter o ego massageado, mas é um importante reconhecimento.
Nas redações os elogios são escassos. Por isso, quando um companheiro de jornal
faz uma boa matéria, gosto de ir ao pé do ouvido dele para cumprimenta-lo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você é um
repórter da época da máquina de escrever. Trace um paralelo daquela época para
a de hoje.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Hoje está uma
maravilha fazer jornalismo com as informações disponíveis na Internet. Mas tem
que saber usar. Por exemplo: notícias de Brasília, que demoravam meses para chegar
por aqui, agora estão disponíveis nos sites da Câmara ou do Senado Federal. É
só recolher aquela informação e contextualizar entrevistando mais três ou
quatro políticos e a matéria está pronta. Naquela época, além da escassez de
informações, o repórter escrevia a matéria com três cópias, utilizando papel
carbono. Para alterar o texto, depois de ele iniciado, geralmente tinha que
rasgar o que já estava pronto para começar tudo de novo. Além disso, hoje o
Doutor Google aqui e acolá auxilia a gente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Se facilitou
por um lado, por outro provocou a distorção de todo mundo hoje se achar jornalista.
Foi melhor ou pior, para o jornalista, esse progresso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Foi melhor,
até porque o jornalista, na essência, sempre será um jornalista. Os blogs
proporcionaram oportunidade para pessoas que não tinham essa possibilidade, de
se comunicar. O cara que não era dono de veículo não tinha acesso a nada. Hoje,
ou escrevendo bem ou mal, ou divulgando a notícia correta ou não, ele pode ter
o seu blog e virar também emissor de informação. Mas, no frigir dos ovos, quem
entende e sabe o que é jornalismo, consegue diferenciar onde tem informação que
vale a pena nessa enxurrada de notícias que povoa a internet. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ao completar
35 anos de profissão você vai pedir aposentadoria?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Estou com um
grande dilema. Esse tal de fator previdenciário é terrível para o trabalhador.
O salário já é uma merreca e fica menor ainda quando a pessoa se aposenta. Por
isso estou analisando se me aposento ou não. Mas, mesmo que me aposente, não
vou deixar de trabalhar porque acho que é muito chato o cabra ficar sem fazer
nada em casa. Quero me manter em atividade pelo menos meio expediente. No
restante do tempo posso investir em jornalismo online. Já estou treinando no
blog que criei dedicado a Cerro Corá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale um pouco
sobre esse seu blog. Como surgiu a ideia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Em termos de
design, meu blog não é esse balaio todo. Uso só a plataforma de blog e pronto. Ele
é uma maneira de eu ir treinando, mas também de resgatar a história de Cerro
Corá e do seu povo. Quem quiser, pode conhecer no endereço <a href="http://cerrocoranews.blogspot.com.br/">http://cerrocoranews.blogspot.com.br/</a>.
Ele não é campeão de audiência porque no meu blog não entra crime nem
violência. É um espaço para resgatar a memória e falar da cidade e do povo
cerro-coraense. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você
comercializa espaço para anunciantes em seu blog?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-12jfts5Cfvg/Ulfhq3qK3eI/AAAAAAAABY4/ibniUpARSn8/s1600/DSC_0007.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-12jfts5Cfvg/Ulfhq3qK3eI/AAAAAAAABY4/ibniUpARSn8/s320/DSC_0007.JPG" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O curso de Jornalismo
deveria criar uma cadeira de gestor em comunicação, ou algo parecido.</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> É difícil
achar um jornalista que saiba correr atrás de anúncio. Eu não sei. Acho que vou
ter que aprender, para que o blog tenha alguma rentabilidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Em qual
perfil de jornalista você se enquadraria?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Meu estilo
não é lírico, nem poético. É mais feijão com arroz, ou pé de balcão. Gosto de
dar a notícia, de oferecer um dado, uma informação. Mas vou começar a ler uns
jornalistas bons que nós temos, como Rubens Lemos Filho. Ele tem um texto
espetacular! Paulo Tarcísio e Vicente Serejo também. Vou me espelhar neles para
ver se escrevo alguns “causos” que eu presenciei, erros que cometi e sacanagens
que fizeram comigo. Como já tenho uma filha, só falta plantar a árvore e
escrever esse livro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Qual teria
sido seu grande furo no jornalismo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Certa vez escrevi
um textozinho, uma notinha, e no dia seguinte caíram dois secretários de Estado,
no governo José Agripino. Mas foi sem querer. Em outra ocasião, quando caiu um
helicóptero da Petrobras em Guamaré, eu e o repórter de polícia de A República
conseguimos com exclusividade a relação das onze pessoas que tinham morrido
naquele desastre. Mas era um sábado à tarde e o jornal já havia fechado.
Ficamos com aquele furo na mão. Tem gente que acha que a notícia está como em
uma prateleira de mercearia, e a gente vai lá e pega. É conversando que a gente
consegue uma notícia. Às vezes a gente tem que ter paciência para construir uma
informação. A notícia não tem hora marcada. Pode acontecer de ela passar na
frente e a gente nem perceber. Para conseguir um furo, é preciso ter um bom
ouvido e bons olhos. Um dia eu estava no Tribunal de Justiça, sem notícia
nenhuma. Valdeci Santana era o assessor de imprensa de lá. Ele me levou para
falar com o presidente, o saudoso Ítalo Pinheiro. Durante a conversa, entrou um
assessor e, sem atentar que eu era jornalista, passou uma informação
importante, que eu não lembro qual era. Na mesma hora percebi que tinha
encontrado a manchete do dia seguinte. Quando o assessor saiu, Ítalo Pinheiro
teve que me detalhar essa informação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre a
sua família. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Tenho uma
filha apenas, porque jornalista não pode ter mais de um filho. Como vai educar?
Comer o feijão, a rapadura, o macarrão, a melancia, o jerimum, uma pizza com
camarão, isso é fácil. Complicado é custear a educação e a saúde. Por não
confiar nos serviços públicos, a gente tem que tirar do nosso parco salário
para pagar um plano de saúde e uma escola particular para os filhos. Minha
filha, Ana Vanessa Julião, acabou de se formar em Farmácia. Minha esposa, Ana
Selma Julião, tem um ateliê na garagem lá de casa. Ela é o suporte da família.
Nasceu em Santana do Matos, mas gosta mais de Cerro Corá do que da terra dela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Gostando
tanto de Cerro Corá vocês não planejam morar por lá quando a aposentadoria
chegar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Um primo já
me deu um terreno, só falta arrumar o dinheiro para construir um chalezinho.
Quero que o local tenha um espaço amplo para eu botar uns livros, instalar uma
TV de 50 ou 60 polegadas. Quero assistir bangue-bangue em preto e branco, principalmente
estrelado por John Ford e John Wayne, e alguns clássicos do cinema. Também vou
ter lá um computadorzinho e uma rede para me balançar. De lá mesmo posso ter na
Internet um jornalzinho online. Não é obrigado estar em Natal para acompanhar
as coisas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E esse livro
que você pretende escrever? O que pode ser adiantado sobre ele?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-BfsH2AXfGFU/Ulfh-kQZ76I/AAAAAAAABZA/5IEeL8i8Avk/s1600/Juliao2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://3.bp.blogspot.com/-BfsH2AXfGFU/Ulfh-kQZ76I/AAAAAAAABZA/5IEeL8i8Avk/s320/Juliao2.jpg" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quero escrever
sobre o dia a dia que vivenciei. Já tem muita publicação a respeito de teses e </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">sobre o lado acadêmico do jornalismo. Pretendo explorar o ambiente na redação, o
relacionamento com as fontes, a dificuldade que é entrevistar alguém que
“trava” quando se aproxima de um microfone. Tem outros que só falam em um papo
informal. Se for um pingue-pongue, não sai nada. Certa vez fiz uma entrevista
de página inteira que eu só transcrevi por obrigação, porque era pago para isso.
O cara não tinha dito coisa com coisa. Quando o editor viu, refugou a matéria.
Tem hora que o repórter pensa que pode ter sido ele quem não elaborou bem as
perguntas. Mas se ele arrodeou de todo jeito, e o cara não respondeu... São
esses episódios que quero botar no livro: as pressões que a gente sofre, as
bobeiras que a gente também comete. Por falar em livro, queria aproveitar para
sugerir aos filhos de Eugênio Neto que resgatem e publiquem as histórias
inéditas que ele vinha escrevendo antes de morrer. Convivi com Eugênio Neto na
cobertura da Assembleia Legislativa. Eu cobrava muito dele a publicação desse
livro. Ele tinha muito o que contar. Costumava dizer que quando era adversário
de Aluízio Alves publicou um livro de um jeito. Quando voltaram a ser amigos,
tirou todos os ataques e publicou o livro dizendo o contrário. Nesse livro que
pretendo publicar quero contar a história dos amigos também. Muita gente acha
que o jornalismo é glamour. Mas a gente passa por muitos problemas. Meu livro
não é para ser best seller. Acho que nem lançamento eu quero.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Mas tem que
lançar. Em Natal se vende mais livro em lançamento do que nas livrarias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Até hoje só
comprei um livro em lançamento. Até porque não sobra muito dinheiro para jornalista
comprar livro. Fui ao lançamento do livro de fotografia de João Maria Alves,
editado pelo Sebo Vermelho. Comprei o livro e ainda tomei uma cervejinha, à
custa de Abimael. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Agora só
falta você deixar um recado para o leitor do <i>Zona Sul</i>. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">JULIÃO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quero lhe
parabenizar entrevistas que você está fazendo com personagens de todos os
níveis, gente popular, cantor, artista, gente do povo, seus amigos,
companheiros de trabalho, políticos, pessoas com quem você trabalhou... Também
quero dar os parabéns a Edson Benigno e ao amigo Costa Júnior. Por sinal, fui
eu quem coloquei o nome jornalístico dele. Costa queria assinar como Francisco
Pedro da Costa Júnior. Como já existia Francisco Macedo, assinei as matérias
dele no jornal Dois Pontos como Costa Júnior. Pegou. Também seria bonito Francisco
Costa Júnior, mas eu preferi só Costa Júnior. Quero dar os parabéns ao <i>Zona Sul</i>, que, apesar das dificuldades
de se fazer um jornal impresso, continua circulando na cidade. <o:p></o:p></span></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com25tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-53815623167808542072013-09-03T13:09:00.001-03:002013-09-03T13:14:47.339-03:00Entrevista: Charles Dumaresq<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 22.0pt;">DE
MALAS PRONTAS PARA O FUTURO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-GyqcpSrHHGQ/UiXekR1nhEI/AAAAAAAABX0/CbsHe4jB_AE/s1600/20130719_134904.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-GyqcpSrHHGQ/UiXekR1nhEI/AAAAAAAABX0/CbsHe4jB_AE/s320/20130719_134904.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Em
uma das últimas tardes de julho, fui à Pastelaria do Beto - na Feira dos
Importados, em Brasília (DF) – com Nicolas Gomes e o capitão Claiton “Gancho”
Cardoso. Para quem não conhece, nessa feira se encontra todo tipo de bugiganga.
O forte é a área de eletrônicos e informática. Nada melhor do que um ambiente
desses para entrevistar o analista de tecnologia da informação Charles Dumaresq
Madureira Neto. Aos 32 anos de idade, esse potiguar de Natal planeja deixar o
território papa-jerimum para alçar voos mais altos em São Paulo ou Brasília. Na
bagagem ele tem para mostrar a participação no site de cobertura de eventos
NatalX (campeão de acessos que superou o Cabugi.com), a esquematização e
colaboração na estruturação de empresas como a GESTCON (Gestão de Condomínios)
e – com o parceiro Ranieri Andrade – o protagonismo no último Jailbreak. Fazer Jailbreak
significa alterar o sistema operacional IOS, da Apple, para permitir aos
usuários de Ipads e Iphones personalizar e instalar aplicativos livremente em
seus equipamentos. Charles e Ranieri foram os responsáveis por apontar a falha
de segurança que permitiu essa quebra. Agora ele está envolvido em um projeto
que permite, por exemplo, que eu – morador de Brasília – tenha um ramal em
Natal para receber ligações. Quem ligar para mim pagará o preço de uma ligação
para telefone fixo. Mas Charles não está satisfeito, ele quer mais. Quem duvida
que esse ex-gordo (chegou aos 150 quilos e hoje está com 94) conseguirá
alcançar seus objetivos? Eu não. (robertohomem@gmail.com)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como você
gostaria de começar essa entrevista?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Lembrando um
amigo, Caio César. Se estivesse vivo, seu aniversário seria hoje. Morreu de um
ataque cardíaco fulminante, aos 41 anos de idade. Acordou, tomou café e depois
parou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nós vamos
conversar sobre “vida”... No caso, a sua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Quando nasci,
meus pais moravam no pé do morro de Mãe Luiza, onde hoje é a “Faz Propaganda”. Depois
mudamos para Areia Preta, Barro Vermelho, Neópolis e Parnamirim, onde morei dez
anos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre os
seus pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Meu pai,
Eugênio Sérgio Bezerra de Oliveira, é fisioterapeuta concursado da Assembleia.
Era surfista, roqueiro e doidão. Meus pais separaram muito cedo. Não tenho
recordação dele com a minha mãe, que sempre foi do lar. Meu avô, por parte de
mãe, foi presidente do Iate Clube: Charles Dumaresq Madureira. Dele herdei o
nome. Meu bisavô foi um dos fundadores da Labre (Liga de Amadores Brasileiros
de Rádio Emissão). É uma associação que congrega os radioamadores. Meus avôs
sempre tiveram restaurante: Iate Clube, AABB... Meu avô é responsável pelo
crescimento da estrutura da Lagoa do Bonfim. Ele era dono de mais da metade daquelas
terras. Ajeitou o restaurante e mandou organizar a área de piscina e de banho. Já
o meu avô por parte de pai chegou a ser secretário de Finanças do Rio Grande do
Norte. Ele deu uma organizada geral na parte de arrecadação de tributos. Seu
nome era Francisco das Chagas. Começou como jornalista. Foi muito amigo de
Agnelo e Aluízio Alves. Integrou as primeiras equipes do Diário de Natal e da
Tribuna do Norte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como seu pai
virou “doidão” e surfista sendo filho de um jornalista e secretário de
Finanças?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-yD_1pDnEIF0/UiXo8KTJnGI/AAAAAAAABYE/THoAFxPCxIw/s1600/20130719_134854.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-yD_1pDnEIF0/UiXo8KTJnGI/AAAAAAAABYE/THoAFxPCxIw/s320/20130719_134854.jpg" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele realmente
não teve a quem puxar. Talvez seja coisa da rebeldia típica da geração
anterior. Na família, sou a sucessão dele. Meu pai sempre gostou de rock, minha
veia roqueira, herdei dele. Apesar das dificuldades de logística, meu pai
gostava de consumir produtos de fora. Consumia fervorosamente discos e selos. Até
hoje ainda mantém contato com pessoas do mundo todo devido a essa atividade
como filatelista. No rock, ele gostava da rebeldia de Jim Morrison, dos The
Doors, de Pink Floyd, dos Beatles... Também se ligou no surf. Naquela época,
surfista era marginalizado. O curso de Fisioterapia, que ele escolheu, também
não era bem visto. Meio pai sempre teve uma visão na frente das coisas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como seus
pais se conheceram?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Minha mãe, na
época, era estudante. Morava em frente à Igreja do Galo. Um dos nossos primos,
o teatrólogo Paulo Jorge, foi quem os apresentou. Começou como amizade, depois
se envolveram. Quando minha mãe engravidou de mim, tiveram que casar. Passaram
um tempo juntos, mas separaram. Tempos depois, voltaram e tiveram meu irmão.
Separaram novamente. É por isso que praticamente não existe, na minha memória,
lembrança dos meus pais juntos. Até porque, pouco tempo depois de ter sido
aprovado no concurso da Assembleia, conheceu a atual esposa dele e foi
deslocado para trabalhar em Currais Novos. Está lá há mais de vinte anos. Na
minha infância e adolescência, praticamente o via uma vez por mês. Hoje somos
mais próximos, temos contato quase toda semana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Onde você
estudou?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Desde o
maternal até o segundo ano do segundo grau, estudei no Auxiliadora. Antes,
passei dois ou três meses no Instituto Brasil. Fiquei na Congregação Salesiana
até o 2º ano do 2º grau. Estava morando em Parnamirim, o transporte era difícil
e o Pré-Vestibular era à noite. Por isso troquei o Auxiliadora pelo Colégio
GEO, que era mais perto e tinha um bom conceito. Fui aprovado no vestibular
para Computação, mas só fiquei dois meses. Não gostei. Fui fazer cursinho no
CDF. Passei novamente, dessa vez para Engenharia de Materiais. Fiquei uns três
quatro anos, mas desisti. O curso não me motivou e o corpo docente também contribuiu
para eu desistir. Da metade para o final eu ia para a faculdade só tomar
cachaça. Então meu pai sugeriu que eu procurasse algo que quisesse fazer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O que você
escolheu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-LzoCDpPOYsE/UiXWjbLkHcI/AAAAAAAABW0/gwkhNz7qEAk/s1600/20130719_134048.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-LzoCDpPOYsE/UiXWjbLkHcI/AAAAAAAABW0/gwkhNz7qEAk/s320/20130719_134048.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sempre
cogitei estudar Administração, mas eu tinha o preconceito de que só fazia </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Administração o filho de um pai que fosse dono de algum negócio para ele tomar
conta. Por isso não optei desde o princípio por Administração. Quando surgiu
essa nova chance, resolvi arriscar. Na época eu já tinha envolvimento com o
pessoal de Publicidade. O problema é que eu não tinha “feeling” para a coisa.
Não combinava comigo ter sempre um cara junto, com um tridente, cutucando,
cobrando criação. Eu conseguia fazer tudo, mas no meu tempo. Não gostava era da
pressão. Por isso, resolvi fazer Administração e me encaminhar na área do Marketing.
No meio do curso, eu já sabia que queria trabalhar fazendo um gancho entre a
organização e a publicidade. Ainda cursei um ano acumulando Materiais e
Administração. Depois desse período, desisti definitivamente de Engenharia de
Materiais e fui fazer Administração, lá na Universidade Potiguar (UnP).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Vamos voltar
um pouco no tempo, até o período do Auxiliadora. Você sofreu muito para se
enquadrar em um colégio que tinha como foco a formação religiosa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Sempre fui
atento a questões que me trazem interrogações. E o espaço, as estrelas e a religião
sempre me trouxeram interrogações. Gosto de ler sobre esses temas. Nunca fui
uma pessoa 100% católica, apesar de a minha família ser. No Auxiliadora, questionava
algumas coisas. Por exemplo: se Deus havia criado o homem e a mulher, por que o
meu professor de religião era homossexual? Nada contra o homossexualismo, muito
pelo contrário! Mas era contraditório aquele professor falar isso e aquilo e
não ser um celibatário. Algumas vezes ia para a escola sentindo vontade de
assistir à missa. Nessas ocasiões saía de casa mais cedo, prestava atenção à
oratória do padre, tudo direitinho. Em outras ocasiões, a freira tentava
obrigar todos a irem à igreja. Eu questionava. Ela dizia que era para falar com
Deus. Mas eu retrucava que já tinha falado com Ele ao acordar e no caminho até
a escola. Algumas vezes eu ia e, quando chegava à capela, tinha um cara que nem
era o padre. Se fosse pelo menos um padre, um cara que estudou para celebrar
uma missa com embasamento... Por essas e outras, não fiz primeira comunhão, mas
comunguei pela primeira vez por conta própria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E o seu relacionamento
com os colegas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-TobcqRMlg3U/UiXXIRSTPGI/AAAAAAAABW8/JWydHeUtPfs/s1600/20130719_134320.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-TobcqRMlg3U/UiXXIRSTPGI/AAAAAAAABW8/JWydHeUtPfs/s320/20130719_134320.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Apesar de eu
sempre ter sido gordo na vida, nunca tive problema mais grave por isso. Esse </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">negócio de “bullying” é modismo de hoje em dia. Na época um bulia com o outro
na brincadeira, sem problema. Sempre soube me adaptar. Fui gordo na paz. Não
deixava que aquela zoação me desmerecesse. Ao contrário, fiz com que aquilo
contribuísse para eu crescer. Hoje em dia todo mundo tira onda com esse negócio
de “bullying”. Antigamente, ninguém chegava em casa chorando e dizendo para a
mãe que fulano o tinha chamado de gordo, careca, cegueta (por usar óculos) ou fanho...
Só está faltando inventarem a bolsa-gordo, bolsa-fanho, bolsa-tudo...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como você emagreceu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fiz cirurgia
bariátrica há sete anos. Cheguei aos 150 quilos, meço 1,80. Resolvi fazer a
cirurgia quando surgiram problemas como pressão alta, tendência a diabetes,
apneia no sono e o próprio cansaço. Quando trocava uma camisa, saía pingando de
suor, morto de cansaço. Dois anos antes de fazer realmente a operação, comecei
a pesquisar. Dieta não tinha adiantado. Minha obesidade também era hormonal,
familiar... Pratiquei esportes no colégio. Fiz judô, futebol e vôlei. Sempre
gostei muito de caminhar. Quando resolvi encarar a cirurgia, meu pai me
aconselhou aguardar um pouco, já que aquela técnica estava apenas começando. Dois
anos depois fui para a mesa de operação sabendo todo o processo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você sentiu
muita dificuldade para se acostumar com o novo corpo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Depois da
cirurgia, seu estômago fica com um volume muito pequeno, de aproximadamente 50
ml. Por isso é colocado um anel no esôfago, um dosador, para evitar que grandes
quantidades de comida desçam e arrebentem o estômago. É comum dar umas golfadas
quando não mastiga muito ou come um bico de pão com café e aquilo ali incha. Em
alguns momentos é chato, mas tudo é aprendizado no dia a dia. A pessoa tem que
aprender a respeitar o seu novo organismo, que nunca mais será o mesmo. Eu fiz
há sete anos e estou no meu peso normal. Cheguei a 150 quilos, mas no dia da
cirurgia estava com 146. Hoje tenho 94. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você foi bom
aluno?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Regular. Ia
para recuperação porque não admitia ter que pagar mais uma mensalidade sem
estar estudando (risos). Minhas notas eram intermediárias, mas nunca fui reprovado.
Mas era bem comportado. Não ficava na brincadeira, nem na baderna. Não chamava
atenção para ir pra coordenação. Nunca fui expulso de sala. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E na
universidade? Conseguiu fazer boas amizades?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZJkRcCf7RBo/UiXcAy4LdnI/AAAAAAAABXg/n8wI91Uqe98/s1600/20130719_134843.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZJkRcCf7RBo/UiXcAy4LdnI/AAAAAAAABXg/n8wI91Uqe98/s320/20130719_134843.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Boas amizades,
você sempre faz. O negócio é ver se naquele momento elas levaram você para o
lugar certo. Mas foi graças a essa turma que pude crescer na vida. Na
universidade aprendi como desenrolar para conseguir alguma coisa. Na federal,
se você não correr atrás, ninguém vai lhe facilitar nada. Por outro lado, são
inúmeras as possibilidades que vão aparecendo: é mulher, é bebida, é festa, é
droga... Se você não tiver a cabeça boa, se deixa levar. Na UFRN, foi muito
libertino. Era muita brincadeira, fuzarca e cachaça. Durante um ano, tenho
certeza que dei um carro zero para Paulo, do Bar do Thomas. A zoação era grande.
Em um dos Jogos Universitários do Rio Grande do Norte (JURN's), fomos desfilar
bêbados, com dois litros de cachaça e um prato de paçoca. Um levava a bandeira,
o segundo uma garrafa de cana, outro com mais uma cachaça e o seguinte com a
paçoca. E o reitor lá na frente, sentado. De repente, caras de outras turmas
vieram comer da paçoca, foi uma esculhambação muito grande. Daqui a pouco,
quando apagaram as luzes para a passagem da tocha olímpica, uns caras correram
nus para acompanhar a tocha. Foram muitas as histórias como essa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Então conte
mais uma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fui da
segunda turma de Materiais da UFRN. Como só havia uma turma antes da nossa, quando
entramos batemos de frente e não aceitamos ser vítimas de trote. Fizemos um
acordo para nos unirmos e fazer um trote pesado com a turma que entraria no ano
seguinte. Quando os calouros seguintes entraram, compramos um quilo e meio de
betonita, que é uma massa usada nas paredes de buracos, para elas não caírem.
Enchemos uma bacia grande com essa massa pastosa e jogamos um por um lá dentro.
Depois do mergulho, eles saíam sujos dos pés à cabeça. Os cabelos das meninas
duros, quase quebrando. Pegamos esse povo todo sujo, suado, feio e fedorento e
levamos para pedir dinheiro no sinal. Aquilo fede que só a moléstia. Mandamos
juntar dinheiro para um churrasco que seria na semana seguinte. Fizemos o tal
churrasco em São José de Mipibu, na granja de um amigo. Mas distribuímos com os
calouros um mapa de uma casa qualquer em São Gonçalo do Amarante. No dia
recebemos várias ligações dos calouros, que não estavam encontrando a casa. Respondíamos:
“é aqui, estamos todos esperando, entra na segunda rua...”. E eles rodando de
um lado para o outro... A experiência na UFRN fez com que eu chegasse na UnP e
desenrolasse tudo tranquilo. Foi na universidade que aprendi realmente a viver.
Foi lá onde tive a formação pessoal e profissional e aprendi a correr atrás e
não ficar esperando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Na UnP você
continuou com a rotina de ir para a universidade beber?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não. Cheguei
lá como outro aluno. Eu não queria ter amizade ou contato com ninguém. Falava
extremamente o necessário, porque eu já tinha passado por esse turbilhão todo.
Já sabia o que ia acontecer. Eu dizia muito: “se eu quisesse amigo ia pro
shopping, vim aqui pra consumir aula, quando acabar, conversamos”. Vi vários
alunos passando pelo que eu tinha passado na federal. Não haviam adquirido a
bagagem e o jogo de cintura que eu havia adquirido. Devido a essa experiência,
consegui tudo o que queria na particular, apenas com conversa. Eu sabia como
chegar e dialogar com o professor. Sabia o que podia e o que não podia exigir,
o que eles davam e o que não permitiam. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Durante o
período de estudo você trabalhou?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Meu pai
sempre disse que enquanto eu estivesse estudando, me dedicando aos estudos, não
precisava ir atrás de trabalho. Eu recebia minha mesada. Fui correr atrás de
trabalho quando estava saindo da federal e indo para a particular. Paguei
metade do curso na UnP. A outra metade foi meu pai. A pós-graduação eu também
paguei. Na UnP a minha concepção não era a mesma da maioria dos alunos. Para
começar, eu tinha uma idade mais elevada que a galera que estava entrando. Eu
já tinha gastado o tempo de brincar, de poder errar. Minha obrigação era fazer
a coisa certa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Em que você
foi trabalhar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-o6UhidMzU-E/UiXa9BNUmPI/AAAAAAAABXY/k6VOczIRxr8/s1600/20130719_134847.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-o6UhidMzU-E/UiXa9BNUmPI/AAAAAAAABXY/k6VOczIRxr8/s320/20130719_134847.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Minha vida
toda eu tinha consumido tecnologia. Meu amigo Ranieri de Lira Andrade estava</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> nessa mesma situação. Nos unimos e criamos uma empresa de consultoria em
tecnologia. Nunca precisamos correr atrás do mercado. Nos sete anos que
mantivemos a empresa, o mercado nos procurou. Sempre alguém indicava o nosso
trabalho. Devido a essa experiência, peguei muito da prática de organização.
Como eu já estava cursando administração, pude focar na fusão da parte
empresarial com a tecnológica. Eu via no ambiente corporativo o mesmo que
estava estudando academicamente. Gostei principalmente da parte de planejamento
estratégico e de organização. Então comecei a desviar o meu foco para isso daí.
Deixei de lado o modelo de fazer as coisas brincando e investi em um formato mais
profissional. Quando estabeleci essa parceria com Ranieri, ele vinha tocando
com outros amigos um projeto que fez muito sucesso na Internet, o NatalX. Era
um site que funcionava como um ponto de encontro da juventude potiguar. Para
você ter ideia, ele teve mais acessos que o Cabugi.com</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale um pouco
sobre o NatalX e explique por que ele acabou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O NatalX
surgiu há uns dez anos. Foi ideia de Ranieri. Não havia aquela visão comercial
ou uma busca de lucro. A intenção era aproximar as pessoas de Natal, servir
como um espaço onde as pessoas poderiam se ver online. O slogan era “onde Natal
se encontra”. Entrei já na fase final. Todos éramos jovens, verdinhos e o
conflito de ideias fez com que o NatalX acabasse. Em determinado momento, quisemos
colocar no mercado o site como sistema de comunidade. Mais ou menos o que seria
o Orkut anos depois. Nós tínhamos essa ideia na cabeça, mas alguns integrantes
do grupo não compartilhavam dessa visão. Queríamos pensar NatalX como marca, já
que é um nome muito forte, uma marca espetacular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Tem dono?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Temos ainda a
patente. Tudo pago, bonitinho. Dá para fazer muita coisa com esse nome ainda. Propusemos
criar a grife NatalX, dar para a galera vestir o nosso conceito. Mas alguns dentro
do negócio não concordaram. Alegavam que NatalX não era o cara que estava
consumindo a ideia, mas nós, os idealizadores e os que estávamos tocando o
site. Da proposta de criar uma comunidade para todo mundo conversar, o máximo
que conseguimos foi construir um mural. Mais do que isso não concordaram. A
alegação era de que quanto mais pessoas criassem um perfil no NatalX, mais gente
se sentiria dona do site. Se for parar para pensar, nossa linha era direcionar
o site para o que são hoje as redes sociais. Muitos dos que naquela época batiam
de frente com essa ideia, hoje pagam pau nas redes sociais. O sucesso do NatalX
pegou todo mundo desprevenido. Minha participação não foi tão grande porque já
entrei do meio para o final. Foi surpreendente um site formado só por criança
bater em número de acessos o Cabugi.com – que tinha todo o fomento da televisão
e dos principais jornais. Ganhamos até prêmio Ibest de site de entretenimento
mais bem colocado. A imaturidade das pessoas fez com que se botassem os pés
pelas mãos. Foi quando Ranieri, que era o detentor oficial da marca, saiu. Pedi
pra sair também, saiu mais outro e se criou uma ruptura. Uma galera ainda ficou
tentando manter o NatalX. Passaram uns seis meses, até que retiramos a
autorização para o site funcionar e ele saiu do ar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como estão os
planos para reutilizar a marca NatalX? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Tem vários
projetos, mas cada coisa tem seu tempo e sua ocasião. Uma das ideias é bolar
algo onde o natalense pode passar informações sobre sua cidade. Um barzinho que
acha legal, um restaurante, um ponto turístico. Mais ainda: estender esse
serviço para os quatro cantos do Brasil, juntar informações de natalenses
espalhados pelo país. Criar essa afinidade entre os próprios natalenses. Em
função de toda a tecnologia atual, a potencialidade da coisa cresceu muito
mais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre a
empresa de consultoria que você montou quando foi cursar Administração na UnP.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-P3S0SCIZKzU/UiXaOa9girI/AAAAAAAABXQ/GqxyXR5Gcs0/s1600/20130719_134324.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-P3S0SCIZKzU/UiXaOa9girI/AAAAAAAABXQ/GqxyXR5Gcs0/s320/20130719_134324.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Éramos contratados
para destrinchar toda a área tecnológica da empresa. Levei para sala de aula muitas
dessas experiências empresariais que eu vivenciei. Eu confrontava com o que
estava sendo </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">ensinado. Ao entrar no curso, minha visão era muito ligada à
tecnologia. O conhecimento que adquiri em Administração serviu para eu
apresentar projetos de TI com uma visão mais abrangente e não apenas de um
profissional especializado em tecnologia. Eu preferir fazer consultoria em empresas
que estavam realmente começando. Eu recebia informações básicas como o tipo do
negócio, a clientela em potencial, o layout pretendido e montava toda uma
estratégia, agregando valor. Meu maior laboratório foi a GESTCON, que é uma
empresa de gestão de condomínios. Pertence a um amigo, Leonardo Rodrigues
Alves, que administrava condomínios verticais e horizontais em São Paulo, e
voltou para Natal por questões familiares. Quando comecei esse trabalho, ele só
tinha o local da empresa. Nem logomarca havia sido criada. Desenhamos toda a
empresa, que depois de um crescimento fenomenal em cinco anos no mercado, já
está consolidada. Hoje é referência na gestão de condomínios.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como está sua
vida profissional hoje? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Toco alguns projetos.
um deles é o “Meu ramal”. É uma operadora VOIP que está funcionando em fase
experimental. Queremos oferecer esse produto em todo o Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como
funciona?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quando
qualquer pessoa em Natal liga para o nosso número de telefone fixo (3032-9032),
ela ouve uma gravação orientando a discar um número de ramal. Essa ligação é
automaticamente transferida o nosso usuário que adquiriu aquele ramal. Por
exemplo, uma pessoa que mora no Rio de Janeiro pode ter um ramal aqui em Natal
para que seus amigos possam ligar para ele a custo de uma ligação local. Existe
também a possibilidade de a pessoa adquirir um número exclusivo, sem a
necessidade de passar por um ramal. Nesse caso o preço seria mais caro. Estamos
viabilizando um preço acessível para tornar o serviço bem popular. A intenção
é, por exemplo, chegar a 10 reais por cada ramal. Está em fase de testes há
três meses. Outro detalhe é que você utilizando esse ramal pode ligar para
qualquer número fixo do Brasil a custo zero. Estamos assinando um pacote que
permitirá ligar para qualquer número do Brasil, inclusive celular, também
pagando zero. Pegando isso e colocando no meio corporativo, aí é que é
vantajoso mesmo. Imagine uma pousada, que precisa confirmar reservas, por
exemplo. A um custo fixo ligaria para qualquer telefone do país sem variar seu
custo. O único ponto negativo é que você não pode utilizar o serviço de VOIP
como sua linha exclusiva, já que ele não funciona como telefone emergencial.
Você não pode fazer ligação para números de emergência, como bombeiros ou
polícia. O outro ponto é que se a Internet não estiver funcionando, você não
vai ligar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quem se
interessar em adquirir uma linha no “Meu Ramal”, como deve fazer?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-0SH_3lmCLBE/UiXu3dYRffI/AAAAAAAABYc/0-asXoSC98Q/s1600/20130719_134859.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-0SH_3lmCLBE/UiXu3dYRffI/AAAAAAAABYc/0-asXoSC98Q/s320/20130719_134859.jpg" width="320" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Pode ligar
para (84) 9152-1122 ou (84) 9112-7552, ambos da operadora Claro. Ou então
enviar um email para </span><a href="mailto:charlimbraw@gmail.com"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">charlimbraw@gmail.com</span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> . Também estou
entrando em uma empresa que desenvolve aplicações para todo tipo de
teleconteúdo digital. A HXD é referência no Brasil e no exterior no
desenvolvimento de aplicativos interativos para múltiplas plataformas
tecnológicas, tendo como ponto de convergência a televisão. Também pretendo dar
um gás para ver se entro em um mestrado na USP. Quero debandar para São Paulo. Agora
estou concluindo uma pós em Comunicação Digital, na UnP. Caso meu plano de
morar em São Paulo não dê certo, vou tentar carreira em Brasília. Nos últimos
meses coloquei na cabeça que tenho que sair de Natal de qualquer forma. A
cidade é legal, é massa, mas preciso sair para poder ter um crescimento. Natal
ainda é bastante provinciana e tem uma mentalidade muito fechada, tanto
profissional quanto pessoal. Quero sair para poder, em outro lugar, medir de
verdade o potencial que tenho. Sinto que Natal está me limitando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por falar em
extrapolar limites, você e Ranieri colaboraram para que o último Jailbreak
pudesse ser lançado...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-0Hj4GkLQlYQ/UiXUfXgE2bI/AAAAAAAABWo/1lWwmVQG78M/s1600/20130719_134150.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-0Hj4GkLQlYQ/UiXUfXgE2bI/AAAAAAAABWo/1lWwmVQG78M/s320/20130719_134150.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sim. Eu e
Ranieri, o bat-parceiro, temos telefones da Apple desde o Iphone 2. Sempre </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">consumimos
muita tecnologia. Hoje em dia ficou fácil para o usuário fazer um Jailbreak. Basta
clicar em um botão e o bicho faz sozinho. Antigamente tinha que quebrar mesmo o
sistema. Era mais complicado. Foi desvendando o Iphone 2 que aprendemos tudo.
Destruímos tudo mesmo. Depois que houve a atualização do IOS, logo após o
penúltimo Jailbreak, continuamos lendo os fóruns, conversando, pesquisando...
Passou um grande período, e nada de sair o Jailbreak. Depois de muito tempo
mandamos um email apontando as brechas no sistema que utilizávamos para colocar
programas de monitoramento. Eles responderam agradecendo, dizendo que a brecha
era realmente válida e que tinha dado certo. O Jailbreak foi desenvolvido por
eles, mas o acesso para instalar no Iphone foi fruto do nosso toque. Mesmo
depois das últimas atualizações, ainda acredito que ser viável mais um ou dois
Jailbreaks. Reza a lenda que é impossível, mas eu tenho um último respingo de
esperança.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E a vida
sentimental?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Estou
solteiro já há muito tempo, apesar de nunca ter sido casado nem noivo. Nunca
subi no altar, nem botei aliança no dedo. Mas não fico preocupado, pensando ou
procurando. Deixo rolar. Agora que estou passando do meu primeiro quarto de
vida, já que pretendo viver pelo menos até os 120. Quando eu passar da metade,
penso nisso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Um medo que
existe hoje é de a pessoa ter seu computador, tablete, notebook ou telefone
invadido. O que você recomendaria a respeito de segurança na navegação na internet?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O engraçado é
que 90% das invasões ou roubos não são nem roubo, nem invasão. A própria pessoa
revela seus segredos. A recomendação é saber o que vai falar e expor para as
pessoas. O negócio é se controlar na hora de digitar. Certa ocasião, na época
do Orkut, passamos uns quinze dias brincando de roubar, entre aspas, email das
pessoas. Era só pensar um pouquinho para conseguir. Não precisava de nenhum conhecimento
tecnológico. Nas comunidades de solteiros e solteiras do Orkut conseguíamos o email
do MSN das meninas e íamos lá recuperar a senha. Pergunta secreta: qual a
comida que mais gosto? Voltava para o Orkut e lá olhava as comunidades da
menina: eu amo chocolate, apaixonada por lasanha... Era só usar um pouco a
inteligência. Depois a pessoa reclamava que tinha sido hackeada... Nada disso,
ela própria se dedurou. Uma boa dica para evitar esse tipo de problema é não se
expor demais. Quanto mais se expor, mais frágil fica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E Brasília? Você
gosta da cidade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-1IC8WkQQXEM/UiXXanVGLHI/AAAAAAAABXE/eeLRsQ1JU-Q/s1600/20130719_134109.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-1IC8WkQQXEM/UiXXanVGLHI/AAAAAAAABXE/eeLRsQ1JU-Q/s320/20130719_134109.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Me sinto como
na minha segunda casa. Sempre gostei muito de Brasília. Se eu não conseguir </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">pegar o vínculo em São Paulo, um dos cantos que vou correr é para cá. A cidade
é legal, boa pra viver. A parte verde é muito grande, isso é fantástico. A
cidade é toda projetada, pensada. Às vezes confunde tantas quadras e blocos
iguais. Mas aqui me sinto totalmente acolhido. Gosto também do clima: calor
durante o dia e frio à noite. Na primeira vez que vim, passei uma semana. Na
segunda, quinze dias. Nessa terceira já estou há mais de vinte. Na próxima
serão alguns meses. Se não der certo em São Paulo, venho correndo pra cá.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Deixe um
recado para o “Zona Sul”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">CHARLES</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Para qualquer
lugar que você se vira, hoje em dia, há uma carga infinita de informações. Por
isso você tem que delimitar quais as que servem para você e quais não. É
necessário usar um bom filtro, até porque grande parte daquelas informações é
lixo. Outro recado tem a ver com esse período em que o povo saiu às ruas para
exigir mudanças e protestar. Se você é a favor das mudanças, comece tentando
mudar a si próprio. Não adianta estar nas ruas gritando e protestando se você
chega em casa e comete os mesmos pecados que criticou. Por fim, uma frase: não
acredite em tudo que você lê, que você vê e que você ouve, tudo na vida é uma Matrix.
Valeu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gXPyZJd5o5A/UiXqOgAbHzI/AAAAAAAABYQ/Se7vxudtJeY/s1600/20130719_134913.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-gXPyZJd5o5A/UiXqOgAbHzI/AAAAAAAABYQ/Se7vxudtJeY/s200/20130719_134913.jpg" width="150" /></a><a href="http://2.bp.blogspot.com/-57X_u9zYoj4/UiXcPHmkLRI/AAAAAAAABXo/0zCLHUDUyZE/s1600/20130719_134850.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="200" src="http://2.bp.blogspot.com/-57X_u9zYoj4/UiXcPHmkLRI/AAAAAAAABXo/0zCLHUDUyZE/s200/20130719_134850.jpg" width="150" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-76024887023357341072013-08-02T14:52:00.001-03:002013-08-02T14:52:53.253-03:00Entrevista: Manassés Campos<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 18.0pt;">A MÚSICA
POTIGUAR NO VARAL DE MANASSÉS</span></b><span style="font-size: 18.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-0oxoVJqt5-Q/UfvvBksjYlI/AAAAAAAABVQ/FqLnq8ycjek/s1600/IMG_0078.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-0oxoVJqt5-Q/UfvvBksjYlI/AAAAAAAABVQ/FqLnq8ycjek/s400/IMG_0078.JPG" width="265" /></a>Manassés da Silva Campos nasceu em Natal, no dia 31 de
janeiro de 1962. No último sábado de junho, ele foi sabatinado, em Brasília,
por uma equipe de primeira que me acompanhou nessa entrevista para o “Zona Sul”.
O repórter Roque de Sá (<a href="http://agenciatempo.com.br/">http://agenciatempo.com.br/</a>)
cuidou não apenas da cobertura fotográfica, mas também encaixou perguntas que
facilitaram a montagem do mosaico da vida de Manassés Campos. O violonista e
empresário da gastronomia, Ricardo Menezes (que está de casa nova, o
Ancoradouro Sushi & Grill), utilizou sua amizade de décadas com o
entrevistado para preencher as lacunas da história que eu e Roque tentávamos
destrinchar. E Manassés não mediu palavras para contar seu lado mais conhecido
de jornalista, poeta, compositor, músico e servidor público, como também
revelou a formação evangélica, a curta passagem pelo Exército e o sonho não
realizado de ser um pesquisador de teoria estética da literatura.
(robertohomem@gmail.com)</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Conte sobre sua família.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Lá em casa todos temos nome começando com a letra “M”. Miguel, meu pai, é da
família Campos, de Lajes do Cabugi. Minha mãe, Maria, é de São José de Mipibu. Míriam
é a irmã mais velha. Trabalhou muito tempo com o marido, Orismar Carlos,
construindo aquelas lojas da Sport Master. Ela diz que ainda é empresária, mas
hoje em dia não faz nada, só aproveita a vida. Milca, a segunda, é servidora
pública aposentada. Moisés é servidor da Funasa. Mirtes também é aposentada do
serviço público. Depois dela, eu nasci. Em seguida veio Miguel Júnior, que é
servidor público da prefeitura de Natal, e Marinésio, que a gente chama de
Nezinho. Ele também é funcionário público. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que o seu pai fazia da vida?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> -
O homem que morava no interior, naquela época, normalmente trabalhava com a
terra. Fazer isso em Lajes, pleno sertão brasileiro (lá passa anos sem chover),
era praticamente impossível. Meu avô tinha terras na região, mas improdutivas. Ele
criava cabras e, quando chovia, gado. Papai se mudou para Natal na busca de
trabalhar em alguma coisa. Virou ourives: montou uma joalheria para
comercializar ouro e joias. Mamãe saiu de São José de Mipibu para estudar em
Natal. Lá os dois se encontraram, casaram e formaram a família. Meus pais têm
mais de 60 anos de casados. Antes de ser ourives, papai foi do Exército, na
época da Segunda Guerra. Conheceu mamãe quando deixou a vida militar. Quando
casaram, ele se converteu ao evangelho. A minha formação religiosa é
evangélica. Meus pais são da Assembleia de Deus. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que a religião evangélica representa para você?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-IsH0OOKwAe4/UfvvW8IGuUI/AAAAAAAABWA/FNyKIGTHc8Q/s1600/IMG_0150.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-IsH0OOKwAe4/UfvvW8IGuUI/AAAAAAAABWA/FNyKIGTHc8Q/s320/IMG_0150.JPG" width="213" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Por ter sido criado dentro dos conceitos e da doutrina evangélica, eu,
naturalmente, tenho um temor reverencial. Há quem discorde, mas acho que esse
temor reverencial de um Deus onipotente, onisciente e onipresente é que segura
a humanidade, sobre vários aspectos. Se não tiver esse freio de acreditar em
Deus, as pessoas perdem o senso de humanidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Há diferenças entre o evangélico de ontem e o de hoje?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Os evangélicos de antigamente se modernizaram ou se adequaram a uma nova
realidade. As igrejas não podem se isolar, como se num mosteiro estivessem, e
fugir de um mundo real que a sociedade vive hoje. A televisão ditou novos
costumes, rotas e roteiros a serem seguidos. Na minha infância, mamãe não podia
usar batom, brinco ou cabelo curto. Tudo o que pudesse proporcionar uma
atratividade maior às pessoas do sexo feminino era proibido. Principalmente nas
igrejas evangélicas mais conservadoras e tradicionais, havia essa proibição
talvez para evitar que os homens olhassem as mulheres com os olhos do desejo,
digamos assim. Hoje é diferente: elas vestem calças compridas, cortam cabelo, usam
brinco... <b><u>ZONA SUL</u></b> – Os
pastores ganhavam muito dinheiro?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Só posso falar pelo que vi. Quem eu vi foi o meu pai. Ele construiu muitas
igrejas, não apenas do ponto de vista religioso, mas físico também. Lembro que
- com seis ou sete anos de idade - eu o via preparando a massa, carregando
tijolo, manuseando a colher de pedreiro e construindo um templo. Papai nunca
teve casa ou carro comprados com o dinheiro da igreja. Ao contrário: quando havia
algum problema em alguma igreja evangélica do interior, quando algum tempo
estava caindo, quem ia resolver era ele. Sobre essa experiência eu posso falar,
a dos outros eu não sei. Papai hoje tem 86 anos e é uma referência, é um dos
pilares da igreja. <b><u><o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E a música, como surgiu na sua vida?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-dk2E4U4IoKQ/UfvvMUSl2sI/AAAAAAAABVw/D5XVLUEezlI/s1600/IMG_0105.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="213" src="http://3.bp.blogspot.com/-dk2E4U4IoKQ/UfvvMUSl2sI/AAAAAAAABVw/D5XVLUEezlI/s320/IMG_0105.JPG" width="320" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Meu pai tocou saxofone, antes de eu nascer. Começou quando era militar e,
depois, tocou na igreja. Não o vi tocar. Devo ter herdado geneticamente esse
gosto pela música. Quando minhas irmãs se tornaram adolescentes, papai comprou
para elas um acordeom. Por volta de 1974, ele adquiriu também um violão. Meu
irmão, Júnior, foi quem primeiro começou a tocar alguns acordes. Pouco tempo
depois, eu também comecei a me interessar pelo violão. Comecei naquele
autodidatismo, buscando as notas. Todos os meus irmãos ou sabem tocar alguns
acordes em acordeom ou no violão. Até mamãe tocava pandeiro. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que tipo de música você costumava ouvir?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Comecei a me interessar pela MPB aos 12 anos, quando ouvi Milton Nascimento. Um
amigo me emprestou o elepê “Milagre dos peixes”. Na mesma época, também fui
atraído por músicas de Caetano, Gil e Ivan Lins, entre outros, que tocavam nos
carros de som de campanhas políticas. A partir daí, juntava cada tostão que
ganhava para comprar discos. Em 1978, eu já tinha uns 200 discos. Além de MPB,
tinha rock pauleira (Uriah Heep, Black Sabbath e Kiss) e rock progressivo
(Rush). Até hoje sinto uma identidade grande com o “Clube da Esquina”. Me
identifiquei tanto com Minas Gerais, que terminei me casando com uma mineira.
Quando escutei “Beijo partido” e quando ouvi “Minas” fiquei pensando: “que
negócio é esse, quem é esse povo, onde é essa nação?”. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época, onde você estudava?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-MuRrRRRDnAc/UfvvKMzZddI/AAAAAAAABVg/kWFHaX8rkA4/s1600/IMG_0087.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="266" src="http://2.bp.blogspot.com/-MuRrRRRDnAc/UfvvKMzZddI/AAAAAAAABVg/kWFHaX8rkA4/s400/IMG_0087.JPG" width="400" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Estudei em São José de Mipibu até completar 14 anos e entrar na ETFRN, no curso
de Mineração. Lá encontrei colegas que compartilhavam do gosto pela música.
Entre eles, Sueldo Soaress, Ricardo Menezes, Santa Rosa e Zanoni, que
infelizmente morreu tragicamente há pouco tempo. Na Escola estudavam pessoas de
várias vertentes culturais, étnicas e sociais. A convivência no dia-a-dia
permitia a cada um captar e absorver aspectos da vida do colega. Era uma coisa
muito louca. Nessa época eu estava aprendendo uns acordes de violão. Quando não
sabia uma música, ia procurar naquela revista Vigu (Violão e Guitarra). Ela
trazia a informação musical bem organizada. Quando você tocava, sentia que o
acorde encaixava direitinho. Depois surgiram outras publicações meio
alinhavadas, não muito bem trabalhadas.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Por que você optou por Mineração?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Na vida, às vezes você faz escolhas sem saber o porquê. Na época a Petrobras
estava se instalando no Rio Grande do Norte. Os alunos de Mineração,
Eletrotécnica, Mecânica e Geologia, quando terminavam o curso, faziam um
estágio de 45 dias e eram contratados, sem precisar de concurso. Não aproveitei
essa facilidade porque, quando concluí Mineração, o Exército me pegou. A
maioria dos meus amigos fez o alistamento militar em cidades do interior. Eu me
alistei em Natal. Para complicar, o tenente que coordenava a comissão de
seleção do Exército me conhecia de uma forma não muito boa. Jogando voleibol
pela ETFRN, vez por outra enfrentava o time da Brigada do Exército. Além de a
gente sempre vencer, em duas ou três ocasiões subi na rede e carimbei uma “medalha”
no peito desse tenente. Enquanto ele ficava bravo, eu ria. No dia em que fui me
apresentar, quando ele me viu, olhou pra mim e disse: “agora você vai jogar com
a gente aqui no time da Brigada”. (risos). Por intermédio de Jorge Moura –
nosso treinador de vôlei na Escola – ainda busquei uma alternativa para escapar
do Exército e ir para a Petrobras. O
tenente respondeu ao bilhete de Jorge dizendo que não tinha quem me fizesse ser
dispensado. Entrei e fiz curso para cabo e, em seguida, para sargento. Por isso
tive que ficar três anos no Exército. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você recomendaria ao seu filho servir às Forças Armadas?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-VCDiqGTEmkc/UfvvAXRSgTI/AAAAAAAABVI/fDd4okC_poo/s1600/IMG_0076.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-VCDiqGTEmkc/UfvvAXRSgTI/AAAAAAAABVI/fDd4okC_poo/s320/IMG_0076.JPG" width="213" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
A dinâmica social, hoje, é diferente. O mundo mudou. Hoje, quando a família se
organiza, ela tem condições de disciplinar e administrar a vida de um
adolescente para que ele exerça sua cidadania. Por isso eu não diria a meu
filho para ele cumprir o serviço militar. Mas, para mim, foi importante. Pude
exercitar a autodisciplina e a determinação e também pude traçar objetivos e
buscar alcançá-los. O serviço militar contribui para o amadurecimento do ser
humano, o tempo que passei lá não foi perdido. Fui para o Exército na época em
que estava começando a ingressar num tipo de leitura que era marginal e a me
envolver com movimento estudantil. Aos 18 anos, eu estava acostumado a
participar de rodas de violão com amigos, a jogar vôlei e futebol, a namorar e
ir para boteco, a curtir a praia e me divertir. Nessa época eu já ensaiava
tocar meia hora no “Boca da Noite”, na subida da Rio Branco. De repente esse
cenário mudou radicalmente e eu me vi no Exército.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde você foi servir?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> -
No 2º Batalhão de Engenharia e Construção, lá em Teresina. De lá me despacharam
para o destacamento Rodrigo Otávio, entre Xambioá (na época município de Goiás,
hoje pertence a Tocantins) e São Geraldo do Araguaia (no Pará). O rio era a
divisão entre Goiás, Pará e o Mato Grosso. Fiquei exatamente na região onde
poucos anos antes, tinha sido debelada a Guerrilha do Araguaia. O destacamento
existia naquela região para não permitir a repetição da experiência. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que de interessante, sobre a guerrilha, você pode contar?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Diziam que as armas dos guerrilheiros eram importadas da Rússia e de Cuba, mas
elas não passavam de espingardas de soca usadas por trabalhadores e caçadores
da floresta. Falam na prisão de gente com arma automática, mas, pelo que
presenciei, elas não existiam. Não vi metralhadoras ou fuzis. Como a coisa
ainda estava fresca, os moradores tinham medo de fazer muitos comentários sobre
o assunto. Mas ouvi que algumas pessoas teriam chegado por lá incentivando a
tal guerrilha. Porém, o povo da região nem sabia o que era. A população só veio
compreender depois. O Exército pensava que queriam fazer uma revolução, mas não
existia nada disso. Muita gente morreu sem saber porque. Arquivos mostram que
pessoas foram presas, torturadas e mortas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que conclusão você tira desse período no Araguaia?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-8t3EjPLaD0g/UfvvdkCz4kI/AAAAAAAABWQ/AkGxygbsMLA/s1600/IMG_0166.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="266" src="http://1.bp.blogspot.com/-8t3EjPLaD0g/UfvvdkCz4kI/AAAAAAAABWQ/AkGxygbsMLA/s400/IMG_0166.JPG" width="400" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Na época, eu não tinha uma leitura política adequada. Hoje entendo que, a
exemplo de tantos fatos brasileiros, sufocaram uma coisa que não existia. Houve
um exagero. Em Xambioá tentaram sufocar uma guerrilha rural que na verdade não
existia. O que tinha era gente passando fome e procurando terra, mas o
latifúndio não deixava. Mas, naquele tempo, eu era um militar que nem sabia
onde estava. Um jovem de 18 anos que tinha saído de Natal e largado aquela rotina
de ir para escola, tocar violão e me divertir com os amigos. Me vi dentro do
Exército, no meio do mato, na divisa do Pará. A experiência me chocou, mas
também contribuiu para eu ter uma visualização de que o mundo não era só aquele
habitat que eu compartilhava com a família e os amigos. Os horizontes ampliam
quando você sai do seu círculo natural. Passei seis meses em Xambioá. De lá
voltei para Teresina e retornei para Natal.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que rumo sua vida tomou depois do Exército?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Quando saí do Exército, alguns amigos da minha época já estavam trabalhando,
enquanto outros faziam faculdade. Saí meio sem saber o que ia fazer da vida.
Não consegui estudar enquanto estava na vida militar. Depois do Exército passei
dois anos parado, só estudando violão e vivendo. Com 23 anos, entrei no curso
de Letras, da UFRN. A Mineração eu enterrei de vez. Talvez se eu tivesse ido
para a Petrobras, não teria tentado realizar meu projeto de vida: ser um
pesquisador de teoria estética da literatura. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Por favor, explique essa teoria estética da literatura.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Em resumo, ela estuda como definir os grandes clássicos da literatura, como o
texto se organiza e o que o conteúdo daquele texto quer dizer. Por exemplo: quando
você escreve “no meu jardim existem muitas flores e o jardineiro colhe essas
flores para me dar”, não tem coisa mais lógica do que isso. Mas, quando a frase
é “no meu jardim existem flores que engoliram todos os monstros”, aí é preciso
interpretar o que o autor quis dizer com aquilo. Que flores são essas que
engolem monstros? O autor pegou os signos, as palavras, e construiu um texto
que vai possibilitar várias interpretações. De certa forma, a teoria estética
da literatura é o estudo do que os autores querem dizer com seus textos. Meu
projeto de vida, naquela época, era esse. Por isso fui cursar Letras, mas não
terminei. No último semestre desisti de ser teórico da literatura. Falou mais
alto a necessidade de existência. Mas, até então, meu projeto era ir para São
Paulo, tentar ser professor da USP. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Durante esse período, onde a música se encaixava?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Sempre estive próximo da música. No tempo de São José de Mipibu eu gostava de
ficar na praça, tocando com meu irmão Júnior e os amigos Eugênio Parcele e
Ismael Alves. Ismael, que é de Parnamirim, nessa época morou em São José de
Mipibu. Depois ele entrou em um formato de produção musical vinculado aos
movimentos sociais. Na ETFRN, até nas viagens do time de voleibol a gente
levava o violão. Mesmo no Exército, nunca deixei de tocar. Continuei tocando
violão e lendo poesia. O que me fez sentir necessidade de compor foi ver os
caras tocando na noite, em Natal. A noite sempre foi uma escola pra todo mundo.
</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Naquela época se tocava música autoral nos bares?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Pouco. Quem começou a tocar um pouco de música autoral foi Expedito. Depois,
Nazareno voltou de São Paulo e montou o “Antigamente”. Lá, ele e Silvana
tocavam composições próprias. Pedrinho Mendes e Sueldo Soaress começaram mais
ou menos na mesma época. Mas a produção não era grande. Infelizmente, Natal
nunca oportunizou aos seus artistas uma inserção maior no contexto cultural da
cidade. Houve certa efervescência entre os anos 1990 e 2000. Depois começou a
queda e hoje está em banho-maria. Natal, do ponto de vista da música popular,
está congelada de uma forma meio triste. A primeira vez que toquei em bar foi
no “Boca da Noite”. Ao final da apresentação de Sueldo, peguei o violão e
comecei a tocar. Como as pessoas gostaram, a dona do bar me chamou e pediu para
eu continuar tocando por mais meia hora. A partir daí comecei a tocar na noite,
mas esse nunca foi o meu forte. Tocando em bar, fui me aperfeiçoando. Então, resolvi
tentar estudar. Entrei na Escola de Música da UFRN e estudei teoria um tempo.
Estudei violão clássico para ter uma base e conhecer os acordes todos. Porém, acho
que para tocar bem um instrumento musical depende do instrumentista. Ou você
estuda por si só, ou termina sem conhecer. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E as composições, quando começaram a surgir?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> -
A primeira música que compus foi para participar de um festival interno da
ETFRN, em 1979. A música não logrou sucesso. Na segunda tentativa, a música que
inscrevi era um pouco melhor, mas também não teve boa classificação. Porém, em
1987 inscrevi duas músicas próprias e uma terceira – em parceria com Edinho
Queiroz – no Festival da UFRN. Essa última, chamada “Upstairs”, ganhou o
festival. Teve época de eu tocar em bar mais constantemente, mas Natal nunca
oportunizou a ninguém a possibilidade de ter uma vida musical autoral fazendo
shows e participando de projetos que permitissem sua sobrevivência. É bom
lembrar que artista não vive de ar, nem de vento.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Será que a competitividade dos músicos potiguares entre si contribui para isso?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Até o final da década de 1980, poucos tinham ido buscar espaço no Rio de
Janeiro e em São Paulo: Flor de Cactus, Nazareno, Gilson, Terezinha de Jesus,
Mirabô (que depois migrou mais para o mundo sindical) e outros poucos. Pedrinho
Mendes passou um tempo curtíssimo no Rio, e também não logrou êxito. Teve
também Gilliard, Carlos Alexandre... Acho que o grande sucesso potiguar foi a
música “Casinha branca”, de Gilson. Mas, curiosamente, o Rio Grande do Norte
foi um estado que não projetou ninguém no cenário nacional daquela época. Outros
estados que conseguiram formar artistas de sucesso, ainda hoje persistem. Terezinha
de Jesus teve um desponte importante. Além de a música dela ser boa, ela sempre
foi uma figura maravilhosa. Só Terezinha para explicar porque depois de tanto
sucesso ela voltou para Natal.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Terezinha fala sobre esse tema em entrevista que deu para o “Zona Sul” e que
está disponível na Internet: (<a href="http://zonasulnatal.blogspot.com.br/2009/01/entrevista-terezinha-de-jesus.html">http://zonasulnatal.blogspot.com.br/2009/01/entrevista-terezinha-de-jesus.html</a>).</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Talvez várias circunstâncias tenham impedido que a carreira de Terezinha e de
muitos outros tenha decolado e eles não tenham hoje um nome forte nacional. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como está a música brasileira hoje?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Esteticamente, até os anos 1990 a música brasileira era bem dividida. Tinha a
música brega e uma mais elaborada que entrava no rol da MPB. Sobre a música
brasileira de hoje em dia, acho que, do ponto de vista da construção e da
produção musical, ela está ótima. Quem procurar vai encontrar compositores
maravilhosos elaborando canções com conteúdo e esteticamente bem feitas. Dá
para fazer uma listagem enorme de cantores e compositores e ninguém conhece.
Por exemplo: quem ouviu falar em Sérgio Santos? É um compositor maravilhoso. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nos anos 1980 você, Antônio Ronaldo, Leão Neto, Edimar, Sueldo e tantos outros criaram
um movimento de grande repercussão na cidade. Fale sobre o “Trampo”.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-eO98mRkHmF4/UfvvLVkd-TI/AAAAAAAABVo/HuP7qVypcA4/s1600/IMG_0108.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="213" src="http://4.bp.blogspot.com/-eO98mRkHmF4/UfvvLVkd-TI/AAAAAAAABVo/HuP7qVypcA4/s320/IMG_0108.JPG" width="320" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
O “Grupo Trampo” foi criado naquela época em que os artistas trabalhavam de
forma isolada, cada um construindo o seu lado. O músico potiguar, a exemplo do
músico brasileiro – principalmente o compositor –, se sentia (e acho que hoje é
pior ainda) miniaturizado frente às estruturas engendradas pelo mercado. Não havia
uma motivação para ele produzir e divulgar sua música autoral. O mercado não
absorvia esse trabalho como deveria. Era difícil até registrar essas canções,
já que o formato que a tecnologia da época permitia era muito caro. O único
caminho que encontramos foi nos juntarmos e Sueldo tocar a música dele e a
minha, eu tocar as minhas canções, as dele e as de Ronaldo, e Ronaldo tocar as
nossas e as de não sei quem lá. Tenho até hoje um texto impresso, um compêndio
de umas 50 páginas, onde tentamos interpretar aquele momento.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem é o autor desse texto?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Antônio Ronaldo escreveu um bocado, eu escrevi outra parte, Leão Neto corrigiu
e deu muitas ideias, junto com Sueldo. Foi feito um “brainstorm” grande para
discutir a música brasileira e a potiguar de antes, a daquele momento e a que
poderia surgir depois. O fato é que o “Grupo Trampo” gerou um “boom”. Fizemos
um show na Rua da Floresta, na Vila de Ponta Negra, que reuniu 1.300 pagantes. Depois
dessa festa conversei com umas 30 pessoas do Ceará que tinham ido assistir. O
“Trampo” deu uma certa impulsionada na música popular potiguar. Depois o
movimento se esvaiu devido a várias circunstâncias. Do jeito que começou,
acabou. Não foi um movimento planejado, como também sem planejamento nenhum
acabou. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Existe a possibilidade de o “Trampo” ressurgir?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Vez por outra converso com Antônio Ronaldo e Sueldo e a gente até comenta que
poderia tentar reeditar. Mas o momento hoje é diferente. O fato é que a partir
do “Trampo” alguns discos foram lançados. Eu lancei um, Leão Neto e Edimar
Costa lançaram outros. Até então, só Pedrinho Mendes tinha gravado dois discos.
“Flor de Cactus”, Nazareno e Terezinha de Jesus tinham produzido elepês, mas
fora da cidade. Demos nossa contribuição para o povo perceber que a música
local tem valor. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre esse seu primeiro disco.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Lancei em 1989. Naquela época era difícil e caro fazer um disco. O poeta e
professor macauense Benito Barros, já falecido, foi quem deu a ideia e me
ajudou a buscar uma forma de viabilizar o projeto. Angariamos recursos de um
lado e do outro. Fui gravar no estúdio “Estação do Som”, em Recife. O disco se
chamou “Nós” e foi lançado com quatro canções, duas de cada lado. Ele rendeu bons
frutos, do ponto de vista da divulgação e da ampliação do trabalho musical que
eu vinha fazendo. O LP me deu oportunidade de uma entrada maior, consegui
participar de vários projetos no Nordeste: João Pessoa, Fortaleza, Maceió... </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando você gravou esse disco já tinha uma ocupação profissional fora da
música?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Eu era estudante universitário e ainda tinha o sonho de sobreviver da música,
de trabalhar nessa área.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando esse sonho virou pesadelo?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-uv2G0UXUjso/UfvvU-lYWSI/AAAAAAAABV4/r0Tkk5th_wE/s1600/IMG_0144.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-uv2G0UXUjso/UfvvU-lYWSI/AAAAAAAABV4/r0Tkk5th_wE/s320/IMG_0144.JPG" width="213" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Esse sonho não virou pesadelo nunca, mas migrou para o espaço mais concreto da necessidade
de sobrevivência. Vendo por um ângulo poético, esse pesadelo perdura até hoje. Pesadelos
se transformam em sonhos que emocionam quando consigo construir uma nova canção.
Tem certas músicas que começo a tocar e não consigo terminar, emocionado. Às
vezes, chego ao final da canção meio cambaleante, carregando aquela emoção
forte. O artista da música popular é dotado de conjugações, cores, imagens,
verbos e sons para colorir a vida e deixá-la mais prazerosa e emocionante. Ele
busca transformar em uma realidade bonita esse sonho que às vezes é pesadelo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Antes de lançar seu segundo disco, que outros caminhos você buscou para poder
sobreviver?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Quando a pessoa não tem uma família que possa lhe dar uma vida nababesca ou
principesca, como aqueles clãs ricos e tradicionais do Nordeste, ela
normalmente tem que fazer alguma coisa na vida para sobreviver. No Nordeste -
em Brasília também é assim - se procura muito o serviço público. Então decidi:
se não conseguia me manter como artista seria servidor público. Fui estudar
para fazer concurso público. Dessa forma ingressei no Judiciário e até hoje
estou por lá. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você se sente frustrado por isso?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Não. Até porque continuei trabalhando com música. Mas, antes de ingressar no
serviço público, concluí a universidade. Quando desisti de Letras, fiz reopção
e entrei em Direito. Foi outra faculdade frustrada. O Direito é muito voltado
para o positivismo, para a preservação do “status quo”, do que está
estabelecido, do ordenamento jurídico. Na época eu usava camisa com o poema de Brecht,
“O Analfabeto Político”. Sempre tinha uma opinião diferente do que estava
tradicionalmente posto. Então desisti do Direito e me direcionei para o
Jornalismo. Lá encontrei tudo o que é vertente. Paralelo ao novo curso, comecei
a estudar para concurso. Já são 24 anos de serviço no Tribunal Regional do
Trabalho, sem abandonar a música. Nesse meio tempo, lancei meu segundo disco,
“Varal do Tempo”. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre esse CD.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-6J9T1UmM4dE/UfvvXZU4rpI/AAAAAAAABWI/DbIHbBAvgms/s1600/IMG_0145.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-6J9T1UmM4dE/UfvvXZU4rpI/AAAAAAAABWI/DbIHbBAvgms/s320/IMG_0145.JPG" width="213" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Pensei no disco como ele sendo um varal onde eu expusesse a minha vida. Cada
peça de roupa, cada camisa estendida seria uma canção. No disco tem canção para
mim, para o meu filho, para a minha esposa, para a minha cidade, para os meus
amigos, para aqueles que militavam na música... Compus uma música para cada um
desses temas e joguei dentro do disco. Acho que saiu um disco bacana em
estética e conteúdo. A repercussão foi muito boa, tanto que, surpreendentemente,
uma das músicas foi gravada várias vezes por outras artistas. “A Lua, o Amor e
o Mar” foi regravada cinco ou seis vezes. Até uma americana, chamada Kate
Bentley, gravou e escolheu o nome dessa canção para ser título do seu disco lançado
com canções brasileiras. A cantora carioca Claudia Amorim gravou quatro músicas
minhas em um disco.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como elas conheceram seu trabalho?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Claudia Amorim ouviu o disco, gostou e entrou em contato. Kate Bentley também. Kate
é uma diplomata americana que cantava nos Estados Unidos. Morou um tempo em
Recife, mas hoje reside em Londres. Fiz o lançamento do “Varal do Tempo” em
Natal, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro. Um jornalista do “Jornal do
Brasil” fez uma crítica interessante do CD e publicou na capa do caderno de cultura
de Niterói. Fiz um show no “Armazém da Música”, em Niterói. Na plateia tinha um
cara do Pará, em uma mesa com cinco pessoas. Ele foi ao show para me conhecer.
Não sei como, ele possuía o meu elepê. Esse paraense comprou cinco CDs para
presentear os amigos. No Rio Grande do Sul, um cara já tinha o CD por lá. Se eu
fosse me dedicar exclusivamente à música, o resultado da divulgação seria bem
maior, já que é um disco bacana, bem tocado. Tem Arthur Maia (baixista),
Marcelo Martins (sax e flauta), Sérgio Farias, Jubileu, as cantoras Khrystal,
Lene Macedo e Valéria Oliveira, Gilberto Cabral (trombone)... Ricardo deu uma
contribuição grande! Agora estou preparando o terceiro. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Esse novo disco já tem nome?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Deverá se chamar “Terra à Vista”. As músicas já estão gravadas. Nele me mostro
enquanto pessoa humana, artista da música e me dou oportunidade para falar
sobre o que eu descobri na vida. As canções falam dos boqueirões que a vida me
abriu e as interpretações que eu dei a esses boqueirões que a vida me
proporcionou. Eu falo da natureza, do amor e de tudo o que acontece na vida de
uma pessoa. Está quase pronto. Talvez precise de um detalhe aqui e outro ali. É
quase o mesmo time que participou do primeiro: Sérgio Farias, Jubileu, Erick
Firmino, Dudu Taufic e Di Stéffano. O CD tem linguagem de banda. Tem também Marcelo
Martins (sax e flautas). A intenção era ter lançado no ano passado. Como esse
prazo já foi para o espaço, vou ver se consigo lançar o disco até outubro. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre sua mulher e seu filho, pessoas que compartilham mais diretamente a
vida com você.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-_FN6LC_ocyI/UfvvdyNq0RI/AAAAAAAABWU/CaBgGVY8nxs/s1600/IMG_0160.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-_FN6LC_ocyI/UfvvdyNq0RI/AAAAAAAABWU/CaBgGVY8nxs/s320/IMG_0160.JPG" width="320" /></a><b><u>MANASSÉS</u></b> –
Um pescador vai para o mar na expectativa de buscar a melhor pescaria para si e
para a sua família. Um garimpeiro está sempre à procura da melhor pedra
preciosa, do melhor mineral. Um cavaleiro escolhe dentre os melhores cavalos a montaria
que ele acha ser a ideal. Enfim, o ser humano sempre procura na vida o melhor. Na
verdade, o que eu tenho de mais precioso hoje eu não procurei. Surgiu como se
fosse um prêmio do qual eu talvez nem fosse merecedor. Nem saí para o mar, como
o pescador; nem fui ao garimpo, como o garimpeiro; nem escrevi um bom livro,
como escritor teria feito. Surgiu para mim como se presente fosse. Talvez eu
até merecesse, mas não estava buscando. Baseado na minha formação religiosa,
diria que esse presente me foi dado por eu ter um bom coração. Foi uma
recompensa. Ana é uma pedra preciosa que já veio para mim lapidada...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
...E que você guarda como um tesouro...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Não guardo como um tesouro. Ela é uma pessoa que me traz um aprendizado constante.
Aí é onde reside a maior riqueza pra mim. Esse aprendizado me projeta como ser
humano. Quando a conheci, ela me deu a possibilidade de me sentir realizado
como ser humano. Depois, com o nosso filho, Eduardo (Dudu), surgiu um pulso de
humanidade que – nessa vida conturbada de hoje - ao mesmo tempo me enriquece e
me ensina que eu tenho que estar em uma constante desaceleração da ansiedade do
dia-a-dia. Quanto menos ansioso estiver, mais em paz estarei com a família. Com
eles dois, consigo ser mais humano, mais pai, mais amigo, mais filho, mais
indivíduo. A cada dia eles me ensinam a viver melhor. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado para o leitor do Zona Sul.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Primeiro eu gostaria de sugerir ao povo potiguar que preste mais atenção nos
seus artistas. Natal tem uma possibilidade musical riquíssima, tem compositores
belíssimos como Antônio Ronaldo, Babal, Cleudo, Luiz Gadelha, Sueldo Soaress,
Pedro Mendes e tantos outros. Na música instrumental, também. Tem músicos de
qualidade internacional, como Eduardo Taufic, Jubileu, Sérgio Farias, Sérgio
Groove e Ricardo Menezes. Infelizmente os veículos de comunicação de massa no Brasil
têm prestado um grande desserviço. Desde a Rede Globo até os outros, eles
ideologizaram a música nacional colocando a cultura de massa em detrimento das
raízes culturais do nosso povo. O que me interessa, aqui no Brasil, conhecer o
funk dos Estados Unidos - ou outros ritmos estrangeiros - enquanto não tenho a
possibilidade de ouvir e ver na TV o samba, o baião, a marcha-rancho e tantos outras
manifestações culturais nacionais? Hoje as pessoas vivem sob a égide da TV e do
rádio. O que é veiculado as pessoas absorvem, muitas vezes sem nenhum senso
crítico, de goela abaixo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como as pessoas podem ter acesso ao seu trabalho?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MANASSÉS</u></b> –
Acho que o CD “Varal do Tempo” ainda pode ser encontrado na Cooperativa da
Universidade e em algumas livrarias de Natal. Quem não mora em Natal pode
mandar um email para <a href="mailto:manassescampos@gmail.com">manassescampos@gmail.com</a>.
Estou no Facebook com o meu nome: Manassés Campos. Para finalizar, eu gostaria
de deixar registrado que as entrevistas que o “Zona Sul” está fazendo são
importantes porque perpetuam as histórias que são contadas. Como todo esse
material está disponível na Internet, as futuras gerações que porventura possam
se interessar por esses temas terão um repertório vasto para a pesquisa. Eles
poderão saber que existiram pessoas construindo histórias, fomentando novas
estéticas, compondo música e fazer artístico e sabendo que a humanidade caminha
no sentido da sua evolução. Diferente da sociedade de hoje, buscamos um futuro onde
o homem viva em benefício do próprio homem.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6CkhbkJpN7M/UfvvCdiD2UI/AAAAAAAABVY/mN2BlLD5nT8/s1600/IMG_0083.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://2.bp.blogspot.com/-6CkhbkJpN7M/UfvvCdiD2UI/AAAAAAAABVY/mN2BlLD5nT8/s400/IMG_0083.JPG" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-86118992426417592232013-06-29T09:36:00.001-03:002013-07-08T08:54:04.625-03:00Entrevista: Falves Silva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 20.0pt;">OS 70 ANOS DO POETA “MALDITO” DA IMAGEM</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ARkhGt9lNFE/Uc7SmAfLkeI/AAAAAAAABUg/K4W5JDUyoDs/s1600/20130601_111409.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-ARkhGt9lNFE/Uc7SmAfLkeI/AAAAAAAABUg/K4W5JDUyoDs/s320/20130601_111409.jpg" width="240" /></a>Foi Falves Silva quem viabilizou a primeira entrevista dessa
série de trabalhos que faço com a ajuda de amigos para o “Zona Sul”. Ele foi
quem conduziu a sua companheira, Terezinha de Jesus, para a conversa realizada
na I Bienal do Livro de Natal, em 2003, no Centro de Convenções. Dez anos
passaram até que surgisse a oportunidade de eu satisfazer o sonho profissional
de entrevistá-lo também. Como as melhores coisas da vida, a ocasião veio por
acaso. Melhor não sairia se fosse combinado previamente. Estávamos todos no
Sebo Vermelho, de Abimael Silva. Saímos direto para o bar “Point da Princesa”,
na Princesa Isabel, centro de Natal. Graças às intervenções do próprio Abimael,
do músico Paula Neto; da blogueira (<a href="http://escritosdealicen.blogspot.com.br/">http://escritosdealicen.blogspot.com.br/</a>),
escritora e professora Cellina Muniz; e do meu parceiro e amigo para todas as
horas, o jornalista Roberto Fontes, acredito que essa entrevista poderá servir
como presente para o septuagenário Falves Silva. Que Natal também possa
oferecer uma homenagem digna ao nosso maior poeta visual. Todas as mais de 100
entrevistas que fiz para o “Zona Sul” estão disponíveis, na íntegra, no site <a href="http://zonasulnatal.blogspot.com.br/">http://zonasulnatal.blogspot.com.br/</a>.
(<a href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a>) </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como é o seu nome verdadeiro?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Meu nome verdadeiro é Falves Silva. O mentiroso é Francisco Alves da Silva.
(risos)</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você não manteve o Francisco Alves para não ofuscar o cantor homônimo,
Francisco Alves, considerado “o rei da voz”?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Para falar a verdade, a história foi outra. O Falves surgiu depois que eu fiz
um curso de desenho por correspondência, em 1964. Um dos ensinamentos do curso
era o fato de o artista - da mesma forma que o jornalista, o cientista e o
escritor – poder mudar ou criar seu próprio nome. Pensei em escolher Chico da
Silva, mas já havia um pintor do Acre, descendente de cearense, que havia
ficado famoso com esse nome. Resolvi, então, colocar Falves Silva. Inicialmente
confundiram um pouco. Talvez devido ao movimento de pintura “fauvista”,
chegaram a escrever meu nome como Fauves, com “u”. Com o tempo, corrigiram.
Resolvi mudar o nome porque, desde criança, sempre pretendi ser artista.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Vamos retroceder um pouco na sua história. Onde você nasceu?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Em
Cacimba de Dentro, uma cidade pequena da Paraíba. Só fiz nascer lá. Minha mãe e
meu pai eram itinerantes. Logo cedo fomos para Japi, terra da minha mãe. Depois
mudamos para Nova Cruz. Aos cinco, fui morar em Santa Rita. Fiquei lá até os
dez anos. Em 1953 meus pais se separaram e eu mudei para Natal com a minha mãe.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Seus pais faziam o que da vida?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-3ciKLoO7f9g/Uc7Sh_jSIiI/AAAAAAAABTQ/ZKi2VeVmS_Q/s1600/20130406_132012.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-3ciKLoO7f9g/Uc7Sh_jSIiI/AAAAAAAABTQ/ZKi2VeVmS_Q/s320/20130406_132012.jpg" width="240" /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Meu pai era carpinteiro e a minha mãe cuidava da casa. Meu pai é de uma família
de Rio Tinto, na Paraíba. Ele era muito violento: batia na minha mãe e em mim
também. Minha mãe teve vários filhos, mas só escapamos eu e um irmão. Naquela
época, a mortalidade infantil era grande: quando sobrevivia um filho, escapava
fedendo (risos). Vim para Natal e foi aqui onde aprendi a discernir a vida.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
De onde são as suas primeiras recordações? Da Paraíba?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Algumas
são de lá, mas outras tantas são daqui também. De lá recordo o fato de eu ter
começado a desenhar desde menino. Antes de completar cinco anos, eu já
desenhava. Certa ocasião, desenhei as partes genitais de uma mulher, por cima
de um desenho de um vestido publicado por uma revista de moda. Esse desenho foi
uma coisa rude. Quando meu pai viu, me deu um grande esculacho. Chorei que só a
porra! Provavelmente por conta disso, depois que aprendi a desenhar o corpo da
mulher, era como se eu estivesse fazendo uma coisa contra o meu pai. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Menino, morando no interior, como você conseguia material para desenhar?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Nesse início, eu desenhava com lápis. Tenho uma fixação pela imagem. Menino
curioso, sempre gostei de fotografia, desenho e de ler histórias em quadrinhos.
Naquela época eu já dizia que quando crescesse ia mexer com desenho. Acho
bonito no objeto da arte quando ele é reproduzido. Do original, nem gosto
tanto. Gosto de vê-lo reproduzido... Tem outro brilho.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você valoriza mais a reprodução que retrata fielmente o original ou aquela que
acrescenta algo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Depende.
Gosto das ampliações e das reduções. Estou com a ideia de fazer uma exposição
com trabalhos bem ampliados. Mas, hoje em dia, devido aos custos, fica difícil
trabalhar com ampliação. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando você veio para Natal com sua mãe e o seu irmão, vieram morar onde?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Fomos
morar com minhas tias em um local que antigamente era conhecido como “Alto do
Juruá”, em Petrópolis. A viagem para Natal foi de trem. Tinha uma linha que
vinha de Recife e fazia uma parada em João Pessoa. Foi uma viagem longa, chovia
pra cacete. Quando cheguei, estava chovendo muito. Após o desembarque, quando
estava subindo a ladeira da Junqueira Aires, vi aquele relógio do SESC batendo
nove horas da noite. Depois de três meses, foi preciso eu começar a trabalhar.
Eu tinha 10 anos e pouco quando a família começou a reclamar: “esse menino tem
que trabalhar”, e tal... Eu era o filho mais velho. Meu irmão é mais novo do
que eu seis anos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Arrumaram o que para você?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Fui trabalhar n’“A República”, como distribuidor de jornal. Depois de algum
tempo, saí de lá para o “Diário de Natal”, nessa mesma proposta de distribuir
jornais, só que em bairros diferentes. Fiquei conhecendo a cidade toda. Naquele
tempo Natal devia ter uns 90 mil habitantes, no máximo 100 mil. Era uma cidade
pequena. Como tinha amigos que gostavam de cinema, começamos a assistir filmes assiduamente,
quase todos os dias. Passei a me reunir com esse grupo de amigos na Juventude
Operária Católica (JOC), uma organização da Igreja Católica. Aprendi muita
coisa por lá. Por volta de 1960, o padre Barbosa, da Igreja Santa Terezinha –
que sempre gostou de cinema – convidou a gente para participar de umas
reuniões. Desses encontros surgiu o “Cineclube Tirol”, em 1961. Lá se reuniram os
caras mais importantes da cidade, ainda até hoje: Moacy Cirne, Anchieta
Fernandes, Nei Leandro de Castro, Juliano Siqueira, Marcos Silva, Dailor
Varela, Fernando Pimenta, João Xavier, Antonio e Franklin Capistrano, Bené
Chaves, Francisco Sobreira... O Cineclube foi um verdadeiro foco de novos
intelectuais, artistas, críticos de cinema, poetas, romancistas, artistas
visuais e políticos. Fizemos três filmes no Cineclube. Filmezinhos curtos,
preto e branco, de oito milímetros. Naquele tempo não tinha a tecnologia de
hoje. O resultado foi bem interessante, para a época. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como eram esses filmes?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Um foi baseado em um texto de Nei Leandro de Castro, “Romance da Cidade do
Natal”, dirigido por Moacy Cirne. Outro teve o Forte dos Reis Magos como tema.
Foi dirigido por Gilberto Stabili, Franklin Capistrano e Francisco Sobreira. O
terceiro, dirigido por mim e Alderico Leandro, foi uma adaptação livre de um
conto de Willian Soroyan: “O Ousado Rapaz do Trapézio Suspenso”. Fiz esse filme
porque sempre gostei da literatura americana, e pelo fato de o contista Willian
Soroyan ter me impressionado. Também porque me identifiquei com o personagem.
No fundo eu achava que era o ousado rapaz do trapézio suspenso. O filme ficou
legal, mas perdemos todas as películas. Não existe mais nada desses filmes. A
película é muito perecível, especialmente aquela antiga.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois do emprego como entregador de jornais, que rumo a sua vida tomou?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-jhQezF3e0Z0/Uc7Slkf227I/AAAAAAAABUM/Z-sEmCc_FAs/s1600/20130601_111337.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-jhQezF3e0Z0/Uc7Slkf227I/AAAAAAAABUM/Z-sEmCc_FAs/s320/20130601_111337.jpg" width="240" /></a><b><u>FALVES</u></b> – É
bom dizer que, mesmo trabalhando nessa função, eu estudava no Colégio Alberto
Torres. Meu único diploma acadêmico é o ginásio. Como sempre gostei de cinema,
de arte e de ler, a leitura me orientou melhor para a vida. Junto com o JOC -
que exigia um pouco de leitura - e trocando conversas, terminávamos entrosando
os conhecimentos. Porém, eu precisava trabalhar. Depois de passar por “A
República” e o “Diário”, fui trabalhar como ajudante de sacristão, na Catedral.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Existe essa profissão?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Não tem ajudante de pistoleiro? Por que não teria ajudante de sacristão?
Interessante é que a minha mãe sempre foi protestante, mas eu me desviei e fui
para o catolicismo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É raro um artista assumir que tem uma religião.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Não sou frequentador assíduo, mas lá dentro sinto que a coisa da religiosidade,
da Igreja Católica, tem muita força sobre mim. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você seria um “católico do IBGE”?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Acho que sim. Sou aquele católico que aparece na estatística, mas pouco
comparece às missas. Depois da experiência com o padre, fiz de tudo. Até vendi
cocada e laranja na praia, pra escapar. Em 1976 fui a trabalhar na Tipografia
Galhardo, que era embaixo da “Boate Arpége”. Comecei varrendo e ajudando na
limpeza. Depois, aprendi a profissão de gráfico. Nesse trabalho, me
especializei em cortar papel. Sempre gostei de papel, de sua parte física. Esse
primeiro emprego de carteira assinada data de 1957. Trabalhei lá até 1964. De
lá fui para a Livraria Ismael Pereira, tomar conta do depósito, de todo
almoxarifado que chegava. Por isso é que me arrisco a dizer que fui o primeiro
cara a ler “Ulysses”, de Joyce, em Natal. Quando veio a primeira remessa,
quando abriu a caixa, eu já comprei um exemplar. Parte do dinheiro que eu
ganhava trabalhando ficava lá mesmo, porque eu sempre comprava muito livro.
Depois de Valter Pereira, onde fiquei durante cinco anos, passei um período de
bobeira, naquela coisa de porra louca.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você tentou sobreviver da arte?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Nunca
sobrevivi de arte, antes pelo contrário. Do pouco salário que recebia, gastava
comprando material, tirando cópias e enviando meus trabalhos pelo correio.
Nunca ganhei dinheiro com arte, salvo – evidentemente - aqui e acolá, quando fazia
uma exposição ou acontecia algo diferente e eu vendia um ou dois trabalhos. Mas
isso não é suficiente para sobreviver. Por ter consciência disso, nunca me
arrisquei. Aliás, até me arrisquei nesse período entre 1968 e 1971, mas não deu
certo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi essa experiência?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Horrível! Eu morava em Mãe Luiza com o meu irmão, Natanael Virgínio, que era
jornalista da “Tribuna do Norte”. Ele trabalhou lá durante 21 anos, depois foi
para o “Diário”. Vivi esse período na porra-louquice de só ficar curtindo,
tomando birita e tirando onda. Passei dois anos sem trabalhar. Nessa época
conheci todo tipo de droga. Tinha uma lenda, na cidade, dizendo que a fumaça da
maconha fazia o usuário adormecer para os ladrões roubarem. (risos). </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A droga ajuda o artista a produzir mais?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Depende muito. Eu não gosto de fazer nada drogado, nem com bebida. Não gosto de
cocaína, nem de pico, a cerveja é a minha droga predileta. A mim a droga não
estimula. Só trabalho sem o efeito da droga. Sou um cara totalmente metódico.
Todo meu trabalho é feito com linhas, precisão matemática e tal. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Mas você estava contando sobre seu período de porra-louquice...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Fiquei
nessa vida até que Pedro Vicente, sabendo que eu estava desempregado, me
arranjou um trabalho na Tipografia Relâmpago, na Ribeira. Fiquei lá durante 15
anos. Me tornei chefe de oficina e editei meus primeiros livros lá. Tipograficamente,
ainda sem a tecnologia do offset. Eu aproveitava a sobra de papel. Antigamente,
quando se comprava uma resma de papel, sempre vinha uma folha de suporte em
cima e outra embaixo. Resolvi aproveitar essa sobra para fazer um livro meu.
Não tinha custo para a empresa. Consegui produzir um livro “fodidamente”
bonito, “Elementos da Semiótica”, em 1982. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando foi sua primeira exposição?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-SZD6_1E_DGI/Uc7Sk3bnkNI/AAAAAAAABUE/nkHNOvDUy8E/s1600/20130601_111259.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-SZD6_1E_DGI/Uc7Sk3bnkNI/AAAAAAAABUE/nkHNOvDUy8E/s320/20130601_111259.jpg" width="240" /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Foi em 1966, na Galeria de Artes da Praça André de Albuquerque, durante a
administração do prefeito Agnelo Alves. Minha exposição foi a primeira ação da
proposta cultural dele de fazer a arte natalense crescer. O problema é que
depois ele foi cassado e a coisa não andou. Essa minha exposição estava
prevista para permanecer um mês, mas durou apenas uma semana. Só soube há pouco
tempo que essa exposição talvez tenha sido censurada por conta da igreja que
tinha em frente. Até então eu pensava que tinha sido censura da política. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você expôs que poderia ser censurado?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Tudo! (risos). Ou seja, nada! (mais risos). Tinha uns nus, mas eram nus bem
feitos, sem escancaramento. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quer dizer que era uma exposição erótica, apoiada pelo prefeito. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Exatamente, recebi apoio oficial da Prefeitura de Natal. Quem me apresentou
artisticamente à cidade foi Nei Leandro de Castro. Naquele tempo não tinha
televisão. Dei entrevista na “Rádio Cabugi”. Dailor Varela fez o texto do
catálogo. Era um catálogo simples, naquele tempo era comum fazer coisas simples.
Não tinha offset, nem porra nenhuma. No ano seguinte à proibição dessa
exposição, eu, Dailor Varela, Marcos Silva, Alexis Gurgel e mais dois amigos
resolvemos fazer uma exposição em um cabaré, só para tirar onda. Como na praça
foi proibido, resolvemos fazer a exposição no “Francesinha”, que era um local
de dança onde você marcava e pegava o itinerário. Essa exposição foi um terror,
a sociedade toda de Natal foi. Até Luiz Maria Alves, que mandava no “Diário de
Natal”, foi. A divulgação foi só em jornal e rádio. Dailor trabalhava na “Tribuna
do Norte” e Alexis no “Diário de Natal”. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual a reação das pessoas ao chegar no “Francesinha”?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Gostaram muito. Passados quarenta e tantos anos, ainda encontro gente
comentando: “você é aquele cara da exposição”. Aí eu pergunto qual exposição,
mas já sabendo que ele vai responder que é a do “Francesinha”. Há dois anos
encontrei um que me fez essa pergunta. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você foi um grande consumidor de revistas eróticas? Onde comprava?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> - Sempre
gostei de comprar livros e revistas. Tenho fixação por fotos, imagens. Eu
comprava no Sebo de Cazuza, que funcionava na Rua Ulysses Caldas, em frente ao
Camelódromo. Eu comprava muito livro e aquelas revistas proibidas de nudismo. Na
ótica de hoje, eram publicações pudicas. Cazuza camuflava, escondia as revistas
por baixo das outras. Quem comprava, já sabia onde procurar. Frequentei outros
sebos e livrarias, como a Livraria Universitária, que de 1965 até setenta e
pouco foi importante ponto de encontro da cidade. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessas exposições você vendeu muito? </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Não, só ganhei mixaria com elas. A exposição na qual ganhei mais dinheiro foi a
do último “Encontro de Escritores de Natal”, quando roubaram uns trabalhos meus
e eu fui indenizado. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> -
Seus trabalhos foram expostos e sua obra divulgada em vários países da Europa e
das Américas. Você tem memória dessas coisas?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-DVb1U9EsAd4/Uc7SjZ8xtAI/AAAAAAAABTs/Txz47LnNLPk/s1600/20130406_134932.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-DVb1U9EsAd4/Uc7SjZ8xtAI/AAAAAAAABTs/Txz47LnNLPk/s320/20130406_134932.jpg" width="240" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-jhQezF3e0Z0/Uc7Slkf227I/AAAAAAAABUM/Z-sEmCc_FAs/s1600/20130601_111337.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>FALVES</u></b> – Tenho
todo esse material arquivado em casa: catálogos, livros, documentações,
revistas... O ponto mais alto que cheguei como artista foi ter um trabalho meu
publicado na revista “Art in América”, que é editada nos Estados Unidos. É a
revista de arte mais importante. Um crítico da revista escreveu sobre a
exposição organizada por uma poetisa brasileira que mora em Austin, no Texas,
Regina Vater. Essa exposição, em 2002, contou com 57 poetas brasileiros ligados
à visualidade, poetas semióticos. Entre esses poetas estão Décio Pignatari,
Haroldo de Campos, Humberto de Campos, Caetano Veloso e sete do Rio Grande do
Norte. Tudo isso por conta daquele movimento que nós criamos, o “poema/processo”,
de 1967. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Em quais circunstâncias o “poema/processo” foi criado em Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – A
coisa começou com Moacy Cirne, que também pertencia ao “Cineclube Tirol”. Ele viajou,
em 1965, ao Rio e voltou com uma série de novidades, entre elas um exemplar da revista
“Invenção”, publicação literária criada pelos poetas concretos. Apesar de
consolidado no Brasil, o movimento da poesia concreta, criado nos anos 1950, ainda
era visto com reticências... Anos depois, um dos fundadores da poesia concreta,
o poeta Wlademir Dias-Pino, criou uma dissidência. Ele resolveu se separar do
pessoal por questões que nunca contou. Wlademir criou um método, um manifesto,
com seus poemas espaciais contidos nos livros “Ave” e “Solida”. Com Moacy no
Rio, a coisa foi se amplificando. Moacy, Dias-Pino, Alvaro de Sá e Neide de Sá
criaram um intercâmbio. Com Moacy sempre voltando a Natal e trazendo as
novidades, resolvemos lançar o movimento poema/processo simultaneamente em
Natal e no Rio de Janeiro, em dezembro de 1967. A tendência era a de substituir
a palavra e dar mais ênfase à imagem. Combinava perfeitamente com a nossa
geração, toda ela fanática por cinema. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como o poema/processo extrapolou o eixo Rio-Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – A
partir de exposições que fizemos em outras capitais, especialmente do Nordeste.
O pessoal da poesia concreta se concentrava no centro (São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais) e no exterior. Resolvemos investir no Nordeste.
Realizamos exposições em João Pessoa, Fortaleza, Recife... Outras pessoas foram
se engajando, como José Nêumane Pinto, que fez poema/processo quando morava em
Campina Grande. Walter Carvalho, aquele cineasta e fotógrafo paraibano, também
fez. O maestro pernambucano Marcus Vinicius de Andrade, que é uma figura
genial, foi outro que mexeu com poema/processo. Dessa forma o poema/processo,
aos poucos, foi se espalhando. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como o movimento chegou ao exterior?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-h_KqukbYJYo/Uc7Sk8TwBrI/AAAAAAAABUA/p6nEnqixboI/s1600/20130601_111248.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-h_KqukbYJYo/Uc7Sk8TwBrI/AAAAAAAABUA/p6nEnqixboI/s320/20130601_111248.jpg" width="240" /></a><b><u>FALVES</u></b> - Em
1969 fomos convidados para participar da “Exposição Internacional de Novíssima
Poesia”, no “Instituto Torcuato di Tella”, em Buenos Aires. Como não tínhamos condições financeiras de ir, mandamos os poemas. Nossos trabalhos fizeram grande sucesso. Coincidiu que
estava passando por lá o poeta francês Julien Blaine. Ele viu, documentou boa
parte dessa exposição e publicou em uma revista cultural francesa. Assim o
poema/processo tomou um rumo mais internacional. O poema/processo sempre foi de
encontro ao livro tradicional. A gente sempre preferiu produzir páginas soltas,
e enviar para centros culturais e artísticos dentro de envelopes. Dessa forma a
ideia foi se espalhando. Nesse período também começaram a surgir publicações
alternativas. A xerox estava surgindo, de forma embrionária, para substituir o
mimeógrafo. A gente foi se adaptando às novas tecnologias e fazendo publicações
as mais variadas possíveis. As tiragens eram pequenas, de 100 cópias. Mas elas
eram enviadas para pessoas estrategicamente selecionadas, até para fora do
Brasil. A gente também recebia experiências análogas às que estava fazendo,
relacionadas com a semiótica.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como os irmãos Campos, Décio Pignatari e o restante da turma da poesia concreta
recebeu o poema/processo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Eles não gostaram muito e não gostam até hoje, por conta dessa briga com Dias-Pino.
Trataram como uma dissidência, sem alimentar muita conversa. Soube recentemente
que, depois da morte de Haroldo de Campos, Augusto de Campos tentou entrar em
contato com Wlademir Dias-Pino, mas ele recusou. Deve ter sido uma coisa muito
chocante para Wlademir até hoje agir dessa forma. Tenho uma afinidade muito
grande com ele, que também foi gráfico. Os trabalhos de Wlademir são perfeitos.
Cada página é uma surpresa que você tem. <b><u>ZONA
SUL</u></b> – O poema/processo conseguiu criar um público, uma legião de fãs ou
seguidores em Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-DVb1U9EsAd4/Uc7SjZ8xtAI/AAAAAAAABTs/Txz47LnNLPk/s1600/20130406_134932.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Seguidores, com certeza. Duas dezenas, ou talvez mais. Posso até citar o nome
de pessoas que, direta ou indiretamente, sofreram influência do poema-processo:
Alderico Leandro, Alexis Gurgel, Bianor Paulino, Franklin Capistrano, Enoque
Domingos, Venâncio Pinheiro, Racine Santos, Iaperi Araújo, Bené Chaves... Nei
Leandro fez poema processo durante cinco anos. Resolvemos fazer uma parada
tática em 1972, para avaliação. Cada artista continuou fazendo suas
experimentações da maneira que quis.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você, por exemplo, foi fazer o que?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Continuei pesquisando na área da visualidade, sempre desenhando muito. Arrisco-me
a dizer que sou um bom desenhista. Gosto do preto e branco, mas fiz
experiências com várias técnicas. Tentei pintar, no início, mas devido a um
problema de intoxicação, perdi o interesse. Gosto mesmo é de desenho ou de
trabalhar com colagens e montagens...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O erotismo é o tema principal da sua obra?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Não. Sou mais conhecido pela parte ótica, pelo trabalho com cores e tal. Esse é
o meu carro-chefe, mas trabalho em várias vertentes. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Vamos falar sobre os seus trabalhos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – A
ideia do primeiro, “Elementos da Semiótica”, é que livros não são feitos
necessariamente com palavras, mas sim com ideias. É uma mistura - no sentido
contrário - do que dizia Mallarmé (que um livro se faz com palavras, e não com
ideias), com correspondências que troquei com Wlademir Dias-Pino. Meu livro
trata das coisas da semiótica. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A ditadura militar o perseguiu de alguma maneira?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-if2BogGIDNU/Uc7Sh3yi8HI/AAAAAAAABTY/XwfvYxpOw-k/s1600/20130406_132100.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>FALVES</u></b> – Não.
Quando o poema/processo surgiu, em 1967, a palavra ainda era fundamental. Hoje,
não. A televisão está aí para provar que a imagem tem muito mais força do que a
palavra. O regime militar não compreendia o nosso trabalho, não conseguia
detectar o efeito simbólico e satírico dele. Por isso, nunca houve perseguição do
ponto de vista político. A gente sempre agiu de maneira sorrateira perante a
ditadura. Não só nós, do Rio Grande do Norte, mas os nossos colegas da Paraíba,
do Rio de Janeiro, todo mundo agia assim. Na primeira exposição, no Rio, tinha
um cartaz: “Abaixo a ditadura da palavra”. Da palavra, do verbo, e na política.
Tinha um significado de duplo sentido. Defendia o fim da ditadura, em si, e a
extinção da ditadura da palavra. A acadêmica, especialmente.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Amante das letras, você nunca pensou em seguir uma carreira dentro da academia,
até mesmo para aperfeiçoar e embasar melhor o seu trabalho? Em outras palavras:
por que você preferiu o autodidatismo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Nunca pensei em seguir uma carreira acadêmica porque me sinto mais à vontade
estudando por conta própria. Óbvio que a questão econômica facilitou essa minha
decisão. Nunca tive nada contra a academia, antes pelo contrário. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Então vamos voltar a falar sobre suas publicações. Depois de “Elementos da
Semiótica”, o que veio?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-if2BogGIDNU/Uc7Sh3yi8HI/AAAAAAAABTY/XwfvYxpOw-k/s1600/20130406_132100.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-if2BogGIDNU/Uc7Sh3yi8HI/AAAAAAAABTY/XwfvYxpOw-k/s320/20130406_132100.jpg" width="240" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-h_KqukbYJYo/Uc7Sk8TwBrI/AAAAAAAABUA/p6nEnqixboI/s1600/20130601_111248.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>FALVES</u></b> – Publiquei
o segundo, “Erótica”, pela Fundação José Augusto, em 1975. Mais uma vez sofri
com a censura. Tarcísio Gurgel, que trabalhava na gráfica da Fundação, foi quem
me convidou para preparar esse trabalho. O objetivo era lançar em dezembro, no
final do ano, quando as pessoas gastavam um pouquinho com arte. A publicação são onze gravuras de nus,
impressas. Não sei por que cargas d’água, Sanderson Negreiros, que era
presidente da Fundação, vetou a saída do livro, depois de tudo impresso. Depois
de tomar conhecimento dessa censura, falei com Chico Alves - que era chefe da
gráfica – e pedi para levar algumas cópias do livro. Ele autorizou. Peguei esse
material e enviei para várias partes do mundo: Espanha, França, Bélgica,
Estados Unidos... E também para vários jornais alternativos brasileiros, que
viviam um “boom”. Resultado: o trabalho proibido aqui foi publicado em todos os
jornais para onde mandei. Tenho tudo isso em casa, não é lorota. Cinco anos
depois, quando Cláudio Emerenciano assumiu a presidência da Fundação, o livro
foi liberado. Mas ficou só aquela coisa simbólica, pois o trabalho já tinha se
espalhado pelo mundo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Mais algum caso de censura?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Sim, nos anos 1970. Eu tinha exposição agendada na galeria da “Biblioteca
Câmara Cascudo”, que era dirigida por Zila Mamede. Antes de chegar na data,
Diógenes da Cunha Lima assumiu a presidência da Fundação e cancelou a
exposição. A censura se deu ainda em virtude da minha primeira exposição e do
“Francesinha”. Dei entrevista a Djair Dantas, marido de Diva Cunha, no Diário
de Natal. Ele avisou a Diógenes. No outro dia foram Zila Mamede e Mirabô Dantas
pedir para eu reconsiderar, para retirar o que tinha dito ao jornal. Não
aceitei. No final, concordei em retirar uns trabalhos que fiz com John Lennon e
Yoko Ono nus e Jimi Hendrix com um baseado, além de outros dois, para a
exposição ser viabilizada. Depois, nós fizemos as pazes: eu e a instituição
Diógenes da Cunha Lima. Porque ele não é apenas uma pessoa, é uma
instituição. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois desse, qual o livro seguinte?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
“Intersigno”, que tem uma apresentação de Dácio Galvão. É um trabalho de folhas
soltas, para ser enviado. Em seguida, continuei fazendo experimentações, como livros
de carimbo e, em 1978, realizei a exposição de arte correio “Olho Mágico”, na
Cooperativa dos Jornalistas, em Natal. Mandei convite para vários artistas. Os
cartões que eu enviei tinham só um círculo desenhado no meio, para o cara
trabalhar da maneira que quisesse. Houve uma devolução grande e eu fiz essa
exposição. Essa exposição foi feita em Recife (1979), João Pessoa (1980) e
repetida em Natal (1982). </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem mais mexeu com “Mail Art” em Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Fui
o primeiro a mexer com isso, a convite de Clemente Padin, com quem eu me
correspondia desde o início do poema processo. Ele me chamou, em 1974, para participar
de uma exposição no Uruguai. Bosco Lopes tinha editado seu livro há um ano e
pouco, e tinham sobrado algumas imagens. Fiz alguns cartões dele e os meus e
mandamos. Essa foi a primeira exposição internacional de arte correio que teve
a participação de artistas do Rio Grande do Norte. O meu poema relacionado a
isso foi “Sorria”. Alexis Gurgel trabalhava no “Diário de Natal” e fez uma
matéria de uma página. “Falves Silva: o operário comum, o artista maldito”. Por
causa desse título, até hoje sou conhecido como artista maldito. (risos). </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem influenciou você?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-if2BogGIDNU/Uc7Sh3yi8HI/AAAAAAAABTY/XwfvYxpOw-k/s1600/20130406_132100.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Na literatura, Edgar Alan Poe, Dostoievski, Kafka e, sobretudo, James Joyce, em
quem me espelho bastante. Também leio muito Umberto Eco. Filosoficamente, prefiro
a semiótica de Charles Peirce e Giambattista Vico. Nas artes gráficas: Vladimir
Dias-Pino, Décio Pignatari e os demais poetas que fazem referência à arte
visual. No cinema sou entusiasta de Godard, Hitchcock, Fritz Lang, Nicholas Ray,
Buñuel, Fellini e todo esse pessoal.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Na literatura você não recebeu influência de nenhum brasileiro?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Guimarães Rosa. E no cinema, Glauber Rocha. Gosto também de Anselmo Duarte,
especialmente de “O pagador de promessas”, apesar de os intelectuais considerarem
meio careta a sua maneira de fazer cinema. O padrão dele é o americano, o de
Glauber é o europeu. São dois cinemas diferentes.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você se define como poeta, artista plástico ou como o que?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Esse negócio de rótulo é meio complicado, mas sou um artista multifacetário.
Gosto de experimentar linguagens, novas probabilidades dentro da visualidade.
Acho que o artista tem que experimentar sempre. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Ao completar 70 anos, qual seria a homenagem que você gostaria de receber de
Natal, a cidade que você escolheu para viver?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Pelo menos que eu pudesse fazer uma exposição digna de quem está completando 70
anos. Um artista que vem trabalhando durante meio século tem que pelo menos
tentar reverter essa coisa de que o santo de casa não faz milagre. Quero
apresentar coisas inéditas e também fazer uma retrospectiva. Estou fazendo
livros únicos de toda a minha trajetória. Já tenho 40 volumes prontos, um
exemplar de cada. Se eu lançar esse material, o livro que cada pessoa comprar
será único. Esse livro será como um objeto de arte. Como se fosse uma tela. <b><u>ZONA SUL</u></b> – Fale sobre suas mais
recentes exposições.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Fiz uma em Fortaleza, no lançamento da revista “Pindaíba”. A revista tem uma
entrevista de Celinna Muniz comigo. A “Capitania das Artes” lançou uma edição
especial da revista “Brouhaha” quando o poema/processo completou 40 anos. No
ano passado fiz uma exposição no Beco da Lama, quando completei 69. Fiz de
deboche, só pra curtir.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É melhor comemorar o 69 ou 70?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-19eHWTFMfv4/Uc7SmPDhDBI/AAAAAAAABUc/q6zmHLEyYIM/s752/arte+flaves+1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-19eHWTFMfv4/Uc7SmPDhDBI/AAAAAAAABUc/q6zmHLEyYIM/s320/arte+flaves+1.jpg" width="212" /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Agora reiou-se! Particularmente, prefiro o 69. Mas acontece que a vida
continua... (risos). Esqueci-me de contar que na década de 1980 criamos aqui em
Natal (eu, Anchieta Fernandes e Franklin Capistrano) um jornal chamado “À
Margem”. Nossa proposta, o próprio título do jornal já diz, era divulgar
artistas que estavam à margem do sistema literário linear ou tradicional. A intenção
era publicar abertamente, sem censura. O que o cara mandava, era publicado sem
interferência editorial, mas a responsabilidade era dele. Editamos esse jornal
de 1986 até 2001. Era distribuído gratuitamente. Saíram uns 35 números. A
tiragem era de 500 cópias. Arte é uma maldição, não é todo mundo que gosta
dela. A primeira tiragem de Ulysses, de Joyce, lá em Paris, em 1922, foi de mil
cópias. Um ano depois ele voltou para saber como andavam as vendas e soube que
apenas cento e poucos haviam sido comprados. Ou seja, só os intelectuais de
Paris compraram o livro dele: Henry Miller, Hemingway, Scott Fitzgerald, Ezra
Pound... A gente tirava 500 para mandar para as instituições e os amigos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você teve algum sonho que não conseguiu realizar no ramo da arte?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Um
sonho que tenho desde pequeno é o de ver meu trabalho publicado em livros
didáticos. De certa maneira, eu consegui. Em Natal saiu uma edição do livro
“Introdução da Cultura Norte-Rio-Grandense”, com 33 mil cópias, contendo uma
boa referência e reprodução de alguns dos meus trabalhos. Em São Paulo, a
“Editora Global” publicou, há uns dois anos, um trabalho meu para o ensino
fundamental. O livro continha trabalho de oito poetas, dentre eles, o meu.
Tenho trabalhos publicados em vários outros livros. Na Espanha, tem um de
Álvaro de Sá: “A Poética de Vanguarda do Brasil”. Ele era crítico e grande
poeta. Morreu há pouco tempo. Esteve em Natal com sua esposa, que também é
poeta. Veio conhecer e dialogar comigo, Jota Medeiros e Anchieta Fernandes.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Geralmente a arte e a boêmia andam juntas. Essa afirmação é verdadeira no seu
caso?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – Sempre
fui meio boêmio. Não tive regras na minha juventude, pois fui meu próprio pai,
já que não tive um por perto e a minha mãe era mais fácil de controlar.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois que veio morar em Natal você chegou a reencontrar seu pai?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-pRHUZ8n7-qQ/Uc7Sh-vV0fI/AAAAAAAABTU/VPzeRH3CwR0/s1600/20130406_132015.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-pRHUZ8n7-qQ/Uc7Sh-vV0fI/AAAAAAAABTU/VPzeRH3CwR0/s320/20130406_132015.jpg" width="240" /></a><b><u>FALVES</u></b> –
Ele esteve aqui uma única vez. Eu também estive em João Pessoa. Tirei umas
férias e fui lá. Logo que cheguei a João Pessoa, comecei a tomar umas cervejas.
Saí do bar e vi que estava passando o filme “A Doce Vida”, que eu já tinha
visto em Natal. Entrei no cinema muito bêbado. Depois de algum tempo, fui ao
banheiro. Vomitei e adormeci por lá. Mandaram chamar a polícia. Foi a única vez
que fui preso. Depois de um banho me botaram em uma cela. Ainda bem que não
havia outro preso, senão os caras tinham me comido e eu nem ia saber. No dia
seguinte meu pai foi me buscar. Eu com uma vergonha danada. Nessa viagem foi a
última vez que o vi.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que recomendação ou orientação você daria a alguém que está tentando enveredar
no campo da arte?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> – A
persistência é que faz o artista. Durante todo esse percurso conheci muita
gente que se dizia artista, mas desistia. O artista é aquele que persiste, que
continua fazendo. Fui a uma excursão no Recife e ouvi aquele famoso escultor,
Brennand, contar que ele tinha um ajudante que era um “pintor arretado”. Certo
dia o cara chegou pra Brennand e disse que não queria mais trabalhar com ele
porque tinha comprado um caminhão e ia voltar para a cidade natal. Esse cara
não era pintor, ele era motorista de caminhão! </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A tecnologia lhe ajuda?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Não consegui me adaptar ao computador, até porque o computador não faz arte. O
artista é quem usa a imaginação e utiliza um determinado meio para transformar
aquela ideia em um trabalho. Eu faço manualmente, outros usam o computador. Eu
não estou sozinho. Outros poetas da minha geração também não usam. Caetano
Veloso disse que não tem nem celular! </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem seria o herdeiro do seu trabalho, a pessoa que continuaria a sua obra?
Você está passando seu conhecimento para alguém?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Já passei pra muita gente nesse período todo. Herdeiro, eu diria que Jota
Medeiros é um deles. Tem Avelino de Araújo, também. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado para o leitor do jornal.</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>FALVES</u></b> –
Aprendam a ler. Não só as palavras, mas, sobretudo a imagem. Uma boa imagem
vale mais do que mil palavras. Já dizia o velho ditado chinês. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Mi1AHMRWOfw/Uc7UlcdcYAI/AAAAAAAABU4/s_cIwm4xgCU/s1600/20130406_134944.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-Mi1AHMRWOfw/Uc7UlcdcYAI/AAAAAAAABU4/s_cIwm4xgCU/s320/20130406_134944.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-12806919746023851252013-05-30T21:54:00.000-03:002013-05-30T21:54:50.084-03:00Entrevista: Michelle Sampaio<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-J3WmD-wfROk/UafyskniAAI/AAAAAAAABSM/RVmjs0aCkLA/s1600/JBA_4818.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://3.bp.blogspot.com/-J3WmD-wfROk/UafyskniAAI/AAAAAAAABSM/RVmjs0aCkLA/s200/JBA_4818.JPG" width="132" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-YWiSUlY5Bls/UafypWHCBmI/AAAAAAAABSA/vq4aIpTJRKw/s1600/20130430_185807.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-YWiSUlY5Bls/UafypWHCBmI/AAAAAAAABSA/vq4aIpTJRKw/s200/20130430_185807.jpg" width="150" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Michelle
Rodrigues Sampaio Bonifácio nasceu em Brasília, fruto de uma paixão fulminante,
mas ligeira. A </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">família de sua mãe é goiana, de Porangatu. Do seu pai ela pouco
sabe. Só o nome, Maurício, e que ele era viúvo na época em que manteve o
relacionamento que a gerou. Michelle foi informada também de que teria dois
irmãos, filhos desse pai desaparecido: Paulo Wagner e Carmen Lúcia. O
nordestino Maurício seria paraibano. Não se tem certeza. A única coisa certa é
que a nossa entrevistada do mês não cansará enquanto não encontrar o pai.
Enquanto isso não ocorre, ela vai vivendo como pode. Vamos conhecer um pouco de
sua história. Se por acaso alguém souber do paradeiro de Maurício, mantenha
contato. (<a href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a> – <a href="http://zonasulnatal.blogspot.com/">http://zonasulnatal.blogspot.com</a>).
A cobertura fotográfica dessa entrevista foi feita pelo grande fotógrafo
pernambucano e amigo JB Azevedo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O que você
faz, hoje, da vida?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sou servidora
pública, trabalho no Ministério da Previdência Social. Entrei em abril do ano
passado. Minha lotação é no Cerimonial. O serviço inclui o acompanhamento da
agenda do ministro em eventos, reuniões e viagens.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre
alguma viagem interessante que você tenha feito durante esse ano de trabalho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Um fato
interessante é que, graças a essas viagens, pude assistir à abertura do São
João 2012 de Caruaru e ao último dia dessa festa em Campina Grande. Quer dizer:
pude ver de perto a disputa das duas cidades pelo título de quem faz o maior
São João do mundo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Se você
integrasse uma comissão julgadora com a responsabilidade de eleger o melhor São
João do Brasil, votaria em qual dos dois?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Eu escolheria
Campina Grande. Mas essa minha opção poderia nem ser a mais correta, já que, em
Caruaru, vi os festejos juninos durante o dia. Estive no Polo Alto do Moura. Lá
tem uma grande quantidade de ateliês. Esses artesãos se dedicam às esculturas
de barro. Lá funcionam também muitos restaurantes. Durante o São João, ocorrem
apresentações de trios pé-de-serra e bandas de forró e de pífano. Não fiquei
por lá durante a noite porque o evento para o qual viajei seria realizado em
Sertânia, outra cidade pernambucana.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E em Campina
Grande?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Aí, sim,
participei da festa à noite. Eu nunca tinha visto nada parecido. Um monte de
palco, cada qual com uma programação diferenciada. Quando um show terminava, já
emendava outro. Talvez por isso eu tenha achado Campina Grande maior e melhor. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E o lado
profissional dessas viagens? Como está sendo?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-tyGaEUDiaXI/UafyseLlDYI/AAAAAAAABSI/nVZJiFz5FTY/s1600/JBA_4821.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-tyGaEUDiaXI/UafyseLlDYI/AAAAAAAABSI/nVZJiFz5FTY/s320/JBA_4821.JPG" width="212" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Muito bom. Por
enquanto não tive que enfrentar nenhuma saia justa. Como falei antes, trabalho
no Cerimonial do Ministério da Previdência. Vez por outra viajo para participar
de inaugurações de agências em municípios do interior do Brasil. Nessa função,
o principal objetivo é aparar arestas e contribuir para que as solenidades
ocorram sem problemas. Porém, ainda não acho que esse meu emprego na
Previdência seja o definitivo. Fui convocada para esse trabalho no último dia
de validade do concurso para o qual eu havia sido aprovada. Já estava perdendo
a esperança, mas consegui. No Cerimonial a gente lida com autoridades. Nessa
função, tem que haver muito cuidado e respeito. Para mim está sendo importante
desenvolver esse jogo de cintura político. Gosto muito dessa área. Também estou
atuando como mestre de cerimônias. Acredito que tenho perfil de lidar com o
público, de falar, de conduzir os eventos. Mas não estou descuidando e continuo
estudando para outros concursos. Meu objetivo é uma vaga no Judiciário, sobretudo
pela questão salarial e também pela jornada de trabalho. Lá paga bem melhor que
o Executivo. Além do mais, o funcionário entra meio-dia. Nesse horário não pega
trânsito e também é possível conseguir outra atividade pela manhã. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como é
trabalhar com o ministro potiguar Garibaldi Alves Filho?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nos contatos
que tive com ele pude perceber que é uma pessoa competente, mas também humilde
e acessível. Ele sempre dá atenção a todos os que o procuram nesses eventos e
reuniões dos quais participo. Vejo que tem muito carisma. Dia desses fomos ao
Tribunal de Contas da União. O elevador privativo não estava funcionando. Dentro
do outro, tinha um funcionário de serviços gerais. Quando esse rapaz viu que o
ministro queria utilizar o elevador, ele saiu da cabine, para esperar o
ministro subir. O ministro não aceitou aquela gentileza. Pegou o rapaz pelo
braço, o conduziu de volta ao elevador e viajamos todos juntos. O ministro
Garibaldi tem atitudes de um homem comum, coisa não tão fácil de ver em uma
autoridade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Quais outros
empregos você teve antes de entrar no Ministério da Previdência?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Trabalhei em
uma construtora que foi envolvida em escândalo investigado pela Polícia Federal.
Essa empresa não existe mais. O dono utilizava informações privilegiadas a
respeito de obras. Mas você não vai falar nisso...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Claro que
sim! Um fato interessante desses... Além do mais, você nem citou detalhes.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Tá certo.
Sendo assim... Mas eu não vou falar mais nada. Deixa esse assunto quieto.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Diga só se
essa empresa era da área de construção civil...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Era construção
de casa, reformas de prédios públicos, estradas... Eu era secretária. Antes eu
trabalhei no Tocantins, em uma empresa de plano de saúde, como também secretária.
Mas o meu primeiro emprego foi aos 15 anos como cobradora de ônibus. Trabalhei
na Viação Anapolina, fazendo a linha Cidade Ocidental/Brasília. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Uma pessoa de
menor podia trabalhar como cobradora de ônibus?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nessa empresa
era comum pessoas de menor trabalharem. Eu entrei com 15 anos e fiquei um ano
trabalhando. Nesse período, presenciei um acidente. O ônibus se chocou com uma
moto. O motoqueiro foi para o hospital. Ele foi imprudente. A moto, daquelas
bem potentes, apareceu do nada. Felizmente nunca presenciei assalto. Certa vez
houve uma confusão envolvendo um rapaz que já era conhecido por passar a mão
nas meninas. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E os estudos?
Trabalhando com 15 anos, conseguiu estudar?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Consegui, sim.
A empresa empregava menores, mas não atrapalhava os estudos. As escalas não
interferiam no horário escolar. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentei,
sempre tive os estudos como prioridade. Em Palmas entrei no curso de História,
na faculdade federal. Mas, antes de concluir, vim embora para Brasília. Dos
cinco anos que morei em Palmas, dois anos e meio eu cursei História.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por que você
escolheu o curso de História?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-32mmth3YOuA/UafyudxXRvI/AAAAAAAABSY/92wAcOhK5Rk/s1600/JBA_4822.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-32mmth3YOuA/UafyudxXRvI/AAAAAAAABSY/92wAcOhK5Rk/s320/JBA_4822.JPG" width="212" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Justamente por
meu interesse pela política. Somente estudando história a pessoa pode
compreender conceitos básicos como, por exemplo, o motivo de o Brasil ser hoje
uma democracia. Tudo tem uma história por trás. Outro exemplo: eu não conseguia
entender direito os motivos do conflito entre Israel e a Palestina. Fui
pesquisando e cheguei até a Bíblia para entender essa confusão toda. Estudei o
passado para conseguir entender certas situações do presente. Acho tudo isso
muito interessante. Com dois anos e meio de faculdade, voltei para Brasília.
Terminei o curso nas Faculdades Integradas da Terra de Brasília. Meu ensino
médio eu também terminei em Brasília, no CESAS (Centro de Estudos Supletivos
Asa Sul). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Além de
Brasília, você morou onde mais?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Morei na
Cidade Ocidental dos dez aos 18 anos. De lá, vim para Brasília, para o Recanto
das Emas, quando minha mãe recebeu um lote do governo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como você
conheceu o seu marido?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele tinha uma
lanchonete na rodoviária. Quando eu trabalhava como cobradora, costumava
lanchar por lá. Naquele entra e sai todo o dia, certa ocasião uma amiga me
disse que tinha alguém afim de mim. Eu já o conhecia, mas não sabia desse interesse
dele. Na verdade, eu ia lá porque era afim do filho dele. (risos). Acabei
casando com o pai. Na época eu tinha 15 anos e ele 40. O filho tinha 18.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O pai é quem
estava de olho em você...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Pois é.
(risos) Depois eu contei para o pai, rimos com essa história. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sua família
não tentou interferir nesse relacionamento? Você tão nova, se envolvendo com
uma pessoa 25 anos mais velha?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – No início a
minha mãe não aprovou, mas eu tinha certa independência, já que trabalhava e
estudava. Ela não tinha como me controlar. Além disso, eu já era mãe. Tive um
filho aos 14 anos. Hoje já sou avó, tenho uma neta de quatro anos. Fui avó com
31 anos. Mas, sobre o namoro, não tinha como minha mãe segurar. Fui me
envolvendo com ele e, aos 18 anos, engravidei da Mariana, que fez agora 18
anos. Estamos juntos há 21 anos e casados há 15. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – O que seu
marido faz hoje?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele tem uma
farmácia em Vicente Pires, aqui no Distrito Federal. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E o pai do
seu primeiro filho?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não temos
mais contato. Meu filho é quem vai visitá-lo e também ao avô. Nosso
relacionamento foi uma coisa da juventude. Quando o conheci, aos 13, ele já
tinha 19 anos. Ele também não queria deixar que eu estudasse. E eu sempre
prezei o estudo. Não deu certo. Coincidiu que logo após conheci meu atual
marido, e aí distanciou de vez. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre a
sua mãe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ela é de
Porangatu, Goiás. Casou também muito nova, aos 14 anos. Até os 28, não teve
filho. Quando se separou do marido, em Goiás, veio para Brasília. Ela se chama
Ana da Anunciação. É a partir da sua vinda para Brasília que começa a minha
história. Aos 28 anos, recém-separada, ela veio trabalhar na casa de uma
família na quadra 410 da Asa Sul, em Brasília. Na época os “points” da cidade eram
o Conjunto Nacional e a Rodoviária. Um dia, voltando de lá, pegou o ônibus e
foi para casa. Poucos minutos depois que subiu para o apartamento, o porteiro
avisou que tinha alguém à sua procura. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Essa pessoa a
estava seguindo?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-J7RjiO3Mrig/Uafyvv6XE9I/AAAAAAAABSg/OCt1jH5J29o/s1600/JBA_4823.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Minha mãe não
sabe se estava sendo seguida desde a Rodoviária ou se foi depois que </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">desceu na
parada de ônibus. Essa pessoa era Maurício, que depois viria a ser o meu pai. Ela
se relacionou com Maurício durante pouco tempo. Minha mãe tinha vivido na roça
e havia terminado de se separar. Ela não tinha muita experiência de vida.
Talvez por isso ela não tenha contado a Maurício que tinha engravidado dele.
Continuou trabalhando nessa casa por um tempo. Quando eu nasci, fomos morar com
a minha tia, no Núcleo Bandeirante. Depois de algum tempo, minhas primas
conseguiram encontrar o meu pai, Maurício. E avisaram para ele que tinha
nascido sua filha. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Onde essas
suas primas o encontraram?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Alguns
detalhes dessa história continuam nebulosos até hoje. Talvez seja por isso que
eu não tenha ainda obtido sucesso nessa busca pelo meu pai. Sequer sei o nome
completo dele. Tenho só o primeiro nome, Maurício, e alguns outros dados. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por
exemplo...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele teve dois
filhos antes de mim: Paulo Wagner e Carmen Lúcia. Sei também que na época em
que se relacionou com a minha mãe, ele era viúvo. Sei ainda que Maurício é
nordestino, parece que paraibano de João Pessoa. Quando completei seis meses de
vida, minha mãe conheceu o homem que me criou, o Herval, a quem também
considero pai. Para evitar qualquer problema com o marido, ela se afastou
completamente de Maurício. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você chegou a
encontrar o seu pai?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Lembro que,
quando eu tinha cinco anos, Maurício me achou. Eu morava em Taguatinga Sul. Ele
foi até lá em casa. Lembro nitidamente. Houve uma segunda ocasião, quando ele
me levou no comércio do Bandeirante e me deu de presente uma bota e um
apontador de lápis, de ferro. Depois disso, ele passou a me visitar em Taguatinga.
Só que, em uma dessas idas, minha mãe pediu para ele não voltar. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por que?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-0AjxeHhhxWk/Uafyo6evoUI/AAAAAAAABR4/4Eo5EqlA0ao/s1600/20130430_185817.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-0AjxeHhhxWk/Uafyo6evoUI/AAAAAAAABR4/4Eo5EqlA0ao/s320/20130430_185817.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ela explicou que
estava casada e que não queria complicações com o marido. Eu já estava </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">com
cinco anos. Maurício deixou anotado em um papel os seus dados: nome, endereço,
telefone... Ele sempre falou pra minha mãe que tinha vontade de me levar para
apresentar aos pais. Só que nunca deu certo. Nisso, Herval encontrou essas
anotações e rasgou. Foi dessa forma que acabou completamente a possibilidade de
eu encontrar meu pai. Ficaram as memórias e algumas fotografias. As melhores
fotos de infância que tenho são dessa época, da casa onde Maurício me conheceu.
Quando eu estava com oito pra nove anos, o vi de longe. Minha mãe me mostrou. A
gente estava na quadra 38, do Guará. Parece que ele estava fechando um negócio
de venda de carro. Com medo do Herval, minha mãe não me deixou ir até o
Maurício. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Desde então
você sonha em reencontrar o seu pai...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Essa procura
pelo Maurício é muito difícil. Já pensei em ir à antiga Telebrasília para
tentar conseguir um catálogo telefônico daquela época. Ou pelo menos um
catálogo de endereços, para tentar descobri-lo. O maior problema é não ter seu
nome completo. Minha mãe fala que ele tinha um comércio na Asa Sul. Pra mim é
uma procura grande. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Hoje em dia a
sua mãe lhe ajuda nessa procura ou ainda tenta colocar obstáculos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ela ajuda. Vivi
um tempo muito triste, minha mãe achava que era por isso. Ela se culpa por não
ter me dado a oportunidade de continuar mantendo contato com meu pai. Ela vê
que eu procuro e me ajuda. Quando pergunto alguma coisa, ela sempre me passa
essa informação. Nessa busca do meu objetivo, já criei perfil na Internet e em
redes sociais. Já fui tema de reportagem no Correio Braziliense, mas nunca
obtive sucesso, até pelo fato de as informações serem muito limitadas. Maurício
é nordestino, tem uma cicatriz em uma das mãos, na época era viúvo e tinha
esses dois filhos...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Se ao invés
da cicatriz ele tivesse um dedo a menos, poderia ser o Lula (risos)...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – É, já pensou?
Seria bom demais, uai! Se você me olhar e comparar com a minha família, vai ver
que não tenho muita semelhança com eles. Sou grande e gorda, enquanto todo
mundo da minha família é magro. Hoje, quando vou fazer uma consulta e o médico
pergunta sobre o meu histórico familiar, só sei responder o que diz respeito ao
lado da minha mãe. Dele só guardo uma vaga lembrança. Acho que pareço com Maurício.
Ele era grande, branco. A família da minha mãe é um pouco mais morena. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Da fisionomia
dele, o que você lembra? Usava bigode?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não lembro. Só
recordo que era branco, forte e alto. Creio que devia ter 1 metro e 75 centímetros.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sua mãe não
lembra sequer o nome completo de Maurício?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-MVz9p7i8Wv0/UafywXeSVAI/AAAAAAAABSo/RDeN76QHueU/s1600/JBA_4826.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-MVz9p7i8Wv0/UafywXeSVAI/AAAAAAAABSo/RDeN76QHueU/s320/JBA_4826.JPG" width="212" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ela não sabe,
até porque o envolvimento entre os dois foi muito rápido. Ficaram juntos </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">questão
de meses. Eles saíram, tiveram algum envolvimento duas ou três vezes. Como
falei, minha mãe trabalhava e morava em uma casa de família na 410 Sul. Ele também
morava ali nas proximidades. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Se você
encontrasse o seu pai, o que diria a ele?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Já parei
várias vezes para tentar imaginar qual seria a minha reação nesse momento. Não
sei. Tenho muita vontade de conhecê-lo, mas a minha reação eu só saberia na
hora mesmo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você guarda
alguma mágoa da sua mãe pelo fato de ela não ter permitido uma aproximação
maior sua com o seu pai?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não, não
tenho. A situação da vida dela impôs isso. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ela ainda está
com Herval?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele faleceu
em 2009. Meu pai era servidor público do Governo do Distrito Federal. Herval
morreu de câncer, talvez resultado de uma vida muito desenfreada. A bebida e os
cigarros acabaram com ele. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Desse
casamento, nasceu sua irmã.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sim. Bianca
trabalha em farmácia, mas não na minha. Minha mãe é aposentada. Quando eu tinha
três ou quatro anos, ela colocou um marca-passo. Foi aposentada por invalidez
aos 32 anos. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Como você foi
morar em Palmas?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Meu marido
recebeu uma proposta para gerenciar a Drogaria Unicom, em Palmas, que estava
abrindo. Moramos cinco anos. Palmas ainda não tinha a ponte que ligava a cidade
a Paraíso. O lago também não estava completamente cheio. Quando a gente ia para
Paraíso, tinha que atravessar 40 minutos de balsa. Mas a estrutura da cidade já
era boa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você gostou
de ter morado por lá?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Amo Palmas.
De lá, só não gosto do calor. É mais abafado do que Brasília. A cidade é muito
tranquila. O trânsito era ótimo. Você percorria a distância entre sua casa e o
centro em poucos minutos. Pra mim, foi um momento de crescimento pessoal.
Literalmente. Eu cheguei em Palmas e logo entrei na universidade. Foi um
momento de grandes mudanças na minha vida, de conhecimento de quem sou. Lá
passei por uma ruptura em muitas coisas, como na questão do medo, da
insegurança. Em Palmas eu podia dizer para as pessoas o que eu queria falar.
Antes eu apenas concordava com o que elas falavam. Palmas, para mim, foi um
salto na minha vida. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Poderia ter
ocorrido em outra cidade?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">PALMAS</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sim, mas o
fato é que as mudanças ocorreram em Palmas. O motivo da mudança não foi a
cidade em si. Creio que a universidade e também o fato de eu ficar distante da
família contribuíram decisivamente. Fui morar em um lugar onde não conhecia
ninguém. Éramos eu, meu marido e meus dois filhos. Eu estava sozinha, sem mãe,
sem irmã... Não tinha ninguém para falar mal da minha vida. A história que eu
chegasse lá e contasse, o povo ia acreditar. Eu poderia contar a história que
quisesse, já que ninguém sabia da minha vida. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E que
história você contou?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – (risos). O
mais engraçado foi o seguinte: na minha infância eu ia pra Porangatu, e já
achava aquele lugar muito quente e longe. A viagem durava sete horas. Lembro
que uma vez a minha mãe foi a Porto Nacional, que na época era Goiás e hoje
fica no Tocantins. Eu dizia: minha mãe está indo para o fim do mundo. Porangatu
já era o limite. Eu sempre falava que Porto Nacional era perto do além. A vida me
proporcionou essa surpresa: fui morar depois de Porto Nacional. Em outras
palavras: fui morar depois do fim do mundo e estudar no fim do mundo, já que o
meu curso de História era em Porto Nacional. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você saía
todos os dias de Palmas para estudar em Porto Nacional?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Depois do
serviço tinha um ônibus que nos levava para Porto Nacional. Esse transporte era
</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-J7RjiO3Mrig/Uafyvv6XE9I/AAAAAAAABSg/OCt1jH5J29o/s1600/JBA_4823.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-J7RjiO3Mrig/Uafyvv6XE9I/AAAAAAAABSg/OCt1jH5J29o/s320/JBA_4823.JPG" width="212" /></a>bancado pela prefeitura de Palmas. Eu trabalhava na Unimed. Viajava sessenta
quilômetros de distância e depois voltava. Foi nessa época que ocorreu esse “boom”
na minha vida. Foi também quando experimentei bebida. A turma levava vinho
dentro do ônibus. Nas aulas de sábado, muitas vezes ainda tinha gente bêbada da
sexta-feira, das festas que a gente fazia. A gente matava aula para pegar
carona e voltar para Palmas. A gente ia para o trevo de Porto Nacional e os
motoristas já sabiam que aquele pessoal era estudante pedindo carona para ir
embora. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Devem ter
sido tempos divertidos...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Tem várias
histórias... Uma de nossas colegas era dona de uma funerária. Ela morava em
frente ao cemitério. A gente ia beber na casa dela. No próprio lote onde ela
residia, tinha as capelas para velar os corpos. Teve ocasião de estar havendo
velório e a gente bebendo, fazendo a maior bagunça dentro da casa dela. Só o
que não fizemos foi beber dentro do cemitério. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E as caronas?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - A primeira
carona que pegamos foi com um senhor que passou conduzindo uma caminhonete. A
turma tinha combinado que ou ia todo mundo ou não ia ninguém. Éramos cinco.
Fomos duas na frente e três na carroceria. Quando o carro ia passar pela
Polícia Rodoviária, que o guarda fez menção de que iria mandar parar, a gente
se escondeu na carroceria. O policial pediu documentos e fez uma revista.
Quando foi olhar na carroceria, encontrou a gente. Ele perguntou ao dono do
carro sobre as moças “ali atrás”. Quando ficou esclarecido que a gente estava
apenas pegando uma carona, o policial liberou o carro e disse ao motorista: “Vá
embora, você está muito bem”. Essa foi a primeira carona. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Nenhuma
dessas caronas deu errado?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não, a gente
teve sorte. Outra vez nosso grupo tinha sete pessoas. Quando a gente perdia o
ônibus grátis pago pela prefeitura, tinha que pegar um outro que custava cinco
reais, a passagem. A gente estava em um ônibus desses, voltando para Palmas,
mas ninguém tinha passado a roleta ainda. Foi quando alguém fez uma conta
rápida e comentou que o total das sete passagens, 35 reais, dava para pagar um
bocado de cerveja. Isso ocorreu em 2005. A gente tinha embarcado no centro de
Porto Nacional e estava chegando no trevo. Uma de nós disse ao motorista que
tinha esquecido a bolsa. Essa foi a senha para descer todo mundo para ir tomar
cerveja em um bar próximo, na esperança de, mais tarde, conseguir carona até
Palmas. Era dia de sorte mesmo. A gente conseguiu carona para os sete e foi
embora. Na chegada a Taquaralto, antes de Palmas, o dono do carro parou para
beber e ainda pagou mais cerveja para a gente. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Você não
bebia até entrar na faculdade por pertencer à religião evangélica?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Sim. Comecei
a frequentar a igreja evangélica por conta da minha família. Depois da
faculdade, eu saí. Eu já tinha saído antes. Lá em Palmas foi que degringolou
tudo. Lá foi um oba-oba danado. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Seu marido
não era evangélico?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Não, mas ele
não participava dessas festas. Apesar disso, nunca me impediu de ir. Aquela
época de Palmas foi mesmo muito boa. Estive até em Natividade, para a festa do
Divino Espírito Santo. Fica depois de Palmas. Palmas foi muito bom, tenho muitas
histórias de lá. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Por que você
voltou para Brasília?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-PADXd0doduY/Uafy0GUD_UI/AAAAAAAABS4/Zeg8g8Tqq6w/s1600/JBA_4830.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-PADXd0doduY/Uafy0GUD_UI/AAAAAAAABS4/Zeg8g8Tqq6w/s320/JBA_4830.JPG" width="212" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Separei do
marido e voltei. Ele ainda ficou por lá mais uns sete meses. Voltei para a casa
da</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> minha mãe. Foi quando decidi literalmente estudar para concurso. Um dos
motivos é que eu não suportava ter que trabalhar sábado e domingo. E se eu fosse
para mercado, para farmácia ou outro comércio, eu teria que trabalhar nesses
dias. Meu pai, Herval, me incentivou muito. Ele era servidor público. Pena que
morreu antes de poder não conseguiu ver a minha posse. Herval comprou
apostilas. O engraçado é que eu dizia pra ele: “vai sair um concurso assim e
assim, preciso de dinheiro para comprar apostila”. Ele fazia questão de comprar,
só que comprava a pior que existia, a mais barata que havia. Mas Herval sempre
me incentivou. Sinto orgulho de dizer que na minha família fui a primeira a
entrar na faculdade a também a primeira a ingressar no serviço público. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Mas você estava
dizendo que, sete meses depois da sua vinda, seu marido retornou para Brasília...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Ele voltou
para cá, reatamos o casamento e estamos juntos até hoje. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Fale sobre
seus filhos. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Marlon vai
fazer 22 anos em setembro. Ele é do Exército. Já está há três anos lá. Pretende
continuar na carreira militar. Entrou no Exército por minha vontade. Lembro que
na época da primeira semana, ele chorava muito. Nunca tinha recebido grito de
ninguém, a não ser meu, como mãe. O banho dele, em casa, era de 40 minutos. No
mato não tinha essa mordomia. A comida dele era especial, ele não comia tudo, era
cheio de exigências. Lembro que quando Marlon voltou do campo, devorou uma
panela com carne, arroz, quiabo e um monte de coisa. Ele comia de um jeito que
eu falava para mim mesma: “caramba!”. O Exército fez com que ele mudasse em muita
coisa. Ele é motorista de um coronel. O serviço é bem leve, mas Marlon detesta
o trânsito. Ele já me deu uma neta, Marília. Foi pai aos 17 anos. Eu estava com
31. Foi um choque grande, para mim. Quando ele me comunicou que tinha começado
a sua vida sexual, o orientei a usar camisinha não só para evitar filho, mas
também por causa de doenças venéreas. Mas o fato é que Marília está aí e ela é
uma alegria. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E a sua
filha?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> - Mariana fez
18 anos. Ela cursa o terceiro ano do ensino médio. Estuda na Católica. É minha
menina. Mariana é quem cuida de mim. Ela cobra para eu me arrumar, tirar
sobrancelha. Exige que eu seja mais perua. Mariana cobra para que eu tenha mais
vaidade. Os dois dão um equilíbrio muito grande. Sou apaixonada pelos meus
filhos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Deixe uma
mensagem para o leitor do “Zona Sul”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Natal é uma
cidade que eu tenho muita vontade de conhecer melhor, de passar mais tempo. Já fiz
alguns planejamentos, quem sabe dá certo? Recentemente estive por aí na
inauguração de uma unidade de desenvolvimento de software da Dataprev. Mas é
preciso mais tempo para realmente viver a cidade. Espero ter essa oportunidade.
Mas quero dizer ao leitor do jornal que ele procure conhecimento, estude, busque
sempre estar de bem com a vida. Ter uma fé também é fundamental. Mesmo que você
acredite em uma folha de árvore, se ela lhe ajuda a dar um direcionamento na
vida, então é válido. Tenha fé, tenha uma religião. A cada dia tente ser melhor
com os outros e consigo próprio. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – E para o seu
pai e irmãos, que recado você deixaria?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">MICHELLE</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> – Às vezes
penso que talvez meu pai não esteja mais vivo. Eu gostaria muito de encontrá-lo,
mas, se for o caso, mesmo assim tenho muita vontade de conhecer meus irmãos.
Sinto um espaço dentro de mim, um vazio, que precisa ser preenchido. Tenho
muita curiosidade de saber como eles são, o que gostam, onde vivem. Pode até
ser que eu os conheça e nada mais aconteça. Mas também pode ocorrer o
contrário: a gente ganhe uma oportunidade de se aproximar como família. Penso
no meu pai e nesses meus irmãos todos os dias. Quem puder ajudar nessa busca,
por favor, mande uma mensagem para <a href="mailto:michellersb@gmail.com">michellersb@gmail.com</a>
ou mantenha contato pelo Facebook. Basta procurar por Michellersb. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-iuuX_kGCQDI/Uafy0_laYvI/AAAAAAAABTA/Shha5J5-h3o/s1600/JBA_4833.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://3.bp.blogspot.com/-iuuX_kGCQDI/Uafy0_laYvI/AAAAAAAABTA/Shha5J5-h3o/s400/JBA_4833.JPG" width="400" /></a> </span></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-59916399749793368242013-04-29T15:39:00.000-03:002013-04-29T18:19:59.020-03:00Entrevista: Leide Câmara<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 24.0pt;">A LEIDE DA MÚSICA POTIGUAR<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-8f9ilw13tZM/UX68TJlhaSI/AAAAAAAABRQ/Sney2DjngBc/s1600/DSC03967.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-8f9ilw13tZM/UX68TJlhaSI/AAAAAAAABRQ/Sney2DjngBc/s400/DSC03967.JPG" width="225" /></a>Maria Leide Câmara de Oliveira nasceu em Patu, mas o
trabalho que ela desenvolve pela preservação da história da música potiguar
transcende as fronteiras municipais. Durante mais de meia década, Leide reuniu
material para lançar, em 2001, o “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”,
com cerca de 600 verbetes. A obra oferece ao leitor um raio-X do que os
artistas potiguares produziram até então. Antes disso ela já havia organizado
projetos importantes para a cidade de Natal como o Festival de Artes de 1988 e
o Zé Menininho. Esse último resgatou expoentes da cultura de vários bairros da
cidade. Depois do Dicionário, ela prosseguiu na sua luta em favor da música
papa-jerimum organizando eventos e exposições e escrevendo obras importantes
como a que mapeou todas as produções do bossa-novista potiguar Hianto de
Almeida. Com currículo suficiente para descansar e recolher os frutos de tudo o
que já semeou, Leide quer mais. Ao mesmo tempo em que organiza o lançamento de
um livro sobre as ligações de Luiz Gonzaga com o Rio Grande do Norte e projeta
a comemoração dos 90 anos de “Praieira”, ela prepara a segunda versão do seu
Dicionário e corre atrás de concretizar o sonho de inaugurar o “Instituto Leide
Câmara - Acervo da Música Potiguar”. Nós, do Zona Sul, estamos fechados com
ela! Essa entrevista, lá no Bar de Zé Reeira, foi concedida a mim, ao
jornalista Roberto Fontes e ao “deputado” Marcos Lacerda. (robertohomem@gmail.com)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você hoje tem título de cidadã natalense, mas nasceu em Patu. Fale um pouco
sobre essa sua ascendência oestana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Meu pai, Luiz Antônio de Oliveira, nasceu em Patu. Ele era mais conhecido como
Luiz Inácio, já que seus antepassados tinham esse sobrenome. Minha mãe, Luiza
Câmara de Oliveira, nasceu em Santana do Matos, mas foi registrada na cidade de
Açu, onde morou. Ela ficou órfã muito cedo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como seus pais se conheceram?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> -
Madrinha Nené (Maria Adélia Ximenes) era casada com padrinho Ximenes (João
Ximenes), que foi ser tabelião em Patu e levou a minha mãe. Minha mãe tinha um
noivo em Açu, Sindolfo. Acabou quando ele descobriu que minha mãe tinha
conversado com alguém na viagem de ida para Patu. Só por conta disso ele rompeu
o noivado! Quando minha mãe chegou a Patu, era época da quermesse. Ela, que era
uma mulher bonita, foi colocar uma daquelas fitinhas de quermesse no meu pai,
mas ele não aceitou. “Você não pode colocar porque eu estou viúvo”. Fazia três
meses que sua mulher tinha morrido. Minha mãe pensou na hora: “se tirar o luto,
eu caso com ele”. Casaram. Meu pai tinha dez irmãos. Ele era comerciante, tinha
uma mercearia em Patu. Depois que casaram, construíram patrimônio. Meu pai teve
gado e terras, viveu uma vida de rico. Conseguiu ter várias propriedades e
criações. Era um homem muito trabalhador. Chegou a construir casas e a ter
muitas fazendas. Minha mãe sempre foi do lar, apesar de ser uma mulher
prendada, como toda mulher da época. Ela bordava e era uma senhora dona de
casa, mas nunca chegou a fazer nenhum trabalho fora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você ficou em Patu até qual idade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Quando meu pai casou, era viúvo e tinha três filhas. Somos sete filhos. Viemos
embora de Patu para morar em Natal no dia 13 de maio de 1953. Já era época de
os filhos estudarem. Coincidiu com o momento do que chamam de “roda da vida”,
quando meu pai começou a perder tudo o que tinha. Até hoje não entendemos, mas
começaram a acontecer coisas estranhas. Por exemplo: durante um período, meu
pai foi político. Chegou a ser vereador, em Patu. Apoiou a candidatura do prefeito
Lauro Maia, grande amigo dele, que era pai de Lavoisier Maia. O pessoal da
família Maia que ia para Patu, ficava lá em casa. Mas começaram as
dificuldades. Um dia colocaram veneno na comida da nossa família. Papai teve
que mandar buscar médico em Catolé do Rocha. Em outra ocasião, o trem passou e
queimou toda a plantação. O gado morreu. Devido a essas dificuldades e para que
os sete filhos pudessem estudar, meu pai vendeu o que sobrou e veio embora para
se estabelecer em Natal. Imagine a dificuldade que ele enfrentou para conseguir
com que todos estudassem e se estabilizassem nessa cidade grande. Aqui ele
passou a trabalhar com comércio. Depois colocou uma fábrica de doces. Ela foi
quem permitiu que estudássemos e nos tornássemos independentes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que outras recordações você tem de Patu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-MBInsH0X4PU/UX68c0V24gI/AAAAAAAABRg/rUoXAhX2c4U/s1600/leide2.tif" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-MBInsH0X4PU/UX68c0V24gI/AAAAAAAABRg/rUoXAhX2c4U/s400/leide2.tif" width="290" /></a><b><u>LEIDE</u></b> –
Lembro, por exemplo, das caminhadas que a gente fazia pra Serra do Lima. Diziam
que lá tinha as pegadas de Nossa Senhora. Talvez por isso a questão religiosa,
para mim, seja muito forte. Muitas vezes caminhei naquele canto que diziam
serem as pegadas de Nossa Senhora. Eu subia a serra e colocava os pés como se
estivesse pisando onde pisou Nossa Senhora. Lembro também da capela antiga de
Zé da Alma, onde depositavam ex-votos. Saí de lá muito nova, por isso muitas
dessas vivências na cidade vieram depois, em férias. Lembro-me da Serra do
Patu. Nossa casa ficava de frente pra lá. Toda chuva ou trovoada de hoje me lembra
de Patu. Uma cena linda é a água descendo da serra. Da Serra do Lima recordo
que a gente comprava aquele colar de coco<span style="color: red;"> </span>catolé
e colocava no pescoço pra ficar comendo. Na igreja de Nossa Senhora das Dores
existia, atrás do altar, uma santa. Dizia a lenda que era Nossa Senhora dos
Impossíveis, que foi trazida para a igreja, mas sempre voltava para o lugar
onde tinha sido achada, no Lima. Daí a origem de seu nome. Essas lendas,
histórias e magias são muito fortes. Também recordo da convivência e da
fraternidade com o patuense. Lá todos se conheciam, éramos da mesma família.
Tudo isso marcou minha infância.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde foi estudar quando chegou a Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Sempre estudei em colégio público, nos bairros onde morei. Em Natal, moramos
primeiro em uma casa grande na Princesa Isabel, nº 597. O sobrado era vizinho a
um posto. Depois a gente saiu pra Petrópolis. A partir daí tenho lembranças um
pouco mais sólidas. Vem dessa época as recordações da música. Foi quando ouvi “Marcha
do tambor” (Zé Pequeno era um soldado de morte / Batia na mulher e no tambor / Era
pequeno, mas sempre deu sorte/ Com mulher de qualquer cor), de Hianto de
Almeida. Eu nem sabia que futuramente ia pesquisá-lo e estudá-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi seu primeiro contato com a música?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Meu pai cantava; não em bar, mas cantarolava e assoviava. Ele era fã
incondicional de Luiz Gonzaga. Assoviava todas as suas músicas. Quando veio
para Natal, sentiu muita falta de Patu. Ele era louco por sua terra. (Pausa na
entrevista. Leide está emocionada).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você estava recordando como a música entrou na sua vida... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Além do fato de meu pai cantar e assoviar as canções de Luiz Gonzaga, a relação
com a música pra mim sempre foi muito forte porque minha mãe cantava. Ela só
fazia os afazeres de casa cantando. Guardo na minha memória afetiva todas as
modinhas daquela época. Quando fomos morar em Lagoa Seca, ouvi “Royal Cinema”.
Foi a primeira referência com a música do estado. Não se falava nem no nome do
autor, Tonheca Dantas. O comentário é que a música era de um compositor daqui.
Por falar nisso, “Royal Cinema” completa agora cem anos. Está se tornando uma
valsa centenária. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Até entrar na universidade, o que aconteceu de relevante que mereça ser citado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Fiz o curso pedagógico e passei a trabalhar como professora do Estado. Depois
fiz concurso também para o Município e acumulei os dois empregos. No Estado, me
especializei para trabalhar com educação especial. Foi uma experiência nova:
educação especial dentro da própria escola, do ensino normal. Fui a primeira
professora do RN a desenvolver esse trabalho. No Município entrei como
arte-educadora, professora de educação artística. Fiz Educação Artística na
UFRN. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O Projeto Zé Menininho vem dessa época? Como era?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> -
Professora do município, fui convidada para fazer um trabalho envolvendo música
e poesia nos bairros de Natal. Esse era o Projeto Zé Menininho. Foi importante
para que depois eu passasse a fazer o trabalho que faço até hoje. Imagine, como
arte-educadora, o que era ensinar educação artística em um colégio do município
na Cidade da Esperança, que era o Celestino Pimentel, com cinco turmas. Imagine
o que é fazer um trabalho desse porte em turmas com uma quantidade enorme de
alunos. Ao receber o convite para fazer esse projeto, comecei a identificar
pessoas da escola que cantavam e escreviam poemas. O objetivo era envolvê-los
em uma grande festa, promover uma apresentação no próprio bairro. Em um show
botei cinco mil pessoas do bairro. Nessa época começou meu espírito de
pesquisar: eu ia à casa dos alunos para saber quem era que tocava algum
instrumento, quem cantava. Pegava os meninos, botava no carro e levava para
ensaiar. Depois dos bairros, a gente começou a estender o projeto. Juntamos
coordenadores do Zé Menininho em vários bairros para uma festa maior. Coordenei
o projeto Zé Menininho na Cidade da Esperança e também no bairro das Rocas.
Tive o privilégio de ensaiar com Lucarino, Melé, Glorinha Oliveira, Odhaires...
Depois fui convidada para a Fundação Zé Augusto, já na década de 1980.
Conseguimos reabrir a Escolinha Cândido Portinari, que estava fechada. Fiz um
trabalho de arte-educação, consegui promover alguns cursos. Também tive a
oportunidade de coordenar o Festival de Artes de Natal, em 1988, na Cidade da
Criança. Desse evento, tenho tudo gravado, documentado. Porém, infelizmente as
gravações do Projeto Zé Menininho foram perdidas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época você já colecionava discos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Não, mas comecei nesse período. Na Fundação, muitos músicos chegavam com seus
discos e deixavam pelo menos uma cópia por lá. Apesar de a música não ser a
minha área, depois me interessei em saber o que era feito daquele material. Não
havia um controle ou catalogação das obras recebidas. Elas apenas ficavam
acomodadas de qualquer jeito. Eu já tinha o sentimento de guardar, herdado dos
meus pais. Eles davam valor às antiguidades, ao passado. Quando Dorian Gray
publicou, em 1989, o livro “Artes Plásticas do Rio Grande do Norte 1920—1989”,
gostei da ideia daquele dicionário de artistas plásticos potiguares e, anos
depois, comecei a trabalhar para lançar um catálogo de discos e músicos do RN.
Na ocasião, existiam poucas informações de potiguares que tinham seu trabalho
registrado. O grupo incluía Pedrinho Mendes, Babal... Dava para contar nos
dedos. Chegaram a dizer que eu não conseguiria nem fazer um catálogo: “não tem
nem vinte músicos aqui”. Como gosto de desafio, mergulhei na pesquisa e
comecei. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quer dizer que você se inspirou no livro de Dorian Gray...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Me
inspirei. E também no “Dicionário do Folclore Brasileiro”, de Câmara Cascudo, e
nos livros de Gumercindo Saraiva sobre o mundo da música. Da mesma forma que
hoje vou, aos sábados, bater papo no Sebo Vermelho, eu tinha o hábito de
conversar com Gumercindo Saraiva. Foi uma pessoa fantástica e fez muito pela
memória do Rio Grande do Norte. Inspirada nesses exemplos, comecei a juntar
material para fazer o catálogo. O critério para entrar nessa publicação foi eu
possuir uma gravação da obra. Esse único recorte que dei foi até para contestar
a afirmação de que Natal é a cidade do “já teve”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando esse trabalho foi iniciado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> -
Comecei a pesquisa em 1996. O “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte” foi
publicado em 2001, com 600 verbetes. Incluiu 600 músicos que tinham produção. O
livro não reuniu só os cantores, mas também compositores, arranjadores,
instrumentistas... A música é um trabalho coletivo, por isso não seria justo
excluir esses outros personagens além dos cantores. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quantas músicas constam no Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
São citadas 12 mil músicas, mas nem todas de autoria de compositores do Rio
Grande do Norte. Dessas 12 mil músicas, muitas são de compositores potiguares.
As demais foram feitas por gente de outros estados, mas que ganharam
interpretação de artistas do Rio Grande do Norte.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Cite algumas descobertas que você divulga por meio desse seu livro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Por mais que eu pense que já achei tudo, sempre estou encontrando uma nova
informação. Uma descoberta do livro já publicado foi que Roberto Carlos gravou música
de um compositor do Rio Grande do Norte, Gilson Vieira,<span style="color: red;">
</span>autor de “Casinha Branca”. A música se chama “Um mais um”. Também achei
composições que saíram daqui e foram para outros países. Achei muitas
raridades, mas o que mais me surpreendeu foi a quantidade de compositores e
instrumentistas que o Rio Grande do Norte tem. Talvez isso explique o
comentário recorrente de que Natal não acontece na mídia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como assim?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Talvez Natal não seja muito divulgada na música nacional por ser uma terra de
compositores e de instrumentistas - mas não de cantores. Foi uma grande
surpresa descobrir isso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O mapeamento que você fez para o Dicionário envolveu todo o estado. Como você
armazena essas informações? Está sendo mais fácil fazer a segunda versão dessa
obra?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Montei um sistema para poder catalogar todo esse material. Por meio desse
sistema, faço um DNA da música e do músico. Tudo o que você quiser saber sobre
determinado músico, eu tenho. Esse cadastro inclui obra fonográfica e não
fonográfica, quando a música foi lançada, quem participou, fotografias de
lançamento... O Rio Grande do Norte está mapeado. Se por um lado ficou mais
fácil conseguir a informação, o trabalho ficou mais difícil porque a produção
cresceu. Hoje tenho mais de 50 mil músicas cadastradas. Antigamente eu tinha
que ir lá para pegar a obra, pesquisar. Viajei, por exemplo, até à Europa
quando recebi a informação de que Brigitte Bardot tinha gravado um músico
potiguar. Não achei essa gravação, mas é uma coisa que ainda está na minha
memória e estou pesquisando. A Internet facilitou essa parte da pesquisa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você fez sozinha o trabalho de organizar o Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Sim. A parte da pesquisa eu ainda faço sozinha, mas hoje a minha sobrinha Luiza
Câmara está trabalhando comigo. Estou treinando para que ela seja a
continuadora desse projeto. Luiza é publicitária. É uma menina jovem, tem vinte
e poucos anos, e gosta muito desse trabalho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi a repercussão do Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-W2reCUrfABs/UX68TtNCiSI/AAAAAAAABRY/GYxuF5-rX6o/s1600/leide1.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-W2reCUrfABs/UX68TtNCiSI/AAAAAAAABRY/GYxuF5-rX6o/s400/leide1.JPG" width="300" /></a><b><u>LEIDE</u></b> – O
lançamento foi no Palácio da Cultura, antigo Palácio Potengi. Na época, Woden
Madruga era presidente da Fundação José Augusto. Para publicar o Dicionário eu
vendi um apartamento. Woden foi fundamental na produção do lançamento. Montou
uma exposição sobre um século de música. Pegamos representantes por década e
fizemos painéis. A repercussão foi grande. Nesse dia, comecei a autografar às
seis horas da tarde. Deu quase meia-noite e eu ainda estava autografando.
Naquela ocasião, vendi quase 300 livros. Pra um livro de música, isso foi um
marco. Lancei também no Senado, com a mesma exposição. O apoio do senador José
Agripino foi fundamental. Todos os senadores ajudaram, mas José Agripino cedeu
toda a estrutura. Ele abriu seu gabinete para nós. O livro também foi lançado com
uma exposição em Fortaleza. No Rio de Janeiro, quando participei de um encontro
de pesquisadores da música brasileira, no Museu da Imagem e do Som, levei o
Dicionário e fui muito bem aceita. Conheci alguns dos grandes pesquisadores de
música: Ary Vasconcelos (que morreu em 2003), Jairo Severiano, Ruy Castro,
Sérgio Cabral... Todos estavam nesse encontro. O produtor musical J.C.
Botezelli, conhecido como Pelão, na hora em que ia fazer sua exposição no
encontro, levou o Dicionário para a mesa, fez uma apresentação da obra e disse:
“só pelo Dicionário da Música do Rio Grande do Norte, de Leide Câmara, esse
encontro já valeu”. Ariano Suassuna também estava nesse evento. Quando
entreguei um livro a Ariano, ele perguntou se seu nome constava no Dicionário.
“Claro, você não é parceiro do potiguar Joca Madureira<span style="color: red;"> </span>(Antonio
José Madureira)<span style="color: red;"> </span>no projeto Armorial?”. Ele ficou
estarrecido. Por sinal, a música que Ariano apresentou durante a sua palestra
era do próprio Madureira. Esse evento no Rio foi uma grande realização.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi feita a distribuição do Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – No
Rio, o livro foi vendido na Livraria Travessa e em várias outras. Atendi
pedidos para várias universidades norte-americanas. Ele também foi para a
China. A tiragem foi de mil exemplares. Fiz outros cem em uma edição numerada.
Quando o Príncipe Charles esteve em Brasília, Mércia - neta de Tonheca Dantas -
furou o bloqueio e entregou o Dicionário e um CD da Orquestra Sinfônica do Rio
Grande do Norte ao Príncipe Charles. Para minha surpresa, pouco tempo depois
recebi uma carta do Príncipe, agradecendo o Dicionário e dizendo que o livro
estava agora na biblioteca da família real. Por essa e por tantas outras
considero o Dicionário um marco na história da música do RN. Quando lancei o
livro, em 2001, a música potiguar vivia uma inércia grande. O Dicionário ajudou
a alavancar essa produção e as pessoas passaram a olhar para a música potiguar
e a valorizá-la mais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como está o trabalho para a segunda versão do Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Já
tenho 5 mil cadastros. Quero agora tirar da oralidade músicos que fizeram
história, mas não tiveram oportunidade de gravar. Quando sei que teve um fulano
que cantou, compôs ou tocava, corro atrás de informações sobre ele. Estou
recolhendo essa documentação porque a cada cem anos as referências de uma
geração se perdem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você falou que para lançar o livro precisou se desfazer de um apartamento.
Recuperou o investimento?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Financeiramente, não. Recuperei pela importância do ato, que, para mim, é impagável.
Tenho orgulho de, ao invés de pedir, sempre ter procurado o músico para comprar
a sua obra. No começo, quase ninguém vendia os discos dos artistas potiguares.
Hoje, qualquer sebo tem um espaço dedicado à música do Rio Grande do Norte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Esse segundo Dicionário deve estar concluído quando?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Está um pouco mais trabalhoso porque estou fechando a produção de cada músico:
o que ele gravou, por quem foi gravado, quais composições, onde ele anda. Mas
está bem avançado. Não tenho previsão, porque paralelo a esse livro fiz e
continuo fazendo outros trabalhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Está nos planos criar uma versão eletrônica do Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Vou criar, mas só depois que publicar essa segunda edição. Quando fiz o
Dicionário, Cravo Albin me pediu que eu cedesse uns músicos para incluir no
dicionário dele. Falei que quando eu publicasse o livro, ele teria acesso.
Quando o Dicionário foi lançado, ele pegou vários artistas, mas não deu
crédito. Eu exigi que ele corrigisse. Hoje, vários verbetes incluídos lá já dão
o crédito para o Dicionário da Música do Rio Grande do Norte. Pena que alguns
artistas preferem dizer que estão no Dicionário Cravo Albin ao invés de falarem
que são verbete no Dicionário da Música do Rio Grande do Norte. No Brasil,
desconheço quem tenha feito um trabalho sobre a memória musical do estado. Pode
existir, mas não conheço quem tenha feito o que fiz pelo Rio Grande do Norte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que outros trabalhos paralelos você realizou enquanto continuava a segunda
versão do Dicionário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Depois do Dicionário lancei o CD “Praieira”, em 2003,<span style="color: red;"> </span>quando
a música completou 80 anos. Promovi um encontro de gerações ao convidar para a
gravação artistas como Paulo Tito e Marina Elali, Fernando Luiz e Odhaíres,
Fernando Towar e Glorinha Oliveira, Pedro Mendes e Terezinha de Jesus, Liz Nôga
e Lucinha Lyra, Babal e Valéria Oliveira, entre outros músicos. Os artistas
foram divididos em duplas. Cada dupla gravou uma estrofe. Fiz uma serenata para
apresentar o CD. O grande sonho de Othoniel Menezes era que a música fosse
gravada toda. E “Praieira” é nossa referência. Sempre que se fala em uma música
de Natal, “Praieira” é lembrada. Fiz também o projeto “Serenata para Natal”. Ao
trazer músicos do cancioneiro brasileiro que tinham gravado músicas de compositores
do Rio Grande do Norte, de certa maneira eu dei vida do Dicionário. Um dos
artistas que veio cantar em Natal foi Roberto Silva, que gravou Raymundo Olavo,
o maior sambista sem ser carioca. Trouxe também artistas da casa com carreira
fora, como Ademilde Fonseca, Núbia Lafayette e o Trio Irakitan. Luiz Vieira e
Jair Rodrigues também vieram. Sem apoio financeiro, esse projeto belíssimo
ficou difícil de prosseguir. Depois fiz o CD do Trio Irakitan, em 2007, com a
gravação de “Praieira”. Foi o último disco gravado em estúdio da última
formação do Trio. Fiz também o livro “A Bossa Nova de Hianto de Almeida”.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como você descobriu essa participação importante de um potiguar na bossa nova?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Sempre comprei livros sobre a música brasileira para identificar a participação
de nomes do Rio Grande do Norte. Dessa forma, sempre achei nas publicações
sobre bossa nova o nome de Hianto de Almeida. Esse trabalho, que lancei em
2010, foi publicado pelo SESC e enviado para pesquisadores e para todas as
bibliotecas do país. Depois, organizei a exposição “Mulheres & Leide”,
parceria da Fundação José Augusto com a Secretaria Extraordinária de Cultura.
Foi uma homenagem à presença das 200 mulheres que integraram a cena da música
do Rio Grande do Norte. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O livro sobre Hianto surpreendeu muitas pessoas?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Acredito que, com esse livro, devo ter chocado os pesquisadores quando eles
viram tanta coisa que Hianto compôs e a importância dele para a música
brasileira. Quem você lembrar, de mais importante, gravou Hianto de Almeida.
Pena que tenha morrido cedo, em 1964. Hianto foi o maior parceiro de Chico
Anysio. Enviei o livro para Chico Anysio. Ele me agradeceu, por e-mail, dizendo
que esse livro tinha sido o maior presente que ele tinha recebido nos últimos
dez anos de sua vida. Hianto de Almeida e Chico Anysio fizeram 34 músicas. Só
se falava em uma média de vinte e poucas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O seu trabalho é devidamente reconhecido?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Considero. Veja o exemplo do Dicionário, que apesar de ser de 2001, continua
novo e presente na mídia e na vida das pessoas, como se tivesse sido lançado
ontem. Natal já até me deu o título de cidadã. Também me sinto valorizada pelos
músicos. Só o que ainda falta é alguém transformar esse reconhecimento em apoio
financeiro para eu estruturar o Instituto Leide Câmara - Centro de Pesquisa
Potiguar.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como surgiu a ideia do Instituto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Sempre procurei adquirir todas as obras que são do RN porque sei que o tempo é
traiçoeiro. Existem três fatores que acabam memória: viúva, traça e mudança.
Tive que correr porque a viuvez mata a história (risos). Sempre visito os
músicos e seus familiares. Eu valorizo os mínimos detalhes da história. Se sei
que a família de fulano está ali, vou visitar. Pergunto o que a pessoa tem,
peço para ver aquela pastinha, aquela malinha onde ele guardava as coisas. É
ali que deslancho na informação. Pra mim é uma mina. O fato de eu ter juntado
todo esse material me fez sentir a necessidade de disponibilizar para que as
pessoas possam ver, pegar e amar da mesma forma que amo cada material desses.
Tenho um acervo bom e grande. Tenho partituras, livros, fotografias e obras
raríssimas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
São quantos objetos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Só
de CD, tenho quase dez mil. Os elepês somam mais de vinte mil. Não consigo nem
estimar, de tanta coisa que tenho. Está tudo guardado em caixas, lá em casa. O
Instituto hoje está na garagem lá de casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já conseguiu toda a documentação do Instituto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Já
saíram até as Leis estadual e municipal que reconhecem o Instituto como uma
entidade de utilidade pública. O vereador Nei Júnior e o deputado Leonardo
Nogueira tiveram participação decisiva nesse processo. Estou aguardando o mesmo
reconhecimento na alçada federal. Também estou lutando para conseguir um espaço
físico para que as pessoas possam pesquisar todo esse material que juntei ao
longo dos anos. Começando hoje, seria impossível adquirir tudo o que juntei. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Um dos seus trabalhos atuais é a ligação entre o RN e Luiz Gonzaga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-HW21TkdH8_4/UX68L-rtCsI/AAAAAAAABRE/FEwPdTHSePo/s1600/20130309_114315.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-HW21TkdH8_4/UX68L-rtCsI/AAAAAAAABRE/FEwPdTHSePo/s400/20130309_114315.jpg" width="300" /></a><b><u>LEIDE</u></b> –
Estou concluindo o livro “Luiz Gonzaga e a Música Potiguar”. Por conta do
centenário do Rei do Baião, fui pesquisar as ligações dele com a música do RN.
Para minha surpresa, encontrei 54 artistas do RN que gravaram Luiz Gonzaga. Fiz
uma cronologia. Ademilde Fonseca, em 1951, foi quem primeiro gravou. Depois
vieram o Trio Irakitan, o Trio Marayá e assim por diante. O trabalho inclui
também os dois parceiros de Luiz Gonzaga no RN: Janduhy Finizola (médico que
hoje mora em Campina Grande) e o caicoense Severino Ramos. Estive com a família
de Severino Ramos, no Rio. Eles confirmaram que, apesar de ter sido registrado
em Campina Grande, Severino é de Caicó. Luiz Gonzaga gravou 12 músicas de
Severino Ramos e oito de Janduhy Finizola. A “Missa do Vaqueiro” é de Janduhy.
“Ovo de Codorna” é de Severino Ramos. </div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Sua pesquisa sobre Gonzaga vai render um livro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Já
está pronto. Em breve será publicado. Também estou querendo comemorar os 90
anos de “Praieira”. Nesse trabalho fui buscar de novo os filhos de Othoniel
Menezes, fui rever o que tinha sobre eles. Fui localizar Eduardo Medeiros, seus
filhos e netos. “Luiz Gonzaga e a Música Potiguar” e “Os Noventa Anos de
Praieira” são dois trabalhos que estou montando. Fora isso, há vários outros
livros que vou publicar sobre músicos como Ademilde Fonseca, Elino Julião,
Carlos Alexandre, K-Ximbinho, Trio Irakitan... Tenho vários já começados. Vou
fazendo simultaneamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você poderia antecipar alguma descoberta que sairá na próxima versão do
Dicionário? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> –
Vai constar no Dicionário a história de José Fernandes, um músico de Currais
Novos que saiu menino de lá, com a família, para tentar a sorte em Minas
Gerais. Ele me disse que deixou o sertão com o maior grau de subnutrição
possível. Depois de Minas, foi morar em Goiânia. Trabalhando como lavador de
carros perto de um barzinho, ele dormia nas ruas, coberto por caixas de
papelão. Sua sorte mudou quando passou a lavar o carro de Amado Batista. Daí
surgiu uma parceria de sucessos. Amado Batista gravou 50 músicas de José
Fernandes, fora as que o compositor potiguar vendeu a autoria. Fui a Goiânia
conhecer José Fernandes. Ele já estava doente, disse que tinha contraído algo
no sangue, consequência da subnutrição. Morreu muito novo, com 53 ou 55 anos.
Quando estive em sua casa, tomamos café com queijos e pães. A conversa foi na
cozinha. Perguntei onde ele guardava os rascunhos de suas composições. Ele
disse que rasgava todos, com medo de ser roubado. José Fernandes foi gravado
também por Zezé de Camargo e Luciano. É autor de “Princesa” e “Seresteiro das
Noites”, grandes sucessos de Amado Batista. No outro dia, no aeroporto,
encontrei Amado Batista. Ele estava viajando com os filhos. Fomos no mesmo
avião, para Brasília. Tirei fotos com ele, disse que tinha ido visitar José
Fernandes e que o meu sonho era assistir um show de Amado cantando músicas de
Zé Fernandes. Queria ver esse show sentada ao lado de José Fernandes. Não deu
tempo para acontecer. Descobrir a história de Zé Fernandes me alegrou muito, já
que ele é um ilustre desconhecido no estado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual músico ou compositor potiguar mais se destacou no cenário nacional?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Como
compositor, Hianto de Almeida. Entre os cantores teve aquela geração que foi
para o Rio e fez muito sucesso: Ademilde Fonseca, Trio Irakitan, Trio Marayá,
Aldair Soares (Pau de Arara)... Depois vieram Terezinha de Jesus, Leno, Gilson
Vieira, Carlos Alexandre e Gilliard. A partir daí, houve uma quebra. Estamos
voltando agora com Marina Elali, Dorgival Dantas e Roberta Sá. Na área de
composição, qualquer cantor que você citar dos que estão fazendo sucesso
gravaram música de potiguares. “Esperando na Janela” e “Beijar na Boca”, que
Claudinha Leite canta, por exemplo, são de um músico daqui: Blanch Van Gogh. Além
de compositor, ele é vocalista do Cogumelo Plutão. As pessoas estão ouvindo nas
novelas músicas que são nossas. O Rio Grande do Norte está na mídia, mas não só
com seus cantores. Também tem os atuais compositores: Zé Hilton, Cabeção do
Forró e Raniere Mazilli, que estão com várias músicas de sucesso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado para quem ler essa entrevista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>LEIDE</u></b> – Eu
acredito na música potiguar e sei que ela é extremamente importante. Falar
sobre ela, me empolga. Fazer descobertas, mais ainda. Francisco Alves gravou músicas
do RN. Pixinguinha também tinha ligação com a música potiguar. João Pernambuco
disse que aprendeu a tocar com Fabião das Queimadas. São muitas as histórias
que tornam o nosso passado muito bonito e rico. Eu gostaria de ter um espaço
físico para mostrar tudo isso. Queria ter oportunidade de disponibilizar essas
referências que a gente tem, tão importantes para a nossa história. Queria
poder mostrar gravações, músicas, discutir, falar sobre elas. Queria ter
oportunidade de fazer enquanto estou com toda a lucidez, toda a efervescência,
toda a informação na cabeça. Tenho essas informações porque as estou
vivenciando. Se eu perder esse interesse, deixo de buscar o “feeling” dessas
informações e histórias que venho recolhendo até hoje. Tenho muita vontade que
isso seja extremamente divulgado em tudo que é canto. Preciso fazer um portal
da música do RN, mas completo. Apesar de já ter tido convite pra integrar uma
rede internacional, não quis. Tenho que começar pelo RN. Quero fazer esse
portal, disponibilizar essa informação para que cada vez mais a gente tenha
orgulho dessa música do RN, dessa produção, desse intelectual que é o músico
potiguar. Tudo isso eu queria deixar muito vivo. Não quero um museu morto, mas
vivo pra que a gente possa discutir, chegar e tocar naquelas obras e sentir a
energia que eu sinto quando eu faço esse contato, essa descoberta desse
trabalho. Meu grande sonho é ter esse espaço físico para difundir cada vez mais
a música do Rio Grande do Norte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-indent: -35.4pt;">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Parabéns pelo seu
trabalho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p> </o:p><a href="http://4.bp.blogspot.com/-YiBcYap7zLs/UX68LGQHOvI/AAAAAAAABQ4/eWDyLOiypq8/s1600/leideroberto.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="360" src="http://4.bp.blogspot.com/-YiBcYap7zLs/UX68LGQHOvI/AAAAAAAABQ4/eWDyLOiypq8/s640/leideroberto.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E-mail de Chico Anysio para Leide Câmara
em 06 de outubro de 2010</span></b><span style="color: red; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 18.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Leide Câmara:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: red; font-family: "Arial Rounded MT Bold","sans-serif"; font-size: 13.5pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parabéns sinceros e intensos pelo seu
esplendoroso trabalho de pesquisa e organização da obra deste macauense da gota
serena, cabra que era um poço de talento e de quem tive a honra de ser parceiro
em mais de 30 canções. Seu livro foi o melhor presente que eu recebi nos
últimos dez anos. Com toda a certeza. Vou tentar armar uma entrevista sobre o
seu livro com o Jô, levando um cantor que possa cantar um pedacinho de
algumas músicas, principalmente as do Ewaldo</span><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="color: red; font-family: "Arial Rounded MT Bold","sans-serif"; font-size: 13.5pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ruy (Vento
vadio e Memórias) que considero as melhores. Por favor, me mande um livro com
uma dedicatória para o Jô.</span><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: red; font-family: "Arial Rounded MT Bold","sans-serif"; font-size: 13.5pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Chico Anysio"</span><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-43116985054738387852013-03-27T12:42:00.000-03:002013-03-27T12:42:51.603-03:00Entrevista: Tertuliano Aires<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<b><span style="font-size: 20.0pt;">AS CABRITAGENS DO BARDO DA BOCA SUJA</span></b><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-V-kT4q7XI6A/UVMSGcb6o7I/AAAAAAAABPY/TBpPaCYZSks/s1600/20130107_153911.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-V-kT4q7XI6A/UVMSGcb6o7I/AAAAAAAABPY/TBpPaCYZSks/s320/20130107_153911.jpg" width="240" /></a>Quando fui entrevistar Tertuliano Aires, muito já tinha
ouvido falar a respeito de Cabrito. Mas pouco conhecia das suas músicas - que muitos
classificam como pornográficas. É bom destacar que Tertuliano não concorda com
essa classificação: prefere chamar suas composições de “pornofônicas”. Bem
acompanhado por Roberto Fontes, Ronaldo Siqueira e Costa Júnior - trio já
iniciado no universo “cabritiano” – a entrevista ocorreu em frente à Lanchonete
Zé Reeira, no centro de Natal. A conversa nem precisou ser movida a álcool para
se tornar apimentada. Até porque, Tertuliano não bebe. E nem precisa. Em suas
respostas, ele alternou momentos de Tertuliano e de Cabrito. Na edição do texto
a seguir, optamos por passar um pente fino e extirpar do texto os palavrões,
digamos assim, mais “cabeludos”. Mesmo com essa precaução, é bom deixar o
alerta de que a porção Cabrito de Tertuliano - que conheceremos a seguir - não
é recomendável para menores. (robertohomem@gmail.com)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como é o seu nome completo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Tertuliano Aires Primo Neto. Meu nome é assim porque sou neto de Tertuliano
Aires Primo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa sua explicação tem lógica... (risos)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– É. Foi por isso que colocaram esse nome em mim, que é o nome do meu avô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde você nasceu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– A família “Aires” é de Pau dos Ferros, mas eu nasci em Mossoró. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que o seu pai fazia da vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-8ZShTuTvEBc/UVMSKdoMXYI/AAAAAAAABP4/elK4Fslt-SQ/s1600/20130107_160606.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-8ZShTuTvEBc/UVMSKdoMXYI/AAAAAAAABP4/elK4Fslt-SQ/s320/20130107_160606.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Meu pai foi um tremendo boêmio. Foi o cara mais “bola sete” de Mossoró. Nos
anos 1960 ele já se envolvia com coisas erradas. Dizem, inclusive, que ele
estava envolvido em um assalto em uma salina que ocorreu naquela época. Até
hoje ninguém sabe o motivo de não ter havido processo e de a polícia nunca tê-lo
acusado. Não sei se a história é verdadeira. Meu pai se chamava Rui Aires. A
principal função que ele exerceu foi a de herdeiro. Meu avô paterno era muito
rico. Meu pai viveu gastando o patrimônio que herdou. À medida que ia
recebendo, torrava.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O rico era o “Primo”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não, era o pai dele, o meu avô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É isso que estamos falando: o rico era o Tertuliano Aires Primo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– É verdade!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como ele amealhou esse patrimônio para seu pai gastar depois?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Meu pai foi embora de Pau dos Ferros para Mossoró após uma briga entre os “Aires”
e os “Fernandes”, por causa de uma banda de música. Lá ele montou uma fábrica
de chocalho e lamparina. Essa empresa virou uma retífica de motores e uma
fundição. Depois ele comprou loja de peças e posto de gasolina. Instalou também
uma fábrica de cordas e adquiriu uma fazenda para plantar o agave necessário
para fazer as cordas. Meu avô também montou uma fábrica de carrocerias e
comprou imóveis na cidade. Dessa forma o patrimônio foi crescendo. Quando o
velho morreu, os filhos não quiseram continuar com os negócios. Eles dividiram
e cada um gastou o seu. Dessa forma, meu pai foi boêmio a vida toda: só
gastando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O dinheiro foi suficiente?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO </u></b>–
Quando ele morreu, faltou dinheiro e sobrou boemia (risos). A única coisa que
restou foi a casa em Natal. Ela existe até hoje. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre a sua mãe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Terezinha de Medeiros Aires era o seu nome. Trabalhou como costureira. Vinda
de uma família pobre, ela casou com um rapaz rico. Vivia submissa. Boa parte da
vida foi ela quem cuidou da gente, enquanto meu pai gastava dinheiro. Talvez
meu pai achasse que herança fosse parecida com buraco, que quanto mais você
tira, mais cresce. Herança é o contrário: quanto mais você tira, menor fica.
Minha mãe foi quem trouxe a gente para Natal, quando eu tinha 12 anos. Ela veio
trabalhar com um irmão nas Casas Gomes. Hoje estou com 56 anos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você recorda da sua época em Mossoró?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– De tudo. A gente morou também em Fortaleza, no ano de 1964, quando meu pai
foi arrendatário de um restaurante por lá. Mas Mossoró é toda a minha memória
de infância, porque foi lá que comecei a ter consciência das coisas. Lá em
casa, apesar de tudo, tinha um rádio e a gente escutava muito Coronel Ludugero,
Barnabé, Roberto Carlos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro... No rádio você não
pode selecionar, então, tudo o que tocava a gente ouvia. Voltei a morar em
Mossoró de 1965 a 1968, ano em que mudamos para Natal. <b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi sua formação escolar em Mossoró?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Estudei no Grupo Escolar Modelo. Fiz parte do primário em Mossoró. Terminei
em Natal, no Instituto Municipal João XXIII. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Seu pai estudou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não. Apesar de ele ter certo conhecimento, não teve um nível de instrução
elevado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O lado da esculhambação você herdou dele...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Possivelmente. Não herdei dinheiro, só o espírito ruim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como o sexo é tema recorrente no seu trabalho musical, é quase obrigação
indagar onde se deu sua iniciação sexual. Foi em Natal ou em Mossoró?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Foi há tanto tempo que não tenho nem memória pra isso. Mas lembro que na
infância, em Mossoró, conheci uma menina no colégio e me apaixonei por ela. Nem
sei se ela ainda existe hoje em dia, mas pensei muito nessa garota nos momentos
solitários que passava no banheiro lá de casa. Eu tinha uns 12 anos. Talvez minha
iniciação sexual tenha sido pensando nessa menina, que, por sinal, era
lindíssima. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual o motivo da mudança da sua família para Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-iBgyTf8dxRk/UVMSKYWwjyI/AAAAAAAABP8/0dYBZ2-3zWc/s1600/20130107_161609.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-iBgyTf8dxRk/UVMSKYWwjyI/AAAAAAAABP8/0dYBZ2-3zWc/s320/20130107_161609.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Nos mudamos por causa da situação financeira. O negócio do meu pai, que era
gastar herança, não tinha muito futuro e nem a regularidade que proporcionasse
a manutenção da família. Em outras palavras: meu pai estourava todo o dinheiro
que recebia. Quando ele vendia uma casa, comprava logo um carro e torrava o resto
do dinheiro. Assim os recursos foram se exaurindo, em Mossoró. Como a minha mãe
costurava bem, esse seu irmão – Geraldo Gomes – sugeriu que ela mudasse para
Natal, cidade que tinha um mercado de trabalho melhor. Ela mudou e ficou
costurando pra fora, no bom sentido. A família toda veio, inclusive o meu pai.
A gente morou um tempo no Alecrim e depois em Lagoa Seca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Foi bom trocar Mossoró por Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Eu era uma criança de 12 anos que praticamente não conhecia nada. Só tinha
ido a Fortaleza. A própria viagem de Mossoró para Natal já foi uma aventura.
Foi excitante conhecer Lajes, Angicos, Açu... Nesse tempo não tinha asfalto. A
gente saía, em cima de um jipe, às quatro da manhã e chegava meia-noite. Para
minha idade, foi marcante. Eu não tinha ideia do que encontraria em Natal.
Quando cheguei, logo percebi que Natal era completamente diferente do que se
falava em Mossoró. Diziam que aqui tinha lobisomens e falavam também na Viúva
Machado. Mas a primeira coisa que vi, na rodoviária, foi uma criança apanhando carteira
vazia de cigarro para brincar como se fosse nota de dinheiro. Na mesma hora, pensei:
é igual a Mossoró, não tem nada de diferente. Menino é menino em todo canto. Em
Natal despertei para tudo na vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde você veio estudar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
- Na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Lá era o maior quartel, a melhor
escola não só para a educação formal, mas também como preparatório para a
própria vida. Não era mole. Tinha muita gente vivida, uma diversificação
imensa. Foi uma experiência incrível. O aluno praticamente não tinha
identidade. Em uma escola com dois mil alunos, você não tem identidade, é apenas
um elemento do bando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você foi fazer qual curso na ETFRN?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Fiz exame de admissão para o ginásio e depois cursei Mecânica. No ginásio a
gente passava por todos os cursos: praticava nas oficinas de Eletrotécnica, de
Mecânica, e nas demais, pra ir pensando no que queria fazer. Ingressei para o
técnico no curso de Mecânica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você concluiu o curso?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Sim. Quando terminei, fiz vestibular. Apesar de a ETFRN primar pelo ensino
técnico, foi lá onde descobri que queria trabalhar na área de humanas. Fiz
vestibular para Ciências Sociais. Na UFRN me envolvi com João Emanoel, com
Juliano Siqueira, Geovani Rodrigues e essa rapaziada toda do movimento
estudantil da época. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você teve participação ativa no movimento?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não, medíocre. Eu era apenas mais um elemento do Diretório Acadêmico. Não
tive nenhuma participação significativa ou efetiva, como Juliano e François
Silvestre tiveram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você correu algum risco?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– O pessoal da minha turma foi preso, mas a mim não incomodaram. João Emanoel
tinha um rádio que sintonizava ondas curtas. A gente pegava a Rádio da Albânia,
a Rádio Central de Moscou e outras emissoras do lado de lá do muro. Ouvia as
matérias, datilografava, mimeografava e deixava nas salas-de-aula do Campus e
no restaurante universitário. Dava uma confusão grande, mas ninguém nunca
descobriu que era a gente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época você já tinha algum envolvimento com a música? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-sIvFXK_QR6E/UVMSLcVY_SI/AAAAAAAABQI/uk0wX5gtRjc/s1600/20130107_162935.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-sIvFXK_QR6E/UVMSLcVY_SI/AAAAAAAABQI/uk0wX5gtRjc/s320/20130107_162935.jpg" width="320" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Morando em Mossoró, eu já tinha a mania de cantar. Ficava deitado em uma
rede, cantando. Mamãe achava que eu cantava bem. Ela prometeu que um dia
compraria um violão para me dar. Em 1970 ela comprou um violão na loja de
instrumentos musicais de Gumercindo Saraiva. Era um Giannini. Graças ao violão
conheci uma porrada de gente boa, como o pessoal do “Alcateia Maldita” e os
boêmios do Bar do Coelho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você aprendeu a tocar sozinho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Sim, porque naquela época era muito difícil ter alguém que lhe ensinasse.
Frequentei a Escola de Música, mas não tive saco. Estudei em casa, com aquelas
revistinhas de cifras. Depois fui pegando música de ouvido, desenvolvendo e
aprendendo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você começou logo a compor?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Comecei quando conheci a rapaziada do “Alcateia Maldita”, que era Raul,
Fernandão, Edinho, Joca e muita gente boa. No início, o “Alcateia” tocava música
de Jimi Hendrix, Rolling Stones, Beatles... Eu e Nagério lançamos a proposta de
tocar nossa própria música. A gente começou a incutir na rapaziada essa
história do autoral. E vingou. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Sua primeira banda foi o “Alcateia”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO </u></b>–
Foi o meu primeiro entrosamento com música. Mas eu só me apresentei com eles
esporadicamente. Era tanto músico bom que eu ficava meio encabulado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Por que você se afastou do “Alcateia”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Z2epHZqM_2M/UVMSIJSyfZI/AAAAAAAABPo/oHKzZDA9XLU/s1600/20130107_155330.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-Z2epHZqM_2M/UVMSIJSyfZI/AAAAAAAABPo/oHKzZDA9XLU/s320/20130107_155330.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO </u></b>–
Comecei a namorar uma moça e ela engravidou. Com ela tive meus filhos, que,
graças a Deus, já estão todos criados. Então, me afastei do “Alcateia” porque
tive que trabalhar. Consegui um emprego de representante de remédios na <i>Aché</i> e fui viajar pelo interior. Esse
trabalho permitiu que eu me aproximasse de músicos do interior como João de
Deus, Miltança, Carlança, Carlos Bem, Almir de Areia Branca, Dedé Nepó e vários
outros. Depois voltei para trabalhar em Natal como representante de um
distribuidor de autopeças de Recife. Nas folgas eu estava sempre no bar de
Toinho Sete Cordas, ou mesmo andando com Pael ou com o pessoal da capoeira da Avenida
Três.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual curso você fez na Universidade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u> </b>–
Fiz vestibular para Sociologia. Passei, mas não concluí porque a namorada engravidou
e tive que abandonar o curso para trabalhar. No tempo em que eu fazia faculdade
trabalhava na Datanorte. Saí de lá porque ganhava um salário mínimo e não era o
bastante para sustentar a parada. Fui trabalhar como representante e, viajando,
não podia continuar frequentando a universidade. Nunca tranquei matrícula.
Simplesmente abandonei, desapareci. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Seu destino era mesmo a música...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Música de sacanagem, por sinal. Tentei de todas as formas fazer composições que
as pessoas pelo menos se interessassem em ouvir. Mas me chamaram era de doido e
menosprezaram esse trabalho. Agora, compondo esse tipo de música que eu
classifico de pornofônica, todo mundo me respeita. Já fui até entrevistado por
Margot Ferreira para a TV Cabugi! Pelo andar da carruagem, daqui a pouco vai
ter música minha na novela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa entrevista que você deu a Margot foi veiculada em qual programa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– No RN TV. A gravação foi difícil, pois eu tive que contar as minhas
histórias, mas sem dizer as palavras certas. Fiquei só arrodeando, como diz o
natalense. Só pelas beiradas. Também gravei para o programa Xeque-Mate, da TV
Universitária, feito por alunos da UFRN. Durou uma hora. Mais de 50 alunos se
ofereceram para me entrevistar. Eu soube que normalmente é difícil arrumar
voluntários entre os estudantes de jornalismo para gravar esse programa. No meu
dia, quando a entrevista acabou, fui aplaudido. O estúdio estava cheio de
gente, o povo fotografando. Distribuí até autógrafos.<b><u><o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como surgiu o personagem Cabrito?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-_tv4-gqvF70/UVMSFA-te8I/AAAAAAAABPI/7SXzK_p8P9Y/s1600/20130107_153725.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-_tv4-gqvF70/UVMSFA-te8I/AAAAAAAABPI/7SXzK_p8P9Y/s320/20130107_153725.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Na época do “Alcateia” eu, Nagério, Raul e Edinho compusemos uma canção
chamada “Feira do Alecrim”. Muitos anos depois, Cida Lobo gravou essa música,
mas não deu crédito nem a mim e nem a Nagério, como compositores. Não sei se
por preguiça, conveniência ou outro motivo qualquer, não botaram o nome da
gente. Então resolvi compor uma música que, no dia em que gravassem, o cantor certamente
faria questão de dizer quem era o autor. Hoje em dia ninguém faz questão de
dizer que é parceiro de Cabrito. Alguns que são parceiros, até negam. (risos) Hoje
tenho certeza que ninguém vai querer dizer que é autor das porcarias que eu
componho.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E o apelido Cabrito, como surgiu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Eu era conhecido como Terto, mas achei que devia bolar um nome diferente para
esse personagem. Então lembrei que o cabrito é símbolo do demônio. Não sei se
vocês já estudaram ocultismo, mas o cabrito - bafomé, o bode de mendes - é o
símbolo do demônio. Eliphas Levi já escreveu sobre isso. Baseado nesse fato,
pensei no nome Cabrito. Depois disso, compus uma música chamada “Minha
história” falando que minha primeira namorada foi uma cabrita. Mas é bom
ressaltar que a letra da música se refere à história do personagem, e não à
minha. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa letra não tem mesmo nenhuma semelhança com a realidade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não, de jeito nenhum. Até porque, até hoje só transei com cabritas bípedes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quer dizer que você tentou mesmo fazer música séria, mas não deu certo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– No começo não deu muito certo, mas depois as pessoas acabaram gostando desse
meu trabalho “sério”. Resolvi enveredar por essa linha pornofônica quando, em
minhas andanças como representante, encontrei em uma loja um cara com uma fita
só de paródia com música de sacanagem. Achei interessante porque mais de vinte
pessoas estavam em volta do carro ouvindo aquelas músicas com ele, na maior
gargalhada. Inicialmente pensei em comprar um karaokê para compor letras de
sacanagem em cima de músicas já conhecidas. Mas o maestro Franklin Nogvaes sugeriu
que se eu compusesse as músicas ele faria os arranjos e a gente gravaria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você lançou logo um CD?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não, na época lancei uma fita cassete de 46 minutos. E esse negócio tomou uma
proporção que nem eu mesmo esperava. Começou como brincadeira, mas, hoje, se
vou a uma festa em qualquer lugar - pode ser em uma fazenda lá na caixa bozó -
termina alguém me reconhecendo. Certa vez fui fazer uma viagem com Zé Dias e
Khrystal para Maceió. Zé Dias disse que se eu fosse reconhecido lá, ele se
suicidava. (risos)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Zé Dias está vivo até hoje, é sinal de que você não foi reconhecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não me reconheceram, mas lá fui apresentado como o parceiro de Khrystal na
música “Coisa de preto”, que faz grande sucesso na capital de Alagoas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como você divulgou as músicas da fita?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– No corpo a corpo. No começo o trabalho foi recebido com muito preconceito.
Existem histórias escabrosas e folclóricas com relação a essa fita. Por
exemplo: um cara comprou uma dessas fitas e deu ao dono de uma empresa de
ônibus que faz a linha Ceará Mirim-Natal. Esse empresário tinha tanta
intimidade com seus funcionários que os motoristas costumavam abrir o carro
dele e pegar uma fita qualquer para tocar durante a viagem. Certo dia um
motorista escolheu uma fita, levou para o ônibus e, quando iniciou a viagem,
fechou a porta que separa a cabine e botou pra tocar, baixinho, como som
ambiente para os passageiros. Em pouco tempo chegou uma mulher braba, dando
porrada na porta. “Que sacanagem é essa?”. Quando o motorista foi ver, era a
minha fita que estava rolando. (risos) Minha mãe, quando escutou, pediu que eu
não dissesse mais em canto nenhum que era filho dela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E a sua mulher e seus filhos: o que acham desse trabalho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Minha mulher detesta, minha filha também não gosta. Mas meu filho é meu fã
incondicional. Ele mora em Recife. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já foi preso alguma vez?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CABRITO</u></b> –
Não. Sou esguio, cara. Sou escorregadio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual foi o passo seguinte, depois da fita?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– A gente transformou essa fita em CD. O mesmo repertório. O lançamento foi no
Vero’s Bar, que é uma casa de meninas de vida fácil. Aliás, é bom que se diga que,
na verdade, elas levam uma vida é bastante dura. <b><u><o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como surgiu a ideia de lançar o CD em um cabaré?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– A ideia foi de Nelson Rebouças. A gente colocou gente dentro desse cabaré que
não cabia. A casa era pequena, mas 250 pessoas conseguiram entrar. Foi um caos,
foi um verdadeiro cabaré! Voltou gente da porta porque não conseguiu entrar. A
gente quase não conseguiu tocar porque ficavam atropelando os instrumentos. Tem
alguns vídeos dessa festa no Youtube, para quem quiser ter uma ideia do que
estou falando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como reagiram a esse seu trabalho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Fiquei maravilhado, sobretudo porque tinha muita menina linda cantando a minha
música. Eu já tinha visto homens, adolescentes, cantando as canções. Depois
ainda recebi muita gente no camarim improvisado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u> ZONA SUL</u></b> – Tinha até camarim?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-r9hIA2Oz01c/UVMSMZDfzXI/AAAAAAAABQQ/aS0q4xg-yrA/s1600/20130107_162942(1).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-r9hIA2Oz01c/UVMSMZDfzXI/AAAAAAAABQQ/aS0q4xg-yrA/s320/20130107_162942(1).jpg" width="240" /></a><b><u>CABRITO</u></b> – Na
verdade, era um quarto de despejo com um ventilador velho, móveis velhos... Esse
era o nosso camarim.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem acompanhou você nesse show no Vero’s Bar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Minha banda, chamada “Os Caprinos”. Essa banda é encabeçada pelo maestro
Franklin Nogvaes (teclado) e conta com Ricardo Baya (guitarra), Sérgio Mendonça
(baixo) e John Fidja (bateria). Às vezes, um desses não está disponível e a
gente convoca outro. Fiz bem uns três shows no Castelinho para lançar esse meu
primeiro CD, que é chamado “Os nominhos que ela tem”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É verdade que ao final de um dos seus shows realizados em cabaré uma das
prostitutas comentou: “ainda bem que acabou essa baixaria...”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– (risos) Já pensou um negócio desses? Outro dia, eu estava tocando em um
cabaré quando a dona chegou pra mim e disse: “meu senhor, respeite a minha
casa... A gente tem um cliente lá dentro”. Um dia depois do lançamento do CD, o
jornalista Mário Ivo fez até uma crônica e publicou no seu blog. O título era “As
putas ficaram putas”. As meninas disseram que nesse dia do show só conseguiram
fazer algum programa depois da minha apresentação. Esse show foi no dia 1º de
maio de 2010. A capa do CD é de Venâncio Pinheiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem mais, além de você e Franklin, participou das gravações desse disco?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Só o maestro Franklin Nogvaes teve coragem. Mas é bom destacar que ele não
tem culpa nenhuma! (risos)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É verdade que algumas bandas estão montando repertório inspirado no seu
trabalho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Sim. Tem, por exemplo, o pessoal do “Cool do Elefante”. Estou fazendo escola.
Por outro lado, consegui algumas inimizades dentro do movimento feminista.
Algumas me destetam por achar que eu detrato as mulheres. Mas ocorre que faço
justamente o contrário: eu faço é uma louvação à mulher. Tem uma banda chamada
“Las Cabritas Malditas” que está preparando um show que, na visão delas, tem o
objetivo de detratar os homens, como elas acham que eu detrato as mulheres.
Estão preparando uma carta aberta a mim. Fui convidado – e já aceitei – para
estar no palco no momento da leitura. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Tertuliano tem muita coisa de Cabrito?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Acredito que sim, já que o personagem termina se confundindo com a pessoa.
Quem é que está aqui? Cabrito ou Tertuliano? Sou espirituoso, todo mundo gosta
de mim por causa disso. Todo mundo adora sacanagem, mas diz que não gosta. No
frigir dos ovos, todo mundo gosta. Tem muita gente que comenta, a respeito da
minha música, que ela é espetacular, mas quando começo a cantar acabo com tudo.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você se dedica a um gênero específico de música?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Tem todo tipo. Tem tango, balada, forró, todos os gêneros. Fiz de propósito,
só pra chiar, só pra ser pernóstico. O título do disco seria “A cagada da minha
prima”, que é uma balada. Mas, a título de marketing, a gente mudou para
"Os nominhos que ela tem”. Se fosse o nome original, acho que a gente
teria dificuldade de divulgar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já ouviu “Velhas Virgens”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-agUdXuuA2Cw/UVMSIx12lrI/AAAAAAAABPw/qEwHSsPoLfI/s1600/20130107_155349.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-agUdXuuA2Cw/UVMSIx12lrI/AAAAAAAABPw/qEwHSsPoLfI/s320/20130107_155349.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Já. Trabalho vendendo MP3. Tudo que você imaginar de música, eu tenho.
Trabalho vendendo pen drive gravado, CD. Tenho o repertório das “Velhas Virgens”.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Em que você se inspira para compor suas canções proibidas para menores de 18
anos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– É muito fácil fazer esse tipo de música. Basta assistir bastante filme de
sacanagem e prestar atenção nas histórias escabrosas que são contadas nas mesas
de bar. Todo frequentador de boteco tem uma história legal pra contar. Vou juntando
um “causo” aqui, uma piada acolá e de repente a letra da música está pronta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi a gravação do DVD?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
- Hoje DVD é moda, todo mundo grava um. Por isso resolvi também gravar o meu.
Um pessoal de Caicó, da “Nonsense Filmes”, fez a gravação. A “Nonsense” gravou
o repertório do disco lá no Senzala, o cabaré de Abílio. Não teve participação
da banda, foi só eu e Franklin Nogvaes. Franklin colocou os arranjos no
computador e fez os acompanhamentos com o teclado. Com a banda toda teria
dificuldades na edição. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde adquirir os seus trabalhos e como contratar os seus shows?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Meu CD e o DVD estão à venda lá no Sebo Balalaika (Rua Vigário Bartolomeu,
565 - Cidade Alta). Contatos para a distribuição do DVD e também para shows
podem ser mantidos com Nelson Rebouças (<a href="mailto:nnelsonreboucas@yahoo.com.br">nnelsonreboucas@yahoo.com.br</a> –
(84) 9922-8188 ou 9151-7783). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
(Nesse instante chega à mesa da Lanchonete Zé Reeira o jornalista Moisés de Lima,
um dos responsáveis pelo sucesso de Cabrito). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Z2epHZqM_2M/UVMSIJSyfZI/AAAAAAAABPo/oHKzZDA9XLU/s1600/20130107_155330.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Moises de Lima é um dos culpados pela ascensão do Cabrito. Esse “fela da puta”
foi um dos que mais divulgou esse trabalho. Eu querendo que ele escrevesse
matéria sobre meus trabalhos sérios, evangélicos, e ele nada de querer me
entrevistar. Mas foi só eu fazer essas músicas de sacanagem que ele botou no
jornal. (risos)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
É sério que você tem um trabalho evangélico?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Claro que não. Mas é verdade que eu gosto de estudar religião. Por incrível
que pareça, frequento escola e tudo. É a minha filosofia preferida, o estudo da
religião, principalmente do Cristianismo. Todos temos Deus e o demônio em nós.
Por isso a espiritualidade e o lado carnal convivem muito bem em mim. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual a tiragem do disco e do DVD?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Do disco eu nem sei, mas do DVD a gente fez 300 cópias. Penso que já estamos
precisando fazer outra tiragem. O DVD foi lançado agora em 2012. Ele tem o
mesmo nome do CD: “Os nominhos que ela tem”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O trabalho como Cabrito foi o que chamou a atenção de outros artistas para as
suas músicas “censura livre”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não, eu já tinha toda uma história com o “Alcateia“ e participado de
festivais. Em resumo: eu tinha envolvimento com a cena cultural potiguar e
alguns artistas tinham gravado músicas minhas... Mas certamente esse trabalho
me tornou mais conhecido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem já gravou suas canções?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u> - </b>Carlos
Bem, Krhystal, Geraldo Carvalho... Fica difícil lembrar todos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual sua música preferida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-6m3WUy8ajRU/UVMSF0EavAI/AAAAAAAABPQ/ouDcpNlGN0I/s1600/20130107_153848.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-6m3WUy8ajRU/UVMSF0EavAI/AAAAAAAABPQ/ouDcpNlGN0I/s320/20130107_153848.jpg" width="240" /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Sem dúvida nenhuma é “Natália”, que fiz em parceria com Nagério. A letra é
assim: “Meu canto corta a ribeira / Cidade nova de amor / Grito pelos igapós /
Um desafio em flor / Tempero a minha alma / Com um ramo de alecrim / O meu
coração de rocas / Picado de maruim / E a esperança que descansa / Numa redinha
pequena / Capim macio do pátio / Mãe Luiza flor morena / Dix sete botões
rosados / Lagoa nova secou / O grande ponto dos sonhos / Candelária, virgem
amor / O forte da negra ponta / Cantinho de Mirassol / Brasília teimosa, reis /
Barreira d’água, Tirol / O morro branco que guarda / A areia preta do mar /
Cidade alta de mágoas / Bom pastor a vaquejar”.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E o seu trabalho junto ao “Balalaika Brega Band”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Surgiu pela necessidade de ganhar dinheiro. O repertório inclui músicas bem
apelativas, bem bregas, como “Essa última canção” e “Eu não sou cachorro não”.
Isso é para a gente ganhar dinheiro. Nessa banda eu entro como Tertuliano. A
gente se apresenta em qualquer lugar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Cabrito chegou a fazer shows fora de Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-_tv4-gqvF70/UVMSFA-te8I/AAAAAAAABPI/7SXzK_p8P9Y/s1600/20130107_153725.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Sim, mas só com voz e violão. Nelson Rebouças publicou um livro chamado “69
versos fesceninos”. Ele lançou em Natal, João Pessoa e Mossoró. Fiz
participação em todos esses lançamentos. Apesar de não ter me apresentado em
muitos estados, recebo e-mail do país inteiro. Tem gente do Rio Grande do Sul que
escreve dizendo que estava em um churrasco no final de semana e a trilha sonora
foi minha música. O cara manda a mensagem sem nem me conhecer. E olha que eu
nem cultivo muito esse negócio de redes sociais.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Vimos que o seu Twitter (@CabritoDBDNSA) está bem desatualizado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não é meu, nunca tive Twitter. Estão utilizando meu nome. Acho uma covardia.
Se você tem vontade de escrever alguma coisa, faça e assine. Não se esconda
atrás do meu nome. Já vi algumas coisas escritas nesse Twitter. Garanto que eu
seria bem mais criativo. Os textos lá estão muito óbvios, rasteiros. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde encontrar, na Internet, o Cabrito original?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Não cultivo muito a Internet porque tenho um Facebook de Tertuliano. Tenho
medo de postar uma coisa em um lugar e cair no outro. Mas é fácil me encontrar
no Youtube. Não apenas o trabalho como Cabrito, mas algumas canções que estão
postadas no canal “Som sem plugues”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você planeja agora?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-r9hIA2Oz01c/UVMSMZDfzXI/AAAAAAAABQQ/aS0q4xg-yrA/s1600/20130107_162942(1).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><br /></a><b><u>TERTULIANO</u></b>
– Minha prioridade é trabalhar, vender CD, vender música, vender pen-drive
gravado. É trabalhar nos projetos do governo, na direção de palco. Faço parte
da equipe do MPBeco. Quem toma conta do palco sou eu. Minha prioridade é
trabalhar e trabalhar e trabalhar. Em outra frente, estou planejando o próximo
disco. Já tenho algumas músicas novas. O ano está começando, vou ver se me
entendo com Franklin Nogvaes e a gente grava esse novo disco. Depois de pronto,
é só organizar uma festa de lançamento. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que faltou perguntar a você?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Acho que nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado para o leitor. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>TERTULIANO</u></b>
– Eu queria que as pessoas fossem compreensivas com esse trabalho de Cabrito. É
apenas uma brincadeira. Não tenho a intenção de detratar ou menosprezar
ninguém. Pelo contrário, o objetivo é só divertir as pessoas. Outro dia,
Emanuel Grilo – o cara mais safado de Natal – inventou que eu abriria um show
de Chico Buarque. Ele costuma fazer piadas comigo. Recebi muito e-mail de
pessoas querendo saber se era verdade. Eu confirmei! Em torno de mim rola essa
brincadeira, essa palhaçada. Isso alegra as pessoas, diverte. Meu trabalho é
isso, é humor. Não tem nada de ofensivo. <o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-R8IJQEyKZ7o/UVMSGsjKZyI/AAAAAAAABPc/_7gnHTcjoH0/s1600/20130107_154945.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-R8IJQEyKZ7o/UVMSGsjKZyI/AAAAAAAABPc/_7gnHTcjoH0/s320/20130107_154945.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-65714519069577400962013-02-22T10:56:00.000-03:002013-02-22T10:56:13.150-03:00Entrevista: Jaime Mariz<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 28.0pt;">MOVIDO A GRANDES DESAFIOS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-qLwFxQXF-rg/USd3JIbnaqI/AAAAAAAABM4/DPABpiaF_C8/s1600/20130104_131844.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-qLwFxQXF-rg/USd3JIbnaqI/AAAAAAAABM4/DPABpiaF_C8/s320/20130104_131844.jpg" width="320" /></a>O engenheiro Jaime Mariz de Faria Júnior é movido a
desafios. E batalhas para travar não têm faltado. O último combate do qual
participou – com sucesso no final da refrega – foi a criação da Fundação de Previdência
Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP). A voz poderosa, o timbre
grave, as palavras bem articuladas, a postura confiável e o gestual comedido
fazem de Jaime um interlocutor especializado na arte de esgrimir idéias. A
conversa com ele se deu agora no veraneio, <st1:personname productid="em Muri. O" w:st="on">em Muriú. O</st1:personname> anfitrião,
Neneto Almeida, fez a cobertura fotográfica. A seguir, um resumo da entrevista.
(robertohomem@gmail.com)</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> -
Você é caicoense?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> -
Nasci em Natal por uma necessidade médica: minha mãe teve uma gravidez
complicada e precisou parir em um centro mais desenvolvido. Então ela se
deslocou até Natal. Embora tenha nascido na Maternidade Januário Cicco, me
considero caicoense, já que foi ali que passei a minha infância, minha primeira
adolescência e de onde nunca me afastei. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale um pouco a respeito dos seus pais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Minha
mãe, Maria Julieta Dantas de Faria, vem de duas numerosas famílias seridoenses,
Dantas e Medeiros. É prima legítima do Monsenhor Walfredo Gurgel. Meu avô Joel Dantas
- líder político do antigo PSD de Caicó – era tio e padrinho político de
Monsenhor Walfredo Gurgel. Já o meu pai, Jaime Mariz de Faria, era sobrinho de
Dinarte Mariz – irmão de sua mãe Osmila - e também sobrinho de Juvenal
Lamartine – irmão de seu pai Epitácio. Nasci, portanto, numa família política
por todos os lados. Como o lado paterno era dinartista e o materno aluizista
(Aluízio Alves e Monsenhor Walfredo Gurgel eram aliados), vivi um conflito
político muito grande na minha infância e adolescência. Monsenhor era
referência maior em Caicó, juntamente com Manoel Torres. A família se dividia
entre essas duas lideranças. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi conviver com Dinarte Mariz e Monsenhor Walfredo Gurgel?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Foi
agradável, apesar de não ter sido muito de perto. Convivi com Dinarte - ele já
no final da vida, mas ainda muito bem e lúcido – quando de suas vindas para a
Fazenda Solidão. Ele e Monsenhor Walfredo Gurgel foram dois grandes líderes
políticos que, a exemplo de outros, se doaram por completo à política, sem
obter praticamente nenhuma vantagem pessoal em contrapartida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Sua mãe desenvolveu alguma atividade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Sempre
foi dona de casa, nunca teve qualquer participação na política. Da mesma forma,
meu pai também não enveredou pela política, apesar de, quando jovem, ter sido
prefeito de sua cidade Serra Negra do Norte. Mas, depois de maduro<span style="color: red;"> </span>meu pai concluiu o curso de Direito, depois que eu,
que sou o caçula, me formei. Advogou até os últimos dias de sua vida. Antes,
ele foi funcionário do Batalhão em Caicó, se dedicou à agropecuária e foi
bancário. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre seus irmãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> –
Somos dois homens e duas mulheres. A mais velha é Tânia, médica dermatologista <st1:personname productid="em S ̄o Paulo" w:st="on">em São Paulo</st1:personname> há mais de 30
anos, mas está vindo morar <st1:personname productid="em Natal. Depois" w:st="on">em
Natal. Depois</st1:personname> tem João Luciano, que é engenheiro da
prefeitura de Natal. Sônia, socióloga e funcionária pública, é casada com
Geraldo Queiroz, que foi reitor da UFRN. Sou o quarto filho. Somos uma família
pequena para os padrões do Seridó da nossa época. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você morou em Caicó até qual idade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> –
Até os 14 anos. Caicó era uma cidade muito tranqüila. Os carros da época eram quase
contados nos dedos. Andávamos a cidade toda a pé. Estudei no Colégio Diocesano
Seridoense, talvez o melhor colégio daquela época de Caicó. Com essa formação
relativamente boa, tentei ser estudante de colégio militar com o objetivo de
ter oportunidade de uma formação melhor ainda. Passei no concurso da escola
preparatória de cadetes do ano de 1971, juntamente com apenas dois outros do
Rio Grande do Norte, mas não fui por decisão própria, depois de muitas
reflexões. Aos 15 anos vim para Natal, estudar na Escola Técnica Federal. Vim
morar na casa da minha irmã, Sônia. Depois do curso técnico de Eletrotécnica,
cursei Engenharia, na UFRN. Morei durante muito tempo na casa de Sônia e
Geraldo Queiroz. Tenho por eles enorme carinho, considerando-os uma mistura de
irmãos, segundos pais, além de amigos e conselheiros. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você foi um bom aluno?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-6-VJmYrv44E/USd3PteUdtI/AAAAAAAABOI/sdiFVRU6A9g/s1600/20130104_131936.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-6-VJmYrv44E/USd3PteUdtI/AAAAAAAABOI/sdiFVRU6A9g/s320/20130104_131936.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> –
Sempre fui, desde os tempos de Caicó. Apesar de descender de famílias de certas
posses, na minha casa a situação financeira era muito difícil. Meus pais diziam
sempre que a única coisa que poderiam nos dar era educação. Eu me apegava aos
estudos com afinco, sabendo que ali estava o meu futuro. Também fui bom aluno na
ETFRN, bem como no curso de<span style="color: red;"> </span>Engenharia Elétrica
na UFRN.<span style="color: red;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Ao concluir Eletrotécnica você foi fazer Engenharia Elétrica na UFRN...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Eu
queria trabalhar como eletrotécnico para começar a ganhar o meu dinheiro, por
isso não estudei tanto para o vestibular. Mas passei fácil com a base que tinha.
Mesmo assim, fiz estágio na COSERN. Quando concluí Engenharia fui convidado
pela UFRN para integrar os quadros de professores do departamento, com a
condição de fazer mestrado. Eu, juntamente com uns dez alunos concluintes que
tinham se sobressaído durante o curso de graduação das engenharias. Escolhi<span style="color: red;"> </span>a Unicamp, em Campinas/SP, para fazer o mestrado. Grandes
nomes da engenharia elétrica ensinavam lá. Estudávamos mais de 10 horas por
dia. Na volta para Natal, comecei a dar aula na graduação de Engenharia Elétrica
da UFRN, bem como na antiga ETFRN, depois CEFET e hoje IFRN, a convite. Em 1983,
o então reitor Genibaldo Barros me convidou para ser pró-reitor estudantil da
Universidade. Aceitei. Essa foi minha primeira experiência como dirigente. Eu
tinha 27 ou 28 anos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A que você atribui esse convite?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Na
época eu participava discretamente do movimento docente e de grupos espontâneos
que se juntavam para discutir a Universidade. Quando o novo reitor foi anunciado,
entregamos um documento com propostas tiradas dessas discussões. Depois ele nos
convidou para conversar sobre o documento entregue e acabou me convidando para
ser seu pró-reitor estudantil, creio que sob a influência de Dinarte Mariz, na
época senador com grande prestígio em Brasília. O Brasil vivia o final da
ditadura militar. O movimento estudantil retornava forte e atuante. Diante
desse quadro, o pró-reitor estudantil deveria ser alguém jovem e com trânsito
entre os estudantes para tentar construir um diálogo aberto. Esses critérios
devem ter facilitado minha escolha. Participei decisivamente nas negociações
para a primeira eleição direta dentro da UFRN, que foi no Centro de Tecnologia,
onde era professor. Só não fui candidato porque nessa época já era pró-reitor. Como
tal, fui o interlocutor da UFRN perante os estudantes na famosa ocupação da
reitoria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-53rHYVUi09Q/USd3JzyVETI/AAAAAAAABNE/pAGi8a0EHoY/s1600/20130104_131845.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-53rHYVUi09Q/USd3JzyVETI/AAAAAAAABNE/pAGi8a0EHoY/s320/20130104_131845.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> – Em
1984, os Restaurantes Universitários da UFRN consumiam grandes parcelas do
orçamento da instituição, já que os preços cobrados eram simbólicos a todos os
comensais, inclusive para quem não era carente. O Conselho Universitário
analisando aquela distorção resolveu modificar a situação, estabelecendo regras
mais rígidas para se ter acesso aos preços subsidiados. Foi definido reajuste
para os estudantes carentes, mas acompanhado da oferta de bolsas de trabalho
para os que comprovadamente tivessem dificuldades financeiras. O DCE sentiu que
o tema mobilizaria os estudantes das residências universitárias e outros mais
engajados, e decidiu ocupar o prédio da Reitoria em sinal de protesto. Quando
os estudantes chegaram à reitoria para ocupá-la, a administração resolveu se
retirar, até para evitar confrontos. Não houve nenhuma agressão de parte a
parte. O reitor, juntamente com seu estafe e já fora da reitoria, decidiu que o
elo de comunicação entre os estudantes e a administração seria eu, já que era o
Pró-Reitor Estudantil. Por obrigação legal o reitor teve que pedir a
reintegração de posse do prédio público ocupado. A decisão da Justiça foi pelo
provimento do pedido e as forças policiais se prepararam para cumprir a decisão
do magistrado na manhã de um determinado dia. Formou-se, no seio da sociedade
natalense uma comissão que foi denominada de “Alto Nível” tentar mediar o
impasse. Sob a liderança do reitor Genibaldo Barros passamos a noite anterior ao
dia determinado para a desocupação do prédio negociando e, por volta das 5
horas da manhã, antes do início da ação das forças policiais, foi fechado um acordo
e teve início a desocupação do prédio. Assisti ao vivo e fui protagonista desse
episódio histórico do movimento estudantil do Rio Grande do Norte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época você já tinha começado a construir a sua família?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-3Xw2sqTke1A/USd3Pazp3nI/AAAAAAAABOA/a9Sv92Wh2mo/s1600/20130104_131929.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-3Xw2sqTke1A/USd3Pazp3nI/AAAAAAAABOA/a9Sv92Wh2mo/s320/20130104_131929.jpg" width="240" /></a><b><u>JAIME</u></b> – Eu
já era casado. Conheci minha mulher, Marília, <st1:personname productid="em uma Festa" w:st="on">em uma Festa</st1:personname> de Sant’Ana,
em Caicó, em 1972. Ambos morávamos <st1:personname productid="em Natal. Depois" w:st="on">em Natal. Depois</st1:personname> de vários anos de namoro, casamos
no meio do meu mestrado, em 1978. Em 1981 nasceu nosso primeiro filho, Jaime
Mariz de Faria Neto, que hoje é advogado militante aqui em Natal, inclusive com
escritório estabelecido. Por conta dele hoje estudo Direito. Marília também é
formada em Engenharia. Inicialmente foi engenheira química do Estado. Como havia
morado nos Estados Unidos por duas vezes, tinha muita facilidade com línguas,
principalmente o inglês. Assim decidiu cursar Letras na UFRN. Inicialmente por diletantismo,
mas depois passou em um concurso público para ser professora de Letras da UFRN.
Depois concluiu mestrado, doutorado na área e agora está saindo para pós-doutorado.
Abandonou por completo o ramo da engenharia para se dedicar à atividade de
professora do Departamento de Letras da UFRN. Temos mais duas filhas: Natália,
que é arquiteta com escritório instalado também aqui em Natal; e Raíssa, a
menor, que está fazendo Direito na UFRN com excelente aproveitamento. Ela
deverá seguir a carreira de advogada ou alguma carreira jurídica, pois está
demonstrando grande vocação para tal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois de ser pró-reitor você não pensou em assumir o principal cargo da Reitoria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> - Quando
estava terminando o mandato de pró-reitor, começou o primeiro processo na
história da UFRN de eleição direta para a composição da lista sêxtupla para reitor.
A política universitária fervia. A minha situação de Pró-Reitor me colocava
numa posição de destaque e por isso participei ativamente desse processo. Quatro
chapas foram formadas, cada uma com seis candidatos a integrantes da lista
sêxtupla para reitor e mais seis para vice-reitor, sendo, portanto, 48 nomes na
disputa. Uma liderada pelo professor Daladier Pessoa Cunha Lima, outra pela professora
Justina Iva, a terceira chapa era encabeçada pelo professor Adilson Gurgel de
Castro, e a quarta, chamada “Chapa do Bom Senso”, onde constava o meu nome
dentre outros cinco professores para reitor. Cada eleitor – professor,
estudante e funcionários - votava em seis nomes para reitor e seis para
vice-reitor. O mais votado entre todos foi o Professor Daladier Pessoa Cunha
Lima e eu fui o segundo mais votado uninominalmente, mas minha chapa ficou em terceiro
lugar no cômputo geral. No segundo turno o Professor Daladier disputou e venceu
a professora Justina Iva e foi eleito e depois nomeado reitor. Fiquei
satisfeito com a minha votação, até por ser o mais jovem dentre todos os 24 candidatos
a reitor. Logo após essa eleição, Geraldo Melo foi eleito governador do Rio
Grande do Norte e me convidou para presidir a COSERN.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Geraldo Melo já conhecia você?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-7PSNX6FTFv0/USd3QJLEJbI/AAAAAAAABOQ/hNE1BJQstos/s1600/20130104_131946(0).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-7PSNX6FTFv0/USd3QJLEJbI/AAAAAAAABOQ/hNE1BJQstos/s320/20130104_131946(0).jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> – Não.
A indicação do meu nome ao governador Geraldo Melo foi feita por Wanderley
Mariz, que tinha sido o candidato a senador pelo PMDB na chapa dele, apesar de
não ter sido eleito. Minha formação em Engenharia Elétrica e professor da UFRN
e ETFRN coincidiam com o perfil que o governador eleito achava adequado para a COSERN.
Além do mais as ligações do meu sogro e de minha sogra com o PMDB ajudaram
bastante. Passei três anos no cargo. Pedi exoneração ao governador para fazer
pós-graduação na área de energia na Bélgica. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa primeira vez que você se ocupou com a COSERN tinha alguma missão
específica?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – A
legislação da época não ameaçava a perda da concessão federal caso a empresa
não atendesse critérios rígidos de gestão. Então a missão era fazer obras de
transmissão (subestações e linhas de transmissão) e também de distribuição para
levar energia de boa qualidade a todos os recantos do estado ainda não atendidos
pela COSERN. As preocupações normais de gestão de uma grande empresa. Fizemos
um grande programa de expansão, mas não tínhamos uma “espada de Dâmocles” sobre
a cabeça da empresa, caso não atendesse a determinados requisitos,
completamente diferente da segunda vez que fui presidente da empresa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi a temporada na Bélgica?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ZmUpdBKz8E4/USd3KkBZACI/AAAAAAAABNQ/LfoovH_3n5k/s1600/20130104_131858.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-ZmUpdBKz8E4/USd3KkBZACI/AAAAAAAABNQ/LfoovH_3n5k/s320/20130104_131858.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> – O
curso era sobre energias renováveis, <st1:personname productid="em Bruxelas. Nunca" w:st="on">em Bruxelas. Nunca</st1:personname>
tinha morado no exterior. Éramos cinco brasileiros, juntamente com outros
estudantes de várias partes do mundo. Fomos aprender o que o mundo dito
civilizado fazia para produzir energia de outras fontes energéticas além da
hidroeletricidade. A Bélgica não tinha grandes rios para construir hidrelétricas,
nem petróleo ou gás natural para queimar e transformar em energia elétrica, também
não tinha carvão. É um país pobre
energeticamente. Eles fazem de tudo um pouco para poder suprir suas necessidades:
importam gás natural da Argélia de navio para suas termoelétricas, produzem energia
através do vento (eólica) e do sol, utilizando placas fotovoltaicas. Também queimam
lixo para produzir energia, e utilizam energia atômica, além de uma pequena
produção hidrelétrica também. A matriz energética é bastante diversificada para
poder, com esse somatório, atender a demanda típica de um país europeu de
Primeiro Mundo, que é bastante alta. Analisávamos os processos e os custos da
energia gerada através de todas essas fontes para compará-los e ver qual o mais
viável para cada situação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Concluído o curso, o que você foi fazer da vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> - Voltei
à atividade docente nas duas instituições, UFRN e CEFET, até que, em 1994,
Aluízio Alves foi escolhido para o Ministério da Integração Regional e me
convidou para ser diretor da Sudene. A missão era tentar moralizar a liberação
dos recursos do Finor, implantando critérios técnicos rigorosos e objetivos. A
influência política na aprovação e liberação de recursos passou a ser nenhuma. Para
liderar essa empreitada foi escolhido um militar de cinco estrelas do Exército
Brasileiro, o general Nilton Moreira Rodrigues, para o cargo de superintendente
da Sudene. O presidente da República era Itamar Franco. Fui o diretor da Finor
– que era fundo financeiro que financiava a implantação das indústrias na
região. Nosso trabalho era tirar as empresas inadimplentes e, com viés
absolutamente técnico, preservar o pouco dinheiro que existia para garantir os
projetos que estavam cumprindo a lei e se implantando com regularidade.
Obtivemos sucesso na empreitada, pois no final do primeiro ano os critérios já
eram conhecidos por todos, elogiados pela grande maioria e as pressões quase
inexistentes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual seu destino ao sair da Sudene?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-UiZ3ixPOiYA/USd3SsE8NyI/AAAAAAAABOo/ywAI1TGK-ks/s1600/20130104_131959.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-UiZ3ixPOiYA/USd3SsE8NyI/AAAAAAAABOo/ywAI1TGK-ks/s320/20130104_131959.jpg" width="240" /></a><b><u>JAIME</u></b> – No
final do meu primeiro ano na Sudene, o atual ministro Garibaldi Alves Filho se elegeu
governador do Rio Grande do Norte e me convidou para voltar a presidir a COSERN.
Dessa vez a missão era completamente diferente. Havia sido aprovada uma nova
legislação condicionando a manutenção da concessão da distribuição de energia,
que é federal, ao cumprimento de determinados critérios: a empresa não poderia
deixar de pagar à CHESF (a COSERN já devia muito à CHESF), teria que repassar o
ICMS arrecadado (a COSERN arrecadava e dele se apropriava, não repassando para o
governo do Estado, que por sua vez não repassava a parte dos municípios), teria
que melhorar seus índices técnicos que aferem a qualidade do fornecimento da
energia e o mais importante: os grandes consumidores poderiam comprar energia a
quem desejasse, quebrando assim o monopólio do fornecimento, o que se
constituía no grande desafio para a COSERN, já que os grandes consumidores
(Petrobrás, Coteminas, Vicunha, etc.) eram responsáveis por uma parte significativa
do faturamento da empresa. Temia-se que essa perda de monopólio fosse fatal
para o futuro da COSERN, tornando-a irreversivelmente deficitária. O então
governador Garibaldi Filho me explicou o desafio e acrescentou que – como a COSERN
tinha sido criada no governo do seu tio Aluízio Alves – ela não poderia perder
a concessão de maneira nenhuma no seu governo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Sua relação com Garibaldi começou a partir daí ou já existia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Já
existia, pois morei perto de familiares dele e o via sempre quando de suas
visitas a sua irmã. Além do mais sempre foi um deputado muito atuante, com
grande visibilidade em todo o estado. E quando foi prefeito de Natal e eu
presidente da COSERN essa relação estreitou-se bastante, já que existia uma parceria
entre Prefeitura e COSERN para a iluminação pública e todos os outros assuntos
comuns às duas instituições. Nesse convite para ser presidente da COSERN pela
segunda vez, o Garibaldi determinou que a gestão fosse, obrigatoriamente, técnica
para que a empresa pudesse enfrentar com chance de êxito os desafios que
estavam postos. Isso implicou em contrariar interesses políticos de
correligionários e adversários, já que a nova lei de concessão não nos dava
outra alternativa. Fizemos um plano de recuperação da empresa que passava por princípios
básicos: aumentar receitas e cortar despesas. Aumentar a receita porque a COSERN
não recebia as contas de energia de uma grande parte dos consumidores públicos,
como prefeituras e o próprio estado, além de consumidores privados com
influência política que se achavam também desobrigados de pagarem suas faturas
de energia. E na outra ponta, tivemos que elaborar um plano de corte de
despesas, pois a empresa gastava exageradamente em várias áreas. Começamos
pelos salários do presidente e dos diretores, que foram cortados para um terço,
isto é, um corte expressivo de 66%. Reduzimos as assessorias das diretorias e
de toda a estrutura organizacional em geral, e extinguimos até os carros que
serviam ao presidente e aos diretores. Depois de cortar na própria carne, pedimos
a colaboração do sindicato dos eletricitários, extremamente combativo, que tinha
conseguido fechar um acordo trabalhista muito generoso com a diretoria que
estava saindo, no final do governo anterior. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Acordo bom é esse, que se faz para outro pagar...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-moq5s07pnOc/USd3Q5Lf39I/AAAAAAAABOY/q4kj0TWwtzs/s1600/20130104_131947.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-moq5s07pnOc/USd3Q5Lf39I/AAAAAAAABOY/q4kj0TWwtzs/s320/20130104_131947.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME </u></b>–
Tentamos rediscutir o acordo com o sindicato, mas não tivemos qualquer
aceitação, por menor que fosse. Assim resolvemos questioná-lo na justiça do
trabalho, mas a sentença foi pela preservação do acordo. Porém no acordo
coletivo seguinte conseguimos economias significativas nas chamadas vantagens
indiretas, o que foi muito importante para a empresa. E ao longo do ano, apesar
de muitas dificuldades, conseguimos também êxito na política de aumentar a
receita, de modo que o déficit previsto de R$ 76 milhões foi reduzido ao final
do ano para apenas R$ 4 milhões. No exercício seguinte nós começaríamos a
colher os primeiros frutos do equilíbrio que estava <st1:personname productid="em curso. Foi" w:st="on">em curso. Foi</st1:personname> quando o governador
Garibaldi decidiu aderir ao projeto de privatização das estatais distribuidoras
de energia elétrica, que praticamente abrangia as empresas distribuidoras de
quase todos os estados brasileiros, e me convidou para conduzir o processo de
privatização. O então secretário de Planejamento e Finanças tinha pedido
demissão. Fui convidado para assumir o seu lugar, com a incumbência de conduzir,
além das obrigações normais da pasta, o processo de privatização, que não era o
meu projeto pessoal para a COSERN. Hoje acho que a privatização foi uma decisão
bem tomada e acertada, inclusive na hora certa. Tivemos um dos melhores preços
relativos do Brasil, comparado aos preços obtidos pelas distribuidoras dos
outros estados, o que viabilizou a contrapartida financeira para a construção
de grandes adutoras, de três grandes barragens, um programa de erradicação de
casas de taipa, um de eletrificação rural, a construção e reformas de
hospitais, escolas, centrais do cidadão, carros e equipamentos para a segurança
pública, etc. O estado virou um grande canteiro de obras. As distribuidoras
estaduais que não foram privatizadas, ou foram depois daquele momento, perderam
tempo e seu resultado deixou a desejar. Além disso, a COSERN privatizada passou
a recolher o ICMS incidente sobre a energia elétrica, que hoje é da ordem do
valor de uma ponte Forte-Redinha por ano, mais de R$ 300 milhões, com 25% desse
total repassado aos municípios como a lei determina. Isso sem falar no grande
programa de investimento interno dentro da COSERN que o edital de licitação
obrigou os novos proprietários a realizarem, o que demandou valores superiores
a um bilhão de reais, e transformou a COSERN, de uma das três piores do
Nordeste para uma das melhores distribuidoras do Brasil, recebendo prêmios
nacionais, todos os anos, pelo seu bom desempenho. Depois do processo de
privatização voltei para a academia e passei a estudar a nova COSERN com olhos
acadêmicos. Lembro de uma constatação que muito me alegrou: depois de dez anos
faltava energia no Rio Grande do Norte três vezes menos do que antes da
privatização. E quando faltava, a duração era quatro vezes menor. Isso
representava maior atratividade para que novos empresários viessem se instalar
no estado gerando emprego e renda, além de melhor qualidade de vida para os
potiguares.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois da Secretaria de Planejamento, você foi secretário de Administração... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-vDmS4mmq6MA/USd3OHZnvuI/AAAAAAAABN4/COujL5CNYQY/s1600/20130104_131927.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-vDmS4mmq6MA/USd3OHZnvuI/AAAAAAAABN4/COujL5CNYQY/s320/20130104_131927.jpg" width="240" /></a><b><u>JAIME</u></b> – No
final do primeiro governo Garibaldi pedi para sair da Secretaria de
Planejamento porque estava muito cansado. As três prioridades “tocadas”
simultaneamente durante todo o tempo que estive à frente daquela Secretaria me
submeteram a grande estresse: a rolagem da dívida do Estado junto a União, o
processo de privatização da COSERN e a conclusão do processo de “enxugamento”
de empresas e órgãos estaduais que tinham perdido sentido. O governador, compreendendo
meus motivos, convidou Lindolfo Sales para me substituir. Mas eles dois me
convenceram a ir para a Secretaria de Administração, cuidar da folha de
pagamento do funcionalismo. Aceitei porque pensava que teria uma vida mais
tranquila. Ledo engano. Outro grande desafio se apresentou: o sistema de
informática que era usado para pagar a folha de todo o Estado, que superava os
R$ 100 milhões mensais, era totalmente desparametrizado, vulnerável e manual. O
pagamento era feito através de cheque salário, permitindo extravios e desvios
frequentes. Além disso, o pessoal que trabalhava na elaboração dessa folha
tinha um poder enorme, pois somente eles participavam do processo e era
possível acrescentar qualquer nova matrícula facilmente, ou conceder vantagens
salariais eventuais ou definitivas com um simples comando de um operador
daquele sistema. Ao lado dessas vulnerabilidades tomei conhecimento de que a
Secretaria de Administração comprara um sistema caro e tido como o mais moderno
da época, chamado ERGON, mas não conseguia implantá-lo. Ele era capaz de evitar
qualquer erro de implantação na folha de pagamento. Compreendi, então, que a
implantação desse novo sistema seria a perda de poder daquela equipe antiga e
reduzidíssima que trabalhava na folha de todo o Estado desde muitos governos. Acabamos
com o cheque salário, apesar das resistências, e mudamos quase completamente
essa equipe para podermos implantar o sistema novo. Soube depois, com tristeza,
que quem me sucedeu na Secretaria desparametrizou totalmente o ERGON,
tornando-o quase tão manipulável e vulnerável quanto o anterior. Uma pena para
as finanças do Estado. Ao final do segundo mandato de Garibaldi como governador
eu retornei à UFRN e CEFET. Lá sempre foram minhas casas definitivas, pois os cargos
são passageiros.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Voltou para sala de aula?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-aOsDEVZxUYA/USd3M2sKZzI/AAAAAAAABNo/3FR6Jnxo03k/s1600/20130104_131910.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-aOsDEVZxUYA/USd3M2sKZzI/AAAAAAAABNo/3FR6Jnxo03k/s320/20130104_131910.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> –
Sim, todas as vezes que voltei para a UFRN e CEFET foi para a sala de aula. Ali
o professor se realiza, porque pode exercer sua missão de passar para os alunos
não apenas o conteúdo programado, mas também lições e experiências de vida.
Essa missão é muito nobre. Amigos, colegas e até ex-alunos que se dedicaram a
atividades empresariais, ou comerciais e hoje ricos, às vezes perguntam como
estou financeiramente. Respondo que tenho o suficiente para viver. Apesar de
não ter acumulado como eles, penso de que me dediquei à atividade muito mais
nobre do que ganhar dinheiro: contribuir para educar gerações. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Esse retorno à UFRN e CEFET foi por muito tempo? Você tentou retomar sua
carreira política dentro da universidade para pleitear novamente o cargo de
reitor?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> –
Voltei em 2003 e permaneci por lá até 2010. Aprendi que a atividade política na
universidade não pode ser interrompida. Na hora em que você sai, ao voltar
perde praticamente tudo o que havia acumulado e tem que recomeçar do zero. Por
isso não me envolvi mais com a política universitária, como fizera antes.
Foquei em outras prioridades, me dediquei com mais afinco à sala de aula, e
resolvi estudar Direito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa nova saída, em 2010, foi para onde?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-i2Lq96t-n20/USd3LUc_itI/AAAAAAAABNY/tPRjo0uSvXQ/s1600/20130104_131900.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-i2Lq96t-n20/USd3LUc_itI/AAAAAAAABNY/tPRjo0uSvXQ/s320/20130104_131900.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> - Fui
convidado pelo deputado Henrique Eduardo Alves para o Ministério da Integração.
Trabalhei na parte elétrica da transposição do Rio São Francisco. Fiquei apenas
seis meses, pois o governo do presidente Lula terminara e o ministro daquela
pasta mudou, provocando a substituição de toda equipe de cargos comissionados.
Quando estava praticamente voltando para Natal, o senador Garibaldi Alves Filho
me chamou para integrar sua equipe no Ministério da Previdência Social, onde
estou até agora enfrentando outro enorme desafio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Antes de entrar nessa parte, por favor, responda: a transposição sai ou não
sai?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> –
Sai sim. O trecho Leste, por exemplo, já é irreversível. Mas a obra está atrasada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Os ânimos foram apaziguados? Quando esse projeto voltou a ser discutido, Bahia,
Alagoas e Sergipe fizeram uma confusão enorme contra a realização das obras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Hoje
não há mais nenhuma resistência visível ao projeto. A polêmica tinha um viés
político muito forte, porque tecnicamente não há nenhum problema, nem de
prejudicar a geração de energia elétrica, porque a água já está praticamente se
encaminhando para a foz do rio. Aquela é uma grande obra e muito complexa, mas
ela é estratégica para o Nordeste. Poderá garantir o abastecimento humano e aumentar
em muito a possibilidade de irrigação. Não vai acabar com a seca, mas amenizará
bastante onde a transposição puder chegar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Voltemos ao Ministério da Previdência...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-qWuCMwDjudY/USd3NuhTjDI/AAAAAAAABNw/2D9DHUHqZ1Q/s1600/20130104_131916(0).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-qWuCMwDjudY/USd3NuhTjDI/AAAAAAAABNw/2D9DHUHqZ1Q/s320/20130104_131916(0).jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> – Esse
talvez tenha sido o segundo maior desafio da minha vida. O ministro Garibaldi
me chamou para a Secretaria de Políticas de Previdência Complementar, para
ajudá-lo na parte técnica e no debate político visando a aprovação do fundo de
pensão para os futuros servidores públicos federais. Os números assustavam: o
déficit do regime próprio dos servidores públicos federais, no ano de 2010, foi
semelhante a todo o orçamento do Ministério da Educação! O servidor público
federal contribui com 11% do seu salário para a previdência, a União contribui
com o dobro desse valor e ainda sobra um déficit equivalente a todo o orçamento
do Ministério da Educação. E esse déficit tem crescido a uma taxa de 10% ao
ano. Travamos durante todo o ano de 2010 e o início de 2011 o debate dentro das
universidades, sindicatos, associações, estados, Congresso Nacional e partidos
políticos, mostrando a proposta, a necessidade de sua aprovação e os números e
projeções. A liderança do ministro e o
trânsito livre que ele tem junto aos partidos políticos representados no
Congresso Nacional foram fundamentais para a aprovação da FUNPRESP.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A imprensa também ajudou...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – A
mídia teve papel importantíssimo! O ministro determinou que antes de iniciar a
discussão deveríamos dar à imprensa todas as informações possíveis. Ele convidou
jornalistas dos grandes jornais, das grandes revistas e dos principais canais
de TV para explicar-lhes os detalhes do projeto. Ao conhecer os números, a
imprensa se tornou forte aliada. Foram vários os editorias e matérias
favoráveis em importantes veículos de comunicação. Com dados sólidos e
argumentos consistentes que nós tínhamos, obtivemos sucesso no debate. Até
partidos que fazem oposição ao governo no Senado Federal e Câmara dos Deputados
perceberam que ali não se tratava de um projeto de um partido, coligação ou de um
governo, mas o projeto do Estado Brasileiro. A aprovação da FUNPRESP permitirá um
redesenho interessante nas contas públicas. Na hora em que o governo acena com
um futuro menos preocupante para a conta previdenciária, demonstra que está trabalhando
efetivamente para o equilíbrio das contas públicas do Brasil. Apesar de os
efeitos da FUNPRESP só serem no médio e longo prazo, já estamos convivendo com
os benefícios de sua aprovação. No meio dessa queda de juros que houve, tem lá
uma colaboração real da FUNPRESP. Com o apoio decisivo da presidenta Dilma
Rousseff e a liderança do ministro Garibaldi, pudemos mostrar que é possível
fazer reforma no Brasil através do bom debate. Se o projeto é consistente e há disposição
para o diálogo, para a argumentação, é possível construir uma solução que seja
a melhor para o país. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Se Raissa - sua filha que está cursando Direito - ingressar no serviço público
você recomendará a ela que adira à FUNPRESP?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-yQSRfkP187U/USd3MExyLTI/AAAAAAAABNg/xbE9gIIH970/s1600/20130104_131909.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-yQSRfkP187U/USd3MExyLTI/AAAAAAAABNg/xbE9gIIH970/s320/20130104_131909.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> –
Não somente recomendarei, mas direi que ela estará melhor protegida para a sua
aposentadoria no novo regime do que no atual. Por uma razão básica: o atual regime
não é sustentável no longo prazo. Quem entrasse no serviço público pensando nos
benefícios de aposentadoria e pensão dos atuais funcionários iria se
decepcionar ao longo da carreira, pois as mudanças decorrentes dos déficits
crescentes seriam inevitáveis. O novo regime tem outras vantagens. Se ao longo
da vida funcional o servidor sair do serviço público, ele leva suas
contribuições para outro fundo que vá aderir. Essa portabilidade não existe no
modelo anterior. Segundo: ele pode contribuir também sobre as gratificações dos
cargos em comissão que ocupe, aumentando sua poupança e, consequentemente, o
benefício que receberá na aposentadoria. Terceiro: no novo modelo, para cada
cinco anos que ele adiar a sua aposentadoria, seu benefício crescerá 30%. Esse
é um regime de previdência que o Brasil já conhece bem através da Petrobras, do
Banco do Brasil, da Caixa Econômica. No Brasil já existem mais de 300 fundos de
pensão, com poupança acumulada que supera os R$ 160 bilhões, essenciais para a
poupança interna e para os investimentos no nosso país.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como fica a situação dos funcionários que ingressaram no serviço público
federal antes de a FUNPRESP entrar em vigor?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> –
Para os antigos, não muda nada. O servidor público federal que entrar a partir
de fevereiro é que vai estar submetido a esse novo sistema. Essa reforma respeitou
todos os direitos adquiridos dos atuais servidores, e os novos servidores vão
entrar com regras claras, sabendo o que vai reger a sua aposentadoria. Os
especialistas dizem que o ministro Garibaldi conseguiu viabilizar a aprovação da
maior reforma previdenciária que o Brasil conheceu até hoje. E de uma maneira
pacífica e mansa, sem atropelar direitos ou expectativa de direito. Garibaldi,
apesar do jeito pacato e conciliador, quando necessário enfrenta desafios e
trava embates extremamente ousados. Ele tem conduzido o Ministério da
Previdência pensando muito mais nas próximas gerações do que nas próximas
eleições. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual será sua próxima missão no Ministério?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Logo
que a FUNPRESP foi aprovada, o ministro me deu outra missão: tentar interagir
com estados e capitais para viabilizar a criação de um fundo que sirva como multipatrocinador
para estados e municípios poderem também fazer reformas semelhantes nos seus
regimes próprios de previdência. Não adianta só equilibrar as contas
previdenciárias dos servidores públicos da União. Existem contas de estados e
de municípios em situação preocupante. Então, o desafio para esse ano é tentar construir
outro fundo - que estamos chamando de Prev-Federação - para tentar resolver
também a situação das contas previdenciárias de estados e municípios. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando não está envolvido com o trabalho, onde gasta seu tempo? Em que você se
diverte?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-rZ-PDADwMnk/USd3J7q-ksI/AAAAAAAABNA/49ghDZNBdZ8/s1600/20130104_131849.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-rZ-PDADwMnk/USd3J7q-ksI/AAAAAAAABNA/49ghDZNBdZ8/s320/20130104_131849.jpg" width="320" /></a><b><u>JAIME</u></b> – Gosto
muito de música popular brasileira: Vinicius, Toquinho, Chico, Caetano, Gal...
Gosto também dos que cantam a nossa cultura como Luiz Gonzaga, Geraldo Azevedo,
Elba Ramalho, Flávio José. Esses são meus focos preferidos na música brasileira.
Gosto de tomar uma cerveja ou um bom vinho com os amigos, nos finais de semana.
Na verdade sou um colecionador de amizades. Tenho amigos de diferentes
vertentes <st1:personname productid="em Natal. Tamb←m" w:st="on">em Natal. Também</st1:personname>
preservo as amizades da minha infância e adolescência de Caicó. A vida me
agraciou com essa enorme coleção de amigos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você pode ser encontrado nas mídias sociais?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – No
Facebook e Instagram, principalmente. Meu email é <a href="mailto:jaimemariz@yahoo.com.br">jaimemariz@yahoo.com.br</a>. Estou à
disposição para qualquer contato. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você planeja algo para o futuro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>JAIME</u></b> – Meu
próximo projeto de vida é ser advogado, depois de ter passado 35 anos sendo
engenheiro e professor. Quero advogar nessa próxima fase de minha vida, durante
o tempo que Deus me der, a exemplo do meu pai, que morreu aos 83 anos, ainda
advogando. Além disso, curtir a família e os amigos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E planos para ingressar na política?<o:p></o:p></div>
<b><u><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">JAIME</span></u></b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"> – Aqui e acolá me incentivam para entrar na política
partidária. Até recebi convites para me candidatar em Caicó, minha terra. Mas
considero que o meu perfil é muito mais técnico. Gosto de política, nasci
dentro da política. Desde pequeno ouço e participo de movimentações políticas,
mas essa participação é muito mais dentro dos bastidores do que no front.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-ZN-2CgNI3PQ/USd3S82EzXI/AAAAAAAABOk/Wjwj9mxBgUY/s1600/20130104_132045.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-ZN-2CgNI3PQ/USd3S82EzXI/AAAAAAAABOk/Wjwj9mxBgUY/s400/20130104_132045.jpg" width="400" /></a></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-27948835596677235692013-01-26T12:22:00.000-02:002013-01-26T12:22:51.965-02:00Entrevista: Castilho Sávio<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 24pt;"> </span></b><b><span style="font-size: 24pt;">O filho do homem que tocava trumpete</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ZlVXUFIU7d8/UQPkVJpeibI/AAAAAAAABKk/0j1EYM6_iNw/s1600/20121222_133249.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-ZlVXUFIU7d8/UQPkVJpeibI/AAAAAAAABKk/0j1EYM6_iNw/s320/20121222_133249.jpg" width="240" /></a>Castilho
Sávio de Carvalho Silva nasceu em Natal, no bairro de Petrópolis, no tempo em
que a cidade e a vida eram outras. Eu, Aderson Neto, Franklin Mario, João Paulo
Madruga e Valéria ouvimos Castilho contar a sua história no último sábado de
2012. A conversa se deu no Bar de Zé Reeira, no centro da capital potiguar.
Como não poderia deixar de ser, música foi o principal assunto, sobretudo a
banda que fez história no pop-rock do Rio Grande do Norte: Inácio Toca Trumpete.
Tudo foi regado a bastante cerveja e carneiro cozido. (robertohomem@gmail.com)</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-indent: -35.4pt;">
<b><u>ZONA SUL</u></b>
– Você é filho do homem que toca trumpete...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Meu pai tocou trumpete, ele
faleceu em 1990. Papai nasceu no sertão do Ceará. Seu nome era Ascendino Inácio
da Silva. Na verdade, o Inácio não era nome, mas, sobrenome de família. Quando
foi militar, veio morar no Rio Grande do Norte. Depois, passou em um concurso
do IBGE e se mudou para João Câmara, que na época se chamava Baixa Verde. Em
seguida, assumiu o cargo de tabelião do 1º Cartório de João Câmara. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Onde o trumpete entra nessa
história?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-VdddJHhh8JU/UQPkkD7yWDI/AAAAAAAABMU/ZTnJCYlKS-Y/s1600/20121222_150456.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-VdddJHhh8JU/UQPkkD7yWDI/AAAAAAAABMU/ZTnJCYlKS-Y/s320/20121222_150456.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Meu pai aprendeu a tocar trumpete
ainda no Exército. Nas horas vagas, principalmente nas tardes dos sábados, ele
tocava esse instrumento - que também era chamado de “trumpet”, pistão ou pistom
- como “hobby”. Como meu pai tinha muita musicalidade, também tocava gaita.
Herdei no sangue essa tendência para ser instrumentista, essa vontade de querer
fazer alguma coisa para o lado da música. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Qual era o repertório que o seu
pai costumava tocar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Apesar de morar em uma cidade do
interior, em João Câmara, meu pai era aberto para o mundo. Para você ter uma
ideia, ele mandou buscar, na Inglaterra, uma Land Rover, em 1958. Papai
escutava muito “foxtrot” e blues americano, ritmo que terminou dando origem ao
rock. Nas emissoras de rádio nacionais, ele ouvia o samba brasileiro. Era o que
ele ouvia e tocava, lá pelos anos 1950, em João Câmara. Depois, em meados dos anos
1960, ele comprou uma casa em Natal, próximo ao Marista. Em seguida, mudamos
para a Avenida Alexandrino de Alencar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Inácio chegou a participar de
algum grupo musical?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-SG_lKd_LZM8/UQPkhRQJSAI/AAAAAAAABL8/bEt1ZOO9h0E/s1600/20121222_150434.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-SG_lKd_LZM8/UQPkhRQJSAI/AAAAAAAABL8/bEt1ZOO9h0E/s320/20121222_150434.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Não, ele tocava com os amigos,
aos sábados. Como morava em frente ao clube de João Câmara, sempre encontrava
por lá alguém para fazer uma percussão, tocar um bandolim ou outro instrumento
de sopro. Os comerciantes, pequenos empresários da época, funcionários públicos
e outros amigos se juntavam e faziam aquela roda. Tocavam vários estilos,
dentro do clube de João Câmara. Meu pai não compunha, era só musicista, só
instrumentista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você chegou a testemunhar esses
encontros musicais?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Ouvi algumas vezes. Mas eu
gostaria de dizer que, mais ou menos em 1969, meu pai participou de um sorteio,
que na época se chamava rifa, e foi contemplado com uma sanfona igual à de Luiz
Gonzaga. Ele tentou tocar esse instrumento, mas não conseguiu. A sanfona exige
uma praticidade muito grande. A tendência do meu pai era mesmo para o
instrumento de sopro. Prova disso é que ele comprou uma gaita e aprendeu com
facilidade. Quando eu tinha entre 13 e 15 anos, na data de aniversário da minha
namorada ele costumava tocar parabéns pra você na gaita, pelo telefone, me
ajudando a prestar aquela homenagem. Ele fazia o mesmo com as namoradas dos
meus irmãos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Fale um pouco sobre a sua mãe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ewB7ffs2EvM/UQPkgCjqctI/AAAAAAAABLw/EZAQGNNKlsQ/s1600/20121222_150430.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-ewB7ffs2EvM/UQPkgCjqctI/AAAAAAAABLw/EZAQGNNKlsQ/s320/20121222_150430.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Mamãe é da família Teixeira
Carvalho. Maria da Conceição Teixeira de Carvalho. Na realidade ela é Procópio
Teixeira Carvalho. É natural de João Câmara, da família que criou a cachaça
Murim Mirim, a primeira aguardente filtrada. Meus avós eram pernambucanos.
Minha mãe era de vanguarda. Só ela e mais duas pessoas da cidade, naquela
época, tinham assinatura da revista Seleções. Ela sempre foi muito curiosa. Ela
tinha uma tendência muito grande para o designer. A casa grande, do interior,
tinha uma mesa com 12 cadeiras. A cada duas cadeiras, o forro do tecido era
diferente. Em 1950 ela já tinha essa visão de arquitetura interna. Ela ia para
Recife, comprar os tecidos. Mas mamãe sempre foi dona de casa. Seu sonho era se
tornar atriz. Depois quis até que uma neta seguisse esta carreira. Ela sempre
gostou de teatro, mas não conseguiu realizar o sonho. A vida e a época em que
viveu não permitiram. Morando em um estado pequeno, como o Rio Grande do Norte,
ela teria que se mudar para o Rio ou São Paulo se quisesse tentar realizar esse
sonho. Casada, com filhos, não foi possível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi a sua infância?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Foi uma infância que atualmente
a meninada não tem mais oportunidade de desfrutar. Hoje a infância é vivida
através da eletrônica, da cibernética e da tecnologia. A convergência
tecnológica está se dando por meio do celular. Nesse aparelho pequeno, que cabe
na palma da mão, você tem entre 30 e 40 equipamentos: televisão, rádio, máquina
fotográfica, GPS, telefone, editor de texto, calendário, agenda, instrumentos
de previsão do tempo, aplicativos de compra online... Todas as informações a um
toque de dedos: acessar a internet, movimentar conta bancária, enviar e receber
mensagens... Na minha época eu andava de patinete, subia em árvores, jogava
futebol, ativava com estilingue ou baladeira, corria atrás de pássaros, andava
em perna de pau, carro de rolimã ou cocão... Tinha prazer em construir carro de
lata com madeira. Nessa atividade, a gente desenvolvia o raciocínio. Hoje, não.
A infância é em casa, preso a um teclado, criando cacoete, isso e aquilo. No
meu tempo a gente podia se tornar muito mais criativo, tinha liberdade de
brincar com os amigos na rua. Minha infância foi envolvida com biloca, cocão, a
prática de esportes, os álbuns de figurinha, o jogo de bafo. Hoje não se vê
mais, a tecnologia não permite que você crie mais nada. Digo muito a meu filho
que a minha geração criou o computador. As gerações anteriores criaram a
lâmpada, o rádio, a televisão, o carro, a tecnologia e o telefone. Pergunto a
ele: “sua geração está criando o que? Desenvolveu o que?”. Essa é a grande
pergunta. Vivi a fase de me juntar com os amigos para criar ideias. Chegamos a
construir os instrumentos de uma banda com materiais como lata, cabo de
vassoura e caixa de papelão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Quando a música despertou a sua
atenção?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-965UjWkKLYA/UQPkdnUyMoI/AAAAAAAABLg/KgTeUp8_Q7M/s1600/20121222_133444.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-965UjWkKLYA/UQPkdnUyMoI/AAAAAAAABLg/KgTeUp8_Q7M/s320/20121222_133444.jpg" width="320" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Ela sempre despertou minha
atenção. Estudei uma época no Marista. Muito novo, ainda, saí de lá quando
recebi uma bolsa para jogar handebol pelo Sagrada Família. Eu queria fazer
parte da banda do novo colégio. Queria desfilar no 7 de Setembro. Comecei
tocando surdo. O maestro da banda era Geraldo, um engenheiro químico da Caern.
No meu segundo ano de Sagrada Família, toquei caixa. Aos 12, estava tocando
tarol. Os instrumentos de percussão me encantaram. Nesse segundo ano, quando
passei a tocar tarol, eu passei a ser o que hoje na escola se chama de puxador.
É quem faz os contratempos, as viradas e a marcação da mudança da batida e do
ritmo. Por infelicidade do destino, esse regente, que gostava de fazer mergulho
e pescar de arpão, morreu praticando esse esporte náutico. Faltava três meses
para o desfile de 7 de Setembro. Sem ninguém para ocupar o posto deixado pelo
professor Geraldo, assumi a regência da banda da escola. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Que idade você tinha?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Aos 16 anos fui regente da banda
marcial da escola. Na época, a grande banda de escola era a da ETFRN, que hoje
se chama IFRN. A gente criou uma batida diferente, com vários contratempos. A
banda vinha em uma batida, quando eu dava três apitos, os instrumentos paravam,
o tarol fazia um “rif” e entrava em outra batida, que se chama contratempo. É o
tempo inverso daquele que você estava batendo. O Sagrada Família sempre
desfilou com três contratempos. Quando fui regente, desfilamos com seis
contratempos. Foi anunciado no palanque que era um aluno que estava regendo.
Ninguém nunca me ensinou regência. O cavalo passou selado, eu montei e assumi a
responsabilidade de ser regente. A partir daí tive a certeza de que eu podia
tocar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O que você costumava ouvir?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Minha formação musical é
eclética: vai de Luiz Gonzaga – que ouvi muito na minha casa – passa por
Roberto Carlos e Beatles, até chegar em Santana, Rolling Stones, Black Sabbath,
Deep Purple e outras bandas. Baseado nisso se formou meu gosto musical. Ouvi
também muito Paralamas, Titãs, Renato Russo, Jota Quest e LS Jack. Eu não
gostava de Chico Buarque, mas apreciava Milton e o Clube da Esquina. Da música
brasileira sempre gostei mais de rock e de Luiz Gonzaga. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Seu grupo de amigos, nos tempos
de escola, também se interessava por música?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Os amigos sempre me chamavam, no
final de semana, para eu fazer uma “percussãozinha” nas festas improvisadas.
Comecei a adquirir alguns instrumentos para tocar em aniversários e nessas
festinhas. Comprei tumbadora, tantã e outras percussões. Logo que concluí o
pré-vestibular, entrei na Caixa Econômica. Lá tinha músicos, colegas que já
tocavam violão, guitarra e já cantavam. Todo final de semana eu estava tocando
e batendo algum instrumento de percussão. Isso durou três ou quatro anos, até
realmente eu definir o que eu queria fazer dentro da percussão.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Qual seu primeiro
grupo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/--PuzqSJeJJs/UQPkZBWpTEI/AAAAAAAABK8/BIGOm_TfUwE/s1600/20121222_133257.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/--PuzqSJeJJs/UQPkZBWpTEI/AAAAAAAABK8/BIGOm_TfUwE/s320/20121222_133257.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Foi com meu irmão Carísio
Eugênio de Carvalho. Ele ligou dizendo que tinha comprado vários instrumentos
de percussão e chamou para fazer uma roda de samba. Cheguei à casa dele,
Carísio tinha comprado surdão, surdinho, bombo, tantã, repique, caixa, tarol,
afoxé, agogô, reco-reco... Quando eu estava olhando tudo aquilo, ele disse:
“Primeiro você vai ensinar para depois a gente começar a tocar”. Começamos com
Adoniran Barbosa e Demônios da Garoa, na casa do meu irmão. Depois passamos a
tocar na casa de praia. Foi quando começou a aparecer violão, um, dois, três;
cavaquinho, banjo... Mas, nada profissional, tudo muito amador. Depois de um
tempo, a gente parou. Foi quando resolvi comprar uma percussão completa. Eu já
estava na Caixa, foi em 1998. Fui a uma loja e selecionei todos os instrumentos
que eu queria. O valor total foi 2.800 reais. Eram tantos instrumentos que não
caberiam na sala da minha casa. Foi quando o vendedor sugeriu que eu comprasse
uma bateria, ao invés de todos aqueles equipamentos de percussão. Além de a
bateria ser uma percussão completa, ela tinha as vantagens de caber na mala do
carro e ser mais barata, custava 2.600 reais.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Era uma boa bateria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Era uma bateria americana, de
qualidade média. Não era “top” de linha, mas não fazia vergonha. A bateria se
mede pelo som que ela emite, que depende do tipo da madeira, da forma como ela
é curtida, e da capacidade de pegar determinada afinação. Minha intenção não
era a de montar banda, mas apenas tocar com os amigos. Comprei essa bateria às
4 da tarde. Às seis horas da noite, com o equipamento montado, comecei com
aquele paque-paque, tuco-tuco. Logo de cara, notei o quanto era absurdamente
diferente tocar percussão e bateria. Na bateria você tem que ter independência
nas mãos e nas pernas, nos quatro membros individuais. A mão esquerda faz uma
coisa, a direita faz outra, a perna esquerda faz outra e a direita também.
Encontrei no jornal um anúncio de professor de bateria. O contratei para ele me
dar algumas aulas, até para eu ter noção do instrumento e saber como me
comportar diante da bateria. No domingo, esse professor chegou lá em casa e me
explicou para que servia cada parte da bateria. Na segunda-feira ele me deu
outra aula. A partir daí fiquei por minha própria conta e comecei a exercitar
independência. Na quinta-feira à noite chamei um sobrinho que tocava violão e
um enteado do meu irmão, que tocava baixo. Fomos lá pra casa e começamos a
tocar Legião Urbana. Depois, juntou-se a nós um tecladista que estudava no
Auxiliadora. Passamos a ensaiar lá em casa na tarde dos sábados, e no domingo o
dia todo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Os vizinhos devem ter adorado
essa movimentação toda...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-cw750fbIMIw/UQPkfm3Ze5I/AAAAAAAABLs/g7M4t5S89Gk/s1600/20121222_133511.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-cw750fbIMIw/UQPkfm3Ze5I/AAAAAAAABLs/g7M4t5S89Gk/s320/20121222_133511.jpg" width="320" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Os vizinhos começaram a ligar,
reclamando. Uma vizinha, médica, pedia insistentemente para baixar o volume.
Ela dizia: “não tem quem aguente mais esse taco-taco e teco-teco, ninguém dorme
mais”. E eu numa seca danada para tocar. Mas em um mês eu já estava tocando um
repertório de Legião Urbana, Paralamas e aquelas músicas do rock nacional que
fizeram sucesso nos anos 1980. Dois anos e meio depois, foi que resolvemos
montar a banda. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como surgiu o nome Inácio Toca
Trumpete?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Quando comecei a procurar o nome
da banda, liguei para alguns amigos que trabalhavam com marketing. Falei com
João Dias, que hoje é do jornal O Botequeiro; telefonei para Astrogildo Cruz,
da banda Caixa Dois, e criador do nome da Banda Cantocalismo, nos anos 1970.
Também entrei em contato com o jornalista João Bezerra Júnior. Pedi que eles me
ajudassem a bolar o nome da banda. Eu não queria um nome comum, mas algo que
chamasse atenção. No marketing o que marca é ou o muito belo ou o muito feio. O
comum passa despercebido, você não lembra. O que chama atenção é o que marca.
Em Natal já existia muita banda com nome comum, eu não queria ficar nessa
linha. Por ser uma banda de rock, eu queria algo irreverente. Um dia, guiando o
carro pela Via Costeira para ir trabalhar na Caixa Econômica, tentando
encontrar um nome para a banda, pensei no nome do meu pai. Inácio é um nome do
povo, comum e popular, mas sem ser tão simples. Foi quando pensei em Inácio
Toca Trumpete. Imediatamente percebi que o nome da banda tinha que ser aquele.
Quando cheguei na Caixa, pedi a opinião de Astrogildo, que trabalhava comigo. Ele comentou: “matou, você
acertou em cheio”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Os demais integrantes da banda
também gostaram do nome?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-uDT4rm1NsCc/UQPkU3ZereI/AAAAAAAABKo/78FjxJtBGPw/s1600/20121222_133237.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-uDT4rm1NsCc/UQPkU3ZereI/AAAAAAAABKo/78FjxJtBGPw/s320/20121222_133237.jpg" width="320" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Na época eu tinha trinta e
poucos anos, eles estavam entre 18 e 19, naquela fase da autoafirmação. Quando
falei o nome, eles imploraram para a gente escolher outro. “Se ficar esse nome
o povo vai mangar da gente”, era o que eles diziam. Pedi calma e disse que
garantia o sucesso do nome da banda. Eu trabalhava na Caixa, era chefe de
gabinete da superintendência e assessor institucional. Tinha visão de marketing
e sabia que o nome ia pegar, como de fato pegou. Pacificados os ânimos,
encomendei a João Dias a logomarca da banda. Ele bolou uma letra “I” grande e
um cara encostado nela tocando trumpete. Ele sugeriu que as cores fossem
vermelho e branco, mas preferi trocar o vermelho pelo preto, que é mais rock
and roll. O preto também funciona melhor em cima do branco e do prata. Fizemos
o lançamento da banda no Clube da Petrobras. Confeccionei 150 camisas e vendi
aos amigos cada uma por cinco reais. Junto com a camiseta, eu entregava um mapa
com as informações para chegar ao local da festa. Contratei palco, iluminação e
som. Fiz toda a logística do show. Tocamos duas horas e meia.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – A diferença etária entre você e
os demais integrantes da banda dificultou na escolha do repertório?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Não porque tínhamos gostos
comuns. Eu e eles gostávamos do Legião, Paralamas, Titãs, Skank... É importante
dizer que a banda tinha quatro integrantes, mas minha intenção era chegar a
sete pessoas. Eu queria três nos vocais para dar uma força de voz junto com o
instrumental. Enquanto um ficava na frente do palco, dois estavam atrás,
fazendo “backing vocal”. Já tinha uma vocalista que era aluna de canto, mas ela
não aceitava certas músicas, não gostava da linha moderna que estava
acontecendo na época. Comecei a fazer testes. Passaram 53 músicos lá em casa
para ver quem ia ficar como vocalista. Foi assim que a gente encontrou Karol
Posadzki. Com ela a banda construiu outra visão musical. Ela trouxe essa linha
do rock pop: Alanis Morissette, No Doubt, The Cranberries, The Doors e outros.
Karol estudava com o baixista e com o tecladista da banda. Nos anos 80, em
Natal, surgiram muitas bandas. A gente foi um dos percussores desse movimento.
Inácio ajudou a crescer o movimento da Ribeira. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como ficou a formação oficial?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-I523znTAJTs/UQPkdKFX2nI/AAAAAAAABLY/tGYWWnnVEho/s1600/20121222_133424.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-I523znTAJTs/UQPkdKFX2nI/AAAAAAAABLY/tGYWWnnVEho/s320/20121222_133424.jpg" width="320" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Saímos com três vocalistas:
Eugênio Bezerra, Karol Posadzki e Fátima Paiva. O baixista Maykel Câmara.
Jormar Oliveira e Jorge Medeiros nas guitarras. Bruno Maciel no teclado e eu na
bateria. Só que, com um mês e pouco de banda, Fátima pediu para sair. Depois
houve um problema interno e Eugênio também saiu. Ficou só Karol. Foi quando a
gente direcionou mais a linha para Sheryl Crow, mais Alanis, No Doubt,
Cranberries, Natalie Imbruglia... Mantivemos The Beatles e The Doors e
incluímos Deep Purple, Charlie Brown, Paralamas, Titãs e montamos dois shows. O
repertório, dependendo do show, tinha 45 músicas.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi o primeiro show?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Foi um sucesso. O espaço só
cabia 150 pessoas, mas o público chegou a 380. Foi lá na Associação dos
Engenheiros da Petrobras, na praia de Ponta Negra. A divulgação foi boca a boca
e também saíram matérias no Diário de Natal, Tribuna e na televisão. Visitamos
as redações. Canindé Soares foi nosso fotógrafo. Simone Silva e Raíssa Pacheco
foram nossas primeiras assessoras de imprensa. Em pouco tempo a banda atingiu o
ápice. A gente fez shows em Recife, João Pessoa, Maceió, Aracajú, Mossoró, Caicó,
Areia Branca...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi a recepção nos outros
estados?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-OqW3oExsNMo/UQPkjGuYM8I/AAAAAAAABMM/1J4IVOmfIaQ/s1600/20121222_150449.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-OqW3oExsNMo/UQPkjGuYM8I/AAAAAAAABMM/1J4IVOmfIaQ/s320/20121222_150449.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – A gente agradava muito porque
usava a estratégia de tocar o que o público gostava. A cada show do Inácio o
pessoal que fazia a assessoria de logística distribuía uma pergunta: qual a
música que você quer que o Inácio toque? No final eu tinha uns 200 papéis com
sugestões de música. Assim a gente só tocava o que o povo queria. Uma banda que
tocamos muito, e eu esqueci de dizer, foi Pink Floyd. Certa vez, tocando no
Projeto Seis e Meia, quando terminamos o show o artista principal da noite, Lô
Borges, veio nos cumprimentar e disse: “fazia muito tempo que eu não me
arrepiava escutando Pink Floyd em um show acústico”. Outra ocasião, no Circo da
Folia, quando terminamos de tocar para oito mil pessoas e o locutor anunciou a
atração principal, a Banda Raça Negra, o povo começou a vaiar e a gritar
I-ná-cio, I-ná-cio. Chorei feito criança, na bateria. Não conseguia me segurar.
Meu filho estava comigo... (Castilho suspira, emocionado)... e chorava também.
O líder da banda, Luiz Carlos, pegou o microfone e disse: “nós também estamos
adorando o show, e já que o público quer que a banda continue, eles vão tocar
mais um tempo e a gente volta quando vocês quiserem”. A gente tocou mais umas
seis músicas naquela vibração incrível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Vocês abriram shows de muitas
bandas em Natal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> - Inácio Toca Trumpete foi a banda
local que mais abriu show nacional aqui. Dividimos palco com Titãs, Skank,
Capital Inicial, Charlie Brown, LS Jack, Jota Quest, Paulo Ricardo, RPM, Lô
Borges... O último show do Paralamas antes do acidente com Herbert Viana fomos
nós que abrimos, na Via Costeira. Naquela ocasião, Alexandre Maia queria que a
gente tocasse com um som pequeno. Mas recusei e contratei com Helison um som
tão grande quanto o que o Paralamas ia usar. Quem fez a mesa foi Tesourão,
mesário de Helison que fazia as bandas nacionais. Demos uma paulada nesse show.
Paralamas estava vindo com show acústico e nós entramos com show elétrico.
Quando a gente desceu do palco, eles disseram: “vocês mataram a gente”. Mas
como matar o Paralamas? Quando Paralamas começou a tocar, ainda gritaram o nome
do Inácio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Dá para trocar alguma ideia com
os músicos de fora abrindo esses shows?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-6kb-jOMdCvU/UQPkUv9lofI/AAAAAAAABKc/Ziq_UH7l1U0/s1600/20121222_133248.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-6kb-jOMdCvU/UQPkUv9lofI/AAAAAAAABKc/Ziq_UH7l1U0/s320/20121222_133248.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Dá. Fernanda Takai, do Pato Fu,
é gente finíssima. Conversou muito com a gente. O pessoal do Jota Quest também.
O próprio Herbert e João Baroni... Fechei um contrato com o naipe de metais do
Paralamas para tocar com a gente em um show. Na volta do primeiro show do Paralamas
em Natal, onde hoje é o Atacadão, foi o Inácio que abriu aquele espaço para
eventos. Nessa ocasião, abrindo de novo para o Paralamas, a gente já fez outra
linha. Eles vieram com elétrico e nós montamos um acústico. Depois, Querosene
contratou para repetirmos esse show três ou quatro vezes para a própria FM. Na
coxia já estávamos com disco autoral e demos pro Herbert Viana. Ele perguntou
se não tínhamos interesse em sair, ir para fora. Eu disse que era difícil, já
que todos, com exceção de mim, ainda estavam estudando. Herbert Viana comentou
que tínhamos tudo para crescer e que o caminho era aquele mesmo. Barone e o
naipe de metais do Paralamas também elogiaram muito. Depois disso trouxemos
Derico, da banda do Sexteto do Jô, para dois shows com o Inácio. A banda era
muito bem ensaiada. Certa vez a gente estava tocando a música Tintura Íntima,
do Kid Abelha. O show era na Praça das Flores. No meio da música tem uma
parada, mas, como pensei que a música tinha terminado, parei. Karol começou a
cantar a capela, junto com o público. Devia ter umas duas mil pessoas cantando
com ela. A banda voltou num peso grande. Esse erro se incorporou ao arranjo. A
partir daí passamos a tocar a música dessa forma, em todos os shows.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Que outra boa história daquele
tempo você recorda?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Nós acompanhamos o primeiro show
que Tuca Fernandes, da banda Jammil e Uma Noites, fez em Natal. Wellington Paim
disse que estava precisando de uma banda para acompanhar Tuca Fernandes em seis
músicas. Ensaiamos as músicas que Tuca iria tocar, sem a presença dele, que
estava em Salvador. O previsto era ele tocar essas seis conosco e outras quatro
sozinho. Começou o show, tudo funcionou perfeitamente. Terminada a sexta
música, ele parou para nos elogiar. Disse ao público que não tínhamos ensaiado
nenhuma vez com ele e que estávamos tocando extremamente bem e de forma
correta. Avisou que a partir dali faria só voz e violão. Começou a tocar uma
canção de Tim Maia. Essa música fazia parte do nosso repertório. Nosso arranjo
era parecido com o dele. Quando Tuca começou, a banda se olhou entre si e
combinou entrar junto. Quando ele percebeu, fez um gesto de positivo, para a
gente continuar. Fizemos com ele aquele show até o final. Meu irmão chorava e
eu tocava emocionado por estar ali fazendo algo que não era fácil de fazer. Em
outros shows, artistas da Globo que estavam em Natal para se apresentar no
teatro, subiram no palco para tocar e cantar com a gente. Foi o caso de Matheus
Nachtergaele e Luana Piovani.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E o disco? Concreto é o nome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-EF22-GiRb4U/UQPkc9OYA3I/AAAAAAAABLU/Lba8d6oliLo/s1600/20121222_133413.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-EF22-GiRb4U/UQPkc9OYA3I/AAAAAAAABLU/Lba8d6oliLo/s320/20121222_133413.jpg" width="320" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – O disco foi um filho projetado,
planejado, mas que não saiu como eu queria. O problema é que gravamos um
repertório diferente do show. A gente nem divulgou muito, porque não era a cara
da banda. São coisas distintas o palco ao vivo e você produzir música. Para
gravar é necessário todo um conhecimento de composição, de arranjo, e no Brasil
tem pouco produtor de pop rock. Ou você faz rock, MPB ou samba. Quando você vai
gravar uma coisa como a gente fazia - um pop americano ou um pop irlandês - aí
não encontra. Se no Brasil existe essa dificuldade, imagine em Natal. De
qualquer forma, eu queria apenas gravar o disco para deixar um registro e
funcionar como nosso cartão de visitas. Mas o disco ficou bem feito, bem
elaborado, bem gravado e bem arranjado. Foi gravado em Natal, mas mixado e
masterizado em Fortaleza. No mesmo estúdio onde foi feita gravação, a mixagem e
a produção do disco de Jota Quest. Foi dirigido por Jubileu Filho, um excelente
músico e produtor. A gente até vendeu músicas para propaganda de algumas lojas.
Até hoje o disco toca na FM Universitária e tem gente que pede pela Internet.
Minha intenção é que o Inácio volte, pelo menos para fazer um último show.
Fizemos dois shows agora em dezembro de 2011 e janeiro de 2012.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por que o Inácio parou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> – Depois da morte de Paulo
Ubarana, que era dono do Blackout, a Ribeira acabou. O fechamento do Chaplin
também contribuiu. Natal ficou sem opção de espaços para sediar shows de
pop-rock. Até porque as bandas não podem depender de um empresário, de um bar,
restaurante ou casa noturna. Quando o artista se qualifica, seu trabalho por si
se valoriza e tem um preço. Não adianta tocar em uma casa noturna e receber um
cachê que não dá nem para pagar os músicos e o local de ensaio. A gente parou
também porque a moda era o forró. Proliferaram em Natal as casas de show de
forró. Diante desse quadro, ao invés de tocar regularmente, prefiro organizar
um show único para grande público do que simplesmente tocar todo final de semana
só para dizer que está tocando. Melhor se preservar, gravar as boas lembranças
e tentar fazer um ou dois shows por ano. Mas fazer uma coisa qualificada, bem
produzida e bem elaborada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi o retorno para shows no
final de 2011 e início de 2012?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-YMIqkgKnYRE/UQPkkscJQiI/AAAAAAAABMc/McmW27-PCp8/s1600/20121222_150458.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-YMIqkgKnYRE/UQPkkscJQiI/AAAAAAAABMc/McmW27-PCp8/s320/20121222_150458.jpg" width="240" /></a><b><u>CASTILHO</u></b> – Muito bom, tocamos na festa do
colunista social Jota Oliveira, no Espaço Ecomax, em janeiro, no aniversário
dele. Devia ter mais de duas mil pessoas. Dividimos o palco com a Banda Pura
Tentação. Foi uma grande festa. Dia 16 de dezembro tínhamos tocado no Blackout,
na Ribeira, em uma produção independente. Foi a volta de Karol e Eugênio no
palco, à formação inicial. As festas produzidas pelo Inácio sempre deram mais
público do que as apresentações das bandas nacionais aqui em Natal. No lançamento
do CD, tivemos 1.600 pessoas. Kid Abelha, Rappa ou qualquer outra banda na
Ribeira dá 1.100, 800 ou 900 pessoas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> - Conte alguma história
interessante dos tempos do Inácio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> - Fomos contratados para tocar em
uma boate em João Pessoa. Antes do início, chegou um ônibus lotado com um
pessoal da terceira idade. Tive a percepção de entender que aquele pessoal
estava vindo para o show de um trompetista, não de uma banda de rock. Fui lá e
comuniquei que não era um trompetista. Mesmo assim eles disseram que ia ficar.
Então eu disse que, em homenagem a eles, a gente ia fazer um repertório com
muito Beatles. Fizemos um show de 40 minutos, uma hora de Beatles. Esse povo
dançou e não queria que a gente parasse. Outra vez, na festa de segundo anviersário
do Inácio, lá na Ribeira, fui avisado de que o então governador Garibaldi Alves
Filho estava na fila. Acho que ele foi lá também induzido pelo nome. Acomodei o
governador em uma mesa no mezanino. Ele, gentil como sempre, assistiu o show
com sua esposa, Denise. Inácio foi a única banda de pop-rock que teve o
privilégio de ter o governador do estado assistindo a seu show. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL </u></b>– Se despeça do leitor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CASTILHO</u></b> - Quero deixar um abraço grande e
aproveito para alimentar uma expectativa. A banda Inácio Toca Trumpete vai
voltar. Nem que seja para um show de despedida e a gravação de um CD e DVD ao
vivo. Esse disco terá a cara do Inácio. Vamos voltar e botar a cara para
porrada novamente. Esse show pode até nem ser o último, mas o início de vários
outros. <o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-u5hL_ZZAW20/UQPkZYLD7VI/AAAAAAAABLA/vc3trcC3dTc/s1600/20121222_133333.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-u5hL_ZZAW20/UQPkZYLD7VI/AAAAAAAABLA/vc3trcC3dTc/s400/20121222_133333.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-41166484192204866932012-12-24T15:22:00.002-02:002012-12-24T15:22:37.866-02:00Entrevista: Paulo Lima <br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><u><span style="font-size: 20.0pt;">O HOMEM FORTE DO AGRESTE POTIGUAR<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-OnAKxqPQInc/UNiOPUYCk4I/AAAAAAAABJ0/R848uloxdlg/s1600/Galaxy+s+3+249.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-OnAKxqPQInc/UNiOPUYCk4I/AAAAAAAABJ0/R848uloxdlg/s320/Galaxy+s+3+249.jpg" width="240" /></a>Paulo José de Lima nasceu em São Paulo do Potengi no ano de
1950. Se fosse natural do Sertão – e não do Agreste, como é - esse fotógrafo
potiguar radicado em Brasília confirmaria a tese levantada por Euclides da
Cunha no seu principal livro, “Os Sertões”. O jornalista de Cantagalo escreveu:
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Certamente quem conhece Paulo Lima
apenas superficialmente vai estranhar essa minha comparação. Deverá estar se
perguntando agora: como Paulinho pode ser equiparado ao nordestino de pele
queimada e curtida pelo sol, portador de músculos esculpidos na batalha diária
de afastar a fome de si e de sua família, e dono de um comportamento rude e
áspero pela falta de uma melhor formação educacional? Essa mesma pessoa poderá
estar pensando: “Paulo Lima é exatamente o contrário: baixa estatura, franzino,
branco como são todos aqueles que raramente se expõem ao sol, tranquilo, fala
mansa, extremamente educado, fino, elegante, discreto...”. Não culpo quem
chegar à conclusão de que “o autor dessa apresentação deve estar louco!”. Mas,
não. Não estou maluco. Paulo Lima é um sobrevivente, um batalhador, um
trabalhador, um forte! Graças à sua persistência, ele deixou o roçado e o posto
de substituto do pai no balcão da “venda” da família no Rio Grande do Norte
para se transformar no fotógrafo mais querido pelas socialites do Distrito
Federal. Vamos ver, agora, como isso tudo aconteceu. (<a href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a>)</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como se chamava o seu pai?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Gregório José de Lima. Ele era comerciante. Tinha o que, antigamente, se
chamava de mercearia. Hoje mudou o nome para supermercado ou alguma coisa do
gênero. Deixou a vida de comerciante quando foi nomeado juiz de paz. Minha mãe,
Sebastiana Maria de Lima, também era comerciante. Tinha uma loja de papelaria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale um pouco sobre os seus irmãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Éramos
oito irmãos, mas, infelizmente, um morreu. Restamos sete. <br />
Apenas um, César, continua morando em São Paulo do Potengi. Ele tem uma pequena
loja de conserto e venda de peças para eletrodomésticos. O que faleceu, Lázaro,
também morava lá. Ele tinha um bar. Era gêmeo de César. Sua esposa tinha uma
loja de roupas, uma butique, digamos assim. Lázaro morreu do coração. Os demais
construíram a vida em Natal. Edson, o mais velho, tem uma marmoraria. Ele é o
pai da jornalista Eliana Lima, da Tribuna do Norte. Depois vem a Edite, ela tem
uma deficiência visual, enxerga pouco. Antonio é aposentado. Estudou em Recife
para ser padre, mas desistiu e foi trabalhar em uma empresa de turismo. João se
dedicou à vida de mecânico. Meu pai, sabendo que ele não queria estudar,
comprou uma oficina, para ele, em Natal. O caçula, Celso, morou comigo na Casa do
Estudante de Natal. Consegui trazê-lo de São Paulo do Potengi. Nessa época eu
trabalhava no Touring Club do Brasil. Cedi essa vaga a ele e fui para as
Confecções Guararapes. Depois de um tempo ele foi convidado para trabalhar na
Secretaria de Fazenda da Prefeitura de Natal. Começou, ainda de menor,
trabalhando na entrega de carnês do IPTU. Depois fez concurso e passou a ser
fiscal de tributos. Com o tempo virou auditor fiscal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
São Paulo do Potengi, hoje, tem mais de 15 mil habitantes, A cidade tinha
quantos moradores naquela época?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kItax0Uo7ZM/UNiNevuKL9I/AAAAAAAABIg/LS3MS7rU2dU/s1600/Galaxy+s+3+230.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-kItax0Uo7ZM/UNiNevuKL9I/AAAAAAAABIg/LS3MS7rU2dU/s320/Galaxy+s+3+230.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – Não
sei responder, mas o certo é que a cidade evoluiu bastante, daquele tempo para
cá. Morei lá até completar 14 anos. Eu ajudava o meu pai no trabalho. Ele não
queria ver a gente dormindo até mais tarde. Com oito anos de idade, eu já
trabalhava, ajudando na mercearia. Meu pai também tinha um roçadinho, onde eu
pegava na enxada, capinava. Na mercearia, aos dez anos, eu já vendia os
produtos, na ausência do meu pai. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nas horas de folga, você costumava brincar do que?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Eu
gostava de futebol e de jogar pião. No futebol, eu era atacante. Era rápido e
fazia muitos gols. Algumas vezes os colegas diziam: “hoje você está elétrico!”.
Eu era mesmo muito rápido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E os estudos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Estudei,
até os 13 anos, em São Paulo do Potengi. Primeiro em uma escola pública e,
depois, em um colégio particular dirigido por freiras. Saí da cidade para
prosseguir os estudos, em Ceará-Mirim. Fui, como interno, para a escola
agrícola de lá. Minha família continuou em São Paulo do Potengi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você sofreu muito com a mudança?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – A
princípio, não foi fácil. Minha mãe não queria, de jeito nenhum, que eu saísse
do seu convívio. Talvez por eu ser o filho mais ligado a ela. Esqueci de dizer
que, além da mercearia, meu pai, logo no início, tinha uma desnatadeira para separar
a gordura do leite e produzir manteiga e queijo. Ele comprava o leite,
desnatava, fazia a manteiga e o queijo e levava para vender em Natal. Quando meu
pai acabou com esse comércio, mamãe passou a fazer para o consumo de casa. E,
com nove anos, eu ajudava muito a ela. Eu fazia tudo: moía o leite para tirar a
nata - a manteiga - de um lado e o leite desnatado do outro. Ajudava a fazer o queijo. Sempre fui o filho
que mais gostei de trabalhar e o mais apegado à minha mãe. Modestamente
falando, nunca fui preguiçoso. (risos) Eu ajudava muito a minha mãe na
fabricação do queijo e também colaborava com o meu pai na mercearia. Quando ele
viajava para Natal para levar os queijos e a manteiga, toda semana, eu ficava
na mercearia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-gObjacOEBC4/UNiN_5FuIaI/AAAAAAAABJc/JIloubEhI0s/s1600/Galaxy+s+3+244.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-gObjacOEBC4/UNiN_5FuIaI/AAAAAAAABJc/JIloubEhI0s/s320/Galaxy+s+3+244.jpg" width="320" /></a><b><u>ZONA SUL</u></b> –
Para sua mãe não deve ter sido fácil concordar com a sua ida para morar em Ceará-Mirim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – É
verdade, por isso meus pais não queriam que eu fosse. Eu tinha 13 anos quando
resolvi pedir a um primo que ajudasse a convencer minha mãe a me deixar ir. Ele
tinha estudado no Colégio Agrícola de Jundiaí. Além de gostar de trabalhar, sempre
adorei estudar. No primário, minhas notas foram ótimas. Por tudo isso, minha
mãe me olhava com muito carinho. Meu primo pediu para eu fazer a prova de
seleção, que seria realizada no Colégio Agrícola de Jundiaí. Os testes eram
para a primeira turma de alunos da escola de Ceará-Mirim, que seria aberta no
ano seguinte. Depois de muito meu primo insistir, minha mãe me autorizou a
fazer a prova. Fiz e passei em terceiro lugar. Disputei com mais de 200 outros candidatos.
Desse total, 49 foram aprovados. Posso dizer com orgulho que sou da primeira
turma do Colégio Agrícola de Ceará-Mirim!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você ainda não respondeu se enfrentou muitas dificuldades com a mudança de São
Paulo do Potengi, de junto da família, para o internato em Ceará-Mirim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Sim, no começo senti muito. Nas primeiras semanas a saudade era tanta que eu
tinha vontade de ir todo sábado visitar meus familiares. Por eu ser muito
apegado aos meus pais, dava uma agonia, um desespero... Eu era um adolescente,
um garoto de 14 anos. Com o tempo, as visitas foram passando a ser feitas de
mês em mês, de semestre em semestre... E, por fim, só nas férias. Com o tempo,
fui me adaptando. Quando completei 16 ou 17 anos, eu já ia com menos
frequência. Nas férias ia a São Paulo do Potengi, passava uns dias, e viajava para
Natal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O Colégio de Ceará-Mirim provoca saudades em você? Quais as recordações daquele
tempo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – A
lembrança mais forte que tenho daquela época é o conjunto musical que foi
criado no colégio. Eu tocava triângulo, um colega era o responsável pelo
violão, outro pela sanfona. Tinha um terceiro, no pandeiro. O repertório era
Luiz Gonzaga e aqueles forrós que faziam sucesso naquele tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você entrou nessa banda porque gostava de música ou seu objetivo era
impressionar as mulheres?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – (risos)
Acho que foi pelos dois motivos. Naquela época, de tudo eu gostava um pouco, mas
o que eu não perdia mesmo era o futebol. Eu sempre era o primeiro a chegar no futebol
de salão, e o último a sair. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Ceará-Mirim, hoje, tem quase 70 mil habitantes. É mais do que quatro vezes a
população de São Paulo do Potengi. Naquela época a diferença entre um município
e outro deveria ser proporcional. Mudar para uma cidade tão grande o impressionou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-VrbYgdt2MYQ/UNiNiGd0tXI/AAAAAAAABIo/bxhYEsEtrqk/s1600/Galaxy+s+3+231.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-VrbYgdt2MYQ/UNiNiGd0tXI/AAAAAAAABIo/bxhYEsEtrqk/s320/Galaxy+s+3+231.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – Sim,
fiquei impressionado com o tamanho da cidade, com a maior quantidade de pessoas
nas ruas e com o comércio, que também era bem mais diversificado. Fiquei em
Ceará-Mirim de 1964 a 1968. Foi o tempo de completar o curso. De lá fui estudar
na Escola Técnica Federal, que hoje se chama Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Fui morar, em Natal, na casa de um
irmão. A princípio ele não concordava muito que eu fosse morar com ele. Mas, a
esposa dele, minha cunhada - percebendo que eu queria estudar e que estava
batalhando para vencer na vida - ficou ao meu lado. Ela ajudou a convencer meu
irmão a concordar que eu ficasse morando lá para poder estudar. Eu já
frequentava a casa deles. Nas férias da escola de Ceará-Mirim ou nos feriados
prolongados, eu ia para lá pensando em já me acostumar com Natal.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Ela conseguiu convencer o marido?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> - De
tanto insistir, meu irmão cedeu aos pedidos da esposa. Meus pais também pediram
a meu irmão para eu morar lá. Matriculei-me no curso de técnico em Edificações,
mas estudei apenas um mês. Fui prejudicado porque estava perdendo muitas aulas.
Meu irmão tinha uma mercearia. Quando ele saía, me deixava tomando conta. E eu
não podia ir para a escola. Para não ser mais prejudicado ainda e correr o
risco de perder o ano letivo, resolvi sair da Escola Técnica. Fui cursar o
científico no Padre Miguelinho. Como meu turno era o noturno, eu não era
atrapalhado quando tinha que passar o dia no comércio do meu irmão. Ainda
fiquei morando com ele durante um ano, até que consegui uma vaga e fui morar na
Casa do Estudante de Natal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você morou na Casa do Estudante em qual ano?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Em
1970.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nesse ano a ditadura estava no auge. Você sentiu esse clima morando na Casa do
Estudante? Envolveu-se politicamente com alguma atividade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – O
clima era realmente muito tenso, já que alguns colegas tinham uma tendência de
esquerda. E eu nunca fui adepto dessa ideologia. Ao contrário: quando completei
19 anos fui colaborar com a Polícia Civil. Eu tinha carteira e tudo, da
instituição. Pelo fato de eu ser colaborador da Civil, fui ameaçado. A
princípio minha situação ficou complicada, até quiseram me bater. Um colega que
estava comigo foi quem me defendeu, naquela hora. Alguns estudantes achavam que
eu tinha denunciado um dos moradores da Casa, que havia sido preso. Mas, não
fui eu. Minha atividade dentro da Polícia Civil não era política. Eu não estava
lá para investigar nada disso, mas para cooperar na área criminal, no combate
ao crime.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como se deu essa sua aproximação com a Polícia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Meu
pai alugava uma casa para o delegado de polícia de São Paulo do Potengi, que era
muito bem relacionado com o secretário de Segurança Pública. Então esse
delegado falou para o secretário que eu era uma pessoa idônea, que tinha bons
antecedentes pessoais e familiares, e me indicou. Eu não recebia nada pelo trabalho,
era um serviço voluntário. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Pelo que se deduz da história da sua vida, você nunca teve objetivos políticos,
mas sempre buscou se preparar para construir as bases de um futuro melhor. Paralelo
ao curso no Padre Miguelinho você conseguiu algum emprego? Qual sua primeira
atividade em Natal, depois do período em que passou ajudando o seu irmão na
mercearia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-VIayO5b_T2k/UNiOEnE2ewI/AAAAAAAABJk/8BIWGJoaHgw/s1600/Galaxy+s+3+247.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-VIayO5b_T2k/UNiOEnE2ewI/AAAAAAAABJk/8BIWGJoaHgw/s320/Galaxy+s+3+247.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> –
Quando fui morar na Casa do Estudante, arrumei um emprego no Touring Club. O
Touring vendia títulos que davam direito à assistência técnica, oficina e
reboque. Eu cobrava dos sócios, todos os meses. Meu trabalho era voltado para a
área de cobrança. Também com essa meta de vencer na vida, trabalhei como
cobrador em uma loja no Alecrim, que não recordo o nome. Fiquei nesse emprego
até o dia em que eu estava fazendo uma cobrança e o cliente jogou um copo de
água na minha cara. Fui cobrar dele e saí todo molhado. A história foi assim.
Quando cheguei, logo apresentei a cobrança, mas ele disse que não estava
devendo. Falei que tinham me mandado cobrar, e que eu não tinha culpa. Naquele
bate boca, ele disse: “aguarde que vou buscar o seu pagamento”. Ele voltou e
jogou a água no meu rosto. “Vá embora daqui, rápido!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa foi a única vez em que você se sentiu ameaçado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Trabalhando com cobrança, sim. Quando eu estava no Touring Club, o então
governador Lavoisier Maia era cliente. Fui algumas vezes pegar a mensalidade em
sua casa. Ele sempre pagou direitinho. Quando deixei a vida de cobrador, depois
de passar por uma loja instalada no Alecrim, fui trabalhar com faturamento no
escritório das Confecções Guararapes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Até então a fotografia significava alguma coisa para você?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Sempre gostei de fotografia, mas era um hobby caro. Eu não tinha condições
financeiras, ainda, de mexer com foto. Quando morava na Casa do Estudante, eu passava
muito em frente a um foto que tinha na Cidade Alta, perto do Palácio Potengi.
Eu ficava olhando para aqueles retratos. Parece que era uma intuição que eu
tinha. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você saiu da Guararapes com qual idade e foi fazer o que da vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-O3r4XaCGtKY/UNiNmwQsvwI/AAAAAAAABIw/aokgG6y5RSw/s1600/Galaxy+s+3+232.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-O3r4XaCGtKY/UNiNmwQsvwI/AAAAAAAABIw/aokgG6y5RSw/s320/Galaxy+s+3+232.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – Saí
com 26 anos. Fui para Brasília, estudar. Eu tinha um primo, Stoessel, que já
morava em Brasília desde 1974. Era militar. Ele vivia me chamando, dizia que lá
eu teria muitas chances de vencer na vida. Uma tia também morava em Brasília,
com seus dois filhos. Liguei para ela, para sondar, mas minha tia colocou muita
dificuldade. Terminou concordando em me hospedar quando falei que queria só
passear na capital do Brasil. Disse que vinha apenas passar as férias. O
apartamento da minha tia era realmente pequeno, e as dificuldades eram muitas.
Tinha dois quartos, sala e cozinha. Em um quarto, minha tia morava com uma
neta. No outro ficavam os dois filhos, meus primos. Eu dormia na sala. Naquela
época eu achava que o segundo grau não era suficiente para mim: eu queria
estudar mais. Um desses primos sentia certo ciúme pelo fato de eu gostar muito
de estudar. Quando ele me via lendo, dizia que eu estava gastando energia. Rapidamente
comecei a conhecer Brasília e descobri a Biblioteca Demonstrativa de Brasília,
na W3 Sul. Às vezes eu ia lá a pé, para economizar, já que o dinheiro que eu
havia trazido não era muito. Eu não podia gastar porque sabia que não ia voltar
para Natal.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E o emprego na Guararapes?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Eu
já havia pedido as minhas contas, ao deixar Natal. Não viajei para Brasília de
férias. Então, naquela dificuldade até para estudar à noite, falei com Stoessel.
Mas ele morava em uma república que já estava com todas as vagas ocupadas. Foi
quando resolvi fazer algum concurso. Fiz a inscrição em três: Correios, DASP (Departamento
Administrativo do Serviço Público) e Polícia Federal. Isso tudo em um período
de um mês após eu chegar. O resultado do concurso dos Correios saiu logo: fui
aprovado. Contei à minha tia e aos meus primos que tinha passado nesse concurso
e pedi para eles me segurarem mais um pouquinho, até eu começar a trabalhar e
receber meu primeiro salário. Meu primo mais velho era legal, o mais novo
encrencava mais. O fato é que cumpri o que tinha prometido: quando recebi meu
primeiro vencimento, saí de lá. Fui morar em um apartamento pequeno, dividindo
com seis. Era uma república, no Cruzeiro. Como era muito apertado, de manhã,
quando alguém ia tirar algo do guarda-roupa, eu tinha que levantar da minha
cama de campanha para a porta poder ser aberta. Com os salários seguintes, fui
me organizando e passei a procurar um lugar melhor para morar. Mudei para
Taguatinga, para outra república. Era mais espaçoso e eu dividia meu quarto
apenas com uma pessoa. Era muito mais confortável. Morei um bom período. Nesse
tempo, trabalhando nos Correios, saiu o resultado do DASP. Aprovado, fui
chamado para trabalhar lá. Tive que assinar um termo desistindo desse concurso.
Preferi os Correios porque lá tinha concurso interno de seis em seis meses.
Havia a possibilidade de crescer internamente. Não passei na Polícia Federal.
Tinha que fazer 70 pontos, fiz 68. Furei uma resposta errada no gabarito. Ainda
tentei colar, apertando. Mas não deu certo. Como eu estava nos Correios, nem me
importei muito. Comecei como auxiliar administrativo, com seis meses fui
aprovado, entre os primeiros colocados, em um concurso interno para assistente.
Outros seis meses depois teve para técnico administrativo. Fiz e passei também.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E a fotografia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-R2UzkWeHBI8/UNiNsLfgDxI/AAAAAAAABI4/IQbiJ4a0uss/s1600/Galaxy+s+3+233.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-R2UzkWeHBI8/UNiNsLfgDxI/AAAAAAAABI4/IQbiJ4a0uss/s320/Galaxy+s+3+233.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> –
Meu primo, Stoessel, tinha uma loja de fotografia em Brasília. Eu tinha casado
em 1980 com uma moça de Sete Lagoas (MG). Com ela tive uma filha, Paula. Eu
sempre tirava fotos da menina. Stoessel me chamou para fotografar congressos e
outros eventos. Aceitei. Foi assim que entrei na fotografia. A chefe da
comunicação dos Correios, Aldenira Cabral, soube que eu estava mexendo com
fotografia nas horas vagas e me convidou para trabalhar com ela e ser fotógrafo
do diretor regional dos Correios. Continuei a cobrir os grandes eventos sociais
e fui me entrosando. Comecei a gostar. Eu aproveitava as horas vagas para
desenvolver esse trabalho paralelo. Muitas vezes eu deixava de almoçar para ter
tempo de levar filmes para revelar e copiar no laboratório, para eu poder entregar
à noite. Assim fui começando na fotografia e, também, fazendo os meus trabalhos
particulares. Tirei umas férias e nem viajei: dediquei-me unicamente à
fotografia, só fazendo eventos e ampliando a minha clientela. Foi quando
conheci o empresário Paulo Octávio e ele me convidou para ser o seu fotógrafo.
Comecei a fotografar para ele nos finais de semana, feriados e durante a noite.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já faturava mais na fotografia do que nos Correios?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Ainda não, porque não tinha tempo. As pessoas às vezes me chamavam para
eventos, mas eu recusava o convite por falta de tempo. Foi quando vi que meu
caminho não era dentro dos Correios, mas na fotografia. Pedi uma licença sem
vencimentos de dois anos. Eu queria garantir o emprego, caso não desse certo na
fotografia. Tirei a licença e fui trabalhar. Fiquei fotografando para Paulo
Octávio e cobrindo eventos com meu primo. Comigo o trabalho podia ser qualquer
dia e qualquer hora. Tendo serviço, eu estava lá. Nesse período conheci o
jornalista Gilberto Amaral, que era colunista social do Correio Braziliense.
Ele me chamou para fazer as fotos de sua coluna. Topei. Fui ampliando a
clientela, fazendo fotos e ganhando dinheiro. Fui me entrosando, conhecendo mais
e mais pessoas no meio social. Nesse período também foi lançada a primeira
revista de Brasília, chamada Classe A. Vera Lúcia Rocha, a dona, me convidou
para ser fotógrafo de lá. Trabalhando nisso tudo e também fotografando eventos
particulares, percebi que era daquilo que eu gostava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você fez quando expirou sua licença sem vencimentos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> - Retornei
ao trabalho, mas não por muito tempo. Passei a ter atritos com colegas, nos
Correios. Confesso, com toda a sinceridade, que cheguei ao ponto de ameaçar um deles.
Jurei que da próxima vez que ele me irritasse eu daria um tiro na sua boca. Eu
estava andando armado com revólver. Vivia com dor de cabeça. Aquilo não era
normal, eu não era daquele jeito. A cabeça só faltava estourar. Cheguei a fazer
um eletro para saber se eu tinha algum problema na cabeça, de tanta dor que eu
sentia. Pedi a Deus que me iluminasse e me ajudasse a dar um rumo na minha
vida. Foi quando decidi pedir demissão, mesmo perdendo todas as vantagens.
Pouco depois seria implantado um plano de demissão voluntária, mas preferi nem
esperar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A saúde melhorou quando você deixou os Correios?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-hMN84MQ1RfQ/UNiNwYhdo_I/AAAAAAAABJA/5K4lipJMyhs/s1600/Galaxy+s+3+236.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-hMN84MQ1RfQ/UNiNwYhdo_I/AAAAAAAABJA/5K4lipJMyhs/s320/Galaxy+s+3+236.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – Depois
que saí, a dor de cabeça acabou. Era apenas o estresse por eu não suportar mais
o que eu estava fazendo. Com a fotografia era o contrário: quanto mais eu
trabalhava com ela, mais vontade sentia de trabalhar. Era de manhã, de tarde,
de noite... Fim de semana, dia santo, feriado... Não tinha folga. Minha folga
era mais trabalho. Minha mulher é quem reclamava. Ela dizia que eu estava
namorando. Mas não era nada disso. Eu não podia largar o trabalho para me
dedicar só à mulher porque viveríamos de que? Essa minha obsessão pelo trabalho
contribuiu para o fim desse meu primeiro casamento.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Trabalhando com coluna social o fotógrafo deve ver muita coisa interessante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Uma história interessante ocorreu quando o príncipe Charles veio ao Brasil.
Como ele não havia trazido fotógrafo em sua comitiva - e eu fotografava muito
para a Embaixada Britânica - fui convidado pelo embaixador para acompanhar o
príncipe nos eventos que ele participou em Brasília. Terminei fazendo parte da comitiva
oficial dele. Também fiz trabalhos para a Embaixada da Alemanha, inclusive
cobrir a visita de um dos últimos presidentes alemães, de quem não recordo o nome.
O mesmo se repetiu com outros países, como o Peru. Tive o prazer de merecer a
confiança de ser chamado para integrar a comitiva dessas autoridades como
fotógrafo oficial. Também me orgulho de ter fotografado um dos maiores cantores
da história da musica romântica, o Julio Iglesias. Em mais de uma vez tive
oportunidade de fotografá-lo. Mais recentemente fotografei apresentadoras de
destaque como Adriana Galisteu e Ana Hickmann. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você viveu alguma situação inusitada na cobertura da sociedade de Brasília?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Certa vez cheguei ao restaurante de um hotel e encontrei um embaixador
conhecido acompanhado por uma bela jovem bonita e elegante que não era a sua
esposa. Ele me pediu que fizesse a foto do casal, mas com a recomendação de eu
não entregar aquela fotografia a ninguém que não fosse ele. Cumpri com o
combinado: entreguei a foto nas mãos dele. Também já encontrei uma colunável
casada que estava acompanhada por um empresário em um local muito discreto. Eu
nem queria fotografar, mas ela me chamou e também pediu que eu só entregasse
aquela foto a ela própria. Repeti o procedimento. Em outra ocasião eu estava em
um hotel cinco estrelas, em Brasília, e lá encontrei a Teresa Collor na
companhia de uma pessoa importante de Brasília. Fiz a foto deles. O homem me
chamou e falou que aquela foto era importante e que depois falaria comigo. Não
sei se foi um porteiro ou um garçom quem falou, mas a imprensa ficou sabendo
que eu tinha essa foto. Na época era filme, a fotografia ainda não era digital.
Vários jornais e revistas me ligaram oferecendo bom dinheiro pela foto. Eu não
topei. Não vendi por dinheiro nenhum. Depois repassei a foto e o negativo para
o parceiro de Teresa Collor na foto. A confiança é fundamental no meu trabalho.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Em quais outros veículos você trabalhou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – O
Jornal da Comunidade foi um deles. Quando Gilberto Amaral trocou o Correio
Braziliense pelo Jornal do Brasil, fiquei um bom tempo lá, com ele. Na saída
dele para o Jornal de Brasília, continuei colaborando com sua coluna. Foi
quando a jornalista Marlene Galeazzi, que também trabalhava no Jornal de
Brasília, me chamou para colaborar com sua coluna. Colaborava com ela e
Gilberto Amaral no Jornal de Brasília, com o Jornal da Comunidade, e com a Revista
Foco, tudo na mesma época. Quando a Classe A acabou foi que comecei na Foco. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quais as características necessárias para um fotógrafo trabalhar na cobertura
social?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-lcs2ipqB0gw/UNiN1o8Mq1I/AAAAAAAABJI/NVAznZ1MdAw/s1600/Galaxy+s+3+242.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-lcs2ipqB0gw/UNiN1o8Mq1I/AAAAAAAABJI/NVAznZ1MdAw/s320/Galaxy+s+3+242.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – A
primeira delas é ser merecedor de confiança. Certa ocasião um ministro do
Supremo Tribunal Federal falou para outras autoridades que eu era o único
fotógrafo que tinha a porta aberta em todos os lugares porque nunca havia
traído a confiança em mim depositada. Você ouvir isso de um ministro do STF é
até lisonjeador. Outra característica necessária é saber tratar as pessoas.
Também é preciso ter discrição e caprichar no vestuário, estar sempre com uma
boa aparência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você fez outras coisas, como acompanhar o senador Garibaldi Alves Filho no
período em que ele presidiu o Senado. Como foi a experiência de trabalhar
direto com o presidente de um Poder da República?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Foi
mais um degrau que galguei na minha vida profissional. Trabalhar com o
presidente Garibaldi Alves foi mais uma vitória que alcancei na vida. Acho que,
além da confiança, fui lembrado também pelo trabalho que desenvolvi ao longo da
vida. Sempre procurei fazer o melhor possível. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Depois você prosseguiu na Presidência do Senado acompanhando o presidente José
Sarney.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Por
diversas vezes, quando eu era do Correio Braziliense, cobri aniversários na
casa do presidente Sarney. Certa vez um assessor dele me falou que dona Marly
tinha dito que não simpatizava comigo, que me achava um pouco antipático e
entrão. Com o tempo ela percebeu que havia formado uma imagem errada de mim.
Tanto que Dona Marly me convidou para um aniversário que teve na casa dela e
pediu a um assessor que tirasse uma foto minha com ela e o presidente Sarney.
Mas, respondendo à sua pergunta, quando Sarney substituiu Garibaldi eu
continuei um período na Presidência do Senado. Foi quando tive um problema
cardíaco e tive que me afastar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já superou esse problema? A saúde está em dia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Graças a Deus está em dia, mas às vezes, quando exagero um pouquinho
trabalhando muito, o estresse volta. Por mais de uma vez tive que ser
internado. Tenho que diminuir um pouco o ritmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você está fazendo da vida atualmente?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
PAULO – Continuo na Revista Foco, no Jornal da Comunidade,
no Jornal de Brasília e fazendo eventos sociais particulares também, quando sou
convidado. Agora mesmo fui chamado para cobrir
um evento na Embaixada da Argentina. Recentemente o senador Aécio Neves
sondou sobre a possibilidade de eu trabalhar em alguma campanha sua. Só que
acho que para mim foi importante o convite, mas acho um pouco cansativo.
Campanha é sempre muito corrido, acho que pela minha saúde não é possível. Eu
até gostaria, mas não acho que devo correr o risco. Mas o convite foi
importante porque me senti valorizado e com o meu trabalho sendo reconhecido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual seu sentimento por Natal? Você continua muito ligado ao Rio Grande do
Norte?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/--z1s7_YMraM/UNiN6VgxlfI/AAAAAAAABJQ/2hkAoBlVsgM/s1600/Galaxy+s+3+243.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/--z1s7_YMraM/UNiN6VgxlfI/AAAAAAAABJQ/2hkAoBlVsgM/s320/Galaxy+s+3+243.jpg" width="320" /></a><b><u>PAULO</u></b> – Continuo.
De vez em quando mando fotos para a minha sobrinha, Eliana Lima, publicar em
sua coluna da Tribuna do Norte. É bom destacar que ela é considerada por todos
uma excelente jornalista. Nas férias, nunca viajo para outro destino. Sempre
vou para Natal. Costumo circular por Ponta Negra, Muriú e Pirangi. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Que recado você ofereceria para alguém que pretende iniciar na fotografia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Fotografia
já foi um bom trabalho para ganhar dinheiro. A mudança para a fotografia
digital dificultou as coisas. Não se fatura mais como antigamente. Hoje só o
que se vê são pessoas com maquininhas ou até mesmo com aparelhos celulares
tirando fotos. Mas, de qualquer maneira, o mercado ainda permite que essa seja
uma fonte de sobrevivência. Então, a recomendação que eu faria é que a
fotografia é válida para quem realmente gosta. Esse é o primeiro passo: gostar.
Se gostar e estiver disposto a trabalhar, vá em frente. É um meio de vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale um pouco sobre sua mulher e seus filhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> –
Estou casado com Francisca há quatro anos. Ela é aposentada do Departamento de
Polícia Federal. Trabalhava na parte administrativa. Com ela não tenho filhos.
Tenho uma filha do primeiro casamento, Paula Lima. Ela trabalha em uma empresa
que terceiriza serviços para o Senado. É formada em Pedagogia, mas está
trabalhando no pós-atendimento, é supervisora. Paula nunca se interessou pela
fotografia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como as pessoas podem lhe encontrar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>PAULO</u></b> – Meu
escritório é em casa. Não uso Facebook, Twitter ou qualquer outra dessas redes
sociais da Internet. Mas, quem quiser manter contato, pode enviar mensagem para
<a href="mailto:pjlimarf@gmail.com">pjlimarf@gmail.com</a>/. Estou muito feliz
por ter concedido essa entrevista onde pude contar um pouco do que foi a minha
trajetória. Muito obrigado. <o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-EZ0wgaVfHBY/UNiOUeTMdII/AAAAAAAABJ8/uMRED_1Gej0/s1600/Galaxy+s+3+254.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-EZ0wgaVfHBY/UNiOUeTMdII/AAAAAAAABJ8/uMRED_1Gej0/s400/Galaxy+s+3+254.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-17611049528709282732012-11-23T15:19:00.000-02:002012-11-23T15:19:55.456-02:00Entrevista: Nicolas Gomes<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 15.0pt;">FOTÓGRAFO DO ROCK E GUITARRISTA DAS IMAGENS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-hAEHr5dGHL0/UK-vJCHwgXI/AAAAAAAABHc/H43Srxu1k3o/s1600/226130_10150160231017787_1524312_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="214" src="http://4.bp.blogspot.com/-hAEHr5dGHL0/UK-vJCHwgXI/AAAAAAAABHc/H43Srxu1k3o/s320/226130_10150160231017787_1524312_n.jpg" width="320" /></a>Por trás da faceta de roqueiro e de um homem acostumado a
coberturas jornalísticas e de eventos musicais, a imagem que Nicolas Gomes
deixa transparecer é a de um cara discreto, tímido, econômico nas palavras e
bom caráter. A rebeldia – que caracteriza o rock and roll – pode ser percebida
nas tatuagens espalhadas pelo corpo, mas não no comportamento. Bem educado, o
que ele demonstra mesmo sem reservas é o amor pelos filhos Lucas e Alice.
Recebi Nicolas em minha casa para que ele contasse ao leitor do <i>Zona Sul</i> a sua história. Foi uma noite
divertida regada a risadas, vinho e cerveja. Ele falou sobre rock, fotografia,
Vasco da Gama e, sobretudo, contou sua vida. Vamos conferir um resumo da
conversa. (robertohomem@gmail.com)</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> -
Nicolas Lira Gomes...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – O
sobrenome Lira é por parte da minha mãe, Celi Maria Lira Gomes. Gomes eu herdei
do meu pai, Heriberto de Sousa Gomes. Embora a família da minha mãe seja
caicoense, ela nasceu em Natal. Meus pais moram em Natal. Tenho um irmão mais
velho, Igor Lira Gomes. Minha mãe se formou em Economia, na UFRN, e é
funcionária pública. Hoje ela está no Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável
e Meio Ambiente do RN). Meu pai se formou em Odontologia, na UFRN. Entrou na
Marinha por concurso público. Hoje está na reserva, aposentado. Nasci em 1981,
em 1985 mudamos para Recife. Depois fomos para o Rio de Janeiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você guarda alguma recordação da primeira fase que morou em Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Minha
família morava em Morro Branco, perto da CEFET, quase esquina com a Rui
Barbosa. Quando a gente foi para Recife, esse imóvel ficou alugado. Dessa época
lembro-me de festas e eventos comemorativos de datas como “Dia do Índio”, no
Colégio das Neves. Também me lembro de ir brincar e andar de bicicleta no
Bosque dos Namorados. Mas a maior parte dessas recordações veio depois, vendo
fotografias. Meu pai tinha uma casa em Cotovelo. A gente ia para lá quase todo
final de semana. Nasci em outubro: em dezembro já estava veraneando. Às vezes
até acho que sou mais de Cotovelo do que de Natal. Quando a gente voltou,
depois de morar em Recife e no Rio, ficou morando um tempo na praia, até a casa
de Morro Branco, que estava em reforma, ficar pronta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você morou o suficiente em Recife para torcer por algum time pernambucano?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Não, mas quase. Se eu ficasse mais tempo ia escolher o Sport, que era o mais
forte da época. Comecei a acompanhar futebol em 1988. Torci muito contra o
Santa Cruz, ouvindo no rádio com o porteiro do prédio. Meu primeiro time foi o
Vasco. Apesar de o time ter Romário e Bebeto, eu admirava era o goleiro Acácio,
que foi um grande pegador de pênalti. Foi aí que comecei a gostar de futebol.
Naquela época eu também era fissurado em jogo de botão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O rádio, além das transmissões esportivas, chegou a ser importante para você como
fonte de música?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-6XoUEoy78Ak/UK-vJ0131UI/AAAAAAAABHk/EHA5QS86alQ/s1600/318645_2111625997893_1068246593_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-6XoUEoy78Ak/UK-vJ0131UI/AAAAAAAABHk/EHA5QS86alQ/s320/318645_2111625997893_1068246593_n.jpg" width="212" /></a><b><u>NICOLAS</u></b> – Nossa!
Boa parte do que sou hoje devo ao rádio. Em Recife mesmo, nessa época, eu e meu
irmão ganhamos de minha mãe um microsystem pequeno. Veio com duas fitas e um
curso de inglês. Não cheguei a ouvir até o final nenhuma das oito fitas que
vieram com o curso. Comecei a gravar as músicas que eu gostava por cima delas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você ouvia nessa época?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Sempre
ouvi rock, nunca gostei de outro tipo de música. Ouvia, basicamente, rock
nacional: Paralamas, Titãs, Ira!, Inimigos do Rei, Engenheiros do Hawaii...
Comecei escutando pelo rádio, depois passei para as fitas e os elepês. O
primeiro vinil que ganhei foi do Bom Jovi. A partir daí passei a pedir fita e
vinil de presente de aniversário. Também passei a juntar dinheiro para comprar
fitas e fui procurando grupos internacionais, como Guns N' Roses. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Seus pais ouviam o que?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Basicamente MPB: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marisa Monte... Lembro muito de
Marina Lima. Minha mãe comprava discos de Cazuza, Lulu Santos...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eles também ouviam Beatles. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Os Beatles lhe interessavam?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Claro. Mas eu acho que só fui perceber depois, quando comecei a fazer as minhas
coletâneas. A partir daí passei a ouvir com calma os discos que tinha lá em
casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Na escola você foi bom aluno?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Não, sempre fui mediano. Nunca me interessei muito pelo que se ensinava lá. A
exceção era Geografia. Era das poucas matérias que eu sempre tirava 9 ou 10. Mas,
em 1992 trocamos Recife pelo Rio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você ofereceu alguma resistência quando soube que teria que ir morar em outra
cidade? Foi difícil a mudança?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Eu
tinha apenas onze anos: sabia que ia ser chato, mas não era nada do outro
mundo. Meu pai tinha duas opções: Brasília ou Rio. Meu pai nunca gostou do Rio.
Nas vezes que tinha ido lá a experiência não foi boa. Minha mãe, utilizando
desenhos, pediu nossa opinião. Eu e Igor escolhemos o Rio. Meu pai, que tinha o
poder de decidir, foi voto vencido. Senti bastante a mudança, ela foi brutal. O
preconceito contra o nordestino, no Rio, é gigante. Naquela época era muito
pior. Minha experiência é com aquele Rio não pacificado. Os anos 1990, no Rio,
foram muito difíceis, a violência estava espalhada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde vocês foram morar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Meus
pais passaram um mês no Rio procurando apartamento, enquanto nós passávamos as
férias em Natal. Encontraram alguns apartamentos pequenos, de dois quartos, mas
não muito legais. Perto da data da mudança, eles estavam tristes porque não
tinham encontrado um local legal. Foi quando surgiu um amigo da minha avó por
parte de pai. Ele tinha um apartamento fechado na Avenida Jardim Botânico. Era
um cara rico que não tinha interesse em alugar. Através da amizade com a minha
avó, ele topou abrir uma exceção. Era em um bloco que tinha sido da Aeronáutica
e que depois teve unidades vendidas também para não militares. O apartamento
era pequeno, de três quartos, mas a localização era fantástica. Ficava a duas
quadras de um clube da Marinha, chamado Piraquê, que é coisa de outro mundo. Minha
vida no Rio foi toda dentro desse clube. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde vocês foram estudar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
No Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Botafogo, vizinho ao Jardim Botânico.
Era um bom ensino a um preço razoável. O custo de vida na Zona Sul era muito alto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como você enfrentou o preconceito contra nordestino?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Comecei
a superar o preconceito quando comecei a não ligar mais para ele. No começo era
muito chato. No Rio você é Paraíba. Em São Paulo você chamado de baiano. A
princípio eu tentava explicar que não era da Paraíba, mas do Rio Grande do
Norte. Inocência. Como esse preconceito vinha basicamente dos meninos, me
aproximei mais das meninas do que dos caras. Elas tinham mais curiosidade do
que preconceito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
No Rio, o que você buscou primeiro: a música ou o Vasco?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Saí
de Recife sem ser um torcedor fanático pelo Vasco. A paixão pelo time veio
naturalmente. A força do futebol foi primeira coisa que senti ao chegar ao Rio.
Na escola, na segunda-feira, todo mundo comentava. O futebol me marcou primeiro,
até porque o Rio de Janeiro nunca foi forte para o rock. O que me chocou lá foi
o funk. Depois de um tempo, cheguei a frequentar bastante as festas e a dançar
aquela música tão exótica. É como o forró, no Nordeste. Como a maioria curte, é
o que mais toca nas festas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E o rock?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Em 1992 conheci muitas bandas de punk rock, como Ramones, Nofx, Bad Religion...
Em Recife, o rádio só tocava música nacional. O máximo, de internacional, era Guns
N' Roses, Iron Maiden... No Rio conheci bandas mais undergrounds, punks. Eu
escutava rock em casa e ia curtir o funk na rua. Nas festas, em determinado
momento a gente dominava o som e botava nossos discos e fitas. Ninguém gostava
quando a gente tocava Ratos de Porão e Sepultura. Enquanto a minha turma
vibrava, o resto do povo ficava esperando a hora do funk. Aconteceu o mesmo em
Natal, depois, com o forró. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você morou quanto tempo no Rio? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Fiquei de 1992 a 1997. O clube Piraquê foi muito importante nesse período todo.
Quando não estava na escola, ia para lá. Fiz todos os esportes: basquete,
futebol, tênis, tênis de mesa... O clube tinha cabeleireiro, boate,
restaurante... Era completo. Depois fiz remo, no Botafogo. Apesar de morar no
Jardim Botânico, a vida da minha família sempre foi muito simples. Meus pais
são muito regrados, nunca valorizaram o luxo. A gente juntava dinheiro para ir
para Natal no final do ano. Além do fato de ser nordestino, conviver com o
pessoal rico também foi difícil, por causa do preconceito social. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
A fotografia já lhe chamava atenção nessa época?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-T2DJMkaQFEQ/UK-vLU7QC5I/AAAAAAAABHw/13VbjuauLb0/s1600/391012_2381810192329_1142852048_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-T2DJMkaQFEQ/UK-vLU7QC5I/AAAAAAAABHw/13VbjuauLb0/s320/391012_2381810192329_1142852048_n.jpg" width="320" /></a><b><u>NICOLAS</u></b> –
Não, ela veio depois. Porém, de uma maneira subjetiva, eu convivia com a
imagem. A especialidade do meu pai, como dentista da Marinha, é radiografia. Ele
faz documentação ortodôntica. No Rio ele comprou uma câmera especial só para
tirar foto de dente, chamada “dental eye”. Era caríssima. Ele carregava em uma
maleta toda alcochoada. Na época de Recife ele reunia os amigos para mostrar os
slides das viagens que fazia. Ele só fotografava em positivo, em slide. Fazia
um jantar para os amigos e mostrava as fotos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você guarda algum fragmento na memória de sua primeira ida ao Maracanã? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Lembro
do jogo Brasil e Uruguai, eliminatório para a Copa de 1994. Foi minha primeira
ida ao Maracanã. Fomos eu, meu irmão, meu pai e um colega da escola que morava
no mesmo prédio. Só não gostei porque a gente ficou do lado da torcida do
Flamengo. Mesmo sendo jogo do Brasil, a torcida do Vasco sempre fica de um lado
e a do Flamengo do outro. A gente ficou na torcida do Flamengo porque – fazendo
uma comparação com o Machadão, seria a torcida do Alecrim – é o lugar onde fica
a sombra e sopra um ventinho. As pessoas cantavam as músicas do Flamengo antes
do jogo. O clima era como se fosse de Vasco e Flamengo, só que com o Brasil
jogando. Depois passei a frequentar o estádio com o meu pai, já que ele não
deixava a gente ir sozinho. Uma vez a gente ia para jogo do Vasco, na seguinte
para jogo do Flamengo, que era o time de preferência do meu irmão. Tinha também
a opção de não querer ir. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E as praias do Rio?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Na
época em que morei lá acho que sou fui à praia duas vezes. Aquela água gelada
não me fazia falta, até porque eu passava as férias em Natal. Em compensação,
quando minha avó por parte de pai, Idelzuithe, ia visitar a gente, mandava
carta para a Globo se inscrevendo para assistir o programa do Faustão. Íamos:
eu, meu irmão, ela e meu avô. Depois disso a gente chegou a ir a programas que
duraram pouco, como o do Luiz Thunderbird. No Jardim Botânico a gente morava ao
lado do teatro da Globo. Era o Teatro Fênix, antes de a Globo se transferir
integralmente para o Projac. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Voltar para uma Natal que até então você só conhecia nas férias foi bom?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Foi péssimo. Sair de uma metrópole onde eu tinha tudo nas mãos, todo mundo
estava envolvido com tudo o que estava acontecendo e voltar para Natal foi
horrível. Passei um ano muito ruim, de adaptação. O segundo ano foi de exclusão
por opção. Finalizei meus estudos na CAP Colégio e Curso. Quando voltei para
Natal foi quando me formei roqueiro mesmo. Foi quando decidi tocar guitarra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi a repercussão familiar dessa decisão de se tornar roqueiro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
A pior possível. Meus pais sempre foram muito compreensíveis, a gente sempre
conversou muito. Eles nunca foram de reprimir, de proibir. Sempre foram abertos.
Mas eu decidi a partir da minha experiência pessoal e de amigos também.
Envolvi-me por minha conta e risco. Se fosse depender dos meus pais, eu teria
seguido a vida do meu irmão: ele se formou em Odontologia, na UFRN, fez o
concurso para oficial da Marinha, entrou, e está lá até hoje. Mora no Rio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi o processo para você se tornar um roqueiro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Quando
voltei para Natal mudei muito e os meus interesses também mudaram bastante. Conheci
uma turma legal. Meus primeiros colegas em Natal foram dessa turma. Um deles
hoje é músico, Diogo das Virgens. Aprendi a tocar violão através dele. Nunca
tive aula, sempre fui autodidata, mas Diogo me ensinou os primeiros acordes. Logo
que voltei, nos primeiros dias de aula, sem conhecer ninguém, me sentei ao lado
dele. Diogo viu nos meus cadernos os adesivos das bandas Foo Fighters e Green
Day. Ele olhou e puxou assunto. Foi minha primeira amizade fora de Cotovelo. Eu
tinha decidido que ia tocar guitarra por influência do Slash, guitarrista do Guns
N' Roses. Como Diogo já tinha guitarra, pedi que me ajudasse. Ele recomendou
que antes eu tinha que aprender a tocar violão, para conhecer os acordes, a
teoria. Comprei um violãozinho de 80 reais. Diogo ensinou três acordes e me deu
um livrinho. No terceiro mês de treino, consegui tocar a minha primeira música.
Tive que passar por essa fase pra comprar a guitarra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Além de tocar, você também compõe...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Quando
aprendi as três primeiras notas já comecei a compor, mesmo toscamente. Eu
acordava de madrugada e ia escrever uma letra qualquer pra conseguir tocar. Acho
que isso me afastou um pouco de Diogo, que nunca se interessou em compor. O
negócio dele, até hoje, é fazer cover bem. Então, com poucas amizades, fiquei
um tempo sem sair, entocado. Foi assim até eu prestar vestibular. Eu não sabia
para qual curso eu queria fazer. Até que um dia vi um, chamado Engenharia de
Produção. Li em um livro sobre profissões que minha mãe tinha me dado, que o
cara dessa função ficava na fábrica vendo o controle de produção. Pensei: “se é
para ser qualquer coisa, que seja isso”. Fiz o vestibular, mas claro que não
passei, porque não estudava. Nessa época eu ficava traduzindo músicas das
bandas. Lembro que comecei a acessar a internet entre 1997 e 98. Eu só
procurava sobre rock. E era um rock bem específico, não comecei escutando Led Zeppelin
ou Black Sabbath, mas bandas bem undergrounds, punks e hardcores da Califórnia.
A primeira vez que ouvi uma música de punk-rock fiquei muitos anos só
pesquisando e escutando isso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual sua primeira banda em Natal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-h0odl4A5P7s/UK-vKrJveTI/AAAAAAAABHs/ucHYx8RwdZg/s1600/387321_219251248145379_206645040_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="213" src="http://3.bp.blogspot.com/-h0odl4A5P7s/UK-vKrJveTI/AAAAAAAABHs/ucHYx8RwdZg/s320/387321_219251248145379_206645040_n.jpg" width="320" /></a><b><u>NICOLAS</u></b> – No
começo tive muitas bandas de ensaio, mas nenhuma que chegasse a ter nome. A
primeira vez que gravei foi em 2003, na Banda Radial, integrada por colegas que
tenho até hoje em Natal. São os irmãos Rocha (Henrique Geladeira e Gustavo
Macaco), Rodrigo Sérvulo (O Homenzinho), e o baterista Augusto. Com exceção do
Rodrigo, que era vocalista, os demais continuam envolvidos com música. Tive
bandas que não chegaram a gravar nada relevante. Toquei com algumas pessoas
conhecidas na cena do rock como Solano (Jane Fonda), Fabio Nunes (Carbura),
David Fonseca (Folclore), Rogério Pitomba (grande baterista que hoje toca com
vários artistas de Natal), Flavio França (Expose Yout Hate, Outset) e Jussian
(O Surto).</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época você já fotografava?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Comecei nessa época da Banda Radial, quando meu irmão foi fazer um curso no
Chile e voltou com uma câmera digital. Eu ainda não havia passado no vestibular.
Minha mãe sugeriu que eu fizesse para algum curso da UNP, que era perto de casa.
Como tinha feito para Engenharia de Produção na UFRN, botei na cabeça que teria
que fazer para alguma Engenharia: entrei em Engenharia da Computação. Gosto de
computador, tenho facilidade com informática e tecnologia. Mas nunca me
dediquei ao curso, que é bem difícil. A pessoa tem que ralar muito para
conseguir alguma coisa. No final de 2001 consegui estágio na Caixa Econômica,
através do curso de Computação. Fiz um curso de engenharia de redes, da Cisco.
Foi o único curso para o qual me dediquei de verdade. Com seis meses de Caixa fui
admitido para trabalhar com gerenciamento de redes. Na CEF, trabalhava na
agência da Ribeira, onde ficavam todos os roteadores. Eu monitorava a
comunicação de todas as agências do estado. Meu turno era o da manhã, era
complicado porque eu tinha que estar lá às 7 da manhã com tudo ok. Tinha que
acordar muito cedo, foi bem difícil. Foram dois anos bem de ralação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Mas você estava falando da câmera que o seu irmão trouxe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Ele
trouxe a câmera, mas eu tomei conta dela. No começo, quando precisava, ele até
pedia. Essa câmera normal, dessas cybershot, foi a minha escola. A partir dela
comecei a tirar foto. As primeiras fotos que fiz já saíram boas. Tenho até
hoje. A visão já veio automática. Demorei um tempo para fazer curso. A
fotografia estava adormecida, foi um estalo completamente inusitado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Essas primeiras fotos retratam o que?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Peguei
a câmera, abri a porta de casa e fui para a rua tirar foto de qualquer coisa. Saí
andando ali pelo lado do CEFET, naquela pracinha ao lado. Tirei foto das
árvores, das ruas, de detalhes. Foi a primeira saída fotográfica que dei. Depois
abri um fotolog, um site onde você bota foto e as pessoas comentam. Lá
publiquei um dos primeiros ensaios da Banda Radial. Levei a câmera, fiz umas
fotos e postei. Em pouco tempo as pessoas começaram a elogiar. Fiquei surpreso
porque pra mim era normal, não tinha nada demais. Naquela época as pessoas não
tinham muito contato com a fotografia, que se popularizou quando se tornou digital.
Antigamente todo mundo tinha que posar para o registro. Fotografia custava caro,
não dava para ficar tirando foto de qualquer coisa. Com a câmera digital eu
tirava foto de tudo: era só descarregar e deletar o que não tinha ficado bom.
Não parei mais. O segundo ano que passei na Caixa Econômica foi todo juntando
dinheiro para comprar uma câmera profissional. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você saiu da Caixa antes de começar a ganhar dinheiro com fotografia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Comecei
a trabalhar com fotografia antes de sair da Caixa. O objetivo de comprar o
equipamento deu forças para eu acordar às 5h30 para ir trabalhar. Ainda na CEF,
fiz um editorial de moda para O Poti com a cybershot. Fui indicado por uma
amiga que trabalhava com moda. O produtor me ligou, e a gente marcou. Quando
cheguei ao local combinado, que tirei a cybershot da mochila, ele olhou pra mim
e disse: “sério que é você quem vai tirar essas fotos?”. Foi um bullying
daqueles. Mas as fotos ficaram boas, saiu no jornal e ele gostou. Tanto rolou
que depois fiz outros trabalhos para ele. Quanto terminou o segundo ano, a
empresa terceirizada pela qual eu prestava serviço à CEF estava meio enrolada.
Conversei com meu chefe e ele concordou em facilitar minha saída, dando todos
os benefícios. Assim decidi que ia viver me dedicando à música e à fotografia.
Eu já não estava mais fazendo Engenharia da Computação e já sabia que não ia
terminar esse curso. Ao sair da CEF, fiquei seis meses com o seguro-desemprego,
que me permitiu comprar os equipamentos que eu precisava. Com o dinheiro do
FGTS comprei uma ilha de edição. Foi nessa época que comecei a parceria com
Anderson Foca, do DoSol. Até então eles não tinham nada de documentação de foto
e vídeo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Isso tudo foi em 2003?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Bx30BonM2WI/UK-vMOcmDEI/AAAAAAAABIE/XhYPYPMrfOY/s1600/562698_3694293523592_449462055_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-Bx30BonM2WI/UK-vMOcmDEI/AAAAAAAABIE/XhYPYPMrfOY/s320/562698_3694293523592_449462055_n.jpg" width="213" /></a><b><u>NICOLAS</u></b> – Sim,
esse ano foi o que marcou tudo: minha primeira banda, deixei o emprego e
descobri a minha vocação. Como eu dizia, comprei uma ilha completa, computador,
mesa, impressora, câmera, câmera de filmar, mochila. Tudo que é necessário para
fazer vídeo e foto eu tinha. A primeira coisa que fiz foi o Festival DoSol, os
shows no DoSol Rock Bar, que tinha aberto e videoclipes para bandas que o Foca
gravava. Fiquei seis meses fazendo isso. Eu nunca tinha feito um clipe na vida.
Cheguei, filmei uma banda e na frente do computador aprendi a editar em três
dias, na marra. Aprendi a pegar as imagens e cortar e juntar, botar uma cor. Até
hoje mantenho esse perfil de manter as coisas simples, sem muito efeito. Fazer
uma boa fotografia, cortar, juntar tudo e fazer o vídeo: essa é mais ou menos a
minha filosofia até hoje. Em 2004 eu já estava à toda: tocando, cobrindo
festival, fotografando. Já tinha me tornado conhecido em Natal pela fotografia.
Todo mundo sabia quem era o Nicbraw das fotos. Foi quando entrei no AllFace, a
convite de Anderson. A banda já existia. Foi a época mais legal, em termos de
banda. Com AllFace viajei de norte a sul tocando nos melhores festivais do
Brasil. Fizemos turnês com bandas que hoje são famosas, como Fresno e NX Zero. Muita
gente passou pelo AllFace, como Rafael Calango, Eduardo Passaia, Júlio Cortez, Rafael
Bender, Ana Morena, Jussian, Vinicius Menna e Paulinho. A banda sempre foi uma coisa
de amizade, de pessoas próximas que estavam ali tocando. Até hoje funciona
desse jeito. Não tem competição, é um negócio bem aberto mesmo. A primeira vez
que vim a Brasília foi por causa da banda. A gente tocou em Taguatinga, no ano
de 2006, em um festival do Senhor F. Um ano depois a gente tocou no Porão do
Rock. A gente também tocou bastante em Fortaleza, Recife, Teresina, Brasília,
Goiânia, São Paulo e, claro, em Natal.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
E depois do AllFace?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – No
final de 2007 a banda diminuiu bastante o ritmo, ela meio que acabou sem
nenhuma nota oficial. Na virada para 2008, conheci a Cynthia, lá em Natal. A
gente começou a namorar. Ela nasceu em Recife, mas morou a vida toda em
Brasília. Foi para Natal fazer faculdade. Seu pai mora lá com outra família,
três filhos e tudo. Com quatro ou cinco meses de namoro, ela ficou grávida. Eu
estava no meu último ano da faculdade de Publicidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Ainda não falamos nessa faculdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> - Em
2005 - eu já fotógrafo e roqueiro – ouvindo sempre meu pai repetir aquela
história de que eu tinha feito um monte de coisa, mas não tinha terminado nada.
Resolvi fazer Publicidade, que era mais próximo da minha área. Cheguei a
pesquisar faculdades de fotografia e até pensei em sair de Natal. Mas não achei
nada interessante que pudesse valer a pena. Fui cursar Publicidade mais para
dar uma satisfação aos meus pais. Mas o curso foi ótimo, fiz boas amizades e me
ajudou bastante. No final de 2008, me formei. Nessa época Cynthia estava
grávida e voltou para Brasília, para ficar com a mãe, que é o porto seguro
dela. Veio grávida de Alice, a nossa primeira filha. Eu em Natal, no último ano
de Publicidade. Nesse ano mudei bastante: não saía, só pensava em me formar e
decidir o que ia fazer. Decidi vir para Brasília antes de me formar. Alice
nasceu no dia 27 de dezembro de 2008. Vim para o nascimento dela e voltei para
Natal só para colar grau. Quando peguei o canudo, desci do palco, olhei para o
meu pai e disse: “pai, esse aqui é pra você”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Quando você se mudou para Brasília já tinha alguma coisa em vista?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Eu
tinha muito equipamento de fotografia, reduzi tudo a uma mochila. Comprei tudo
portátil, tudo wireless. Troquei o estúdio completo por um equipamento móvel,
para ganhar mobilidade. Vim para cá com uma mala, uma mochila e uns tripés. Vim
com meia dúzia de roupa, meu novo equipamento e muita vontade. Era o que eu
tinha. Cheguei conhecendo apenas três pessoas: Cynthia, Rafael Bilico – que é
de Brasília e se formou comigo em Natal - e Izaac Alves, chamado de Durex, que
não terminou o curso de Engenharia e voltou para Brasília. Rafael é designer,
tive pouco contato com ele em Brasília. Izaac Durex começou a tatuar pouco
antes de voltar para Brasília. Quando chegou, conseguiu um trabalho muito legal
em um estúdio na galeria do Hotel Nacional. O estúdio de Jersinho, o Jerson
Filho. Ele praticamente tatuava os amigos e foi para um estúdio comercial. No
primeiro ano em que eu estava aqui, devo ter saído para ver dois shows de bandas
gringas. Fora isso eu ia para o estúdio conversar com Izaac. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Sua primeira tatuagem veio dessa época?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – A
tatuagem é uma coisa bastante marcante. É uma decisão muito importante,
definitiva, não tem volta, e as pessoas não levam isso muito a sério. Demorei
um tempo até eu mesmo assimilar a ideia de ser tatuado. E foi através dessa
minha proximidade com Izaac que comecei a frequentar o estúdio de tatuagem. Como
não tinha o que fazer, ia ver se conhecia alguém para arrumar algum trabalho. Conheci
muita gente envolvida com arte. As primeiras bandas que fiz foto aqui foram
através desses contatos. Mas a minha primeira tatuagem foi o símbolo de uma
banda californiana chamada Strung Out, que é um átomo. Fiz esse átomo na perna.
Tinha uma mulher sendo tatuada na mesma hora, ao lado. Ela estava tatuando a
costela, que é um lugar que dói muito. Ela estava de boa, enquanto eu, uma
tatuagenzinha na perna, estava gemendo e fazendo careta. A mulher ficou rindo
da minha cara. Foi um bullying que sofri aqui em Brasília. (risos). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Em Brasília, você chegou a se enturmar com alguma banda?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> –
Quando vim, vendi em Natal praticamente tudo relacionado à música (pedais,
amplificador e uma guitarra). Vim apenas com uma guitarra e um macbook. No
começo ficava compondo e gravando sozinho, só para gastar a energia e a vontade.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Por falar em gravar, como o material que você compôs antes, em Natal, pode ser
encontrado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-oy4xalhQH60/UK-vIijZFcI/AAAAAAAABHU/SpI3LJwbPPU/s1600/226031_349079065174521_1374706928_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="213" src="http://1.bp.blogspot.com/-oy4xalhQH60/UK-vIijZFcI/AAAAAAAABHU/SpI3LJwbPPU/s320/226031_349079065174521_1374706928_n.jpg" width="320" /></a><b><u>NICOLAS</u></b> – Tem
alguma coisa no disco AllFace Simples, o último do grupo. (O link direto para
baixar esse CD é <a href="http://www.4shared.com/zip/TXC8Fiw-/AllFace_-_Simples.html">http://www.4shared.com/zip/TXC8Fiw-/AllFace_-_Simples.html</a>).
Encontra também alguns clipes no Youtube. O disco do Radial a gente gravou, mas
não foi divulgado. A finalização dele foi ruim, não colocaram pra baixar, nem
nada. Mas, voltando a Brasília, conheci Cynthia apresentou um colega antigo
dela, o César Pirata. As pessoas que eu conhecia na cidade eram os meus dois
amigos e as bandas de Brasília que tocaram em Natal, que eu fotografei e tive
contato: Lucy And The Popsonics, Bois de Gerião, Móveis Coloniais de Acaju e
Autoramas. Mas era complicado, nas vezes em que eu saía para ver show, só
conhecia as pessoas que estavam tocando, e mais ninguém. Ficava sozinho. Então,
a primeira pessoa que conheci em Brasília foi o César Pirata, que é baixista. Com
ele formamos a banda Mais que Palavras. Fazem parte da formação o vocalista Maneko
(Manoel Neto), que é o maior tatuador em Brasília; Tiago Caetano, que é
baterista. No começo tinha o Kenji. Ele saiu e entrou o Guto (Augusto Toda),
também na guitarra. A gente formou essa banda em 2010, no final do ano. A banda
lançou o primeiro disco com seis músicas. O nome é Mais que Palavras, também.
Gravamos o segundo agora, deve sair no começo do ano. Vai ser no formato split.
Ou seja, vamos lançar em conjunto com uma banda amiga a banda Vida Livre. Cinco
músicas de cada banda. Vamos aproveitar esse novo trabalho e tentar viajar
bastante em 2013 para divulgá-lo e fazer shows.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Como está sendo trabalhar no Ministério da Previdência?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Com
o nascimento do meu segundo filho, Lucas, em 27 de setembro de 2010, senti
necessidade de ter um trabalho fixo, para não depender apenas de freelancer.
Quando entrei em contato com o assessor de Comunicação, José Wilde, coincidiu
que o senador Garibaldi Alves estava assumindo o Ministério. Estavam sem
fotógrafo, fui contratado na hora. Meu pai tinha me passado os contatos de
Wilde. Como eu não tinha experiência em fotojornalismo, senti um pouco de
dificuldade, a princípio. Mas depois desse período trabalhando lá, posso dizer
que hoje sou um fotojornalista e um fotógrafo social com experiência. Aprendi a
importância da rapidez, agilidade e instantaneidade. O clima e o protocolo
também são outros. Você não pode ousar tanto, tem que seguir o padrão da coisa.
Aprendi a dinâmica de trabalhar com fotojornalismo, que é fantástico. Acumulei
experiência de gabinete, de rua, de viagem. Além disso, trabalhar com o
ministro Garibaldi Alves é muito bom. O que mais destacaria nele não é nem a sua
capacidade política – que é indiscutível - mas a característica que ele tem de deixar
todo mundo à vontade com sua espontaneidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Você participa de várias mídias sociais. Onde o leitor do jornal pode lhe
encontrar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Todos
os trabalhos que eu faço são divulgados no Facebook e no Twitter. No Facebook
podem procurar por Nicolas Gomes. No Twitter estou lá como Nicfoto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
O que você está planejando para o futuro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – A
curto prazo, pretendo viajar mais, tocar em várias cidades e com bandas amigas
para mostrar o trabalho da nossa banda Mais que Palavras. Mais para frente
quero focar meu trabalho na área cultural, voltar ao que eu fazia em 2005:
trabalhar com bandas e espetáculos. O fato de estar morando em Brasília ajuda
bastante, pela localização. Depois que vim para cá consegui finalmente fechar
trabalhos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ano passado fiz alguns videoclipes
fora. Peguei o final de semana e viajei para gravar o vídeo. Editei em
Brasília. Fiz da banda Zander, do Rio, e da banda Bob e o Telescópio, de São
Paulo. Também não deixe o mercado de Natal. Tenho voltado com constância, inclusive
para o festival DoSol. No começo do ano tirei vinte dias de férias. Fui para
Natal e passei uma semana descansando e o resto do tempo trabalhando. Faço dez
dias de trabalho seguido, volto para Brasília e edito aqui. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado para o leitor do <i>Zona Sul</i>.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>NICOLAS</u></b> – Foi
em Natal onde fiz as melhores coisas da minha vida. Precisei voltar para a
cidade para me encontrar. Morei em vários lugares, conheço o Brasil todo, mas é
em Natal e em Cotovelo que me sinto em casa, me sinto mais à vontade. Vou
sempre voltar para Natal a trabalho ou para passar férias com a família. Morando
fora, vejo que as pessoas não dão valor às coisas de Natal. Tratam a cidade
como se ela fosse um patinho feio. Mas Natal tem muita coisa boa e de
qualidade. Comparo as bandas de rock da cidade como qualquer banda de outro
lugar. O natalense precisa acreditar mais no que faz. No caso da música, ela
não tem fronteira. Essa história de artista da terra não deveria existir.
Termina restringido, dá a impressão de que quem é tachado com esse rótulo tem
uma menor qualidade. Independente de ser da terra ou não, Natal tem bandas que
não deixam nada a dever às melhores do país. <o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-5tzgTXrtx98/UK-vL9Pmi0I/AAAAAAAABH0/H6rlR-b2WUQ/s1600/530104_442252352455935_1527539401_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="http://2.bp.blogspot.com/-5tzgTXrtx98/UK-vL9Pmi0I/AAAAAAAABH0/H6rlR-b2WUQ/s400/530104_442252352455935_1527539401_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-10549549890477481312012-10-22T21:48:00.000-02:002012-10-22T21:50:30.576-02:00Entrevista: Jonas Escurinho<!--[if gte mso 9]><xml>
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<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 17.0pt;">O CINQUENTÃO ESCURINHO É 100 NO <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ZONA SUL</i>!</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
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<div class="MsoNormal">
O ano de 2012 tem sido especial para Jonas Epifânio dos
Santos Neto. Além de completar seu quinquagésimo aniversário e de conquistar
duas das principais premiações em um festival de música na terra onde nasceu –
Serra Talhada – Jonas, o Escurinho, voltou a se apresentar na capital do país
com a sua banda Labacé e iniciou um novo projeto que tende a render bons
frutos: a ciranda de maluco. Para completar, esse paraibano nascido em Pernambuco
foi o escolhido pelo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Zona Sul</i> para
ser o centésimo entrevistado do jornal desde outubro de 2003. E ele se fez
presente, junto com a Labacé (Alex Madureira, Igor Aires e Flávio Boy) e a sua
esposa Ester Rolim. Para contrabalançar, também participaram da “festa” meus
amigos Glauco Porto, sua companheira Maíra Pereira, a carioca papa-jerimum Inês
Augusta e o repórter fotográfico Roque de Sá, que mostrou talento usando apenas
um telefone celular Galaxy SIII, da Samsung (robertohomem@gmail.com).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você nasceu em qual lugar de Pernambuco?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b> –
Em Serra Talhada, mas só nasci. Meus pais moravam em uma vila chamada Bom Nome,
distante 20 minutos de viagem. Como lá não tinha maternidade, grande parte das
grávidas tinha seus meninos em Serra Talhada e voltavam para Bom Nome.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
A população de Bom Nome deve ser bem pequena...</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-5Je5rIxUtYw/UIXZlC5W6RI/AAAAAAAABGQ/q6bAJJW7ncs/s1600/Escurinho11.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://3.bp.blogspot.com/-5Je5rIxUtYw/UIXZlC5W6RI/AAAAAAAABGQ/q6bAJJW7ncs/s200/Escurinho11.jpg" width="150" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-g5W9Pw-wEsA/UIXXYVUkblI/AAAAAAAABFU/waXRgtanDrs/s1600/Escurinho1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="http://4.bp.blogspot.com/-g5W9Pw-wEsA/UIXXYVUkblI/AAAAAAAABFU/waXRgtanDrs/s200/Escurinho1.jpg" width="200" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Poucas pessoas nasceram lá, mas tem no mapa! Se botar no Google, também
encontra. Meu pai era vaqueiro e agricultor. Quando a CHESF foi construir as
subestações de eletricidade no interior, ele foi convidado para trabalhar
desmatando terreno. Meu pai era esperto, fez amizade com todo mundo. Quando a
subestação foi construída, ele ficou como eletricista. Trabalhou de 1962 a 1969
na subestação de Bom Nome, como funcionário da CHESF. Quando a companhia
começou a construir subestações em municípios da Paraíba, meu pai foi para
Piancó. A família deixou Pernambuco nessa ocasião, em 1969. Fui para o Vale do
Piancó com sete anos de idade.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como é o nome do seu pai?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Manoel Jonas dos Santos. Quando foi construída a subestação de Catolé do
Rocha, a SAELPA (Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba) contratou
alguns funcionários da Chesf, entre eles o meu pai. Mudamos para Catolé em
1973. Eu já tinha onze anos. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você guarda alguma recordação de Serra Talhada?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– É a terra de Lampião. Recentemente li que a Casa de Lampião conseguiu um
projeto com a Petrobras e vai transformar a fazenda onde Lampião viveu em
museu, restaurante. Minhas maiores recordações são de Bom Nome. Lembro daquelas
coisas de criança, das brincadeiras, de algumas palavras... Por exemplo: tem
uma palavra chamada monturo que eu não esqueço nunca. Até porque era onde a
gente brincava, no monturo. No monturo era onde tinha os obstáculos e cresciam
as frutas gogoia, maria preta, melão de são caetano... Recordando daquele tempo
constato que, quando a gente é pequeno, as coisas parecem ser bem maiores. Por
exemplo: depois de muitos anos voltei com Ester (Ester Rolim, mulher de
Escurinho) e as meninas à casa onde morei em Bom Nome. Eu sempre dizia que era
uma casa imensa. Quando chegamos lá, Malu viu aquela casa pequenininha e logo
perguntou: “papai, cadê a casa?”. Lembro também que eram imensos os animais que
eu via no Sítio Valença, que pertencia à minha família. As aranhas
caranguejeiras eram enormes. No caminho de casa para a roça eu via uns bichos
que, imagino hoje, deviam ser uns lagartos ou camaleões. Naquela época era como
se fossem crocodilos! </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Quais suas primeiras recordações musicais?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-kMTNBVDcJOE/UIXXg2rVX4I/AAAAAAAABFk/9nSOXtHIJb4/s1600/Escurinho12.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-kMTNBVDcJOE/UIXXg2rVX4I/AAAAAAAABFk/9nSOXtHIJb4/s320/Escurinho12.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Vem das feiras de Conceição do Piancó. Na época de Bom Nome, meu avô Mané
Jacinto era dono do que, na época, se chamava Clube Social Brotas. Eles faziam
festas e bancavam jogo. Meu avô era uma espécie de produtor de eventos. Todo
final de semana tinha a feira do Carmo, no interior, e tinha a Feira de
Conceição. Sempre que ele ia, me levava. Eu achava massa porque, na volta, as
moedas que ele trazia eram todas para mim. Na viagem eu via os cantadores na
feira. Todos eram amigos de Mané Jacinto. Depois que os emboladores acabavam,
iam tomar uma com ele. Meu avô faleceu há seis anos. As feiras do Piancó e do
Carmo foram marcantes para mim. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E os estudos?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Minha família nunca vacilou nesse ponto. Naquele tempo não tinha esse negócio
de ir para escola com três ou quatro anos. Entrei aos sete, mas já sabendo ler.
Minha mãe, minhas tias e minha irmã mais velha ensinaram. Mas, quando entrei na
escola, foi até engraçado. Ficavam me comparando com os outros: “o neguinho de
Mané Jonas sabe ler e tu não sabe”. Paralelo a isso, havia minha paixão pelo
circo. Antigamente todo circo tinha drama, teatro. Quando o circo saía de
Piancó, ficava aquela febre de circo na cidade. Então minha mãe, uma tia que
morava com a gente, minhas irmãs e algumas vizinhas montavam uns dramas, lá em
casa, para arrecadar fósforo, açúcar e o que desse. Armavam uma tenda para
encenar peças como “A Escrava Isaura”, “A Cabana do Pai Tomás”, “Sansão e
Dalila”... Eu não tinha noção do que era teatro, mas era um momento massa. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi a vida em Piancó?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b> –
Apesar das dificuldades, minha família vivia bem. Era a época dos militares, e
eles não deixavam faltar nada para os funcionários da CHESF. Todo final de ano a
empresa mandava um caminhão com uma super-feira. Vinha tanta coisa que dava
para distribuir com os vizinhos. O almoço de domingo também era uma festa. A gente
vestia a roupa de domingo, ia à missa e voltava para comer galinha, que só se
comia aos finais de semana. A gente comia com salada de maionese. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL </u></b>–
Você é católico?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-dheh_dBuZEc/UIXZoEIDIVI/AAAAAAAABGY/7xRcpzUA25M/s1600/Escurinho13.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-dheh_dBuZEc/UIXZoEIDIVI/AAAAAAAABGY/7xRcpzUA25M/s320/Escurinho13.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Minha mãe me levava para a igreja, mas não tenho vínculo com a religião.
Depois dos 15 anos não voltei lá e passei a entender a igreja de outra forma. Nos
tempos de Bom Nome, quando papai era vaqueiro e trabalhava na agricultura, ele
gostava de cantar. Era boêmio e namorador, embora não bebesse nem fumasse. Lá
em casa tinha cavaquinho e violão. Meu pai recebia em casa seus amigos, os
malucos de Piancó. Muitos deles tinham retornado à cidade depois de ter passado
pela universidade em João Pessoa. E tome farra! Lembro daqueles cabeludos lá em
casa tocando violão. O término da hora da Ave Maria, no rádio, no final da
tarde, coincidia com a hora em que ele chegava da subestação. Então tome forró.
Tocava Esmeralda, Luiz Gonzaga... Mas quando a CHESF resolveu levar alguns
funcionários para fazer um curso em Paulo Afonso, tudo mudou. Manoel Jonas foi um
dos escolhidos. Dois meses depois, quando voltou, estava vestindo uma camisa “volta
ao mundo”, que era a foda da época. Trazia também uma carteira de Hollywood no
bolso. Voltou todo invocado, usando aquelas escovas de mão para pentear o
cabelo, um par de óculos ray-ban e bigode... Era o satanás em gente! (risos).</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
O que sua mãe achou disso?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
- Ficou puta da vida! A partir daí, ele começou a beber e a farrear de verdade.
No domingo não era mais só galinha, era cerveja também! Foi por essa loucura
dele, no bom sentido, que em 1973 a gente foi embora para Catolé. Na época eu
era pequeno, apenas via aquele movimento todo. Só vim entender o sofrimento da
minha mãe muito tempo depois. Minha mãe, mulher de família, segurou a onda. Meu
pai foi primeiro, para Catolé. Um mês depois passou um caminhão e levou a
gente. A partir daí ele sossegou, mas continuou boêmio: aquela figura simpática
e querida por todo mundo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Nessa época você já era Escurinho?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Não. Quando cheguei a Catolé havia um jogador de futebol do Internacional
chamado Escurinho. Ele faleceu no ano passado. Eu jogava na mesma posição do
bicho, e corria pra caramba. Os colegas passaram a me chamar de Escurinho. Assim
ganhei o apelido. Um ano depois, no meu envolvimento com música, o povo de
Catolé já sabia que Escurinho era o neguinho da subestação, o maconheiro da
subestação. Catolé foi uma cidade muito louca. Cheguei lá no momento em que estava
saindo da confusão do movimento estudantil de 1968. Catolé tinha aura de
revolucionária. A influência da música boa da época, a gente tinha tudo lá. Por
exemplo: o disco de Elomar, “Das barrancas do Rio Gavião”, ouvi pela primeira
vez em 1979, em uma feira na praça de Catolé. Eu também tinha acesso à loja
onde Chico César trabalhava como balconista. Onildo trazia tudo que era
novidade da Tropicália e botava lá. Foi daí que veio a ideia de fazer música e
participar de festivais. Assim surgiu o “Grupo Ferradura”. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Fale sobre o “Ferradura”.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– O grupo nasceu de tanto a gente ir ao Rio Agon. Quando chovia, formava umas
cacimbas. A gente comprava umas garrafas de cana, uns tira-gostos, pegava o
violão e ia para o rio na sexta-feira de tarde. Se os pais não fossem atrás, a
gente ficava até a segunda-feira, escrevendo e fazendo música. (risos). A
partir daí passamos a frequentar os festivais nas cidades próximas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já começou como compositor?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Nessa época todo mundo do grupo compunha. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você chegou a estudar música?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-LmT6rkFoiUg/UIXZ2E6TleI/AAAAAAAABGo/qeKvMHqR40I/s1600/Escurinho5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-LmT6rkFoiUg/UIXZ2E6TleI/AAAAAAAABGo/qeKvMHqR40I/s320/Escurinho5.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Depois. Na época eu tocava percussão, de maneira intuitiva. Nosso trabalho
era autoral. Eu compunha, Chico César também. Branco, Adonias... Todo mundo
tinha aquela veia. Mas, no final das contas, eu e o Chico - até por a gente se
encontrar mais e ficar mais tempo juntos – a gente compunha mais. Adonias
tocava flauta doce; Branco, violão. Mais na frente veio Zé Galinha. Chico César
tocava uma viola com uma afinação diferente e uma sonoridade foda. Nem ele
consegue repetir essa afinação, hoje. Depois, ele ganhou um violão de presente.
Eu tocava percussão e cantava. Mas eu não gostava de cantar, tinha medo. Nos
festivais todo mundo tocava e cantava. De tanto a gente ganhar festival, quando
surgia um os outros concorrentes já começavam a se perguntar: “os neguinhos de
Catolé vêm?” (risos). Chico César – apesar de bem magrinho, desse tamanhinho e
com aquela cabeçona - quando abria o bico pra falar, todo mundo já ficava de
orelha em pé. Ele sempre foi muito seguro, e não tinha boquinha, não. Ele, pra
quebrar o violão na cabeça de um, bastava essa pessoa pedir pra ele tocar
Roberto Carlos várias vezes, depois de a resposta ser NÃO. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
A bebida em excesso não atrapalhava?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b> –
Ela foi boa pra caramba naquele momento, mas começou a ficar ruim porque
passamos a exagerar. Na escola, por exemplo, na hora do recreio já ficava
combinado que a gente ia se encontrar para tomar a última “meiota” pra voltar e
fazer prova. E continuava a beber depois da última aula. Mas, fomos crescendo. Chico
César fez vestibular em 1979 e, no ano seguinte, foi para João Pessoa, estudar.
Eu fui para Recife, fazer um negócio que não tinha nada a ver comigo: o curso
de técnico em Contabilidade, no Colégio Porto Carreiro. Eu queria ter ido para
o Instituto da Teologia da Libertação que estava abrindo na Conde da Boa Vista.
Dom Hélder Câmara estava instalando esse curso em todo canto. Minha família não
deixou. Se tivesse ido, teria sido melhor pra mim: era mais profundo, mais
exigente. Eu era muito louco, não tinha disciplina pra contabilidade. No
caminho da escola tinha uma casa de vinho quente. Eu guardava o dinheiro da
passagem, ia a pé, para tomar vinho. Ainda estava no vício de Catolé. Mas foi
um ano massa porque eu saía da escola e ia direto para o Teatro do Parque,
pegar o final dos shows: Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Bubuska, Vivencial,
Ave Sangria... Vivi esse momento. Foi um ano inteiro assim: só ouvindo esse
pessoal. Lá eu não toquei. De Recife fui para João Pessoa. Saí da capital
pernambucana em fevereiro, depois do carnaval. Fui direto para a casa de Pedro
Osmar, a quem eu só conhecia através da imprensa. Chico César já estava na
cidade, mas fui logo procurar Pedro Osmar. Ele foi muito receptivo, ficou bem alegre.
Com ele passei a conhecer um pouco do maracatu, da cultura negra. Mas a minha
relação com Pedro Osmar, nesse primeiro momento, foi curta. Até porque eu tive
que retornar à Catolé. Mas lá percebi que não tinha condições de ficar. Não
tinha mais a música, nem os amigos: era só a família pressionando para eu dar
um rumo na vida. Resolvi voltar para João Pessoa. Fui morar na Casa do Estudante.
Foi quando conheci Odair Salgueiro. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Quem é essa pessoa?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– O professor que formou os principais músicos que mexem com percussão na
Paraíba. Comecei a estudar com ele, mas eu era muito irresponsável e louco. Ele
apoiou muita gente, nessa época. Inclusive a mim. Quando eu chegava para uma de
suas aulas sem ter estudado em casa, sem ter feito a lição que ele havia
passado na aula anterior, Odair me dava uma bronca. Ele percebia que eu não
tinha estudado logo que eu pegava nas baquetas. Então, Odair dizia: “pode parar,
não vou ficar perdendo o meu tempo com quem não quer estudar”. Eu tentava
enganá-lo, dizendo que tinha estudado, mas ele sabia que era mentira. Depois
criei um pouco de juízo e, nos três anos que passei com Odair Salgueiro,
aprendi pra caralho. Muitos aprenderam com ele, inclusive Flávio Teles (Boy),
que está aqui conosco. A partir daí fui conhecendo uma turma que tocava na
noite. Como eu era muito louco, nunca aceitei muito esse tipo de trabalho.
Tocar na noite de João Pessoa, nessa época, era tocar por birita, para beber. Não
vou negar que isso era o que eu queria, mas eu também queria pagar minhas
contas. E não tinha como. Ainda toquei no Gambrinus, que pagava direitinho, e
com Soraia Bandeira e João Linhares. Mas vi que aquilo não servia para mim. Eu
achava que não era certo o dono do bar ganhar mais do que a gente e defendia que
o “couvert” todo tinha que ser nosso. Eu era bocão. Saí da noite pensando em
criar coisas, fazer músicas. Foi quando veio a história do teatro, do “Vau do Sarapalha”.
</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Estamos ansiosos para ouvir essa história...</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b> –
O “Vau da Sarapalha” é um conto de Guimarães Rosa. O “Grupo Piolim”, de Luiz
Carlos <a href="http://3.bp.blogspot.com/-P9ubHa9u4NU/UIXXxwNoCdI/AAAAAAAABGI/VDCth_F-8rM/s1600/Escurinho6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-P9ubHa9u4NU/UIXXxwNoCdI/AAAAAAAABGI/VDCth_F-8rM/s320/Escurinho6.jpg" width="240" /></a>Vasconcelos, estava trabalhando na adaptação dessa obra para o teatro. Fui
o responsável pela parte musical do espetáculo. Viajamos muito pelo Brasil,
América do Sul e alguns países da Europa. O ponto de partida foi a visita do
então ministro da Cultura, Sérgio Rouanet, a João Pessoa. Quando Luiz Carlos,
doido para cavar recursos para o Piolim, soube da visita, convidou o ministro
para assistir a um ensaio de “Vau da Sarapalha”. Era a forma de Sérgio Rouanet
ir até o Piolim. A gente achava que esse ministro era um cara velho, grandão,
importante. Mas ele era novo e já entrou na sala conversando com todo mundo. O
ensaio demorou a começar, mas ele permaneceu tranquilo, aguardando. Era noite
de lua, e o cenário ficou todo natural, sem aquela luz toda que veio depois.
Tinha no máximo uns candeeiros. O ministro pirou. Terminou a peça, ele
perguntou onde a gente ia se apresentar. Não tinha nada agendado, mas Luiz
Carlos sabia que vinte dias depois seria realizado um festival em São José de
Rio Preto. De tão confiante, ele mentiu para o ministro dizendo que nós
participaríamos. Rouanet pediu que telefonássemos para ele quando estivéssemos
em São Paulo e prometeu que apresentaríamos “Vau da Sarapalha” também em
Brasília. Conseguimos participar do festival em São José do Rio Preto. Já
chegamos lá com as passagens compradas para Brasília, hospedagem reservada na
cidade e uma apresentação agendada no Teatro Garagem, do SESC.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi o espetáculo em Brasília?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURIHO</u></b> –
A apresentação era na segunda-feira, pois não tinha vaga na pauta de teatro da
cidade. Começava às oito da noite. Duas horas antes, tinha uma fila arrodeando
o SESC. Eu, matuto, nunca tinha visto aquilo. Os caras do teatro viram e cancelaram
as apresentações dos grupos que se apresentariam no final de semana seguinte,
para abrir espaço para o “Vau de Sarapalha”. O fato é que ficamos um mês em
Brasília. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Qual a explicação para o teatro lotar em Brasília logo na primeira apresentação?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– A gente tinha vencido os principais prêmios do festival de São José do Rio
Preto. Houve também muito trabalho de boca a boca. Além disso, Barbara
Heliodora – que tinha nos assistido em São José do Rio Preto - botou uma
matéria na “Veja” exaltando a peça. O sucesso em Brasília nos garantiu uma
proposta para temporada em São Paulo. Mas antes de ir para lá, voltamos a João
Pessoa. Já tinha integrante do grupo reclamando: “vamos pra casa, não aguento
mais, quero ir pra casa”. Fomos para São Paulo e fizemos dois dias no Teatro
Vergueiro. Tinha mais gente que em Brasília! Saímos de lá para o Teatro Gláucio
Gil, no Rio de Janeiro. Era uma quarta-feira e o problema se repetiu: não coube
todo mundo que queria assistir. O grupo que apresentaria no final de semana nos
cedeu o lugar. Depois disso, passamos mais um mês. Tudo lotado. Na sequência,
fomos para Bogotá, na Colômbia. De lá para a Venezuela, onde tivemos prejuízo.
O empresário não soube negociar ou roubou. O fato é que ficou de depositar o
dinheiro na nossa conta, quando a gente voltasse para o Brasil, e nada...</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
A questão da língua, como ficou?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Nunca foi problema. Apesar do texto, a peça é muito plástica e sonora. A
estética é muito forte. Nas vezes em que foi tentado botar tradução simultânea,
legenda, neguinho reclamou. Na Alemanha, em Hamburgo, aconteceu isso. Colocamos
legenda, mas no outro dia pediram para tirar. Enquanto estavam lendo, não
assistiam ao espetáculo. Já em Portugal, amargamos um fracasso na primeira
temporada. E a gente pensava que ia fazer o maior sucesso. Na primeira viagem a
Europa, fizemos Bélgica, Alemanha e Portugal. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Até então você estava mais voltado para o teatro do que para a música?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-L8bJV-x-HGw/UIXXsEjkfDI/AAAAAAAABF8/zvDWfoYwTtk/s1600/Escurinho4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-L8bJV-x-HGw/UIXXsEjkfDI/AAAAAAAABF8/zvDWfoYwTtk/s320/Escurinho4.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Estava dividido. Mas eu sempre gostei de música, e não de teatro. Eu estava
envolvido, era um momento massa, estava ganhando um dinheirinho, mas sabia que
tinha que me arrumar na música. Depois de uma dessas viagens, comprei um
gravador Aiwa para registrar minhas ideias, as composições que eu fazia. Eu já
vinha fazendo isso quando houve uma parada do Sarapalha em João Pessoa e eu fui
morar com o pessoal do “Carroça de Mamulengo”. Comecei a montar minhas coisas,
a tocar em vários instrumentos e a cantar o que eu havia registrado nas
viagens. Foram surgindo umas músicas e passei a mostrar esse trabalho. Depois
convidei um baixista e um violonista. Rolou um show no Teatro Santa Rosa. No
final da apresentação, Alex Madureira, que estava voltando do Rio, chegou
gritando, cheio de cachaça: “meu irmão, esse som é muito bom, mas esse
violonista não toca nada”. Eu já tinha ouvido falar muito sobre ele. Saímos de
lá para a praia, onde bebemos todas. Nem lembro como cheguei em casa, mas na
segunda-feira eu estava na casa de Alex, ao meio-dia. Começamos a trabalhar. Em
um mês a gente já tinha várias músicas. Depois veio a banda e João Pessoa
começou a conhecer o trabalho de Escurinho e Alex Madureira. Primeiro foram os
bares da periferia, o Bar da Tapa e os barzinhos do centro. Gravamos o primeiro
disco em um período curto.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como é o nome?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– “Labacé”, gravado em 1995. Fizemos shows em várias cidades. Uma galera de
Recife, entre eles Lula Queiroga, estava nos assistindo em um bar em João
Pessoa. Rolou um buchicho e logo depois fizemos um show em Recife, no “Rei do
Cangaço”. De lá, a gente tocou no “Abril Pro Rock”. Assim começamos a formar um
nome naquela região. Depois dessa fase de Recife, percebi que a gente tinha um
produto, mas não tivemos a mesma estrutura, por exemplo, que o pessoal do
Manguebeat teve. Pernambuco era um estado melhor estruturado e com uma maior
visibilidade. A televisão estava se organizando, a mídia de Recife apostava na
cultura local. O pernambucano tem orgulho das coisas do seu estado, se
valoriza. É assim que tem que ser. Em João Pessoa ainda não tivemos isso. O
Labacé fazia um som diferente do que o pessoal do Mangue estava fazendo. Na
nossa mistura não entrava só o maracatu, rock, funk, música eletrônica... Nossa
influência era muito mais a música da caatinga do que a do mangue. Alex tinha
uma proximidade com o cariri, com a cultura indígena. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como a Paraíba recebeu essa novidade que foi o trabalho de vocês?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-xhXZ2TEHKGY/UIXXoRbOcTI/AAAAAAAABF0/yZSSPK9Me2I/s1600/Escurinho3.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-xhXZ2TEHKGY/UIXXoRbOcTI/AAAAAAAABF0/yZSSPK9Me2I/s320/Escurinho3.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Nem sei se recebeu até hoje, pois a gente ainda está no processo de fazer
público, apesar de 16 anos na estrada. Teve recentemente, na Paraíba, um
festival nacional de arte. Não fomos convidados para tocar. Alex tocou no
circuito do frio de Pernambuco, mas não no da Paraíba. Eu toco em Garanhuns um
ano sim, outro não. Mas não toco no circuito da Paraíba. A gente abriu um show
para Daniela Mercury, lá no Busto de Tamandaré, em João Pessoa. Tinha gente pra
caramba, mas depois nenhum empresário telefonou para negociar a contratação do
nosso show. A gente tem que sempre estar correndo atrás, apesar de ter um
público fiel. O ideal seria não precisar pedir passagem a um e a outro para
viajar, como ocorreu agora nessa vinda a Brasília. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
O segundo CD foi “Malocage”, lançado em 2003. Em 2004 saiu o DVD patrocinado
pelo Itaú Cultural. Fale sobre esses trabalhos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– A gente estava interando dez anos de grupo Labacé sem nem se tocar desse
aniversário. Foi quando o disco “Malocage” saiu. Um belo dia a gente estava em
Recife, quando um amigo, Gil Sabino, disse que uma pessoa da gravadora Atração
iria assistir a nosso show na Rua da Moeda. Ela viu o show em Recife e depois
em Campina Grande. Na segunda-feira recebemos um telefonema da gravadora. Eles
queriam assinar um contrato para distribuir o “Malocage”. Três meses depois do
contrato assinado, surgiu a oportunidade do Itaú Cultural. Se não tivéssemos
assinado, não teria dado certo, porque eles exigiram vínculo com alguma empresa
ligada à música. A Atração entrou na ponte com eles e viabilizou o DVD que selou
os dez anos de Labacé. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
A banda Labacé são vocês quatro há quanto tempo?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-lkiw0imcKas/UIXXk1bUDEI/AAAAAAAABFs/8euYvMfgIr8/s1600/Escurinho2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-lkiw0imcKas/UIXXk1bUDEI/AAAAAAAABFs/8euYvMfgIr8/s320/Escurinho2.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Podemos dizer que, com esse núcleo aqui, já são 15 anos. Só que vai entrando
e saindo gente. Hoje é outro processo, mas, mesmo assim, a gente nunca parou,
nunca deixou de compor, de tocar, de viajar. Cada um, lógico, cuidando da sua
própria vida. Igor Ayres, carioca, toca baixo. Ele tem a banda Unidade Móvel,
que já está no segundo disco. Flávio “Boy” Teles toca guitarra. Já esteve em bandas
de rock, como Gargalo, Cobaio... Todo mundo criando suas coisas. Apesar de eu
não encontrar mais Alex Madureira com a mesma frequência de antes, a gente
continua criando, fazendo música juntos. Se for sentar para organizar, já tem
material para outro disco. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
O DVD abriu portas para você?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Não abriu um portão imenso, que tenha proporcionado visibilidade
internacional, mas, por exemplo, depois dele comecei a achar meu disco nas “Lojas
Americanas”, na Internet, a ouvir em rádios do Japão, da Áustria... Esse
processo foi feito pela Atração e, depois, pelo Itaú. Um belo dia o Itaú ligou
dizendo que iriam montar um estande na Feira da Música, em Fortaleza. Mandaram
as passagens, pagaram cachê, tudo. A gente sempre tocava de graça no Dragão do
Mar. Então, o DVD valeu por essas coisas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E a turnê que você fez com Chico César pela Europa?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Quando Chico César estava para lançar seu primeiro disco, me telefonou. Ele
não tinha gostado do resultado de umas gravações que tinha feito com Paulo Ró.
Passamos um mês produzindo, trabalhando e gravando. Quando estava perto de
entrar no estúdio, eu estava em João Pessoa, preparado para voltar para gravar.
Mas o negócio esfriou. Depois eu soube que Ivan Lins - que era o dono da
gravadora “Velas” - tinha dito que o material era muito bom e não deveria ser
produzido daquela forma. Ivan Lins desaprovou a produção que a gente tinha
feito. Então Chico resolveu fazer o trabalho só. Gravou “Aos Vivos” no teatro, com
Lenine e Lanny Gordon. Tudo o que Ivan Lins queria. Mas Chico me chamou para o
show de lançamento, no SESC Pompeia, junto com Lanny Gordon, Lenine e Simone
Soul. A platéia estava cheia de compositores e cantores, como Leila Pinheiro,
Ivan Lins... O bicho detonou ali, com aquele show. Um mês depois fui com ele
lançar o disco em Natal. Não tinha ninguém. Passou mais um mês e voltamos para
participar do projeto Seis e Meia, no Teatro Alberto Maranhão. Casa lotada.
Parecia que não cabia mais. Ainda o acompanhei em Fortaleza. Depois passei um
tempo sem tocar com Chico César. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Mas você não falou ainda sobre a turnê pela Europa.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-kFQVzXEEOHg/UIXXd54jaJI/AAAAAAAABFc/wRPkCdOwGgg/s1600/Escurinho10.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-kFQVzXEEOHg/UIXXd54jaJI/AAAAAAAABFc/wRPkCdOwGgg/s320/Escurinho10.jpg" width="240" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b> –
Simone Soul era quem o acompanhava. Mas quando Chico César foi fazer a turnê na
Europa, ela estava comprometida em tocar bateria para os Mutantes, no projeto
de retorno do grupo para se apresentar em Londres. Chico me ligou dizendo que
tinha uns shows na Europa, mas não queria ir só. Eram doze shows. A maior sorte
dele foi que eu estava em uma fase sem beber. E ele estava bebendo muito. Imagina
dois loucos, lá do outro lado do mundo, enchendo a cara. Mas a turnê foi ótima.
</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Quais suas influências? Que tipo de música você faz?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Minhas influências são a música regional, o violeiro, o embolador de coco, o
repentista, o forrozeiro, a literatura de cordel... Quanto ao tipo de música
que faço, o normal seria eu dizer: MPB. Mas, se for entrar em detalhe, o que
faço é uma mistura. Entra rock, coco, baião... Entra tanta coisa que o melhor
mesmo é simplificar e dizer que a gente faz é música popular brasileira mesmo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você comemorou 50 anos com uma festa, um grande show rodeado de amigos, em João
Pessoa.</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Quando você fala em 50 anos, eu penso logo em meio século. É muita coisa, mas
o importante é que a comemoração do meu aniversário foi massa demais. Apareceu
até gente que eu não sabia que tocava a minha música. Teve, por exemplo, “As
Calungas e Uirá Garcia” tocando um lado B do nosso disco que a gente nunca
toca. O bom é que além dos amigos normais, apareceram outras bandas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Escurinho modelo 50 anos abandonou a bebida e hoje é um homem regenerado?</div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Continuo degenerado, mas não bebo mais. Bebida me fez muito mal. Quem quiser
beber, que beba, não tenho nada contra. Mas eu não bebo porque sinto que não
tenho mais condição de beber. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como foi ganhar o festival de Serra Talhada, sua terra natal, um mês antes de
comemorar seus 50 anos?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-g5W9Pw-wEsA/UIXXYVUkblI/AAAAAAAABFU/waXRgtanDrs/s1600/Escurinho1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Eu estava em casa quando Ester falou que ia ter um festival em Serra Talhada
sobre o cangaço. Como eu não tinha música naquela linha, compus uma: “Nas
estradas de Bom Nome”. Fala sobre o cangaço sob a ótica da história da
Revolução de Princesa e do coronel José Pereira. Inscrevi-me sem esperar muito.
Classificado, quando fui disputar o festival ficaram sabendo que eu tinha
nascido lá. Dei entrevista para vários veículos de comunicação da cidade.
Depois da apresentação - a minha era a penúltima música - achei que tinha
vencido, pela reação do público. Na descida do palco, a TV Asa Branca me
entrevistou também como se eu tivesse sido o vencedor. Mas ainda faltava o
último se apresentar. No fundo eu pensava que ganharia o terceiro lugar. O
prêmio era dois mil e pouco. Eu já estava achando massa demais. Porém, o
apresentador começou a anunciar o quarto, o terceiro, o segundo lugar... E nada
de chamar meu nome. Eu pensei logo: “fodeu”. Foi quando me chamaram para
receber o prêmio de melhor intérprete. Imaginei que era uma premiação de
consolação: R$ 2 mil. Depois que recebi, quando estava descendo, me seguraram
no palco enquanto fui anunciado como o vencedor do festival. Voltei de Serra
Talhada com seis mil reais em dinheiro, porque era domingo e as agências
bancárias estavam fechadas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Quais os planos para o futuro.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-P9ubHa9u4NU/UIXXxwNoCdI/AAAAAAAABGI/VDCth_F-8rM/s1600/Escurinho6.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ESCURINHO</u></b>
– Com essa dificuldade toda de produzir show em João Pessoa, no ano passado me
veio a idéia de desenvolver um projeto chamado “Ciranda de Maluco”. A princípio
a gente quer tirar momentos dos shows para improvisar. Vamos aproveitar essas
improvisações para gravar um disco. Só que está ficando meio diluído. Tem show
que é gravado, mas outros não. Mas antes desse CD de cirandas, vamos lançar um
disco que já está pronto, chamado “Princípio Básico”. Depois desse lançamento é
que trabalharemos o disco de ciranda improvisada. </div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Se despeça do leitor do jornal.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u> </u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span id="goog_849642292"></span><span id="goog_849642293"></span>ESCURINHO</u></b>
– Foi ótimo dar essa entrevista aqui em Brasília na casa do meu amigo Roberto,
junto com meus amigos da Paraíba Alex Madureira, Ígor e Boy, da minha mulher Ester,
do maranhense Roque, da potiguar Inês e de mais tanta gente que está aqui se
divertindo, comendo churrasco e fazendo planos pro futuro. E vamos embora pra
frente, que a palavra do poeta é a bala e toda bala atingida tem a meta. </div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-AFf5Y3neShE/UIXa9b76eBI/AAAAAAAABG8/PE9WjMepxwM/s1600/Escurinho7.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-AFf5Y3neShE/UIXa9b76eBI/AAAAAAAABG8/PE9WjMepxwM/s400/Escurinho7.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-19309286945360289812012-09-20T10:30:00.003-03:002012-09-20T10:32:15.902-03:00Entrevista: Lindolfo Sales<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><u><span style="font-size: large;">NAVEGANDO PELAS
ESQUINAS DA MEMÓRIA</span></u></span></b></div>
<div align="left" class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kJ3yHRj7yt4/UFsZfnbNoNI/AAAAAAAABEI/T7WQWgD1BLM/s1600/20120903_170104.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><br /></a><a href="http://2.bp.blogspot.com/-8I3JOdHXSNA/UFsZm7cTEoI/AAAAAAAABEo/PEg1ReO6ojk/s1600/20120903_170123.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-8I3JOdHXSNA/UFsZm7cTEoI/AAAAAAAABEo/PEg1ReO6ojk/s320/20120903_170123.jpg" width="240" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A lição
do poeta – de que navegar é sempre preciso – foi um dos </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">principais ensinamentos
que Lindolfo Neto de Oliveira Sales absorveu da vida. E ele navegou, navegou e
navegou. De Pernambuco para o Rio Grande do Norte, de lá para o Rio de Janeiro,
Texas, Missouri... A vida estudantil e profissional foi o vento que impulsionou
Lindolfo por tantos portos mundo afora. Atualmente ele veleja dividido entre as
águas de Natal e Brasília. Foi sobre a vida que Lindolfo conversou com o </span><i style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">ZONA SUL</i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">. Uma vida de mares revoltos -
que ele soube contornar com perícia - e calmarias, às quais coube aproveitar.
Todos os leitores estão convidados a navegar ao sabor das palavras desse
engenheiro civil, que hoje auxilia na construção de melhores dias para a
previdência social brasileira. (</span><a href="mailto:robertohomem@gmail.com" style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;" target="_blank"><span style="color: blue;">robertohomem@gmail.com</span></a><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Lindolfo Neto de Oliveira
Sales...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Sim. Nasci em Recife quando
meu pai estudava Medicina lá, já que Natal não oferecia essa faculdade. Mas
minha família é de Canguaretama, antiga Penha. É a última cidade do Rio Grande
do Norte antes da Paraíba.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Como você se chama Lindolfo
Neto, é quase obrigatório perguntar sobre o seu avô...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Não conheci o meu avô,
Lindolpho de Oliveira Salles. Meu pai também praticamente não o conheceu. Ele
morreu quando o meu pai tinha três anos e a minha avó estava grávida de um
menino que foi batizado como Lindolfo Póstumo de Oliveira Sales.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – É um nome inusitado: Lindolfo
Póstumo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Levou anos até ele conseguir,
na justiça, modificar esse nome.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Mas, fale sobre o seu avô.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-oIs9Cl4O2uI/UFsZeFuMe3I/AAAAAAAABEA/ln6_o0gyYLg/s1600/20120903_170036.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-oIs9Cl4O2uI/UFsZeFuMe3I/AAAAAAAABEA/ln6_o0gyYLg/s320/20120903_170036.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – A família era de São José de
Mipibu. Ele casou com Dona Candinha, que era viúva. </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Estabeleceu-se em Penha.
Era dono do Engenho Murim e da Salina Pedra Fina.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Ainda se produz sal naquela
região?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Não. Aquela região, de fato, nunca
foi propícia para o sal. É uma região que chove muito. As salinas eram
pequenininhas. Mesmo assim, papai – que foi arrimo de família – sustentou os
irmãos com a produção da salina e do Engenho Murim, vendendo artesanalmente a
cachaça e o sal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – O negócio da cachaça foi o seu
avô quem colocou?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LNDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Sim, e a família herdou. Meu
pai era, dos filhos homens, o mais velho. Ele assumiu a administração. Meu avô
Abílio – com quem minha avó casou em segundas núpcias – era um homem excelente,
um poeta, um escritor e tocava vários instrumentos de ouvido. Mas não tinha
jeito para o comércio. Por isso papai assumiu logo cedo os negócios. Ele
transferiu a família para Recife e educou todos os irmãos lá. Eram quatro
irmãos do primeiro casamento de vovó e três do segundo casamento. Depois que
todo mundo se formou, ele começou a estudar. Primeiro fez Direito e, depois,
Medicina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Até quando a cachaça Murim foi
fabricada?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – A Murim chegou até 1969, quando papai resolveu
fechar e vender o engenho. Antes disso ele produziu um volume considerável de
cachaças e armazenou. Até hoje tenho um pequeno estoque. Não se encontra mais a
Murim que a gente fabricava. Depois que papai fechou o negócio, um tio dele,
João Teixeira – irmão de minha avó – resolveu entrar para o negócio da cachaça.
Ele instalou uns tubos e encheu de carvão ativado. Esse meu tio comprava várias
cachaças da região – entre elas a Olho d’Água – filtrava e vendia. Aproveitando
a marca, ele começou a vender a Murim Mirim, com rótulos estilizados. Com
aquelas embalagens bonitinhas, a Murim Mirim teve boa repercussão, na época.
Mas não era a Murim original. Essa só quem tem uma pequena reserva sou eu,
desse estoque que papai fez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Seu pai fechou o engenho para
estudar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Não. Quando ele fechou o
engenho, já era médico. Embora hoje tenha cachaça mais cara do que whisky,
naquela época essa bebida não tinha valor comercial. Meu pai estava ocupado com
seu laboratório de patologia, que havia crescido muito. Ele também era professor
da Universidade e suas atividades na área da medicina demandavam muito tempo.
Ficou sem condições de continuar no negócio. Como nenhum dos irmãos quis
assumir – todos já com suas vidas fora do Rio Grande do Norte – meu pai teve
que fechar e vender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Fale da sua infância em
Recife.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Morei lá até os nove de idade,
no bairro de Casa Amarela. Daquele tempo lembro quando vínhamos no final do ano
para o Rio Grande do Norte. A estrada Recife-Penha era toda de areia.
Atravessávamos aqueles canaviais, às vezes com enchentes, em cima de carros de
usina que andavam em cima de trilhos, os chamados “troller”. O povo empurrando
e a gente em cima. Era um verdadeiro circo. Éramos seis filhos, além da
empregada e da bagagem, num Decavê... Quando furava o pneu, tinha que tirar
tudo, para poder remendar. Meu pai mesmo consertava, com o motorista que ia com
a gente. Quando concluiu Medicina, em 1961, já com 31 anos de idade, ele foi
convidado pelo doutor Onofre para vir montar a cadeira de Anatomia Patológica
na UFRN. Papai já fazia tipo uma especialização em Patologia com o doutor
Barros Coelho, que era professor catedrático da UFPE.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Em Natal você foi estudar
onde?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ULtRrgwt6UU/UFsZg6NMJJI/AAAAAAAABEQ/1JPe3jtNcdM/s1600/20120903_170207.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-ULtRrgwt6UU/UFsZg6NMJJI/AAAAAAAABEQ/1JPe3jtNcdM/s320/20120903_170207.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Inicialmente no Instituto
Brasil, que era de Dona Carmen, e tinha também a Dona Pina, que </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">era irmã dela.
De lá fui pro Marista. Naquela época, para entrar no ginásio a gente tinha que
passar no exame de admissão. Era quase um vestibular. Papai, que também foi
formado em Matemática e era um homem muito inteligente, ajudou na preparação.
Até hoje me lembro dos problemas que resolvia e dele com a varinha na mão: se
eu errasse, era chicote nas pernas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Conte uma recordação dos
tempos do Marista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Eu fazia parte da equipe de
natação. Os principais times eram o Atheneu e o Marista, o resto eram escolas
coadjuvantes. Havia uma rixa muito acirrada entre as torcidas. A gente ia todo
dia para a Praia do Forte fazer exercício e nadar. Eu integrava a equipe de
quatro de revezamento do Marista. No segundo ano ginasial, depois de treinar o
ano todo, quiseram botar o filho de alguém importante para participar da equipe
de revezamento, no meu lugar. Ganharíamos a medalha de qualquer jeito, pois
éramos muito fortes. Na hora H quiseram me substituir. Reagi fazendo alguma grosseria
e o padre chamou meu pai e me expulsou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Onde você foi estudar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – A opção era o Atheneu, que era
perto lá de casa. Mas como eu tinha uma rixa muito grande, não quis ir. Outras
possibilidades eram a Escola Técnica Federal, que estava se firmando como uma
boa escola, e o Salesiano. Para minha sorte, fui para o Salesiano. Lá encontrei
colegas com os quais me entrosei como a qual me entrosei. como Fernando
Suassuna, Luiz Jackson e Juarez Alves, entre outros. Quando terminei o<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ginásio
tive que mudar de escola novamente, já que, naquela época, o Salesiano não
oferecia o científico. Devido ao meu espírito aventureiro, pedi a papai para ir
estudar no Rio. Ele deixou. Eu tinha 14 anos de idade. Não havia ônibus direto
de Natal para o Rio de Janeiro. Papai foi de carro me deixar em Recife. Lá
peguei um semi-leito da Progresso para o Rio. A viagem durou 48 horas.
Atravessamos o Rio São Francisco em cima de balsa, pois ainda não tinha a
ponte. Metade das estradas era de barro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Onde você ficou hospedado, no
Rio?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Nice - uma irmã de papai,
médica - morava entre o Flamengo e Botafogo em uma rua chamada Marquês de
Paraná. Antes de eu ir, ela alugou um quartinho, em uma pensão, para mim.
Ficava na Marquês de Abrantes, também entre Flamengo e Botafogo. Na rodoviária
do Rio, peguei um táxi, um fusca. Desci perto de onde morava a minha tia, para
procurar o endereço da pensão. Na hora de pagar a corrida, tirei uma nota de
dez cruzeiros novos da carteira. Era o Santos Dumont carimbado dez cruzeiros
novos. Entreguei ao motorista, mas ele não tinha troco. Lá perto tinha uma
padaria. Fui trocar o dinheiro. Quando voltei, cadê o táxi? Pensei que o cara
tinha levado minha mala, mas ele havia se apiedado de mim e tinha deixado a mala
no pé de um poste. Não cobrou a corrida e foi embora. Na pensão, fiquei em um
quartinho de empregada, com um beliche. Mas com ajuda da minha tia fiz exames e
fui aceito no São Clemente, que até hoje é um colégio excelente no Rio, e no
Bennet, colégio presbiteriano originário de um grupo da Inglaterra. Fiquei no
Bennet, uma escola maravilhosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Sua família pertencia à igreja
presbiteriana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Não, minha família é católica.
Foi a conveniência de ser próximo, em Botafogo, e também porque fui aceito. Foi
o primeiro ano que a escola abriu para aluno homem. Minha turma era pequena,
vinte alunos, com apenas cinco homens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Você já conhecia o Rio de
Janeiro? Em qual ano foi isso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Não conhecia. Terminei o
quarto ano ginasial no Salesiano e me mudei para o Rio em 1969. Fiz o primeiro
e o segundo científico e passei naquele exame do American Field Service (AFS).
Fui estudar nos Estados Unidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Vivendo no auge da ditadura militar,
no Rio, você notou alguma movimentação política?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-zg8nASvMSCQ/UFsZh7sX1wI/AAAAAAAABEY/JUAbCZlsxiE/s1600/20120903_170442.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-zg8nASvMSCQ/UFsZh7sX1wI/AAAAAAAABEY/JUAbCZlsxiE/s320/20120903_170442.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Eu lia muito, mas tinha ido
com a recomendação de papai para não me envolver. Assim </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">mesmo, presenciei e
participei de algumas passeatas, como aquela do estudante Edson Luis, morto lá
no Calabouço.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Fale sobre sua ida para os
Estados Unidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> - Passei na bolsa para fazer
intercâmbio de um ano. Fomos quatro selecionados no Rio Grande do Norte: eu e
três meninas. Elas depois se formaram em Medicina. Eu concluí Engenharia. Fui
para Dallas, no Texas. Fiquei com uma família maravilhosa. O local, Highland
Park, era como se fosse um distrito, uma cidade independente e muito exclusiva,
dentro de Dallas. Fui para uma escola muito boa, que era a Highland Park High
School. Fiz o terceiro científico lá. Fiquei de agosto de 1971 a agosto de
1972.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Você foi para os Estados
Unidos já dominando o inglês?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Eu tinha uma noção básica.
Diferentemente de papai, que falava algumas línguas sem nunca ter morado no
exterior, eu nunca tive essa tendência. Meu vocabulário era bom, pois eu lia
sempre a revista “Time” que papai assinava. Também tinha estudado inglês no
SCBEU e com uma professora particular, em Natal. Mas não era fluente, enfrentei
dificuldade. A sorte é que a minha mãe americana me ensinou muito. Também
cursei uma disciplina chamada “Speech”, que ensinava toda a técnica de falar em
público. Isso me ajudou muito no aprendizado da língua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Como era essa sua família
americana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Meus pais americanos tinham
três filhos: Ralph Cole Jones, o mais velho, fazia faculdade de advocacia. Ele
estudava fora. Era o texano típico: alto e vermelhão. Seu apelido era “Red
Dog”, “Cachorro Vermelho”. Joanne Jones estudava na França. Phillipe Jones era
o da minha idade. Jogava no time de futebol americano da escola. Lá eles levam
isso muito a sério. Ele era muito popular com as meninas, e até sobrava umas
pra mim. (risos). Meu pai era um camarada que, apesar de ser americano nato,
tinha espírito meio latino. Era um advogado bem sucedido em Dallas. Foi com
quem aprendi a gostar de velejar: Joe Hill Jones. Antes disso esteve em Natal e
nós velejamos com um “Day Sailer” no Rio Potengi, e de canoa lá em Pernambuco,
em um resort. Tanto ele como minha mãe americana, Margareth, morreram. Tenho
lembranças maravilhosas daquela época e mil histórias para contar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Dessas mil, compartilhe pelo
menos uma das que você gostaria de contar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kJ3yHRj7yt4/UFsZfnbNoNI/AAAAAAAABEI/T7WQWgD1BLM/s1600/20120903_170104.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-kJ3yHRj7yt4/UFsZfnbNoNI/AAAAAAAABEI/T7WQWgD1BLM/s320/20120903_170104.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Tinha um lago artificial, um
dos primeiros feitos para abastecer a cidade, que - depois que cumpriu sua
finalidade e foi desativado - passou a ser utilizado para a prática de esporte.
Era o “White Rock Lake”. Havia um clube de velejadores chamado “Corinthian
Sailing Club”. Meu pai era sócio e a gente ia </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">para lá velejar. Nessas ocasiões
eu levava um saquinho de amendoins e seis latinhas de cerveja que vinham
engatadas com um negócio de plástico. Geralmente era da marca Budweiser. No
sábado e domingo a gente ia participar dos campeonatos. Minha mãe ficava
doente! Phillipe não gostava de velejar. O companheiro de meu pai era eu.
Quando chegou a época de voltar para o Brasil, ele ainda insistiu para eu ficar
lá, estudando. Mas, como todo nordestino, sou muito apegado à família e, por
isso, voltei. Quando meu pai americano estava morrendo, Ralph me ligou. Meu pai
morreu consciente, com insuficiência cardíaca, falando comigo ao telefone. Foi
uma emoção muito grande.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – No retorno ao Brasil você foi
para Natal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Sim. Passei de setembro a
dezembro literalmente brincando, na praia, tomando cerveja com os amigos, sem
estudar, sem me preparar para o vestibular. Pensei que não fosse passar. Mas
dei muita sorte. Fiz pra Engenharia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Por que Engenharia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Eu pensava em fazer Medicina.
Tanto é que quando estudei no Rio, primeiro e segundo ano, orientei minha
formação para fazer Medicina. Estudei muito Biologia. Mas Engenharia, naquela
ocasião, tinha uma demanda grande. Meu pai, que tinha um tino empresarial muito
grande, estava indo bem financeiramente como médico. Conversando comigo ele
disse que se eu fosse Engenheiro, a gente poderia construir. Só que quando
terminei Engenharia, a profissão estava em baixa. Mas eu não quis mais voltar
para fazer Medicina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> –Você começou a trabalhar antes
de concluir o curso de Engenharia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-BkGnDXnCWTA/UFsZoe8OTdI/AAAAAAAABEw/Tn-5bMg2DEg/s1600/20120903_170229.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-BkGnDXnCWTA/UFsZoe8OTdI/AAAAAAAABEw/Tn-5bMg2DEg/s320/20120903_170229.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Estagiei durante pouco tempo na
Ecocil (Empresa de Construções Civis Ltda) e depois em uma empresa de fora, a
Procalco (Projetos Cálculos Construções Civis). No penúltimo ano, a Guararapes
partiu para um programa inusitado na época, pelo menos para o Nordeste, que era
um programa de trainees. Fomos selecionados três ou quatro pessoas. Foi um
aprendizado muito grande porque era chão de fábrica mesmo: engenharia de
produção. Nessa ocasião eu tinha uma namorada americana, irmã de uma moça que
veio fazer intercâmbio lá em casa. Minha família recebeu muitos americanos.
Quando o namoro foi ficando mais ou menos sério, pensei em juntar o útil ao
agradável e ir estudar engenharia de produção - que eu estava concluindo - na
universidade de Minneapolis, de onde ela era, uma das melhores do mundo. Com
aquiescência da direção da Guararapes, fiz a seleção e fui aceito. A Guararapes
pagaria o curso. Quando eu estava para ir, Nevaldo Rocha descobriu que tinha um
curso similar mais barato na universidade de Santa Catarina. Não concordei com
essa alternativa e saí da Guararapes. Imediatamente fui contratado pela Contral
(Trairi), onde trabalhei um ano e meio. Depois de oito meses sob o comando do
engenheiro civil Horácio Dantas - um dos melhores que conheci na vida – me
entregaram umas construções. Depois disso surgiu outra oportunidade na minha
vida, que foi a UFRN. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> - Como foi?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> - Na época o reitor era Domingos
Gomes de Lima, e o diretor do programa internacional da universidade era Solon
Galvão. Estava vindo a Natal uma missão da universidade de Missouri. Doutor
Wisxon era o diretor do programa internacional de lá. Ia dar uma palestra para
a escola de engenharia, e doutor Solon me convidou para ser o tradutor para
professores e alguns alunos. Quando terminou, doutor Solon me pediu para
continuar como intérprete durante o almoço na carne assada do Marinho, onde
Domingos ia almoçar com doutor Wisxon. Durante a refeição, eles estavam
acertando um convênio de treinamento de professores na universidade de
Missouri. Quando Wisxon estava enumerando as áreas que poderia cooperar,
entre elas a de engenharia de água, sanitária, o reitor perguntou se eu tinha
interesse de ir. Disse que sim. Isso foi em 1977, por aí. Fiz seleção, mandei
currículo e fui pra lá em 1978. A prova foi terrível, de tão longa. Tudo que
aprendi em engenharia caiu nesse teste. Já fui como contratado pela
universidade - professor pela CLT, 40 horas - para fazer mestrado em engenharia
civil com especificidade em engenharia ambiental e engenharia sanitária. Fiquei
dois anos e meio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> - E a namorada americana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> - Eu não tinha mais nada com
ela. Ao contrário, eu tinha começado um namoro com uma menina de Natal,
que até hoje é minha namorada: Angelina. Ela também era engenheira, havia
estagiado comigo na Trairi. Depois de um ano e pouco, eu já entrosado com a
universidade, Angelina também conseguiu ser contratada e foi fazer mestrado em
Missouri. Em 1979 viemos a Natal, casamos e voltamos pra lá. Terminamos o curso
em dezembro de 1980. Em 1981 ingressamos nos quadros definitivos da
universidade como professores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Até hoje você pertence aos
quadros da UFRN?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Sim, mas a vida fez com que eu
me afastasse um pouco. Em 1987, Geraldo Melo eleito, fui ser coordenador geral
do meio ambiente no estado. Substituí Cícero Onofre, que até hoje está na
universidade e é um excelente profissional. Ele não se adaptou àquela vida de
executivo. Cícero sempre foi, e até hoje é, um pesquisador nato. Com três meses
que estava lá, saiu e indicou meu nome. Terminei ficando até o final do governo
Geraldo Melo como coordenador do meio ambiente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Qual a principal contribuição
que você deu nessa área?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-71LPLaBCncA/UFsZp_boLwI/AAAAAAAABE4/z8fIT1NSxAA/s1600/20120903_170456.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-71LPLaBCncA/UFsZp_boLwI/AAAAAAAABE4/z8fIT1NSxAA/s320/20120903_170456.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Como isso foi antes da
Constituição de 1988, pude contratar pessoas. O órgão era </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">bastante pequeno,
então contratamos 15 técnicos, entre biólogos e engenheiros. Fizemos seleção
própria e o critério foi estritamente técnico. Tanto que até hoje é esse pessoal
que sustenta o Idema, que é o órgão do meio ambiente. Acho que formar essa
equipe foi uma das principais contribuições, junto com o trabalho de
conscientização da população. Lembro que nós fomos os primeiros a fechar o
Morro do Careca para recuperação das dunas. Fizemos muitas campanhas
educativas. Foi o início da conscientização sobre a importância do meio
ambiente no seu sentido mais amplo: não só de preservação, mas também na
conscientização do cuidado com o lixo. Isso marcou muito.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Terminado esse período?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Voltei para a Universidade e
aos poucos retomei meu trabalho de professor e consultor. Em 1994 Garibaldi foi
eleito governador. Apesar de naquela época eu não ter grande aproximação com
ele, existia a possibilidade de eu ocupar uma diretoria na CAERN, em virtude de
há anos eu ter participado de um grupo de trabalho na companhia. Não deu certo,
mas fui convidado para dirigir o Detran, em substituição ao doutor Quixadá –
técnico que havia passado pelo Denatran, em Brasília, e que havia sido
convocado pelo governador Garibaldi para reestruturar o Detran. O órgão era
realmente um problema muito sério. Era um caso quase que de policia: muito
desorganizado, muito precário, muito complicado. Garibaldi levou pra lá o que
podia encontrar de melhor, só que Quixadá não se adaptou à realidade local e,
com três ou quatro meses de governo, saiu. Antes de aceitar o convite,
consultei meu pai, que ainda era vivo. Era uma área que eu não entendia. O fato
é que terminei aceitando. Fui e fiquei até o final do governo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – No Detran, Quixadá entrou para
moralizar o negócio. Não se adaptou. Você enfrentou muita dificuldade para
cumprir essa determinação do governador?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Encontrei, mas eu sempre
gostei de desafios. Acredito que tenho tino de executivo, gosto de fazer
acontecer. Tinha autorização do governador do estado para ajeitar as coisas. Eu
digo sempre: quando você vai para um lugar que está muito desorganizado, o
menos que você faz é muito e aparece. Quando você vai para uma empresa muito
organizada, por mais que você faça, aparece muito pouco, porque as coisas já
estão encaixadas. Mas realmente a minha equipe fez muito. O governo Garibaldi
fez muito pelo Detran e pelo trânsito de Natal e do estado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Antes o órgão era usado como
moeda eleitoral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-C6OTKNY0S6g/UFsZl_tQYJI/AAAAAAAABEg/am9kJYZ5Tks/s1600/20120903_170119.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-C6OTKNY0S6g/UFsZl_tQYJI/AAAAAAAABEg/am9kJYZ5Tks/s320/20120903_170119.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Era. Tem episódios
interessantes nesse sentido, inclusive a farta distribuição de carteiras de
habilitação, mas não vou citar o nome de ninguém. Apareceu gente dizendo: “Lindolfo,
mesmo na época em que éramos oposição a gente vinha aqui e tinha direito a uma
cota de carteiras para distribuir no período eleitoral. Agora que somos governo
não temos?”. Eu respondia tranquilamente que o governador tinha sido eleito
justamente para acabar com aquela esculhambação. Só pude moralizar porque tive
o apoio irrestrito do governador Garibaldi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Você sofreu algum tipo de
pressão ou de ameaça tendo que contrariar tantos interesses?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Em uma situação dessas se
contraria muita gente. Mas ameaça física de pessoas da comunidade que se
locupletavam com aquilo, não recebi. Sofri ameaças de quem estava contrariado
por ter mantido outros esquemas mais espúrios. Mas era bandido mesmo, não me
atingia. A cultura nossa era aquela do “pode multar que a gente tira no final”.
Estacionamento proibido era faz-de-conta. Brequei, e não tem como brecar pela
metade. Tem que frear de vez e mudar a cultura. Isso criou muita polêmica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Do Detran você foi pra onde?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Em janeiro de 1999 fui ser
secretário de Planejamento e Finanças no segundo governo Garibaldi. Jaime Mariz
assumiu a Secretaria de Administração. Vicente Freire continuou na
Infraestrutura e José Jacaúna foi para a Tributação. Formamos assim o núcleo do
governo, junto com Paulo Roberto - que era o chefe da Casa Civil e depois que
foi para o Tribunal de Contas foi substituído pelo professor Luis Eduardo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Você ficou até o final do
governo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> –Em 2002, Garibaldi saiu para
concorrer ao Senado e eu continue com o vice-governador Fernando Freire até o
final. Nos últimos dois meses de governo, como eu não havia tirado férias em
momento nenhum nos dois anos anteriores, fui encontrar minha filha, que já
fazia faculdade em Nova York, e meu filho, que fazia intercâmbio na Nova
Zelândia. Voltei para Natal já nos finalmentes do governo. A eleição já havia
passado e Wilma tinha sido eleita. Voltei à Universidade, e quando já estava
pensando que ficaria por lá, recebi convite de Carlos Newton Pinto, que era o
presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª região - para ser o
coordenador de orçamento e finanças. Passei dois anos e retornei para a UFRN.
Em 2006 participei da campanha na qual o então senador Garibaldi não foi eleito
governador. Em 2008, quando ele assumiu a Presidência do Senado, fiquei vindo
muito a Brasília, como seu auxiliar. Terminado esse período, novamente voltei
para a Universidade, e, em 2010, quando estava fazendo doutorado, Garibaldi foi
convidado pela presidenta Dilma para ser ministro da Previdência Social e me
chamou para ser o seu chefe de gabinete. Estou lá desde janeiro de 2011.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Esse doutorado...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-yLKO0NLS0Qk/UFsZc-rqTMI/AAAAAAAABD4/ASJnuH7-D4E/s1600/20120903_165942.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-yLKO0NLS0Qk/UFsZc-rqTMI/AAAAAAAABD4/ASJnuH7-D4E/s320/20120903_165942.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – É um “gap” na minha formação.
Terminei engenharia em dezembro de 1976 e em junho de </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">1978 saí para fazer
mestrado. Em 1981 nós já tínhamos Ana Paula e em 1984 nasceu João Henrique. O
salário da universidade não era lá essas coisas, como ainda não é, até hoje.
Então a gente tinha que trabalhar. A diferença de mestre para doutor, naquela
ocasião, era algo quase que irrisório. E não havia estímulo nenhum para
encaminhar a vida por aí. A vida foi me levando para oportunidades fora da
universidade. Mas eu sempre tive a vontade de fazer doutorado, e agora com os
filhos já criados, surgiu essa oportunidade. É uma área muito interessante e
conexa com a que eu fiz: doutorado em desenvolvimento econômico e meio
ambiente. Iniciei em julho de 2010, já vou no segundo ano. Já concluí minhas
disciplinas todas, agora teria que fazer o trabalho de campo, de pesquisa. Mas
em função do cargo que ocupo, estou impossibilitado. Teria que optar entre me
afastar do Ministério, da chefia de gabinete, ou adiar do doutorado. Optei pelo
adiamento e estou afastado até janeiro de 2013, quando eu retomo meus trabalhos
por lá.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Nos Estados Unidos você
descobriu a paixão pela vela...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Sim, porque pelo mar eu já era
apaixonado. Meu pai sempre foi um aficcionado dos esportes marítimos. Papai era
muito habilidoso. Na época não existia fibra de vidro, e as coisas eram muito
caras. A praia da gente era Barra de Cunhaú, que fica a 13 quilômetros de Canguaretama.
Lá ele fazia as lanchas da gente com compensado. Tinha um mestre carpinteiro
chamado Abel, que tirava aqueles modelos de revistas náuticas americanas e os
construía. Papai comprava um motor de popa usado, consertava e a gente
brincava. Papai fez várias dessas lanchas. Lembro que aos 12 anos fiz um
pequeno sucesso lá na Barra - que era uma praia muito fechada e pouco
frequentada - praticando esqui aquático. Não existia aquilo. Papai tinha
comprado o par de esquis na Mesbla, em Recife. Hoje todo mundo esquia, mas
naquela época era algo que chamava atenção. O pessoal ia para a beira da praia
ver. Quando papai dava uma curva na lancha, eu passava quase que tocando na
areia, batendo na mão do pessoal que ficava Assistindo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Até hoje você ocupa cargos na
diretoria do Iate Clube do Natal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> –Sou conselheiro nato do Iate
Clube do Natal porque fui comodoro durante três anos: de 1994 a 1997. Sou muito
ligado ao Iate Clube em virtude dessa paixão pelas coisas da vela. Participei
de inúmeras regatas para Fernando de Noronha, a Refeno (Regata Internacional
Recife - Fernando de Noronha) e de Fernando de Noronha para Natal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Quais seus planos para o
futuro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">– Uma coisa que aprendi na vida é
que você tem que planejar sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Então fiz a pergunta certa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Fez, mas tenho outra resposta:
dificilmente as coisas acontecem conforme o planejado. Você planeja para ter um
rumo, mas a vida é tão cheia de surpresas, de atalhos e encruzilhadas que
dificilmente você vai para onde havia planejado. Há alguns anos eu planejava me
aposentar, com meus filhos já criados, e ir me dedicar a velejar. Mas aí minha
filha foi estudar nos Estados Unidos, foi ficando, ficando e já está há onze
anos lá. Ana Paula casou com Todd Wasson, um colega de faculdade americano, e
hoje está fixada na Califórnia, perto de São Francisco. Meu filho ainda está
cumprindo a formação dele. Terminou Direito e está fazendo Fundação Getúlio
Vargas. João Henrique Sales é noivo de uma menina lá de Natal, Larissa Lopes.
Ela tem um restaurante, o Basílicos. Larissa e Todd são pessoas maravilhosas.
Minha ideia era passar um ano na Baía de Todos os Santos, depois ir para
Angra dos Reis, subir para o Caribe, e quando estivesse já velho, sem condições
de velejar, encostar o barco e ir morar em Natal, Barra de Cunhaú ou
Pirangi, onde a gente tem um chalé. Como parece que essa velejada está ficando
complicada, respondo da seguinte forma a sua pergunta sobre meus planos
futuros: estou refazendo meu planejamento. Estou numa daquelas fases de
encruzilhada da vida, tendo que repensar e recalcular o planejamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – O que você gostaria de
acrescentar a essa entrevista?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-a_PiF7gPmSc/UFsZbfcTOBI/AAAAAAAABDw/UB1J35QxnXA/s1600/20120903_165930.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-a_PiF7gPmSc/UFsZbfcTOBI/AAAAAAAABDw/UB1J35QxnXA/s320/20120903_165930.jpg" width="240" /></a><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">LINDOLFO</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> – Quero falar que papai
sempre foi um patriarca e reuniu muito a família. Tanto é que </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">construiu um
prédio onde todos nós moramos. Em 1987 ele começou a pensar em usar um terreno
que tinha lá no Tirol, no loteamento Oswaldo Cruz. Depois de muitas idas e
vindas, a gente começando a poupar, fizemos o projeto e construímos. É um
prédio de sete andares e tem o nome de Edifício Ivonete, em homenagem a mamãe.
Ela continua sendo uma pessoa maravilhosa e uma grande mãe. No sétimo
andar desse prédio é onde a gente reúne a família para o lazer. Em
cada um dos demais seis andares cada um mora com sua família. Lá moram minhas
irmãs todas, com exceção de Luci, que mora em Recife e Ana Tereza, que faleceu
há oito anos e era casada com Porpino, o Marechal Porpa. Ana Cristina é casada
com Adilson Gurgel, advogado. Maria Helena, divorciada, tem duas filhas: uma
mora em Brasília e a outra é formada em Psicologia. Meu irmão Alexandre é mais
do que irmão, é um grande amigo. Ele é médico patologista e herdou a carreira
do meu pai. É dono do Laboratório Médico Professor Doutor Getúlio de Oliveira
Sales, em homenagem ao nosso pai. Allexandre hoje é um médico extremamente
respeitado e recentemente aderiu ao esporte da vela. É companheiro e confidente
de várias horas.</span></div>
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<br /></div>
Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-15290440838525694332012-08-21T17:03:00.000-03:002012-08-22T13:46:45.978-03:00Entrevista: Max Fonseca<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 20pt;">TEMPERO GAÚCHO EM SOLO POTIGUAR</span></b> </div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Vo0Xwv4lHow/UDPnSovPY5I/AAAAAAAABCQ/wfr2hidgu4A/s1600/max11.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-Vo0Xwv4lHow/UDPnSovPY5I/AAAAAAAABCQ/wfr2hidgu4A/s320/max11.jpg" width="175" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-pl2rIGoFf1o/UDPnSIw2geI/AAAAAAAABCI/T98kCovGIeE/s1600/max10.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-pl2rIGoFf1o/UDPnSIw2geI/AAAAAAAABCI/T98kCovGIeE/s320/max10.jpg" width="172" /></a> Segundo o próprio entrevistado, ele nunca tinha falado durante tanto tempo na vida. Foram necessárias quase 3 horas para o jornalista, empresário e “chef” Max Fonseca resumir a sua trajetória, iniciada no Rio Grande do Sul. Vivendo há muitos anos em terras potiguares, Max, atualmente - depois de ocupar funções e cargos importantes como a Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado, a editoria de Política do Diário de Natal e o comando do jornalismo das TVs Ponta Negra e Potengi, entre outras tarefas – toca o seu restaurante Galo do Alto, lá no Alto de Ponta Negra. Eu e o jornalista, parceiro e amigo Roberto Fontes sabatinamos Max Fonseca em uma mesa do seu restaurante, saboreando pratos criados por Carlos Eduardo Varela Raulino, o Tuca, na época em que ele e Max eram sócios no restaurante Forvm Local. De comum acordo, essa entrevista é uma homenagem a Tuca, um gênio da gastronomia potiguar que morreu praticamente anônimo. Sorte dos poucos que puderam desfrutar do seu talento como criador de pratos e fomentador de amizades. (<a href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a>)</div>
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<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b>: Como é seu nome completo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Maximiliano Fonseca de Souza, mas por esse nome nem eu me conheço. Talvez só o meu avô, que já morreu, e a minha mãe. (risos). Hoje sou Max Fonseca. Nasci em Porto Alegre e fiquei por lá durante 10 anos. Quando eu era guri, meu pai trabalhava naquele laboratório Warner Lambert, que vendia remédio, mas também fabricava os chicletes Adams. Ele costumava trocar caixas de chicletes por aqueles carrinhos-miniatura de ferro, os “Matchbox”. Com cinco ou seis anos de idade eu e meu irmão tínhamos uns mil “Matchbox”. Só que essa coleção ficava em uma prateleira lá no alto: eu e o Mano só olhávamos. Era nossa coleção, mas ela era intocável. No dia em que começamos a brincar com eles, os carrinhos foram consumidos mais rápido do que chicletes. (risos).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Quer dizer que você tem um irmão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Tenho dois. O Cris e o Mano, que se chama Alexandre. Tem horror ao nome, ele é conhecido também como Gaudério. Se pegar um Alexandre de frente ele dá uma palestra para convencer o cara a mudar de nome. Nossa diferença de idade é um ano e meio. Os dois hoje também moram em Natal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Além dos carrinhos de ferro, o que mais marcou sua infância?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-TgmWar3RZWg/UDPoBjyLNuI/AAAAAAAABCw/zGu-E7a0OBU/s1600/max15.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="228" src="http://3.bp.blogspot.com/-TgmWar3RZWg/UDPoBjyLNuI/AAAAAAAABCw/zGu-E7a0OBU/s320/max15.jpg" width="320" /></a><b><u>MAX</u></b> – O meu avô materno, Dorval Fonseca. Ele sempre foi um ídolo para mim e era um ícone para a família inteira pela integridade, ética, moral, exemplo de pai, de vô, de marido e também porque era um grande cachaceiro. Seu exemplo foi seguido: dos nove netos, incluindo as mulheres, só um não se tornou um grande cachaceiro. Os demais apreciam a bebida como ninguém. No verão vô bebia, diariamente, uísque, vinho branco e cerveja. No inverno ele bebia conhaque, vinho tinto e cerveja.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Sobrava tempo para ele trabalhar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Desde que me entendo por gente ele já era aposentado. Mas jogava tênis. Ele começou aos 40 anos e se tornou um grande desportista. Foi tesoureiro do Internacional no tempo em que dirigente trabalhava por amor à camisa. Quando o Inter completou 90 anos, o jornal “Zero Hora” publicou duas páginas com ele, mostrando o colorado mais velho. Ele tinha 92 anos. Meu vô sempre congregou a família nos tradicionais almoços de domingo na sua casa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Ele descendia de europeus?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – O vô era descendente de alemão, apesar de ser muito pequeno. O apelido dele era “Petit”. Quer me agradar? Me chame de Fonsequinha. Ele também era conhecido assim. Uma menina que trabalhava lá em casa me chamava de “seu” Fonseca ou de Fonsequinha. Eu ficava feliz por conta do vô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E o seu pai, como se chamava?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Gilberto. Em 1975, quando eu tinha dez anos, ele entrou na BR Distribuidora e a gente foi morar no interior, em Ijuí (cidade de colonização alemã a 420 quilômetros da capital). Em Ijuí eu era conhecido como negão, aqui em Natal me chamam de galego. (risos) Foi uma mudança muito importante na minha vida. Porto Alegre já era uma cidade grande e a gente tinha delimitações. Eu podia andar com a minha bicicleta na área restrita ao quadrilátero formado pelas grandes avenidas do bairro. Ijuí me deu experiência com a terra, com a natureza, com a liberdade. Meu pai herdou do vô o espírito de preservação da família. Tanto que, quando vim morar em Natal, dois anos depois ele veio também. Morei no interior dos dez até os 17. Meu pai me deu duas oportunidades fundamentais: a primeira foi poder morar no interior, a outra foi cumprir o que ele sempre disse: “meu filho, eu só vou te dar estudo”. Por mais que tivesse passado por dificuldades financeiras monstrolíticas, ele se esfolava, mas a gente estudava nos melhores colégios. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Fale um pouco sobre a sua mãe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-UDpJPB2yOd0/UDPnTQ1p5KI/AAAAAAAABCY/Ug0dz8-cJi4/s1600/max7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-UDpJPB2yOd0/UDPnTQ1p5KI/AAAAAAAABCY/Ug0dz8-cJi4/s320/max7.jpg" width="231" /></a><b><u>MAX</u></b> – A mãe – Silvia - no início era aquela típica mulher dos anos 1960. Largou o estudo para casar e virou dona de casa. Quando fomos para o interior, Cris, o meu irmão mais novo, tinha quatro anos. Um tempo depois, acho que quando ele completou dez, ela resolveu fazer faculdade. Ela tinha começado Filosofia, enquanto não casava, mas não concluiu. Largou para casar e resolveu trabalhar. Começou em um posto de saúde, como auxiliar administrativo. Viu que esse emprego não era bom e resolveu estudar Nutrição na universidade da cidade onde a gente morava. Formou-se aqui na UFRN. Ela foi aquela mãe genuína, sempre presente em casa, do tipo que passava mertiolate e botava pra estudar. Mas quem obrigava a comer era o pai. Ele era o cara da comida. A mãe era dos doces. A minha história de comida vem do pai, por causa da minha avó paterna. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Seu interesse pelo jornalismo vem do Rio Grande do Sul?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Não. Em Ijuí, quando completei 17 anos, que chegou a época do vestibular, eu pensava em fazer Ciências Sociais. Fui para Porto Alegre porque a faculdade de Ijuí era particular e tinha poucos cursos. Não fiz Sociologia porque a mãe ficou meio preocupada. Na cabeça dela, cursar Ciências Sociais era optar por não fazer nada na vida. Por influência de um daqueles professores que a gente tem e que considera mestre, fui cursar Química. No profissionalizante fiz Auxiliar de Laboratório de Análises Químicas. Tirava 10 com os pés nas costas, só ouvindo o professor falar. O cara era uma máquina. Passei no vestibular para Química na federal do Rio Grande do Sul e fui morar em Porto Alegre, com meus avôs. Em dois anos e meio de universidade, fui aprovado apenas em quatro cadeiras. O que me dava tesão de verdade era o centro acadêmico e a edição do “Informol”, que era o nosso jornal. Aliás, foi por causa de um encontro nacional de estudantes de Química que hoje moro em Natal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como assim?<o:p></o:p></div>
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<a href="http://1.bp.blogspot.com/-JqReWhEuIDE/UDPoD-KZpeI/AAAAAAAABDI/pAFkaP8_R9U/s1600/max3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-JqReWhEuIDE/UDPoD-KZpeI/AAAAAAAABDI/pAFkaP8_R9U/s320/max3.jpg" width="270" /></a><b><u>MAX</u></b> - Vim por conta de uma menina que namorei lá. Eu era presidente do centro acadêmico e a única escola federal que não tinha representante inscrito no congresso que estávamos promovendo era a de Natal. Como sobrou dinheiro para organizar o evento, mandei para a UFRN um comunicado oferecendo passagem, estadia e alimentação para a universidade mandar um representante. Mandaram essa guria. No último dia, a gente deu aquela ficada de 24 horas. Três meses depois eu morava com ela em Natal. Na verdade eu só queria um mote para me mandar. Eu já estava abusado de lá, não gostava mais. Entrei na faculdade com o sonho de ser professor de Química. Mas tinham implantado um pólo petroquímico em Triunfo, no Rio Grande do Sul, e a universidade se virou para a Química Industrial. Peguei tanto abuso que consegui transferência para o curso de Química da UFRN, mas nem me matriculei.</div>
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<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você veio sem nada em vista?<o:p></o:p></div>
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<b><u>MAX</u></b> – Sim. A transferência saiu dois anos depois. Quando cheguei, fui morar com a namorada. Ela estudava de 2ª a 6ª e trabalhava nos finais de semana. No sábado, ela ia para Goianinha e voltava no domingo de noite. Ajudava o pai que comercializava um monte de coisa na feira. Quando vim, meu pai perguntou o que eu queria. Pedi um valor para passar dois meses e prometi não pedir mais. Assim foi. No primeiro mês fiquei dando risada: acordava de manhã, varria a casa, lavava roupa, cozinhava e esperava a namorada para almoçar. Depois que ela voltava para a faculdade eu ia para o bar de Miranda Sá, perto da Fundação José Augusto. Tirava as tardes conversando com João da Rua, Carlos Astral, Falves Silva, Volonté, Jota Medeiros... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Trabalhar que é bom, nada...<o:p></o:p></div>
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-hmxeKfwu1WM/UDPoDFvfHjI/AAAAAAAABDA/bb6LKlVrQrg/s1600/max2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-hmxeKfwu1WM/UDPoDFvfHjI/AAAAAAAABDA/bb6LKlVrQrg/s320/max2.jpg" width="277" /></a><b><u>MAX</u></b> – Não foi bem assim. Uma amiga que trabalhava na Rádio Rural viu que na bolsa de emprego anunciada pela emissora tinha uma vaga de auxiliar de “pizzaiolo” no Saravá. Fui, mas fiquei como auxiliar de cozinha. Fiquei 15 dias, até ler no jornal a notícia de que um restaurante ia abrir e precisava de gente. Era o Café de Paris, que abriu em frente ao Clube Bandern. Fui trabalhar como auxiliar de um cozinheiro que tinha trabalhado embarcado. Ele logo foi demitido, acusado de estar roubando na cozinha. Fui promovido a cozinheiro. Mas eu tinha o sonho de abrir um bar. Quando saí de Porto Alegre, um tio meu perguntou: “o que você vai fazer por lá?”. Eu disse que ia abrir um bar. Ele perguntou com qual dinheiro. Eu pedi que ele não fizesse pergunta difícil. Ele então falou que tinha um dinheiro guardado, e que se um dia eu precisasse, falasse com ele.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O Café de Paris marcou época em Natal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Lá aconteceram histórias malucas. Por exemplo: na inauguração da casa, o dono, um alemão, mandou chamar um bocado de gente e orientou a gente a fazer estrogonofe com arroz branco. Só na hora de servir foi que ele lembrou que não tinha comprado prato. Mandamos para as mesas uma travessa com estrogonofe, outra com arroz e vários garfos cravados em cima do arroz. (Risos). Algum tempo depois, o Boliviano botou à venda a Cantina Bella Andina. Ele queria vender por 10 milhões, era o tempo dos milhões, ainda. Liguei para o meu tio, ele disse que poderia me emprestar três. Eu tinha outros três guardados na poupança. Esse dinheiro eu tinha por causa de Fonsequinha. A cada neto que nascia, ele abria uma poupança. Além desse depósito inicial, todo mês ele pegava uma quantia e dividia entre os netos e depositava no banco. No aniversário, vô dava mais uma chapuleta. Com seis milhões na mão, só ficavam faltando quatro. Liguei pra mãe, que tinha acabado de receber uma herança, uns bois. Ela negou. Mãe viu aí a oportunidade de eu não conseguir sobreviver em Natal e voltar. Mas o pai fez um empréstimo e mandou restante que faltava. Dos dez que arrecadei, paguei nove ao Boliviano e fiquei com um milhão, para capital de giro. Foi assim que comprei a Bella Andina e transformei em uma bodega que vendia tudo. O povo da Rua do Motor ia comprar lá. Eu vendia óleo de soja em retalho. Tinha uma conchinha feita de flandres para medir. O cara pedia cinquenta centavos de óleo, eu media e colocava no vidrinho que o cliente levava. Vendia “conselva”, a forma popular de carne em conserva. A gente comprava aquele arroz Ros Top, e, quando o cara não tinha dinheiro, vendia o saquinho individual. O povo saía do Chaplin para tomar uma “chamada” de cachaça com a gente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Então também era bar. <o:p></o:p></div>
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<b><u>MAX</u></b> - Sexta e sábado à noite, virava rock and roll. Tinha dois buracos na parede que permitiam a gente botar duas caixas de som para o lado de fora. O volume do som dava para ouvir lá em cima da Ladeira do Sol. Era pra arrombar, virava a noite. É bom registrar que lá não tinha água, a gente precisava pegar uns galões pra lavar as coisas. Eu botei água bem depois. O freezer também não funcionava. Sexta e sábado eu comprava cerveja e botava toneladas de gelo em cima. O nome era “Barumbas”. Era uma gíria que a gente usava. “Vamos tomar uma cervejumbas, vamos para um barumbas...”. Nessa época Mano veio para Natal. Como eu gastava pouco, sobrava dinheiro. Tanto que eu dei uma grana para o meu irmão e paguei ao meu tio. Ao pai eu não paguei, ele me dispensou. Depois vendi o negócio. Tinha comprado por 10 milhões e vendi por 40 milhões. Era época de inflação alta, mas não era ainda a dos 80% por mês. Com 21 anos de idade, juntei esse dinheiro com uma grana que eu tinha na poupança e resolvi viajar pelo Brasil inteiro. Foram oito meses viajando. Quando voltei, fui conferir um investimento que eu tinha feito na bolsa, por intermédio do Citibank. Dos 30 que eu tinha aplicado, só restavam 22. Tinha dado problema. <o:p></o:p></div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b> – De volta a Natal, o que você inventou para tocar a vida?<o:p></o:p></div>
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-p-YY5uezByA/UDPoCo6_sWI/AAAAAAAABC4/RbtkpNpVJq4/s1600/max16.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="215" src="http://3.bp.blogspot.com/-p-YY5uezByA/UDPoCo6_sWI/AAAAAAAABC4/RbtkpNpVJq4/s320/max16.jpg" width="320" /></a><b><u>MAX</u></b> - Quando o dono do Café de Paris soube que eu tinha voltado, sugeriu que eu abrisse um negócio na área atrás do seu bar. Montei o Chernobyl. Só paguei aluguel depois que abri, em novembro de 1986. O alemão sabia que se desse certo, nós polarizaríamos aquela área e ganharíamos dinheiro. No verão de 1987 o Chernobyl estourou. Rui, que era meu sócio, não gostava de barulho, de gente, nem de confusão. No dia que fomos abrir o bar, Rui me disse: “olha, Max, aqui na frente eu não venho”. Em compensação, ele ficou responsável pela cozinha. E na cozinha dele qualquer pessoa podia comer no chão, de tão limpa. Quando fechava o bar, à noite, ele pegava uma seringa com agulha e ia identificar furinhos de formiga para matar. Era uma loucura. Tempos depois, com Carlos Gurgel, lançamos o jornal “Sol que Faltava”, em alusão ao fato de Natal ser tratada como a Cidade do Sol. As três edições foram editadas na gráfica da Cooperativa dos Jornalistas. Luciano de Almeida, o presidente da cooperativa, a cada edição que eu levava para rodar perguntava o porquê de eu não cursar Jornalismo. Eu não tinha tempo nem para me coçar, achava a ideia um absurdo. Foi quando apareceu o Tuca...</div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b> – Tuca é o Carlos Eduardo Varela Raulino, na época estudante de Jornalismo, que foi seu sócio no restaurante Forvm Local.<o:p></o:p></div>
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<b><u>MAX</u></b> – Tuca era uma figura, merecia estátua e livro contando a sua história. Imagine um cara que consegue reunir 25 pessoas para assistir o capítulo de uma novela na sua casa. Esse era o Tuca, ele tinha um imã do tamanho de Natal. Aliado ao fato de ser um criador de pratos. O Chernobyl estava indo tranquilo. Tuca ia morar com amigos, mas não deu certo. Então fomos morar juntos. Daí surgiu a ideia de abrir o restaurante. Quando o conheci, Tuca já estava separado de Júlia. Ele não tinha um real. Mas Tuca é neto do barão de Ceará Mirim, Manuel Varela do Nascimento. Ele era sobrinho da mulher de Arnaldo Gaspar. Arnaldo Gaspar sempre gostou muito dele e deu a grana que Tuca precisava para abrir comigo o Forvm Local. O restaurante ficava na subida de Mãe Luiza, em frente a Faz Propaganda, onde hoje é o escritório de Armando Holanda. Tinha sido uma escola estadual. Era um prédio abandonado. Tivemos que reconstruir o imóvel, incluindo as instalações elétricas e hidráulicas. Abrimos com uma proposta diferente, não existia nada parecido em Natal. No começo ficamos em dúvida se o nome seria “Forvm” ou “Ágora”, palavras romana e grega que significam a mesma coisa. A decisão foi quando tivemos a certeza que se o restaurante se chamasse “Ágora” ia virar “Agora” bem rapidinho. Mas apesar de “Forvm” ser romano, todos os nomes dos pratos eram de filósofos gregos: Platão, Aristóteles, Xenofonte, Sófocles... <o:p></o:p></div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b> – Vocês transformaram o local em um espaço multimídia.<o:p></o:p></div>
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<b><u>MAX</u></b> – Nosso restaurante não deixava de ser um fórum ou uma ágora. Além do restaurante, a gente mantinha lá uma loja especializada em livros de literatura e em DC Comics, uma loja de discos raros de rock and roll (era o tempo dos bolachões) e uma galeria de artes. Foi muito avançado para Natal da época. O problema é que a gente tinha uma galera que queria frequentar, mas não tinha bala; e outra que tinha bala, mas se assustava um pouco. Na sexta e sábado a gente fazia música ao vivo. Tinha uma banda que a gente botava lá composta por uma viola, um violino, uma bateria e uma guitarra, tocando clássicos e rock and roll com fundamentos na música erudita. O negócio era maluco, mas muito bom. Mas a galeria e a loja de discos foram para o espaço e só sobrou o restaurante. No dia em que abrimos, oferecemos três pratos: um camarão, um peixe e uma carne. O filé era alto, com molho de vinho. A gente nunca botou o nome de molho madeira porque para ser molho madeira tem que ser vinho madeira. Todo mundo chama de molho madeira, mas usa vinho tinto comum. Esse filé era acompanhado de arroz branco e batatas fritas. O peixe era grelhado com arroz branco e batata cozida. E o camarão era grelhado com arroz branco e batata frita. Isso no primeiro dia. Depois Tuca transformou a cozinha em um laboratório e começou a criar. As cozinheiras - um pessoal simples, do interior - se assombravam: às vezes elas pediam minha ajuda, dizendo que Tuca estava doido na cozinha. Quando ele saía de lá, tinha molho até no teto. Mas ele vinha e trazia um negocinho e pedia para eu provar. Eu botava aquilo na boca e sentia vontade de bater nele, de tão delicioso e gostoso. <o:p></o:p></div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b> – Essas ideias vinham do nada?<o:p></o:p></div>
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<a href="http://1.bp.blogspot.com/-VAPoY3m5dMw/UDPoBMPAAkI/AAAAAAAABCo/Lbm1NaICklI/s1600/max14.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-VAPoY3m5dMw/UDPoBMPAAkI/AAAAAAAABCo/Lbm1NaICklI/s320/max14.jpg" width="232" /></a><b><u>MAX</u></b> – Do nada e das experiências de vida que ele tinha. Tuca nasceu em berço de ouro. Lembro que todo fim de ano a gente passava na mansão da ex-mulher de Roberto Varela, Elenir. Antes de ir para os réveillons, a gente ia lá e Elenir botava um “blue” e caviar, porque ela sabia que Tuca gostava. Ele fazia o bacana, comia o caviarzinho dele, e depois a gente ia para a gandaia. Tuca sabia o que era bom, ele tinha um paladar descomunal. Eu tenho muito disso também, mas ele era demais. Sabe o que é abrir a geladeira e não ter quase nada e 40 minutos depois Tuca sair da cozinha com um manjar? Aí ele foi criando os pratos do Forvm, como o Filé Platão (um mignon alto ao molho de vinho com arroz indiano e a batata rösti), o Frango Indiano (empanado com arroz indiano e purê de maçã) e a Bavette Bourgnone (uma pasta ao molho de vinho e cubinhos de filé mignon). Esses três pratos eu trouxe do Forvm e sirvo aqui no Galo do Alto, o meu atual restaurante, mas ele criou muito mais. Tuca misturava o requinte com coisas simples, que dava para sentir o sabor dos ingredientes. Ele sentia prazer em fazer e em comer, tinha o dom da criação.</div>
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<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como era a gastronomia de Natal na época da inauguração do Forvm?<o:p></o:p></div>
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<b><u>MAX</u></b> – A grande inovação do Forvm foi o empratado. Natal não tinha visto isso e a cidade não era como hoje, que o pessoal viaja muito. A gente servia o prato individual na mesa e nego dizia: “e é PF?”. Esse era o tempo das travessas. Os restaurantes em Natal eram Xique-Xique, Abbots e Nemésios, que ofereciam o mesmo cardápio: frango a cubana, camarão internacional, lagosta ao termidor e filé chateubriand, geralmente em porções para dois, em travessas. A gente entrou com pratos individuais já montados e com decoração. Tuca não só era talentoso em preparar a comida, ele também montava o visual. Isso foi um choque, junto com os novos ingredientes que passamos a usar e o ponto de cocção do filé... A galera olhava, dizia que estava cru e pedia para assar mais. Certa vez, eu estava no balcão, um cara ao invés de levar o filé à boca, levou ao nariz. Como eu o conhecia, fui lá perguntar se estava tudo bem. Ele respondeu que a comida estava legal, mas o cheirinho era meio esquisito. Eu tive que explicar que ele tinha pedido um prato que levava molho de roquefort. O cheiro forte era do queijo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Tuca o inspirou muito como cozinheiro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Até eu conhecer o Tuca, eu era o “rei do brega”. Conhecia a cozinha tradicional. O Tuca não só me apresentou ingredientes e técnicas, mas refinou o meu paladar. Ele me apresentou à alta gastronomia. Meu pai me apresentou para a gastronomia e o Tuca me botou pra cima. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por que o Forvm não deu certo? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tmMxF6QydKU/UDPoEmcVEsI/AAAAAAAABDQ/zd4JQO5JQo4/s1600/max4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-tmMxF6QydKU/UDPoEmcVEsI/AAAAAAAABDQ/zd4JQO5JQo4/s320/max4.jpg" width="227" /></a><b><u>MAX</u></b> – Porque a gente agradava a um público que não tinha dinheiro e não agradava ao que tinha grana. O bacana achava muito louco e o muito louco achava careta, sacou? E os que achavam bom, não tinham dinheiro para bancar. Quando o restaurante não deu certo, Tuca foi morar no Rio de Janeiro. Lá ele teve um aneurisma e passou nove anos em cima de uma cama, vegetando, antes de morrer. Na última vez em que estive com ele, a enfermeira colou durex nos seus olhos para que ficassem abertos. Ela botou a mão dele no meu braço. Com uma mão ele segurou e com a outra ficou batendo no meu braço. Mas eu não sabia se ele estava reconhecendo que eu era o Max, ou se sequer distinguia que tinha uma pessoa ao seu lado. Passei duas horas falando com ele e depois fui embora.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Fechado o Forvm, você se dedicou ao jornalismo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Logo que abriu o Forvm, entrei no Jornalismo da UFRN. No primeiro ano de curso, fui com Veridiana Pedrosa atrás de Jânio Vidal, que era nosso professor, pedir um estágio na TV Tropical, que estava passando por uma reformulação. Comecei na TV, mas a coisa estava meio baldeada e passei para a rádio. Fiquei uns três meses. Transmiti ao vivo a manifestação dos caras-pintadas na Princesa Isabel e acompanhei a apuração do primeiro turno da eleição para prefeito de Natal realizada em 1992. Como a candidata de José Agripino, Ana Catarina, não passou para o segundo turno, recebi o famoso pé. Demitido, fui procurar Roberto Medeiros, na Rádio Poti, e disse a ele que ia narrar o segundo turno na emissora, ele querendo ou não, me pagando salário ou não. Trabalhei no dia da eleição e fui cobrir a apuração no ginásio do Campus. Henrique Eduardo Alves era o favorito contra Aldo Tinoco. As primeiras zonas apuraram os votos e proclamaram o resultado. Henrique estava na frente. Faltava o Campus. Quando todas as urnas foram computadas, o juiz daquela zona eleitoral disse que estava muito cansado e que só totalizaria o resultado no dia seguinte. Peguei o carro e fui para o Diário. Bati na sala do superintendente, Albimar Furtado. Ele estava com Cassiano Arruda, Vicente Serejo e outros da cúpula. Entrei dizendo que Aldo Tinoco era o prefeito eleito de Natal. Riram e disseram que eu estava ficando doido. Expliquei a minha tese: o esquema de Henrique mantinha duas pessoas por mesa apuradora. Quando os votos eram apurados em cada uma delas, o resultado era proclamado. O pessoal de Henrique tomava nota e enviava, por motoboys, para a TV Cabugi. Todos os votos foram apurados, só faltou o juiz totalizar e anunciar o resultado. Se Henrique tivesse vencido, ele e os veículos do grupo Cabugi já estariam fazendo a maior farra. Mas o silêncio era absoluto. Cassiano olhou para mim e disse: “vou mudar minha coluna”. Pouco tempo depois Carlos Alberto - que apoiava Aldo – entrou no ar, na TV Ponta Negra, exigindo que o juiz voltasse e anunciasse o resultado. O juiz voltou e anunciou Aldo Tinoco como novo prefeito de Natal. Foi um gol que fiz no jornalismo e que me rendeu, um mês depois, convite para cobrir as férias de Barbosinha, na editoria de Política. Só saí de lá quando quis. O editor, Luciano Herbert, não só me ensinou, mas me botou na cara do gol em várias ocasiões. O filé eram as buchas, que ninguém queria fazer por ter outros compromissos fora do jornal. Como eu não tinha nada, sobrava para mim. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Em 1994 você saiu do Diário de Natal para ser secretário de Comunicação Social do governador Vivaldo Costa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-u-8vLm-daYI/UDPnRm3nUSI/AAAAAAAABCA/2qXASLwqYYs/s1600/max1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="198" src="http://3.bp.blogspot.com/-u-8vLm-daYI/UDPnRm3nUSI/AAAAAAAABCA/2qXASLwqYYs/s320/max1.jpg" width="320" /></a><b><u>MAX</u></b> – Foi outra loucura. Antes disso, com um ano e meio trabalhando como repórter de Política do Diário e com apenas meio ano de formado, virei assessor de imprensa da secretária Estadual de Saúde, Nilma Rodrigues, que na época era casada com um primo do então governador Vivaldo Costa. Eu trabalhava lá pela manhã e à tarde no Diário. Todo dia ela me chamava em seu gabinete para reclamar que eu estava batendo no governador. Eu respondia que apenas estava reportando o que ele tinha feito ou deixado de fazer. “Max, mas você trabalha para ele”, a secretária argumentava. Eu corrigia: “de manhã, mas de tarde eu trabalho no Diário de Natal. Aqui na Secretaria eu só falo bem dele, mando release”. Quando o governador foi substituir João Batista Machado, que havia sido assessor de Comunicação de José Agripino, o pretendido para o cargo era Gerson de Castro. Ele não aceitou e me indicou. Eu estava decidido a não assumir, mas topei porque os colegas do Diário prometeram me ajudar. Entrei no fim do governo, foi uma experiência maluca, claro. Apanhei pra caramba. Mas cair e errar só não presta se você não aprendeu. Perto do final do governo, como eu sabia que meu negócio era jornalismo político, decidi trocar Natal por Brasília. Eu ia para batalhar emprego, mas, por intermédio da hoje prefeita de Natal e minha ex-colega de faculdade, Micarla, consegui emprego no gabinete do seu pai, o deputado federal Carlos Alberto de Sousa. Dois meses depois, Carlos Alberto me chamou para jantar. Ele disse que seria candidato a prefeito de Natal e que me queria como diretor de jornalismo da TV Ponta Negra. Passei um mês no SBT com Boris Casoy, duas semanas dentro do “Aqui e Agora” e vim dirigir a Ponta Negra. Fiquei um ano e meio. Depois que saí da emissora, voltei para o Diário como editor de Política e em seguida acumulei a função com a direção da TV Potengi. Peguei a TV no zero e sem dinheiro. Deixei toda a estrutura. Quando passei a assessorar Geraldo Melo, deixei o Diário de Natal. Fiquei bons anos na TV e assessorando Geraldo. Saí da TV e fiquei só como assessor de Geraldo. Esse foi meu último emprego no jornalismo. Fiquei quatro anos com ele e tocando o Galo do Alto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como surgiu o Galo do Alto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Abri o Galo com o meu irmão e a minha cunhada, em dezembro de 2003. No primeiro ano eu vinha mais como cliente. Depois desse período eles saíram e eu tive que contratar um gerente administrativo para trabalhar durante o dia e um gerente de casa para a noite. Esse esquema continuou até eu deixar a assessoria de Geraldo Melo. Aí passei a me dedicar inteiramente ao restaurante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E sua candidatura a deputado federal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Foi tiração de onda. Gastei 500 reais na candidatura a federal e tive voto em 70 municípios. Minha candidatura era uma piada, tanto é que o slogan era “Max, a onda”. Na propaganda eu tocava música do Gorillaz, do Charles Brown Júnior e até dos Titãs: “a gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor”. Levei um processo dos Titãs por causa disso. Um processo não, um princípio de processo. Veio uma advogada aqui em Natal me entrevistar, um ano depois. Eu disse que os Titãs iam para o meu bar, e que minha candidatura tinha sido uma brincadeira. Ela aconselhou que da próxima vez eu pedisse autorização que eles liberariam. Eu tive 1% dos votos necessários para me eleger. Precisava de 70 mil, mas tive 720 votos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você é o atual presidente da Abrasel.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-e-P0LnoGmFw/UDPoAur3uTI/AAAAAAAABCg/9mb63ld3KRk/s1600/max13.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="234" src="http://2.bp.blogspot.com/-e-P0LnoGmFw/UDPoAur3uTI/AAAAAAAABCg/9mb63ld3KRk/s320/max13.jpg" width="320" /></a><b><u>MAX</u></b> – A Abrasel é uma entidade que surgiu por uma conveniência governamental. Na época em que o turismo começou a se desenvolver no Brasil, era necessário criar uma associação que congregasse as empresas de entretenimento e lazer. Por isso a sigla Abrasel. Em algum tempo essa associação miou e ficaram só os bares e restaurantes. Na verdade, a Abrasel representa o setor de alimentação fora do lar. Pega desde padaria que tem self service, lanchonete, sorveteria, restaurante e bar.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Nessa área de alimentação fora do lar, o RN está preparado para a Copa do Mundo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Está sobrando. Com relação a Copa, a Abrasel é a única entidade do setor de turismo que apresentou um projeto novo ao país. Se você chegar hoje em qualquer uma das 12 cidades-sede, vai encontrar em cada uma delas três pontos de informação turística: aeroporto, rodoviária e centro da cidade. Estamos propondo aos governos municipal, estadual e federal transformar os bares e restaurantes associados a Abrasel em três tipos de lugares. O principal é o TIP (Turist Information Point). Sem custo para a população, o restaurante virará um ponto de informação turística. Vamos fazer dez desses em cada cidade. O Poder Público vai instalar terminais de informática para que o turista possa ter acesso às informações turísticas da cidade. O dono, ou o gestor principal do estabelecimento, terá que ser versado em pelo menos três línguas. Além dos dez TIPs. Os demais bares e restaurantes trabalharão com informações básicas para os turistas. A terceira alternativa – já estamos trabalhando nela em Ponta Negra - é capacitar o barraqueiro e o ambulante credenciado na Prefeitura para conseguir dar um apoio ao turista em dez línguas. O cara anda com um papel plastificado com bolinhas coloridas. O turista chega falando alemão, o camelô olha, pega o papelzinho e o turista identifica a língua que ele fala, com as informações turísticas principais naquele folheto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O Rio Grande do Sul lhe faz muita falta?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Gosto muito do meu estado, mas hoje me considero um nordestino feroz. Vou confessar uma coisa: até admito que falem mal do Rio Grande do Sul. Não gosto, mas admito. Mas do Nordeste, especialmente do Rio Grande do Norte, não permito. Acho que fiquei assim depois de conhecer o estado viajando com Geraldo Melo e Carlos Alberto. Geraldo me apresentou o RN profundamente. Além disso, foi aqui que conheci Luísa, a mulher com quem casei. Primeiro passamos sete anos casados e tivemos dois guris. Nos separamos e, sete anos depois, casamos de novo. Tivemos outro filho e lá vão seis anos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como o leitor pode ter acesso a mais informações sobre o Galo do Alto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-8df-1y7g5sw/UDPnPlgEz8I/AAAAAAAABB4/ATPpAE8AXYw/s1600/max.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-8df-1y7g5sw/UDPnPlgEz8I/AAAAAAAABB4/ATPpAE8AXYw/s320/max.jpg" width="231" /></a><b><u>MAX</u></b> – Entrando no nosso site na Internet <a href="http://www.galodoalto.com.br/">www.galodoalto.com.br</a> ou no Facebook <a href="http://www.facebook.com/Galodoalto">www.facebook.com/Galodoalto</a>. O restaurante funciona todos os dias, sempre com música ao vivo. Só fecho dois dias no ano: noite de Natal e de Ano Novo. Fica na Rua Dr. Manoel Augusto Bezerra de Araújo, 142, no Alto de Ponta Negra. É bem em frente ao Castelo Taberna Pub. No terreno ao lado, acabamos de inaugurar o BUD Bar, um bar temático da Budweiser. Lá vamos transmitir futebol e UFC, além de tocar música de boa qualidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Deixe um recado para o leitor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Não deixe de conhecer o BUD Bar, que funciona com um grande balcão para que as pessoas possam ter oportunidade de poder circular e não apenas ficar sentadas em mesa. Bar de mesa acaba virando ilha, as pessoas não se confraternizam. Esse congraçamento é uma das caras de Natal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Valeu, tchê!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MAX</u></b> – Eu nunca tinha falado tanto na minha vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-2ZfYszNx16g/UDPo_30r6KI/AAAAAAAABDY/3gRRv9WU81k/s1600/max8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-2ZfYszNx16g/UDPo_30r6KI/AAAAAAAABDY/3gRRv9WU81k/s400/max8.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-7909136419046069422012-07-28T16:49:00.001-03:002012-07-28T16:53:49.910-03:00Entrevista: Ciro Pedroza<h2 style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;">ENSINANDO OS CAMARADAS A LER<o:p></o:p></span></h2>
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: left;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-G5CjLWQTYNc/UBRAqYa1s6I/AAAAAAAABAs/lm_6sjGoU-I/s1600/Ciro.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-G5CjLWQTYNc/UBRAqYa1s6I/AAAAAAAABAs/lm_6sjGoU-I/s320/Ciro.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 20pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 16pt;">Foi necessário juntar dois
Robertos para entrevistar um Ciro. Mas é bom que se diga que esse Ciro era o
Pedroza: o jornalista, publicitário, professor universitário, radialista,
funcionário público, assessor de imprensa e sei lá mais o que. Eu e o meu xará
Fontes – que recheia a carteira de cédulas como auditor fiscal, mas esbanja
talento como jornalista – sabatinamos Ciro, o Pedroza, durante mais de duas
horas na Bella Napoli, na Hermes da Fonseca.<o:p></o:p></span></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;">
<span style="font-size: 20pt;"><o:p> </o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Além de Ciro Pedroza, o que tem mais no seu nome?</span></span></div>
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Ciro José Peixoto Pedroza. Ciro José porque o meu pai era louco por rádio e
ouvia um narrador da Rádio Globo de São Paulo chamado Ciro José Gonzales, que
depois foi diretor de esportes da Rede Globo. Quando menino, meu pai morava na
Bica da Telha, hoje Domingos Sávio, atrás do Sindicato dos Jornalistas, no
Centro, em Natal. Ele e uns amigos gostavam de ficar sentados em um toco mais
ou menos onde hoje é a 96FM. Eles, que se tornaram conhecidos como “a turma do
toco”, ficavam peruando os artistas que iam cantar na Rádio Poti. Meu pai é
Horácio Pedroza, conhecido como “o professor dos plantões”. Foi o segundo
plantão esportivo de Natal, trabalhando na Rádio Poti. O primeiro foi Miroz
Ferreira Lima, na Rádio Nordeste. Zé Lira, plantonista há décadas da Rádio
Cabugi (hoje Globo Natal), foi rádio-escuta do meu pai: aprendeu os segredos da
profissão com ele. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Seu pai e você nasceram em Natal?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Sim. Eu nasci nas Rocas. Aprendi desde pequeno que existia rádio de nove faixas
e sabia de cor a posição das emissoras locais no “dial”: Poti, Trairi, Rural,
Nordeste e Cabugi. Dificilmente um menino da minha idade sabia o número e a
frequência daquelas emissoras. Menos ainda eles tinham a oportunidade de ver e
conviver com os caras que falavam nas emissoras. Acho que isso acabou sendo
decisivo na minha carreira: dediquei grande parte da vida ao estudo do rádio.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Seu pai também trabalho no Diário de Natal. O que ele fazia por lá?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Era
telegrafista. Na verdade, ele era tradutor de telex. Antigamente a informação
chegava, via telex, no sistema Código Morse. Ele e outro funcionário pegavam
aquela fita, traduziam e transcreviam. Durante o dia ele trabalhava em uma
empresa chamada Interbrasil, à noite, no Diário. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Antes de a rádio centralizar suas atenções, como o menino Ciro Pedroza gastou
sua infância?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Menino das Rocas brinca de tudo. Todo menino das Rocas jogava futebol. Não
tinha brinquedo, mas tinha bola. As brincadeiras eram na praia, no rio ou na
rua, jogando bola. O futebol era no calçamento ou na areia. E era
paralelepípedo. Imagine jogar no “paralelo” quente... Hoje, só em andar, doem
os pés. Antes o sujeito jogava no “paralelo” e não era de tênis: era descalço. Joguei
um tempo no Palmeiras, naqueles times das Rocas, descalço. Eu era lateral
direito. Nunca fui magro, sempre fui cheinho. Um tio meu, Moab, foi decisivo
para eu torcer pelo ABC. Ele me levava para o campo. Meu pai não podia me
levar, porque tinha que ficar na rádio. Ele era de uma época em que os
cronistas não diziam por qual time torciam. Só depois descobri que ele torcia
pelo América. Chegou a ser presidente da ACERN. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E a vida escolar?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><a href="http://3.bp.blogspot.com/-kuftul7fDRU/UBRA2tdxz3I/AAAAAAAABBc/ZHX31qQPk20/s1600/Ciro7.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-kuftul7fDRU/UBRA2tdxz3I/AAAAAAAABBc/ZHX31qQPk20/s320/Ciro7.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> - Fiz
o primário no Externato Ebenézer, na Rua São Sebastião. Era de um pessoal da
igreja. Minha mãe era crente, depois virou pastora de igreja. Meu pai foi,
quando jovem. Depois se converteu à boemia. Estudei nessa escola e depois fui
fazer exame de admissão. Fui dos primeiros colocados e fui estudar no Padre
Monte. Minha vida foi dividida entre dois mundos: sempre achei que tinha que
ter a rua, mas também tinha que ter a escola. Eu tinha colegas que eram gênios
na rua, mas não entendiam nada da escola. E os da escola não entendiam nada da
rua. Era aquele povo branco, de óculos, que quando saíam de casa, saíam loucos,
correndo. Tem um livro de Homero Homem, chamado “Cabra das Rocas”, que me
ajudou a entender essa história. Era exatamente isso: o menino que era o filho
do marinheiro, filho do estivador, do assalariado das Rocas, que vai estudar no
Atheneu. Nunca perdi aula para jogar bola. Eu gostava de conversar, às vezes
não prestava atenção, mas sempre tirava notas minimamente boas para passar. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Foi mais ou menos nessa época que surgiu o seu interesse pela música?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Sim. A minha casa era musical, o meu pai tocava. Estudei na Escola de Música, fui
aluno de Lucinaldo. Até hoje, quando estou tocando, faço frases que eu via meu
pai fazer no violão. Ele toca menos hoje, está com 74 anos. Minha mãe morreu,
depois de passar um tempo doente. Eu achava que tinha que estudar música, ler
as partituras, aprender a técnica. Isso facilitaria aprender na prática.
Naquela época tinha uma revistinha chamada Violão e Guitarra (VIGU). Tinha cara
que só tocava com a VIGU, se tirasse a revista, ele não tocava. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Vamos fazer a transição do colégio para a universidade. Você chegou a ficar
dividido entre Música e Jornalismo na hora de prestar vestibular? </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Qb-82GHG4XU/UBRA1BvgVDI/AAAAAAAABBM/ymp0i4OURPA/s1600/Ciro4.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-Qb-82GHG4XU/UBRA1BvgVDI/AAAAAAAABBM/ymp0i4OURPA/s320/Ciro4.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Pouca
gente sabe que sou músico, que tenho música gravada, que me garanto. Estou
começando a me dar conta que eu toco feito louco. E não é que eu tenha tanta
técnica de tocar. O segredo é que fui auxiliar de discoteca na Rádio Poti.
Enquanto eu catalogava os discos, eu ouvia. Então, eduquei meu ouvido. Até hoje
toco com os amigos e seguimos um ritual: não se repete música, nem se pede
música no meio. A música vai até o fim e você sabe que sua música vai sair. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Mas a pergunta era se você tinha se balançado entre jornalismo e música, na
hora de escolher um rumo para a vida.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Me
balancei, mas eu já sabia que não queria o palco. Eu não me sentia preparado.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Timidez?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Sim. Eu morria de inveja, uma inveja boa, dos caras que tinham coragem de ir. Mas
eu achava que para me apresentar no palco tinha que ter muito conteúdo. Sempre
achei que para fazer as coisas tinha que realmente estar preparado para elas.
Por isso não segui no futebol: exigiria um esforço grande que eu não estava
disposto a oferecer. Sou um bicho pra trabalhar, mas a minha corrida é de
cabeça. Enquanto andava de bicicleta durante o dia, já pensava na noite, em encontrar
os caras para discutir, por exemplo, nome de país, capital, lugares. Até hoje
pergunto de onde o sujeito é para tentar entendê-lo. Sabendo de onde é e onde
vive, terei melhores condições de compreender quem a pessoa é. Mas, sabe por
que não fui para a música? Porque tive medo, muito medo. Tive medo de ir para a
noite e não voltar para o dia. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como assim?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> - Eu
via o cara doidão e ficava imaginando como ele iria trabalhar no outro dia de
manhã. Naquela época era uma coisa intuitiva, mas hoje eu tenho clareza de que
se tivesse ido para a música, teria morrido. Da mesma forma que passei muito
tempo resistindo ir para São Paulo: eu tinha medo de virar suco. De a cidade
ser tão grande, tanta coisa pra fazer, que eu ia pirar. Se eu fosse falar
psicanaliticamente, eu diria que tenho medo do prazer. Sei o que o prazer pode
fazer com um sujeito. Nunca tive uma relação com droga porque sempre achei que ela
é um negócio complicado. Não tenho purismo, é que o negócio é bom demais. Como
bom libriano, sempre andei divido. Pulo de cabeça nas coisas, jogando, sou
competitivo, boto o pé fiche, boto o pé com força. Agora, tenho medo, sei que
preciso voltar para um porto seguro. Sou dragão no horóscopo chinês. O dragão
solta o fogo, mas ele precisa se recolher para a caverna. Tem dia que eu não
quero soltar o fogo, quero ficar na caverna. Construí uma imagem de bem
humorado, de tirador de onda, de fazer zoada onde chego. Antes eu não conseguia
entender essa coisa do fogo e da caverna. Hoje entendo claramente. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Essa sua faceta de tirar onda é também para esconder um pouco a timidez?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Sempre foi. Sempre achei que era gordinho, feio, cabeçudo, pequeno. Não era
galã. Não era o intelectual no sentido, vamos dizer, “lato” do termo. Até hoje
resisto à idéia de ser intelectual. Mas aí o cara comenta: “mas você estudou na
USP”. Foi. “Mas você é mestre em Comunicação na melhor escola do país”. Sou.
“Você deu aula na universidade”. Dei. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Vamos detalhar essa sua vida acadêmica e profissional. Você começou na UFRN
pelo curso de Jornalismo.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-nBHZYROPTA4/UBRAy4FW8cI/AAAAAAAABA8/m6JvV1DUSG4/s1600/Ciro2.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-nBHZYROPTA4/UBRAy4FW8cI/AAAAAAAABA8/m6JvV1DUSG4/s320/Ciro2.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Sim,
mas antes eu já trabalhava na rádio. Foi o meu primeiro emprego. Meu pai me
levava, nas férias, para a Rádio Poti para eu não ficar com os “moleques” das
Rocas. Ele me pagava retirando do próprio salário. Aprendi datilografia, porque
batia na máquina. Datilografo super-rápido. Aprendi noções de organização,
catalogando discos. O mais importante é que eu ouvia muita música. Ouço uma
música hoje e já desconfio de quem seja. Inconscientemente fui meio que
cadastrando na cabeça aquela discoteca da emissora. Mas, voltando a história:
eu ia pra música? Sim, mas tive medo da música, daquela relação da música com a
noite, da música com as drogas. Os músicos eram os doidões, e eu não queria ser
doidão. Eu gostava da música, da viagem, mas queria ter controle sobre aquilo. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E o jornalismo?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> - O
jornalismo me dava aquela coisa do emprego do dia. Quando me perguntam se vivo
do jornalismo, respondo que oficialmente vivo do emprego público. Quando entrei
no jornalismo, acho que a minha auto-estima era baixa demais. Eu não queria ser
colunista, editor de jornal, apresentador de televisão, nada disso. Eu queria
ser repórter policial. Fui o primeiro repórter policial da universidade a fazer
rádio policial, com Assis de Paula. Eu era “o cara da universidade”. Naquela
época ninguém queria ir para a polícia. Eu sempre ouvia dizer que a polícia era
um curso de filosofia. Você aprendia o submundo mesmo, o mundo real: não tinha
coxal, não tinha caneleira, não tinha nada. Era a realidade crua, sem maquiagem.
Não tinha assessor de imprensa, não tinha atravessador. O fato estava ali, na
sua cara. O cara estava morto, o presunto estava na pedra. A delegacia fedia de
manhã.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Nelson Rodrigues começou como repórter policial. Ele escrevia de forma crua e
simples. Simplicidade parece ser uma palavra que você preza muito. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Tem
uma frase de Stendhal que sintetiza isso. “Se eu não me faço entender, de nada
vale o que eu sei”. Sempre achei que o papel do cara da comunicação é ser
tradutor, não é saber. Entrei no curso de Jornalismo aos 16 anos, em uma turma
de craques: Claudio Oliveira, Solino, Carlos Peixoto, João Maria, Gerson de
Castro, Zé Eudo, Zé Carlos Oliveira, Noronha... Uma geração que fez a transição
entre, digamos assim, os provisionados e “o povo da universidade”. Todo mundo
dessa turma, os que são hoje os caras, atrasaram o curso. Quem terminou o curso
na hora, dançou, não tem emprego. Naquela época a gente trabalhava e estudava,
fazia as duas coisas juntas. Quando Zé Agripino comprou a Trairi e transformou
na Rádio Tropical, Ricardo Rosado voltou de São Paulo para ser o diretor de
jornalismo. Formamos um ótimo time: eu, Carlos Peixoto e Josimey. Saía de
ônibus entrevistando as pessoas, voltava no fim da tarde para editar e botar no
ar. Foi também nessa época que pela primeira vez se estudou na universidade com
livros brasileiros. Era época em que a Summus estava começando a publicar os
livros do pessoal da USP - aquela coleção “Novas Buscas de Comunicação” - de
autores brasileiros como José Marques de Melo e Manuel Carlos Chaparro. Quase
30 anos depois, o encontro com essa literatura foi decisivo para eu alimentar
durante esse tempo todo o sonho de estudar em São Paulo. Fui aos 35 estudar com
os caras dos livros.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Antes de ir para São Paulo, o que ocorreu demais expressivo em Natal?</span><br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-un0EeNyzVvg/UBRAslGfosI/AAAAAAAABA0/Z-Z1ltncjXY/s1600/Ciro1.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-un0EeNyzVvg/UBRAslGfosI/AAAAAAAABA0/Z-Z1ltncjXY/s320/Ciro1.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Na campanha de 1982 fui
destacado para cobrir Caicó pela Rádio Tropical. Eu, menino de 16 anos, fui
ameaçado por um cara chamado Galileu, filho de Manoel Torres. Queria atirar em
mim, dar em mim, se fazendo de brabo, lá. Cheguei morrendo de medo no hotel e liguei
pra cá, contando o que estava acontecendo. Disseram que eu ficasse tranquilo,
que o caso seria resolvido. No dia seguinte ele não apareceu mais por lá.
Aquela viagem foi importante primeiro por eu ter saído de lá, entre aspas,
vitorioso. O meu candidato, ou o candidato da rádio onde eu trabalhava, ganhou
a eleição. Quando voltei, eu já tinha saído da polícia para ir para a política.
Aquela campanha foi memorável. Às vezes, acompanhando uma passeata que não
tinha ninguém, era obrigado a inventar uma lorota. Tinha também um negócio de “pesquisa
verdade”. A gente saía nas paradas de ônibus e em outros lugares perguntando:
“se a eleição fosse hoje você votaria em José Agripino ou Aluízio Alves?”. Na
rádio a gente entregava a fita, por exemplo, com trinta entrevistas. Vinte em
favor de Agripino e dez de Aluízio. Na edição o placar virava para 29 a um.
Hoje a gente houve falar em manipulação de pesquisa, mas naquela época já havia
isso. Depois estudei o assunto: minha tese na universidade foi sobre a eleição
de 1960. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E a música, onde estava nessa época?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Adormecida. Eu já compunha, mas morria de vergonha. Fazia e esquecia, achava
que não rendia. Passei a compor quando fui trabalhar como publicitário e
precisava compor jingle. Quando Zé Agripino assumiu o governo, em 1983, nomeou Marcos
Formiga prefeito de Natal. Ele tinha vindo do Ministério dos Transportes e sua
prioridade era montar um plano de transportes para a cidade. O modelo de
transporte usado até hoje vem da época de Formiga. Fui convidado pelo
secretário de Comunicação, Cassiano Vidal, para trabalhar na prefeitura. Fui
trabalhar com Carlos Batinga, que tinha vindo implantar o novo modelo de
transporte. No começo eu passava por lá, após as aulas da faculdade, e via se
tinha algo pra fazer. Fui aprendendo transporte e descobri que não dava apenas
para “passar por lá”. Nessa época li um texto de Ricardo Kotscho, “Assessor X
Repórter”, e compreendi que não podia trabalhar na rádio pela manhã e na
Secretaria de Transportes à tarde. Pedi as contas da rádio. Passei a pensar
comunicação para além da notícia. Foi aí que levei Solino para trabalhar
comigo. Passamos a fazer os cartazes de ônibus e desenvolvemos uma tecnologia
própria. A gente descobriu que o lugar de botar cartaz não era atrás do
motorista, mas atrás do cobrador. O tempo que o cara parava na roleta, lia. O
texto tinha que ter uma manchete e uma informação rápida. A linha que ia mudar,
o novo itinerário e o telefone: “qualquer coisa, ligue 158”. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Já era o seu lado publicitário surgindo.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Já,
desde aquela época. Quando Formiga saiu, entrou um povo do PMDB que a gente via
na universidade como “os caras”. Mas “os caras” foram terríveis. Chegaram com
um apetite tão grande pra fazer as coisas que destruíram tudo o que tinha sido
feito. Isso me deixou muito triste e desiludido. Saí da STU, embora tenha
continuado na prefeitura, e fui fazer comunicação para ônibus. Eudo Laranjeira,
da Cidade do Sol, me chamou para repetir a experiência da STU na sua empresa. Nessa
época implantamos a “poesia circular”, através da relação que eu tinha com o
pessoal da poesia marginal. Isso já tinha no sul, só que a gente fez diferente.
Em vez de botar os grandes autores, a gente botou os caras de Natal. Misturamos
a academia e a rua. Já com relação à música, estudei violoncelo com Bragato,
que foi músico e arranjador de Piazzola. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Onde foi isso?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Em
Natal. Fui estudar violão, mas não tinha vaga. Pintou a vaga de cello. Estudando
o instrumento, meus dedos doíam que só a gota e mesmo assim eu não acertava a
nota. Desisti na hora que vi os dedos do professor. O polegar era torto, de
tanto segurar o arco. Depois consegui uma vaga de violão na Escola de Música.
Aprendi a técnica do arpejo, mas não tinha sistema nervoso para ficar repetindo
o movimento. Coincidiu que saí das Rocas e fui morar em Nova Descoberta. Como não
tinha amigos na rua, passava o dia fazendo arpejo: só mão direita. Depois que conheci
o povo de Nova Descoberta, e comecei a jogar bola, fiquei mais normal. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
E a ida pra São Paulo?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-tXr5z_yLFHg/UBRA0AYjOvI/AAAAAAAABBE/S2BU_7iHbf0/s1600/Ciro3.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-tXr5z_yLFHg/UBRA0AYjOvI/AAAAAAAABBE/S2BU_7iHbf0/s320/Ciro3.JPG" width="240" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Era
um sonho, mas aos 35 chegou a hora. Depois de ter trabalhado em campanhas, de
ter feito um bocado de coisa, entrei em crise. Em tese, o que eu podia
alcançar, já tinha alcançado. Estava na hora de dar o salto. Aos 16 eu morria
de medo de ir pra São Paulo. Em 1985 eu queria ir, mas quando vi “O homem que
virou suco”, pirei o cabeção. O diabo é quem ia virar suco! Depois encontrei
João Batista de Andrade em São Paulo e confessei: “poeta, você atrasou minha
vinda pra São Paulo em quase 20 anos”. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você tem algum ídolo no jornalismo potiguar?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> - Trabalhei
muito perto de um cara chamado Cassiano Arruda Câmara, que me ensinou muito.
Ele dizia que “notícia é notícia, ninguém agride notícia”. Depois, fazendo
assessoria de imprensa, cheguei a mandar para Cassiano notas a respeito de
inimigos dele. Cassiano as publicava e dizia: “eu não gosto desse cara, mas não
posso agredir a notícia”. Com Alderico Leandro aprendi a escrever para rádio. Depois,
passei muito tempo acreditando que eu só conseguia escrever cinco linhas. Hoje
eu acho que as cinco ou dez linhas que eu escrevia era só a polpa, o supra-sumo,
o filé. Depois é só botar água nessa polpa que ela vai virando 30, 40, 50
linhas. Quando cheguei a São Paulo, o que eu fazia em Natal, fiz lá. Não tive
que me adaptar. Facilitou o fato de eu já ter lido nos livros as coisas que os
caras faziam lá. Só mudava que, ao invés de escrever sobre um milhão de
pessoas, eu escrevia sobre as Quintas, as Rocas e o Alecrim. Isso confirma
outra teoria de Cassiano: “urubu é preto em todo canto”. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você já foi com o emprego do Tribunal Regional do Trabalho?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Eu
já era funcionário, mas fui de licença, para estudar. Quando acabou a licença,
fiquei trabalhando. Sempre achei que eu tinha que estudar e ter um emprego público,
para poder ser jornalista. Eu vi na experiência do meu pai, que trabalhava em
um canto e fazia rádio como que por diletantismo. Todos os caras que faziam
rádio naquela época eram cruzeteiros. Sou avesso a cruzeta. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Talvez os baixos salários pagos no Rio Grande do Norte a jornalistas e,
particularmente, a radialistas, obriguem esses profissionais a buscarem uma
alternativa para sobreviver.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Não
é isso. É a vergonha na cara. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
É mais fácil ter vergonha na cara com um salário garantido, do que sem nada. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Vá
estudar de manhã, trabalhar à tarde e fazer um frila de noite, como eu fiz.
Enquanto os caras tomavam cachaça, comprei uma máquina de escrever. E essa devo
a Cassiano. Eu era assistente dele, na Dumbo. Um dia, cheio de pernas,
perguntei: “mestre, é verdade que você tem seis empregos?”. Ele respondeu:
“doze, Pedroza”. (risos). Eu desmaiei, passei oito dias com aquilo na cabeça.
Quando voltei, eu perguntei: “e como você dá conta?”. “Você já me viu em bar
conversando besteira?”. Foi com essa outra pergunta que ele me respondeu.
Naquela época jornalista fazia revolução na mesa do bar. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Cassiano, para você, é mesmo um ídolo...</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Me
inspiro no seu modelo de trabalhador. Trabalhei com ele antes de ir para São Paulo,
na Dumbo. Em 1982 ele fazia a campanha para dona Wilma e estava precisando de
um assistente. Cassiano pediu um programa para atingir os jovens da Zona Norte.
Seria ali o caminho para vencer a eleição. Inventei aquele programa, que era uma
FM. “Pra quem anda ‘P’ da vida, oposição unida é a saída”. Enquanto no programa
de Henrique os veteranos Roberto Machado e Ademir Ribeiro repetiam: “Henrique é
avanço, Henrique é mudança”, no de Wilma a gente tocava músicas intercaladas
com vinhetas diferentes. E a apresentação era de Guiba Melo e Elizabeth
Venturi. Criamos o quadro “Pesquisas Revelam”. Era mais ou menos assim: “o
candidato de Sarney continua subindo... Subindo... Subindo o custo de vida”.
Rodava o choro de um bebê. “Agora foi o leite que subiu 30%”. Era a época da
hiperinflação. A partir daí fui trabalhando com político, mas morria de medo,
por achar que não entendia de política. Hoje escrevo, falo e estudo política,
mas não me acho um sujeito no modelo clássico que entende de política. Quando
voltei pra Natal, depois desse tempo que passei em São Paulo, fiz comentários
na TV Ponta Negra, a convite de Paulo Araújo. Eu falava de política de um jeito
completamente diferente. Era política para quem não entende, nem gosta de
política. Eu sou um tradutor. Sempre fiz os textos meio publicitários e
radiofônicos. Acho que isso é a síntese da minha carreira inteira. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
O que de mais expressivo aconteceu com você em São Paulo?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Conquistei amigos em uma cidade que é “indoor”. Descobri que de onde você menos
imagina, vem solidariedade. Teve fim de semana de eu não ter uma fruta na minha
casa, e uma pessoa, dois prédios depois, trazer uma cesta de fruta pra mim. </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> – Por que você
enfrentou essa dificuldade toda?</span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Porque fui para lá liso, com o salário daqui. Aqui eu pagava 200 reais de
escola. Lá passei a pagar 500 por cada criança: Ciro, que mora em São Paulo até
hoje, joga futebol de salão, e Cecília. A vida era muito mais cara. Davi é o
pequeno que nasceu em São Paulo. A vida em São Paulo era pelo menos cinco vezes
mais cara que a daqui. O dinheiro que levei para lá calculando que ia passar
seis meses, passei três. Aí tive que correr atrás. Estar em São Paulo me
permitiu conhecer e conviver com os caras que a gente vê nas fotos, os monstros
do jornalismo, como Heródoto Barbeiro, Chaparro, Fausto Macedo, Marcos Zaidan, Anchieta
Filho e Antonio Freitas. Também foi por estar na capital paulista que pude
passar um mês na Alemanha, estudando rádio, com tudo pago. Fui o único do
Brasil que foi, junto com onze caras da América Latina. Fomos para a Deutsche
Welle. São Paulo me deu também a possibilidade de ir para a China. Também
estive em Cuba e no Peru. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Quais as principais impressões que você captou nesses países?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><a href="http://1.bp.blogspot.com/-h1I26wTGLnI/UBRA1-cDd7I/AAAAAAAABBU/IoFfyTdO8BA/s1600/Ciro5.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-h1I26wTGLnI/UBRA1-cDd7I/AAAAAAAABBU/IoFfyTdO8BA/s320/Ciro5.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: black;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Vou
resumir com uma frase de João Câmara: “todo mundo tem olho, boca, dente e nariz
pra frente”. Descobri, por exemplo, que a língua não é barreira pra nada, mesmo
na China. A gentileza ajuda muito. Não custa nada você abrir a porta,
facilitar, indicar... Há uma linguagem universal da gentileza. Minha viagem
surgiu de repente. Eu, com menino pequeno em casa, me vi diante da
possibilidade de viajar três dias depois. Era uma oportunidade ímpar. Topei. Junto
com um colombiano - que edita uma revista chamada Número, uma espécie de Bravo
com Caros Amigos, na Colômbia – descobri que falando “crazy language” a gente
conseguia se fazer entender. Com a “crazy language”, a língua de maluco, você
sempre consegue achar alguém que entende você. Fui comprar na Alemanha o livro
de Hitler, “Mein Kampf”. Queria comprar ele e o “Diário de Goebbels”. Quando
entrei em uma loja, um judeu-alemão não conseguia entender o que eu falava, nem
eu a ele. Foi quando uma moça que estava lá no fundo da loja compreendeu quando
eu falei que era brasileiro e que estava procurando esses dois livros. Dessa
forma consegui o diário de Goebbels, mas não o livro de Hitler, que não podia
ser vendido. Eu saía pra comprar as coisas, quando não sabia, eu desenhava.
Descobri que eu sabia desenhar. Dei uma aula sobre a origem da música
brasileira, toda desenhada. Fui para a feira de Milão, para a Suiça: a mesma
coisa. Batinga me ensinou que quando você viaja, o conhecimento que você
aprendeu só você tem. Você sabe que existe escada rolante, que o trem fecha,
sabe pra onde vão aquelas letras na Suíça, que têm 500 consoantes. Que o ônibus
na Alemanha chega na hora. Você descobre que com a capacidade de ser gentil -
de se expressar e usar muitas linguagens - você come, você bebe, você dança e
você vive. Aprendi na China que os vendedores choram muito. Você tem que
regatear bastante. É aquele negócio igual ao vendedor de rede de Caicó, que
fica pedindo para a pessoa botar preço. Eles fazem a mesma coisa. </span></span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
O vendedor de Caicó pede R$ 200,00 por uma rede, a pessoa oferece R$ 5,00, e o
cara termina topando vender por 10 reais. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Na
China ele pede 200, você bota dois. Ele fecha por três e ganhou mil em cima de
você. Você acha que fez um belo negócio, mas eles são quem fizeram. A China me
ensinou que o poder não se exerce só com a força das armas. É também através do
olhar, da expressão. Na Holanda fomos ao bairro livre. É deprimente, foi
terrível. Todos os caras que estavam na minha turma eram da geração que teve
contato com a droga e curtiam no imaginário a praça livre, a droga livre. Foi
talvez a experiência mais deprimente para todo mundo. Você ver o cara se
drogando na praça, caindo. A terra do sexo livre, você vai naquele bairro do
sexo, é punk. A mulher na vitrine, é terrível. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Por que você voltou para Natal e o que anda aprontando por aqui?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Me
dei conta de que fui para São Paulo fazer o que Roberto Mendes canta em uma
música: "aprender a ler para ensinar aos meus camaradas”. Toda experiência que
tive em São Paulo foi cumulativa para eu voltar e ensinar aos camaradas que não
puderam ir. Por que, pra mim, o conhecimento não é algo que você pega e guarda.
Eu tive a chance de ir, não foi um privilégio. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> -
Valeu à pena?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Muito, foi uma experiência única. Mas fui para voltar, não para ficar. Porém,
desde a época em que decidi retornar a Natal até concretizar essa tomada de
posição, decorreram seis meses. Tive que acabar um casamento, mudar minha vida
completamente. São Paulo é como se fosse uma droga: faz três anos que estou em
Natal e não voltei lá ainda. Não foi por falta de dinheiro para a passagem. Mas
voltei para Natal porque a cidade está precisando de gente que pense as coisas.
A leitura que faço da volta é que aquele era o momento estratégico para eu
voltar pleno, porque eu fui menino. Pra mim, a experiência de São Paulo e a das
Rocas é a mesma. Só mudou o caldo e o tamanho. Foi bom voltar porque me permiti
fazer rádio, que era o que lá dentro eu sempre quis fazer, mas não tinha
serenidade. Faço um programa em uma emissora de Ceará Mirim. Toco uma rádio que
estava fechada. Montei um modelo de rádio lá em Sumé, que hoje é a rádio mais
premiada da Paraíba. Estou replicando para uma emissora lá em Cuité. E aqui na
minha terra eu não fazia isso. Então, estou fazendo essa experiência. Por que
voltei? Porque acho que chegou a hora de eu devolver o que os caras daqui
pagaram de imposto para eu estar lá. Alguém pode dizer que isso é ingenuidade. Não
é: o cara pagou imposto para eu chegar lá. Só estudei em escola pública, foi
imposto do cara. É curioso quando o cara olha pra mim e me encontra fazendo
rádio às 6h45 da manhã botando quente, fervendo. Acordando as pessoas com
notícia, mas com estilo, energia. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como ouvir o seu programa?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> - A
rádio pode ser sintonizada em Ceará Mirim, na Zona Norte e até na Justin Tv (</span><a href="http://pt-br.justin.tv/fmmetropolitana"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">http://pt-br.justin.tv/fmmetropolitana</span></a><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">).
Ainda não temos página na Internet. Nessa emissora eu faço exatamente o que
consta nos livros e eu ensinei a vida inteira nas universidades. Tenho
enfrentado resistência das pessoas. Você chega explicando e o cara “eu sei
fazer, quem é você?”. Aí você faz um curso desses e explica quem é você, e quem
ta fazendo o curso é Tim Kawasaki, é Nilson Freire, que quando acaba rasga você
num elogio de cima pra baixo. No final de junho estreei o “Programa Clube
Notícia”, com comentários de Juliska Azevedo, na “Clube FM”, em Natal. As
pessoas quando me viram na televisão diziam que não sabiam que eu fazia
televisão. Dei aula de televisão. São Paulo me permitiu ser da primeira turma
de especialização em telejornalismo da parceria estabelecida entre a USP e a TV
Globo. Tinha aula dois dias na USP e dois na Globo. Todos os caras na Globo - Alice
Maria, Bonner e os que a gente não vê – participaram. Tive esse privilégio. Na
volta a Natal, fui o primeiro editor de política do Novo Jornal. </span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Você está com esses programas de rádio e também no Tribunal do Trabalho.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – E
ainda faço assessoria de imprensa pra um bocado de gente.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Como o leitor que se interesse por mais informações a seu respeito pode
encontrá-las na internet?</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> – Vai
achar nesses dias em um blog que já está pronto e vai se chamar de Ciropédia.
Vai ter minhas aulas, palestras, coisas de conteúdo que eu escrevo, como os
textos para O Poti. Vou juntar tudo isso nesse site. O nome é sugestão de
Vicente Serejo: Ciropedia, a educação de Ciro. Lá vão estar minhas idéias, as
coisas que faço de propaganda, de anúncio. É inspirado no livro de Xenofonte.
Faço um monte de coisas que muita gente não sabe. Por exemplo, sou mestre de
cerimônias. Fui mestre de cerimônia do Festival de Artes de Natal, em um festival
de música dos funcionários do TRT e na entrega do prêmio da Comunicação e
Justiça. Funciona porque eu dava aula pra 160 caras em São Paulo. Ou você bota
os caras na mão ou está morto.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> –
Deixe um recado pros leitores do Zona Sul.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>CIRO</u></b> –
Antes eu gostaria de dizer que estou de vida nova, vivendo com Gracita Lopes,
uma moça com quem eu queria namorar há 20 anos, e agora estou vivendo com ela.
Hoje topei fazer esse papo aqui, dar um nó na minha agenda, porque morei dez
anos da vida na Vila de Ponta Negra. Ainda tenho uma casa lá, foi Gracita,
minha mulher hoje, quem fez o projeto da casa. Dois filhos nasceram lá. Hoje eu
tenho certeza que sou um instrumento dessa coisa que é maior, o bem querer. Eu
voltei por isso. “Pra ensinar meus camaradas a ler”. Ler pelos olhos do bem
querer. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-h1I26wTGLnI/UBRA1-cDd7I/AAAAAAAABBU/IoFfyTdO8BA/s1600/Ciro5.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-H7D7wOYMhWY/UBRA302LM3I/AAAAAAAABBk/mGBfvOjpnxk/s1600/Ciro6.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-H7D7wOYMhWY/UBRA302LM3I/AAAAAAAABBk/mGBfvOjpnxk/s400/Ciro6.JPG" width="400" /></span></a></div>
<span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-6209314483480082652012-06-21T22:19:00.000-03:002012-06-21T22:19:02.015-03:00Entrevista: Marcos Lacerda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-EyGMvyCxB1I/T-PHgBBbvpI/AAAAAAAABAg/aWR6uNu8jCM/s1600/lacerda4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 20pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> O ADVOGADO BAIANO PAPA-JERIMUM<o:p></o:p></span></b><br />
<br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-u24lL7XsJbg/T-PGtst76vI/AAAAAAAAA_U/DS8OYaU3AMw/s1600/lacerda9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-u24lL7XsJbg/T-PGtst76vI/AAAAAAAAA_U/DS8OYaU3AMw/s320/lacerda9.jpg" width="246" /></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">Ele nasceu na Bahia, mas não troca Ponta
Negra e Pirangi por nenhuma praia da terra de Nosso Senhor do Bonfim. Desde que
conheceu a cidade, Natal passou a ser o seu porto seguro. Mesmo nas temporadas
passadas em Paris, Lisboa e, agora, Brasília. Atualmente, Marcos Lacerda de
Almeida Filho faz o meio de campo entre o Ministério da Previdência Social e o
Congresso Nacional. Chefe da Assessoria Parlamentar, ele tem entre suas tarefas
apresentar de forma os argumentos e opiniões do Executivo a respeito das
matérias que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Em uma
conversa regada a vinho e churrasco que durou duas horas de uma manhã de
domingo, Lacerda abriu as porteiras da memória e contou a sua vida. Um resumo
desse bate papo você acompanha a seguir. (robertohomem@gmail.com)<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Se apresente ao
leitor do Zona Sul.<o:p></o:p></span></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Meu nome é
Marcos Lacerda Almeida Filho. Sou filho de Marco Lacerda Almeida e de Ana Luisa
Thé Bonifácio. Todas as irmãs da minha mãe também se chamam Ana: Ana
Elizabethe, Ana Helena e Ana Teresa. Minha avó, pernambucana, era devota de
Sant’Ana, a mãe de Nossa Senhora. Nasci na Bahia, em Salvador, no dia 6 de
novembro de 1984. Na época, meu pai estava trabalhando na reforma do Aeroporto
de Salvador. Era engenheiro da EIT (Empresa Industrial Técnica). Morou em
Salvador durante três anos e foi para Cruz das Almas, no recôncavo baiano. Em
seguida mudamos para Montes Claros. Também morei em Aracaju. Eu tinha quatro anos
quando meus pais se separaram. Aos cinco fui morar com meus avós maternos, em
João Pessoa. Minha mãe trabalhava viajando.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O que ela
fazia?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Ela comprava
mercadorias no Paraguai para revender em João Pessoa e adjacências. Ficava indo
e voltando. Morei até sete anos com meus avós. Depois fui para a casa do meu
pai, em Natal. Ele trabalhou na EIT até o começo da década de 1990. Em seguida foi
engenheiro e diretor da empresa Brasil Beton. Trabalhou ainda em outras
construtoras, até ingressar na universidade, como professor. Hoje se dedica
apenas à área acadêmica. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Você tem
irmãos?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - Tenho um
irmão mais novo, do meu pai e da minha mãe, Thiago Lacerda. Ele tem 24 anos. Depois
de separar, meu pai casou com uma mulher que já tinha três filhos. Ela era
viúva e tinha sido misse, em Natal: Madalena Jácome. Foi professora de
Jornalismo, na UFRN. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O que o seu
irmão faz da vida?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-wKW7Vv8Q8EI/T-PHblQgJdI/AAAAAAAABAA/PjUDMN2xEhg/s1600/lacerda.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-wKW7Vv8Q8EI/T-PHblQgJdI/AAAAAAAABAA/PjUDMN2xEhg/s320/lacerda.jpg" width="247" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O considero
um “bom vivant”. Foi estudar nos Estados Unidos e, lá, conheceu uma norte-americana,
com quem vive. A convite de um amigo, além de estudar, ele foi para os EUA
fazer massagem. Ele nunca tinha dado uma massagem na vida. (risos). Thiago
entrou em três faculdades e não completou nenhuma. Primeiro entrou no curso de
Administração. Depois trocou pelo de Direito e, em seguida, voltou para
Administração. Não se adaptou em nenhum. Antes de mudar para os Estados Unidos
ele colocou uma empresa para vender aquele rodo que tem uma esponja que absorve
a água. Ele comprava a preço de banana e revendia por um valor razoável. Estava
se dando bem, só que não soube administrar o dinheiro que ganhou. Foi para os
Estados Unidos há um ano e está lá até hoje. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como foi a
vida em João Pessoa?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Morei em
Tambaú. Foi uma época difícil porque eu estava longe do meu pai e a minha mãe
viajava muito. Eu ficava com meus avós e meu irmão. Também convivi com dois
vizinhos, Francisco e Paulo. Eu ia para casa deles e a gente jogava futebol.
Não sei como se deu o desenrolar – parece que meu pai recuperou a guarda em
virtude de a minha mãe viajar muito - mas o fato é que voltei para Natal. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Seu pai já
estava casado novamente?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gloS5bVv0Sc/T-PGwetBnUI/AAAAAAAAA_k/DLUg4e2HaZU/s1600/lacerda7.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="242" src="http://1.bp.blogspot.com/-gloS5bVv0Sc/T-PGwetBnUI/AAAAAAAAA_k/DLUg4e2HaZU/s320/lacerda7.jpg" width="320" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Sim. Não pude
ir ao casamento dele - já estava com roupa comprada e tudo - mas minha mãe não
me deixou ir. Morei com meu pai até os nove anos. Era um apartamento muito bom,
na Avenida Getúlio Vargas. Mas éramos cinco meninos em casa – eu, meu irmão e
os três filhos da nova mulher do meu pai. Fui estudar no Henrique Castriciano.
Diga-se de passagem, que eu já tinha estudado na Escola Doméstica, também, no
maternal, quando saí de Aracaju e passei um tempo curto em Natal, antes de ir
para João Pessoa. Estudei no Henrique Castriciano só a primeira série. Em
seguida fui para o Marista. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Dessa época
na Getúlio Vargas o que você recorda?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Eu morava no
edifício Condomínio Plaza Atlântico. Nunca fui de descer para a praia. Gastava
o tempo livre na piscina, ou jogando futebol mirim, ou brincando em casa. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O que
adiantou morar em Natal se não frequentava a praia?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Pergunte isso
ao meu pai. (risos) Eu ia à praia na época de veraneio. Coincidentemente tenho
duas tias – uma por parte de mãe e a outra da família do meu pai – que
veraneavam a um quilômetro de distância: uma em Barra do Rio e a outra em
Graçandu. Eu ficava entre dezembro e fevereiro frequentando as duas casas. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Em que época
surgiu o seu interesse pela política.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - O Marista
incentiva muito essa questão da liderança. Logo no primeiro ano fui candidato a
líder de turma. Fui eleito nessa ocasião e também no ano seguinte, quando
passei para a terceira série. No Marista existe o grêmio mirim para os alunos
com até onze anos de idade. Fui candidato. Eram quatro chapas, fiquei em
segundo lugar. Quem ganhou foi Bernardo Bezerra, que hoje é advogado. Tem um
ano a mais do que eu. No ano seguinte me candidatei de novo. Dessa vez eram
oito chapas. Ganhei. No outro ano passei para o turno matutino.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Esse gosto
pela política foi herdado de alguém da família?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Meu avô,
Aluisio Bonifácio, pai da minha mãe, foi prefeito de Arês durante oito meses.
Deixou no começo do mandato porque foi convidado a assumir a diretoria de uma
usina, que hoje é a Usina Estivas. Financeiramente era muito mais viável para ele.
Outro avô - queira sim, queira não – também era líder. Ele era coronel do
Exército, cargo para o qual é necessária muita disciplina e liderança. Estou
falando do Coronel Cícero Almeida, que foi presidente da Federação
Norte-Rio-Grandense de Futebol (FNF).<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Cícero
Almeida foi o sucessor de João Machado na FNF... <o:p></o:p></span><br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-MuXPIivYm2w/T-PGy128LcI/AAAAAAAAA_4/ROx_FtK_Xaw/s1600/lacerda5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-MuXPIivYm2w/T-PGy128LcI/AAAAAAAAA_4/ROx_FtK_Xaw/s320/lacerda5.jpg" width="269" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Sim, na
década de 1970. Meu avô ainda não era coronel, era capitão. Ele completou 79
anos em maio. Meus quatro avôs estão vivos, graças a Deus. Meu avô foi diretor
de futebol da Federação, na gestão de João Machado. Seu ingresso no futebol foi
como árbitro. Depois foi presidente do Força e Luz e do Alecrim. Ele conta que
João Machado era muito desorganizado. Tanto é que João Machado era para ser
dono de todo o bairro de Nova Descoberta. Sou casado com a neta de João
Machado. Escuto muitas histórias sobre ele, contadas pela minha família e pela
família dela. João Machado era dono de toda a Nova Descoberta, mas assistiu sem
fazer nada às pessoas invadirem e tomarem tudo. Morreu pobre, sem nada. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – E o Marista?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Quando
ingressei no turno matutino, reencontrei Bernardo, aquele de quem perdi quando
me candidatei pela primeira vez ao grêmio mirim. Resolvemos formar uma chapa.
Na hora de escolher qual de nós seria o candidato a presidente, eu, já de olho
na sucessão, sugeri que fosse ele o cabeça da chapa. Bernardo disse que não
queria. Junto conosco estava Daniel Matias, filho do dono da Capuche, que na
época ainda não era construtora, era loja de roupas. Daniel aproveitou a deixa
e se ofereceu para ser o candidato. Daniel e eu éramos do mesmo ano. Fiquei
meio constrangido com aquela situação. O resultado é que Daniel saiu como
candidato à presidente e Bernardo a vice. Saí como tesoureiro, compondo a
chapa. Esse nosso grupo começou a profissionalizar as campanhas no Marista. Foi
nessa época que surgiu por lá camisa de chapa, banner, carro de som e fogos. Ninguém
utilizava nenhum desses recursos de marketing político. Hoje em dia as
campanhas são todas assim, copiando o que criamos no ano 2000. O aluno não era
obrigado a votar na chapa toda: ele podia optar entres os diversos candidatos
de todas as chapas e montar a sua própria composição. Pela primeira vez no
Marista a gente conseguiu eleger uma chapa de cabo a rabo. Fizemos uma boa
administração, no meio do ano fui passar uma temporada na França.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como foi essa
mudança tão brusca?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Minha mãe se
formou em Administração e foi fazer uma pós-graduação na França. Mas ela não se
adaptou e foi morar em Portugal. Fui morar em Paris, passei três meses lá
estudando francês. Foi a minha primeira experiência no exterior. Naquela época
a maioria dos meus amigos foi conhecer a Disney. Eu tive que optar entre ir com
eles ou passar esse período na França. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como você
resolveu a questão escolar, passando três meses afastado da sala de aula?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – As notas do
segundo bimestre foram repetidas no terceiro. Fui no final de junho, depois de
ter adiantado algumas provas, e voltei em setembro. Peguei todo o período de
férias do meio do ano. Quando cheguei lá, minha mãe teve que voltar ao Brasil
para resolver alguns problemas. Fiquei sozinho, estudando, mas sem dominar
ainda a língua. Uma prima da minha mãe, Rosa Bonifácio, que morava em Paris, me
deu um apoio. Fiquei um período em sua casa, mas ela trabalhava em uma
multinacional e tinha que ir muito para a Espanha e para o México. No fim das
contas, com 16 anos de idade, passei a maioria desse período sozinho em Paris.
Conheci tudo só: Torre Eiffel, Mont-Parnasse, Versalhes... Fiz tudo só com uma
câmera na mão, gravando. Hoje em dia nem sei se ainda tenho essa fita. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – A imagem que
o francês tem de ser um povo fechado confere com a realidade?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-oZOOKM3VQ6Q/T-PHdCCmgiI/AAAAAAAABAI/UdgJCQaxwSc/s1600/lacerda1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-oZOOKM3VQ6Q/T-PHdCCmgiI/AAAAAAAABAI/UdgJCQaxwSc/s320/lacerda1.jpg" width="242" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Me relacionei
mais com jovens, que têm uma mente mais aberta, são mais compreensivos.
Principalmente naquela idade – 16 ou 17 anos –encontrar um brasileiro
representava uma novidade para eles. Não são fechados como seus pais ou outros
que sobreviveram à segunda guerra mundial. Quando fui, no verão, a atmosfera
era muito boa. A mentalidade do europeu muda completamente no verão. Eles
passam nove meses do ano no frio, quando chega o verão, aproveitam, ficam mais
leves e descontraídos. Com isso, não enfrentei muitos problemas. Tive
dificuldade com relação à solidão, mas foi um aprendizado muito grande. Aos 16
anos eu nunca tinha forrado uma cama ou feito uma feira sozinho. Também nunca
havia andado de metrô, pois Natal não tinha e nem tem até hoje. De ônibus eu costumava
ir do Tirol, perto do Instituto Batista Bereiano, até Ponta Negra, na época em
que eu era mesatenista. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Antes de
mudarmos para essa sua faceta esportiva, vamos voltar só um pouquinho à sua
estada no continente europeu: qual o nível de conhecimento que os franceses
tinham do Brasil?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - Há 12 anos,
quando eu tive essa experiência, eles tinham do brasileiro uma imagem
estereotipada. Eles ligavam a imagem do Brasil à da floresta Amazônica. Mas
nunca me perguntaram nada absurdo. Como era 1998 e o Brasil tinha acabado de
perder a copa do mundo para a França, eles falavam muito sobre futebol. Quando
eu dizia que era brasileiro, eles brincavam “trois zero”, que significa três a
zero, o placar da final da copa, que foi disputada em território francês. Eu
respondia que o Brasil era tetra campeão do mundo, enquanto eles tinham apenas
conquistado o primeiro título. Ficávamos nessa brincadeira, mas tudo de uma
forma tranquila.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Vamos, então,
ao tênis de mesa.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Comecei a
jogar tênis de mesa aos dez anos, na AABB. Ao contrário do que pensam, exige
muita aptidão física. Hugo Oyama, o maior mesatenista do Brasil, tem o mesmo
preparo físico de Cafu no auge da carreira como jogador. Precisa muita
explosão, tudo é muito rápido. Apesar de ser um esporte individual, a gente
tinha muito espírito de equipe. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como foi sua
performance atuando no tênis de mesa?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - Fui terceiro
lugar no campeonato brasileiro por equipes, disputado no Ceará. É bom salientar
que quatro equipes disputaram a competição, e duas se classificaram em terceiro
lugar. (risos). Perdemos a semifinal mas ganhamos uma medalha. Como vascaíno,
honrei a tradição do clube: meu melhor resultado foi ser vice-campeão dos
JERNs. Foi um campeonato muito disputado, mais de 30 atletas participaram. Fui
atleta filiado à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa e joguei no Nordeste
todo. Eu era ranqueado pela confederação. Cheguei a bater bola com Hugo Oyama:
ele levantava e eu cortava. Eu não conseguia ganhar o ponto nunca. Ele ficava
no fundo levantando para eu cortar. Ele passava uns cinco minutos, apenas se
defendendo, até eu errar. É um nível muito elevado. Me afastei do tênis de mesa
quando entrei no primeiro ano, justamente por causa do grêmio. Troquei o
esporte pela política, igual a Romário. Só que ele alcançou muito mais sucesso.
<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Você falou de
seu lado como interessado em política e no esporte. Diga agora como era o
Marcos Lacerda estudante.<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-BJj_MJoW03E/T-PHefMcm4I/AAAAAAAABAQ/lnZk92lg15E/s1600/lacerda2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="http://1.bp.blogspot.com/-BJj_MJoW03E/T-PHefMcm4I/AAAAAAAABAQ/lnZk92lg15E/s320/lacerda2.jpg" width="320" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Eu era
excelente em História e Geografia e bom em Português, Inglês e Francês.
Medíocre em Biologia e Física e péssimo em Química e Matemática. No primeiro
ano que fiz vestibular - prestei para a UFRN e para a Universidade Federal da
Paraíba – chutei tudo letra C em Química. De 15 questões, acertei três. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Conseguiu ser
aprovado? <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Não logrei
êxito. No outro ano fiz para a FARN e passei. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Foi aprovado
em qual curso e por que optou por ele?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Direito. Não
sei propriamente o porquê. Meu pai é Engenheiro, minha mãe é Administradora.
Ninguém na minha família era formado em Direito. Nem sequer eu pensava em
prestar concurso. Interessante é que desde os nove anos eu dizia que seria
advogado. Nem eu sabia o motivo. Talvez eu já gostasse de política e associasse
o fato de o advogado usar paletó e gravata, como o político. Fiz para Direito,
passei aos 19 anos, na FARN. Lá percebi um vácuo: tinha DCE, mas não havia
ainda centro acadêmico de Direito. Já gostando de política - telespectador
assíduo das TVs Senado e Câmara, leitor das páginas políticas dos jornais - resolvi
incentivar a formação do centro acadêmico de Direito. Antes da montagem desse
centro acadêmico eu estava um pouco desiludido com a política.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Qual o
motivo?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Para
explicar, presico voltar ao período do grêmio do Marista, quando minha chapa
foi eleita e eu viajei para a França. Em Paris recebi uma carta por meio da
qual Bernardo pedia para eu voltar logo, alegando que o grêmio estava uma
bosta. Ele reclamava que estava trabalhando sozinho e que Daniel Matias só queria
aparecer, como presidente. Quando voltei, tocamos a gestão. No final do ano,
Bernardo – ele já no pré-vestibular e eu no segundo ano – me disse que seria
candidato e eu seria o vice dele, para tirar Daniel. E que no ano seguinte eu
seria o candidato a presidente. A princípio, concordei, mas, conversando com
meu pai, ele ponderou que no ano seguinte eu estaria me preparando para o
vestibular. Da mesma forma, Bernardo, se eleito, se dedicaria ao vestibular e
eu seria obrigado a tocar sozinho o grêmio. No ano seguinte eu corria o risco
de me dedicar de novo ao grêmio e não passar no vestibular. Atendendo a
sugestão do meu pai, procurei Bernardo e disse a ele que eu seria candidato a
presidente do grêmio naquele ano. A chapa que estávamos formando era quase toda
composta por pessoas indicadas por mim. Bernardo retrucou que não iria
desistir, não abriria mão. Então rachamos. Montei a minha chapa, e ele fez a
dele. A campanha foi acirradíssima. Até então, éramos amigos e irmãos. O vide
de Bernardo era Daniel Matias. Eu tinha guardado a carta que ele havia me
enviado. Chamei Daniel, na presença de toda da minha chapa, e mostrei a ele a
carta na qual Bernardo detonava ele. Algumas pessoas foram contra aquilo,
pediram para eu esquecer, alegaram que era jogo sujo. Daniel leu a carta
estarrecido. Daniel Matias ligou para Bernardo e o chamou para a sala. Ficou um
mais branco do que o outro. Mesmo assim Bernardo pediu desculpa, disse que era
negócio de momento, e continuaram juntos. Resolvi divulgar a carta para o
colégio todo. Eu tinha 16 anos. Fui orientado a não fazer isso, porque criaria
um mal estar. A campanha já estava baixo nível. Foi tão acirrada que em um
universo de 1800 eleitores eu perdi por 11 votos. Minha chapa toda foi eleita e
eu perdi. Bernardo fez a gestão dele com a minha diretoria. No outro ano, eu
ainda sentia aquele desejo – que já estava virando obsessão, acima de qualquer
coisa. Me candidatei de novo e perdi feio para uma menina do primeiro ano,
Rebeca. Fiquei com auto-estima baixa, desiludido. Passaram a me chamar de Lula.
Até então Lula não tinha vencido nenhuma eleição majoritária. Ninguém imaginava
que no ano seguinte ele se elegeria para a Presidência da República. Fiquei
muito cabisbaixo, desacreditado. Foi quando entrei na FARN e resolvemos montar
nosso centro acadêmico. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Imagino que
essa eleição para o CA você venceu.<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Oum0ZlN456Q/T-PHfPGdWrI/AAAAAAAABAY/GPJwZoPgs6o/s1600/lacerda3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-Oum0ZlN456Q/T-PHfPGdWrI/AAAAAAAABAY/GPJwZoPgs6o/s320/lacerda3.jpg" width="237" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – A princípio eu
seria candidato a vice de Davidson Gurgel. Eu estava no primeiro ano de Direito
e ele já estava no terceiro. Davidson começou a estudar Direito em Coimbra, e
depois transferiu para Natal. Montamos a chapa, era a única que disputaria a
eleição. Na hora de oficializar a inscrição, Davidson Gurgel não estava
matriculado na faculdade. Resolvemos convocar nova assembleia. Surgiu uma chapa
e eu lancei outra, comigo candidato a presidente. Montei uma chapa bem
eclética, composta por alunos de todos os anos, pois eu precisava do máximo
apoio possível. Eu já tinha decidido: se não ganhasse a eleição não me candidataria
mais nem a síndico de prédio de quatro andares. Ganhei por cinco votos: 162 a
157. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Geralmente
esses órgãos representantivos estudantis sofrem forte influência
político-partidária. Isso ocorreu no seu caso?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Ocorre mais
nas faculdades maiores. Na FARN não havia influência de nenhum partido. O
presidente do DCE, Kleber Fernandes, era do PSB. Depois ele deixou esse partido
e foi para o PDT, a convite de Brizola Neto. Sucedi Kleber na presidência do
Diretório Central dos Estudantes, em 2005. Ganhamos fácil. No outro ano fui
reeleito, chapa única. Então Kleber me chamou para entrar no PDT. Aceitei o
convite. Kleber era presidente da juventude estadual do partido e eu presidi a
juventude municipal de Natal. Antes de me filiar, li o estatuto do Partido
Democrático Trabalhista e me identifiquei, sobretudo, com a questão do
nacionalismo. Geralmente o jovem, na sua visão utópica de mundo, se identifica
com o socialismo, com a igualdade e todos esses princípios. Hoje não sou mais
filiado. Recentemente requeri minha desfiliação, em virtude de trabalhar com
pessoas ligadas ao PMDB. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Você disse
que não sabia o motivo pelo qual escolheu Direito. Quando você ingressou nesse
curso se identificou com ele?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Levei o
curso, até o quarto ano, praticamente nas coxas. Eu fazia inglês, no Senac, das
7h30 às 9h30. De lá ia para um estágio. Eu nunca gostei de pedir dinheiro aos
meus pais, ainda mais quando começou a crescer barba na minha cara. Comecei a
estagiar já no primeiro ano de curso. Estagiei no Siqueira Castro Advogados, um
escritório do Rio de Janeiro com filial em Natal. Depois estagiei no Assunção
Neves, também escritório de advocacia. Eu estagiava das 10 às 18. Saía de lá e
ia direto para a faculdade. Ficava na faculdade até às 10 e meia. E ainda tinha
que dar conta do centro acadêmico e do diretório central. De segunda à sexta eu
costumava chegar em casa às onze da noite. Da sexta para o sábado eu chegava às
sete da manhã, porque depois da aula eu ia para a farra. Amanhecia no Bella
Napoli tomando whisky e ouvindo Manoel tocar piano. Chegava às sete da manhã
com a mesma cueca que tinha vestido na manhã do dia anterior. Durante o curso
de Direito adquiri uma preferência pelo direito público, pelo direito
constitucional, pelo direito eleitoral e pelas matérias propedêuticas
(filosofia do direito, sociologia e ciências políticas). Senti uma pequena
aversão ao direito privado. Não uma aversão completa, mas senti menos
interesse. Me interessei mais pela parte política.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Terminado o
curso, o que você resolveu fazer da vida?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-PMv3i1LWLlM/T-PGqyrze0I/AAAAAAAAA_M/uEWXDgmPwJw/s1600/lacerda10.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-PMv3i1LWLlM/T-PGqyrze0I/AAAAAAAAA_M/uEWXDgmPwJw/s320/lacerda10.jpg" width="232" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Prestei exame
para a Ordem dos Advogados do Brasil e passei, em maio de 2009. Recebi a
carteira definitiva em julho do mesmo ano. No mesmo período me candidatei a um
mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Fui aceito no
mestrado de ciências jurídico-políticas. Morei durante um ano em Lisboa e vi
quatro matérias: Direito Constitucional, com o professor Jorge Miranda (meu
orientador e um dos papas do direito constitucional do ocidente); Direito
Administrativo, com o professor Vasco Pereira da Silva (também uma sumidade no
direito administrativo português); Ciências Políticas, com o professor Luis
Pereira Coutinho; e Direitos Jurisdicionais, com a professora Ana Cândido.
Passei um ano em Lisboa e voltei para o Brasil. Escrevi minha dissertação de
mestrado e entreguei agora em maio. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – A opção por
Lisboa foi pelo fato de a sua mãe estar morando lá?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Sim. Como ela
não se adaptou ao idioma francês e nem ao clima, aceitou o convite de uma amiga
que já morava em Portugal e tinha colocado uma empresa de limpeza industrial. Eu
já tinha ido outras vezes, antes do mestrado, para visitá-la. Sempre tive
vontade de passar um período fora, de estudar em outro país. A questão do
idioma e do clima ajudaram na escolha. Lisboa é a capital mais quente da Europa.
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ZONA SUL</u></b> – O brasileiro é bem
recebido em Portugal?<o:p></o:p></span></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Não, definitivamente
não. Eles têm recalque porque o povo brasileiro é criativo, extrovertido e,
apesar das dificuldades, é de bem com a vida. O português não é nada disso, com
raras exceções. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O português
conta piada de brasileiro?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Não escutei
muita piada de brasileiro. Eles contam piada de português. Eles contam as
mesmas piadas de portuguès que contamos no Brasil. Só que os personagens dessas
piadas são os portugueses do Alentejo, aqueles que vivem na zona rural. É como
se fosse o paulista e o carioca contando piada de nordestino. O alentejano é o
matuto deles. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O lisboeta se
encaixaria no perfil de português das piadas contadas no Brasil?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Eles se encaixam
também. Acho que é injusto o que eles fazem com os alentejanos. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Você foi
vítima de alguma disciminação em Portugal por ser brasileiro? <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – A maioria dos
brasileiros que está lá é para trabalhar em obras e tomar postos de trabalho deles.
Quando você chega de paletó, gravata e sobretudo, todo alinhado, diz que é
advogado e veio fazer um mestrado, é bem tratado. Eu fui muito bem tratado, mas
ouvi compatriotas - pessoas que não tiveram a mesma oportunidade de criação e
educação que eu tive - que foram lá para trabalhar e sofreram muita
discriminação. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Você
aproveitou o fato de estar morando em Portugal para visitar outros países da
Europa?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-XX1Vl5gjZkg/T-PGxZ94fGI/AAAAAAAAA_w/M2N6QaKr8_M/s1600/lacerda6.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-XX1Vl5gjZkg/T-PGxZ94fGI/AAAAAAAAA_w/M2N6QaKr8_M/s320/lacerda6.jpg" width="273" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Não. O meu
dinheiro era contado, só dava para estudar. E eu não queria pedir dinheiro para
passear. Eu já tinha ido à Alemanha, em 2006, assistir a Copa do Mundo. Fui com
um amigo. Acampamos e ficamos em albergues. Eu já tinha ido outras vezes a
Portugal, à França e à Itália. Na Alemanha fui no verão. Estive no Museu dos
Judeus, em Berlin. Também tive no muro. No museu vi fotos e os aparelhos com os
quais os judeus foram torturados. Tem também documentos, roupas que eles usavam
nos campos de concentração. Na copa do mundo da Alemanha tomei muita cerveja. Não
achei o povo alemão frio. A nova geração já superou a questão da segunda guerra
e do pós–guerra, quando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o país foi
dividido em dois. Visitei também o Checkpoint Charlie, que é o nome dado pelos
Aliados a um posto militar entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental
durante a Guerra Fria. Muitos foram assassinados ao tentar fugir do leste para
o oeste de Berlin. Isso até 1989. Aconselho ir para a Europa quem gosta de
história, de observar outras culturas. Se for só para comprar roupa, compre
pela Internet, vá à Miami ou à 25 de Março, em São Paulo. Fui a Roma, que é o
berço da cultura ocidental. Fui ao Vaticano, mas não vi o Papa. Visitei o
túmulo de João Paulo II. Fui lá na cúpula da Basílica de São Pedro. Fui ao
Coliseu e ao Antigo Fórum Romano. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Fale sobre o
seu mestrado em Lisboa.<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-EyGMvyCxB1I/T-PHgBBbvpI/AAAAAAAABAg/aWR6uNu8jCM/s1600/lacerda4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-EyGMvyCxB1I/T-PHgBBbvpI/AAAAAAAABAg/aWR6uNu8jCM/s320/lacerda4.jpg" width="231" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - O tema da
minha dissertação foi “A participação do poder executivo no processo
legislativo”, no caso o brasileiro. No meio do meu trabalho faço comparações do
modelo brasileiro <span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"></span>com o modelo português, europeu e latino americano. A
interferência do executivo no legislativo não é um privilégio, entre aspas, do
Brasil. É uma necessidade depois que vários direitos foram constitucionalizados
e o estado, para dar uma resposta célere, teve que criar uma alternativa por não
poder esperar pela tramitação morosa que é a do processo legislativo. Temos
situações que são urgentes, têm que ser resolvidas e não podem esperar.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Então você
concorda que o Congresso deva ser tão subserviente ao Executivo, como ocorre
hoje no Brasil?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – De uma certa
forma, concordo. No Brasil o que a gente tem é um presidencialismo de coalizão
onde o presidente da República, para poder governar, precisa de uma maioria no
Congresso. Essa maioria é formada, infelizmente, através de um fisiologismo e
de um clientelismo que caracterizam a política brasileira.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Qual seria
então o modelo ideal?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Seria o
modelo estadounidense, o modelo norte-americano. Lá o presidente da República
não dispõe de poder de iniciativa. Aqui no Brasil tem matérias que só o
presidente pode tomar a iniciativa. Nos EUA eles não têm nada parecido com o
regime de urgência. Aqui a gente tem o regime de urgência de 45 dias. Lá eles
não têm lei delegada, onde o Poder Legislativo autoriza o Executivo a legislar
sobre determinado assunto. Muito menos nada parecido com medida provisória. Aqui
no Brasil temos mecanismos que permitem ao presidente da República dominar o
poder. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Ao retornar
de Lisboa para o Brasil, que rumo a sua vida tomou?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> - Cheguei de
Lisboa em junho de 2010 e comecei a advogar no escritório Siqueira Castro, onde
fiz o meu primeiro estágio. Também apareceu a oportunidade de trabalhar no
IPEM. Fui assessor jurídico de lá por seis meses. É o instituto de pesos e
medidas, que representa o Inmetro no Rio Grande do Norte. Quando o então
senador Garibaldi Alves Filho estava prestes a assumir o Ministério da
Previência, depois que Dilma ganhou a eleição, bati na porta de Lindolfo Sales
em busca de uma oportunidade. Sempre tive uma amizade fraterna com João
Henrique Sales, filho de Lindolfo. Intiui que Lindolfo integraria a equipe do
Ministério e fui lá em busca de uma chance de buscar aperfeiçoamento
profissional e pessoal. Vim para Brasília no começo de 2011 sem saber qual
função eu iria assumir, nem quanto iria ganhar, nem nada. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como está
sendo trabalhar no Ministério da Previdência Social?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Estou na
assessoria parlamentar. Entre outras atividades, o meu trabalho é apresentar
para os parlamentares os argumentos do Ministério da Previdência Social a
respeito dos diversos projetos que tramitam por lá. A experiência está sendo
bastante enriquecedora. Tenho certeza que ao final do meu período deixarei o
Ministério muito mais qualificado profissionalmente e como ser humano do que quando
entrei. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Fale das suas
pretensões. O que você espera do futuro. Quais seus planos? <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Pretendo
voltar a Lisboa ainda esse ano para defender minha tese. Pretendo algum dia me
candidatar a algum cargo público, mas não é objetivo imediato. Seria
consequência de um trabalho que eu venha a fazer. Estou me preparando para ser
professor de faculdade, do curso de Direito e também quero ser advogado. Tudo é
consequência. Hoje estou mais na fase de aguardar os acontecimentos e ver para
onde a vida me leva. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Como é
residir em Brasília mantendo a família em Natal?<o:p></o:p></span><br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Ae11J4hED0s/T-PGvNJYQKI/AAAAAAAAA_c/yXXMa36ljR8/s1600/lacerda8.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-Ae11J4hED0s/T-PGvNJYQKI/AAAAAAAAA_c/yXXMa36ljR8/s320/lacerda8.jpg" width="220" /></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – É uma arte:
não é fácil, mas é superável. Eu e a minha esposa, Carolina Machado Lacerda, estamos
superando. Quando a conheci ela sabia do meu desejo de passar por experiências,
de amadurecer profissional e pessoalmente. Ela entende que essa fase é
importante para o nosso futuro. Carol tem dois filhos: João Vitor e Pedro
Henrique. Neles enxerguei a família que eu não pude ter. Como falei, sou filho
de pais separados. Fui criado pelos meus avós, meu pai de um lado e a minha mãe
de outro. Vou quase todo fim de semana a Natal. Assim a gente vai levando. Carol
é formada em Administração e está trabalhando na prefeitura. Somos felizes,
apesar da distância. Há um ano e meio estamos assim. <o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O que você
acha que esquecemos de conversar?<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – O essencial
foi conversado nessas duas horas.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">ZONA SUL</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Mande um
recado para o leitor do Zona Sul.<o:p></o:p></span><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;">LACERDA</span></u></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: SimSun-ExtB;"> – Corra atrás
dos seus sonhos e enxergue a vida sempre da mesma forma como está a minha taça
de vinho nesse momento: nem vazia e nem completamente cheia. Tudo na vida tem
um lado bom e um outro ruim. A gente tem que procurar ser feliz, tentar sempre
enxergar o lado bom das coisas. Estar em Brasília tem o lado ruim de estar longe
da família, mas tem o lado bom de poder me realizar profissionalmente. Temos
que enxergar a vida de uma forma que nos permita ser feliz. </span><br />
<br />Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-44427604602190015332012-05-21T20:34:00.000-03:002012-05-22T09:23:17.227-03:00Entrevista: Carlos de Souza<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-large;">POR TRÁS DA CIDADE DOS REIS</span><span style="font-size: 26pt;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 26pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-UsYX6bNHgoQ/T7rOUSgU-fI/AAAAAAAAA-Q/eaSE4IUcA8o/s1600/DSC02360.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://1.bp.blogspot.com/-UsYX6bNHgoQ/T7rOUSgU-fI/AAAAAAAAA-Q/eaSE4IUcA8o/s320/DSC02360.JPG" width="320" /></a>Francisco Carlos de Souza nasceu
em Areia Branca, em 1959. Ficou na cidade até completar 15 anos. Foi quando
ganhou o mundo através da paixão pela leitura, se mudou para Natal e conquistou
uma cadeira cativa no jornalismo potiguar. Carlão é poeta, é boêmio, é escritor
e até já se arriscou como dramaturgo. Multimídia, atualmente trabalha na
redação da assessoria de comunicação social do Governo do Estado e mantém uma
coluna de literatura na Tribuna do Norte e outra no blog de Tácito Costa, o
Substantivo Plural. Além disso, alinhava - em parceria com o também jornalista
Éverton Dantas – a estrutura de um novo espaço na Internet para falar de livros
e de outros artefatos culturais. Foi com esse irrequieto Carlão de Souza que eu
e Roberto Fontes conversamos, no final da manhã de um sábado, na calçada do Bar
de Zé Reiera. Como não poderia deixar de ser, um dos assuntos principais da
entrevista foi a nova “cria” de Carlão: o livro “Cidade dos Reis”, que procura,
de forma romanceada, traçar um perfil da cidade de Natal através do personagem
Jonas Camarão. Mas vamos deixar Carlão contar a sua história. (<a href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a>)</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Fale um
pouco sobre os seus pais.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Sou filho
de seu Aldenor Cândido e de dona Josefa Moura. Meu pai foi marítimo, hoje está
aposentado. Minha mãe, que faleceu há pouco mais de sete meses, foi dona de
casa. Infelizmente ela partiu para outra. Papai mora aqui em Natal. Viemos para
cá em 1975. Nos estabelecemos em Neópolis. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Do que
você recorda, antes de trocar Areia Branca por Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Da vida de
estudante, jogando bola e lendo muito. Gibi, principalmente. Eu gostava muito
de “Tarzan” e de outros gibis antigos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Antigo,
não: “Tarzan”, naquela época, era novo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – É verdade.
Hoje é que é antigo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Muitos
dos seus colegas compartilhavam esse gosto pela leitura?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Rapaz, na
minha rua, ninguém. Os colegas gostavam era de jogar bola.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como
surgiu, então, o seu interesse pela leitura? </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Acho que o
gosto pela leitura surgiu devido à minha total inabilidade para jogar futebol.
(risos). Os caras só me deixavam jogar porque eu era o dono da bola. Mesmo
assim, minha posição era a de goleiro. É a profissão mais triste do futebol.
Como eu não tinha muito talento para esse esporte, comecei a colecionar gibis,
e me apaixonei por isso. Quero acrescentar que, ainda na infância, eu gostava
daquelas brincadeiras de rua do nosso tempo: correr, fazer barquinho, pipa...
Adorava essas diversões de menino de interior: fura-chão, bola de gude (que pra
gente era biloca), garrafão...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E tô no
poço?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Aquela
brincadeira de beijar as meninas?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Sim. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> - Ah, rapaz,
isso era muito difícil. A gente não pegava nem na mão das meninas, era difícil
demais. Naquela época não tinha esse contato com as mulheres. Quando eu era
menino, não existia isso. Quando surgia a oportunidade de ver figurinhas de
mulheres de maiô já era uma coisa fora de série.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Nos anos
1970 tinha umas revistas suecas eróticas que circulavam na maior surdina.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Q0EDEfDPjS4/T7rOxd_vIhI/AAAAAAAAA-g/Kav4gyPaImY/s1600/DSC02353.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://2.bp.blogspot.com/-Q0EDEfDPjS4/T7rOxd_vIhI/AAAAAAAAA-g/Kav4gyPaImY/s320/DSC02353.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Um cara
que morava próximo à rua da gente foi quem me fez gostar de gibi. Ele já era um
adolescente, tinha uns 18 anos. Seu nome era Paulinho. Ele colecionava gibis,
mas também tinha essas revistas proibidas, e dava acesso para a gente ver. As
primeiras imagens de sexo que tivemos acesso foram através desse contato. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Em nome
da moral cristã, durante o auge do regime militar as revistas brasileiras só
podiam mostrar bundas de perfil. Exibir dois seios na mesma fotografia era
proibido: só podia um de cada vez.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Era? O que
lembro com muita clareza é de umas revistinhas desenhadas por Carlos Zéfiro.
Eram guardadas a sete chaves. Quem tivesse uma revistinha daquelas tinha tudo
na turma, virava o rei.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> - Isso
tudo que você está contando ainda ocorreu nos tempos de Areia Branca?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Sim. E foi
lá também que comecei a me interessar mais pela leitura. Por incrível que
pareça, comecei a ler pelos livros de Adelaide Carraro, que eram considerados
de sacanagem. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Hoje em
dia os escritos de Adelaide Carraro poderiam ser lidos até em conventos...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – É, mas na
época eram um escândalo. Ao intensificar o gosto pela leitura, descobri que
Areia Branca tinha uma boa biblioteca. Lá encontrei a coleção completa da
revista “Seleções”, da Reader's Digest. Hoje a gente sabe que é propaganda
imperialista, de direita, não sei o que. Mas, naquela época, para nós do
interior aquilo representava a abertura para um mundo desconhecido e
maravilhoso. À medida em que você vai lendo, vai querendo mais. Depois de ler a
tranqueira de Adelaide Carraro e esses livrinhos de bolso, descobri Jorge
Amado, que por coincidência também tinha um viés sexual. Mas ler Jorge Amado já
não era só buscar sexo nas palavras ou mera curiosidade infanto-juvenil: esse
escritor baiano abriu as portas para o mundo. De Jorge Amado para Graciliano
Ramos foi um pulo. E para José Lins do Rego, nem se fala. Trilhando esses
passos a pessoa vai alargando loucamente o seu horizonte intelectual. Foi
quando descobri a tia de um amigo meu que morava em Natal, mas passava as
férias em Areia Branca. Na casa da tia dele tinha uma coleção completa dos
livros da Academia Brasileira de Letras. Estava lá, enfeitando a estante da tia
dele. Passei pra dentro: li tudo. Assim virei leitor compulsivo, viciado... O
que não podia comprar, eu lia na biblioteca, emprestado. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por que
você trocou Areia Branca por Natal?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Por causa
do trabalho do meu pai. Mas, nesse intervalo, passei quatro anos em Macau
porque papai trabalhava em uma salineira, com transporte de sal. Quando
completei 15 anos, estava terminando o primeiro grau. Areia Branca não oferecia
em sua escolas o segundo grau. Como papai queria que a gente tivesse um destino
melhor do que o dele - segundo ele próprio dizia – mudamos todos pra Natal. Vim
para fazer teste na então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, a
ETFRN. Não passei. Na verdade, nunca gostei muito de matemática. Em
compensação, sempre fui louco pela área de humanas. Sem a opção da ETFRN, me
matriculei no Winston Churchill, na Avenida Rio Branco. Fiz lá um segundo grau
maravilhoso. Até essa época a escola pública funcionava. Assim que concluí o
segundo grau, passei no vestibular para Jornalismo da UFRN.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por que
você escolheu o curso de Jornalismo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Foi uma
escolha natural de leitor. Tem um fato curioso que eu gostaria de contar.
Quando morava ainda em Areia Branca, eu lia uma revistinha chamada “Peteca”,
editada no Paraná por Alice Ruiz, que foi casada com o poeta Paulo Leminski. Eu
adorava essa revista porque ela trazia uns contozinhos interessantes bem
infanto-juvenis. Havia um concurso de contos, lá: se a pessoa ganhasse, eles
publicavam. Mandei um conto, mas sem nenhuma expectativa. Um ou dois meses
depois recebi uma cartinha com um cheque dentro. (risos)</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Foi seu
primeiro dinheiro ganho escrevendo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Foi. Ao
receber esse cheque, achei que aquele negócio era bom. Pensei: “a pessoa
escreve e ainda ganha dinheiro!”. Com o prêmio, comprei um tênis e uma calça
jeans, que eram sonhos de todos os garotos. Isso ocorreu nos idos de 1974.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você tem
muitos irmãos?</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-wVpIO_hzORc/T7rO85xnoxI/AAAAAAAAA-o/-0BaGpjWljA/s1600/DSC02354.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-wVpIO_hzORc/T7rO85xnoxI/AAAAAAAAA-o/-0BaGpjWljA/s320/DSC02354.JPG" width="180" /></a><b><u>CARLÃO</u></b> – Tenho um
irmão, que é adotivo, e uma irmã. Claudio é DJ, toca nesses bailes modernos. Eu
não entendo muito bem a profissão dele. (risos). A minha irmã, Sandra, é dona
de casa. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Mas você
estava falando que ingressou no curso de Jornalismo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Também
escolhi Jornalismo porque achava que escrever dava dinheiro. Doce ilusão.
(risos). Na época que fui fazer vestibular existia a possibilidade de tentar um
curso na área biomédica - eu gostava muito de Biologia - ou até mesmo
Geografia, que eu também gostava muito. Também pensei em cursar História, que
sempre foi uma paixão minha. Cogitei ser professor de História. Mas venceu o
Jornalismo. Na minha sala do Churchill só passamos eu e Dão, que hoje é
advogado em Natal. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Então
talvez não proceda seu comentário de que o ensino público ainda funcionava...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Procede
sim, mas estou me referindo ao resultado apenas da minha sala. (risos)</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Era um
problema específico...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Só tinha
fera, por isso só passamos eu e Dão. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você foi
contemporâneo de quem no curso de Jornalismo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Quando
cheguei na universidade ainda tinha os velhos Osair Vasconcelos, Sávio
Hacradt... Desses dois me lembro de imediato. Antônio Melo estava saindo.
Albimar Furtado era professor. Minha turma é a de 1979. Estudei com Adriano de
Souza, Moura Neto... Marco Polo ainda estava por lá, mas já quase sendo
jubilado. Hoje ele é fotógrafo. No ano seguinte entraram Josimey Costa, João
Bezerra Júnior... São as pessoas de quem me lembro de imediato. Convivi com
muita gente boa.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O curso
de Jornalismo realmente foi útil na sua formação profissional?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O curso
foi uma abertura de universo intelectual fantástica. Sem ele eu não teria
entrado nesse mundo pelo qual tenho tanto amor – o jornalismo - apesar de ter
sofrido muito em virtude da questão salarial e das muitas dificuldades que um
jornalista tem que enfrentar no exercício de sua profissão. Mas o mundo se
abriu totalmente. A palavra universidade é muito correta: a UFRN abriu o
universo para mim. Foi lá que comecei a ler coisas mais importantes e
profundas. Quando comecei a ouvir falar em Marcuse, Walter Benjamin e Adorno,
as coisas realmente clarearam. Posteriormente, a partir de uma amizade com
Andréa Guaraciaba (que foi professora em Natal) e Carlos Eduardo Lins, fui
fazer mestrado de Comunicação em São Paulo. Fiz dois anos de mestrado, mas não
consegui concluir. Voltei para Natal e fiquei um bom tempo fazendo só
jornalismo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como foi
esse período em São Paulo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Foi de
muita dificuldade e um pouco de fome. Fui com uma bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior). Meu projeto era sobre cooperativa de jornalistas. Essa ideia
vingou por um tempo no Brasil, mas depois morreu. Atrasei um trabalho: era para
entregá-lo em uma determinada data, mas vim passar férias em Natal. E Natal -
você lembra - em 1985 era uma festa. Peguei logo o Festival do Forte, quando
cheguei. Ao invés de eu fazer o trabalho para entregar, fui farrear. Foi uma
irresponsabilidade, não recomendo isso a ninguém. Não entreguei o trabalho e
perdi a oportunidade de continuar o mestrado. Em mestrado você não pode deixar
de entregar trabalho de jeito nenhum. Se você tirar “B”, já se complica. Então
vim embora para Natal e me dediquei de corpo e alma ao jornalismo. É bom
destacar que depois concluí mestrado de Letras na UFRN. Dessa vez não deixei de
entregar os trabalhos nos prazos combinados. (risos)</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
começou no jornalismo antes ou depois desse período em São Paulo?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-wt_-gLgjBqY/T7rPJdu6YLI/AAAAAAAAA-w/u0zjoxCNrSM/s1600/DSC02355.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://2.bp.blogspot.com/-wt_-gLgjBqY/T7rPJdu6YLI/AAAAAAAAA-w/u0zjoxCNrSM/s320/DSC02355.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Assim que
eu terminei o curso, fui para São Paulo. Durante o curso eu trabalhei como
repórter da falecida “A República” e na revista “RN Econômico”, que também já
encerrou suas atividades. Enquanto estudava tive essa praticazinha. Mas
jornalismo mesmo, de corpo e alma, foi quando voltei de São Paulo e entrei na
Tribuna do Norte pelas mãos de Adriano de Souza. Não saí mais. Fiquei na
Tribuna entrando e saindo. Essa relação de amor ainda existe até hoje: tenho
uma coluna de livros, publicada às quartas-feiras, que me dá muito prazer. Não
me dá dinheiro nenhum, mas muito prazer mesmo. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Infelizmente, sobretudo no Rio Grande do Norte, o jornalismo é muito mais fonte
de prazer do que de dinheiro. Como é a sua relação com o jornalismo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Quando
voltei do mestrado, minha relação com o jornalismo passou a ser de
sobrevivência mesmo. Como não tinha outra coisa mais a fazer, fiquei
completamente imerso no jornalismo. Esse entra e sai que eu falei que tive na
Tribuna foi intercalado com períodos que passei nas redações de outras
empresas. Trabalhei na TV Cabugi, no
Diário de Natal e em alguns jornais pequenos... Até passei um tempo em
Brasília. Trabalhei em um jornal horrível de lá. Faz tanto tempo que eu não
lembro o nome. Era um jornal de quinta categoria. O dono fazia especulação
imobiliária, foi para Brasília e botou esse jornal.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como
você foi para Brasília?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Adriano de
Souza, que tinha ido para o Correio Braziliense, me avisou que havia surgido
uma vaga. Fiz o teste no Correio, mas não fui aprovado. Em seguida encontrei
Rogério Cadengue, que era professor de Jornalismo na UFRN, mas estava morando
em Brasília. Foi ele quem levou a mim e a Moura Neto para esse jornal que
esqueci o nome. Ficamos um ano. Entrei como repórter e depois fui promovido a
assistente de Rogério, que era o editor de economia. Rogério saía para namorar
e eu ficava tomando conta da página dele. (risos) Tive com Cadengue uma relação
de amizade muito boa. Depois de um ano, cansado daquilo e percebendo que as
portas para algo melhor estavam todas fechadas, voltei para Natal. Retornei
para a Tribuna, para a velha rotina daqui e não saí mais. Nem quero sair. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
recorda algum trabalho jornalístico que o fez sentir orgulho de exercer essa
profissão?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Fui
repórter durante pouco tempo. Logo passei para a cozinha dos jornais. Na maior
parte da minha vida fui editor. Editei caderno de Cidades muitos anos. O editor
percebe que fez um bom trabalho quando consegue emplacar notícias que
repercutem. Quando a gente coloca na rua uma notícia que repercute é como se
tivesse feito um gol de placa. Nossa função é tratar aquele material bruto que
chegou do repórter e apresentar ao público de uma maneira honesta e correta.
Isso é o que dá um grande prazer nesse trabalho. Também fui editor de Cultura
durante muitos anos. No Diário de Natal fui basicamente editor de Cultura. Foi
uma época de muita felicidade, já que pude trabalhar com um assunto que eu
gosto. Também mantive contato com artistas e intelectuais, de Natal e de fora.
Tudo isso me deu alegria, ao mesmo tempo em que culturalmente me enriqueceu
muito. Mesmo ganhando pouco... Jornalista que ganha muito é uma raridade. É
preciso ter bastante talento e ter estômago para certas coisas. Eu nunca tive,
por isso sempre fiquei à margem. Assumo esse selo de underground. Várias vezes
portas se abriram, mas eu nunca quis participar de esquemas. Deixei a carruagem
ir embora e fiquei. Não me arrependo. Criei meus filhos e tenho uma vida
relativamente confortável. Não tenho conta bancária interessante, mas nunca
faltou nada pra mim. Nunca fui a Paris ou Nova York, mas vejo na televisão. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
teve uma vida amorosa bem eclética, foi casado mais de duas vezes...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Fui casado
umas cinco vezes e tenho três filhos, cada um de uma mulher. Alex é jornalista.
Serginho, tentou ser fotógrafo, mas se decepcionou com a questão salarial. Hoje
trabalha no setor imobiliário. Tenho também Constância, a mais jovem jornalista
da cidade: está cursando jornalismo. </div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-2d8Wcsb3A6E/T7rPTq-aK0I/AAAAAAAAA-4/ZtgLTl7D0Ns/s1600/DSC02356.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://4.bp.blogspot.com/-2d8Wcsb3A6E/T7rPTq-aK0I/AAAAAAAAA-4/ZtgLTl7D0Ns/s320/DSC02356.JPG" width="320" /></a><b><u>ZONA SUL</u></b> – Como perguntaria
Vinicius de Moraes: seus casamentos foram eternos enquanto duraram? </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Com
certeza, foram maravilhosos. Sou amigo de todas elas e todas são minhas amigas.
Eventuais mágoas ficaram para trás e hoje a gente vive numa amizade muito boa.
Ainda amo todas as minhas ex-mulheres, mas hoje sou casado com Sônia. Ela é a
minha companheira, é quem segura as minhas barras. Não tenho filhos com Sônia.
Ela é uma psicóloga de Ceará Mirim muito gente boa.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como
você - que dedicou grande parte de sua carreira jornalística à cultura -
explica o fato de que, apesar de a cultura potiguar ser um celeiro de talentos,
poucos desses artistas conseguem projeção nacional?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Acho um
grande mistério. Talvez ocorra pela beleza da cidade. Natal talvez funcione
como uma espécie de gaiola. As pessoas são muito interessantes, criativas e a
cidade é uma maravilha, apesar de mal tratadíssima. Nosso cenário cultural é
restrito, fica represado no território estadual. Não tem repercussão lá fora,
não é visto lá fora e não há interesse do Brasil em olhar para cá.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Parece
que nem o próprio potiguar valoriza a sua arte.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O potiguar
é muito volúvel e Natal, desde a sua fundação, não tem identidade. É uma cidade
aberta ao mundo. É por isso que Natal, de vez em quando, tem um acesso de
megalomania e se diz a Londres Nordestina, a Nova Amsterdã. Natal tem muita
vontade de ser Nova York, que também é uma cidade sem identidade, cosmopolita,
a capital do mundo. Natal tem essa vontade, mas, coitada...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
poderia recomendar alguns artistas potiguares que merecem ter seu trabalho
divulgado lá fora?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO </u></b>– Temos uma
cantora extraordinária, Khrystal, e compositores como Antônio Ronaldo, por
exemplo. Temos pintores como Dorian Gray Caldas. Outro dia vi uma matéria na
Globonews na qual um pintor famoso dizia que Dorian é um dos grandes nomes
nacionais. Mas pouca gente conhece. Temos João Marcelino, no teatro, um homem
do palco. Temos também Sebastião Vicente, que escreve peças de teatro. Pouca
gente sabe, mas ele é um dramaturgo premiado nacionalmente. Temos Nei Leandro
de Castro, que é sensacional... Ele não gosta que eu diga isso, mas vou
repetir: Nei Leandro é um escritor genuinamente potiguar. Entendo que ele
gostaria que eu dissesse: “Nei é um escritor internacional”. Prefiro afirmar
que, como potiguar genuíno, ele canta muito bem a sua aldeia. Dessa forma, ele
é universal. O livro “As Pelejas de Ojuara” pode ser lido em qualquer lugar do
mundo! Esses são alguns dos nomes que me vem a memória imediatamente. Existe
uma cultura, mas há também uma má vontade local e brasileira. Como não olham
para nós, a gente vai vivendo assim, meio vagabundo. Cachorro magro pegando
migalhas pelos cantos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por
falar em cachorro magro, como surgiu a oportunidade de ingressar na literatura?
</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O primeiro
livro que lancei foi “Crônica da Banalidade”, escrito no período do auge do meu
envolvimento com o jornalismo e com a boemia. Isso foi em 1982, 1983. A boemia,
que nunca se afastou da minha vida, é uma faceta da minha personalidade que eu
não tenho vergonha de explicitar. Na minha vida adulta, sempre fui boêmio. E o
livro nasceu dessa vida boêmia, dessa vida de jornalista, da leitura dos
beatnicks, aqueles caras americanos doidões. Por incrível que pareça, o estalo
de que eu poderia escrever surgiu quando li Alex Nascimento. “Eu também sei
fazer isso”, foi o que pensei. Então fiz essa novelinha, que na época teve uma
aceitação muito boa em Natal. Ainda hoje tem gente que pega o livro e se
encanta. A pessoa que mais gostou do meu livro foi o falecido poeta Miguel
Cirilo. Ele era um entusiasta dessa publicação. Foi o potiguar que mais
compreendeu esse livro que escrevi na juventude. É um livro fininho, sem
grandes pretensões, mas tá lá. Tá feito. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – “Crônica
da Banalidade” trata do que?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – É uma
história de boemia, de vida fracassada. É a história de um músico. O livro não
é localizado em lugar nenhum: os personagens não têm nome e o lugar também não.
Mas, pelas dicas que eu dou, dá para perceber que é Natal. É um cara que toca
em orquestra, mas, para ganhar a vida, vai se apresentar em churrascaria.
Imagine o sofrimento desse ser humano. O livro conta essa história de miséria,
de fracasso, que é um pouco a história de muitos dos nossos artistas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Qual
livro veio em seguida?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> - Uns dez anos depois, me deu um frenesi, um
comichão: eu precisava dizer alguma coisa. Como não sei pintar, nem sei fazer
outra coisa, o único jeito foi usar a palavra. Cometi a asneira de me comunicar
através da poesia. A poesia não é para todos. O acesso a ela é só para
gigantes. Não é todo mundo que consegue se expressar por poesia. As pessoas
acham que basta enfileirar versos, uns em cima de outros, para se tornar um
poeta. Poeta é Dante, são os grandes. Mas inventei de me expressar através
desse gênero literário e fiz um livro que é mais prosa do que poesia. Hoje em
dia a gente já consegue enquadrá-lo como prosa poética. O livro é chamado
“Cachorro Magro”. É como se eu quisesse retratar a alma miserável da nossa
cidade, do povo potiguar. Esse povo que quer ser grande e acaba sendo pequeno
demais, cachorro demais. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como o
livro foi recebido pelas pessoas?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Uma parte
acha que o livro é muito importante, mas a maioria considera que ele é execrável,
não tem valor nenhum. Como Natal sofre da maldição de não consagrar nem
desconsagrar ninguém, eu nem ligo! Os que gostam, que tirem bom proveito; e os
que não gostam, que joguem fora. Outro dia uma amiga estava andando na rua e
encontrou um exemplar de “Cachorro Magro” na lata do lixo. Ela pegou e guardou.
O livro serviu pra ela, mas não para a pessoa que jogou fora.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O que
veio depois do “Cachorro Magro?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Tentei
escrever uma peça teatral. Sempre fui apaixonado por teatro, mas não entendo da
carpintaria de palco. Não sou um homem de teatro, sou um leitor de teatro.
Tenho na minha estante muitas obras de teatro. Quando quero me divertir, leio
teatro. A minha vivência de teatro é literária, não é como espectador. Como
sempre gosto de enfrentar desafios, escrevi uma pecinha de teatro chamada “É
Tudo Fogo de Palha”. A peça conta os primórdios do teatro em Natal. Eles eram
feitos de palha. Todos terminaram queimados. No centro da cidade, aqui na
Gonçalves Ledo, tinha um. O livro não teve repercussão nenhuma, a peça sequer
foi montada. Mas estou pouco me lixando. O importante é que o livro é um
registro da história do nosso teatro. É mais um presente que eu dou para essa
cidade que eu amo demais. Natal é a cidade que me adotou e que me deu nome,
filhos e os netos Helena, Vinicius e Ulisses. Escolhi Natal para viver e vou
morrer aqui. Quando a cidade completou 400 anos, resolvi escrever a biografia
de Natal. Assim saiu esse livro que lancei agora, “Cidade dos Reis”. É a
história de Natal, mas eu empurrei a historinha de um natalense dentro dela:
Jonas Camarão. É uma história romanceada. Está aí para análise dos leitores. </div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-AIP3R17_-4o/T7rPg8zLHKI/AAAAAAAAA_A/KEsThhOscqY/s1600/DSC02358.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-AIP3R17_-4o/T7rPg8zLHKI/AAAAAAAAA_A/KEsThhOscqY/s320/DSC02358.JPG" width="180" /></a><b><u>ZONA SUL</u></b> – O livro
foi lançado quando?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Em março.
Houve uma sessão de autógrafos no Palácio da Cultura e outra no “Sebo
Vermelho”, em Abimael. A governadora Rosalba Ciarlini escreveu a apresentação
do livro. O lançamento foi em um dia atípico: choveu muito em Natal. E, quando
chove, o natalense prefere não sair de casa. Foi editado pela Fundação José
Augusto. É o segundo livro meu editado pela Fundação. O primeiro foi “Crônica
da Banalidade”, editado pela Fundação José Augusto em parceria com a Clima, do saudoso Carlos Lima. Os
outros dois: “É Tudo Fogo de Palha” e “Cachorro Magro” foram editados por
Abimael Silva, do Sebo Vermelho. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – “Cidade
dos Reis” demorou para ser escrito?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Esse livro
rodou um pouco por aí... Ele já tem mais de dez anos de feitura e de refeitura.
Não saiu antes porque eu nunca tinha encontrado patrocinadores. Ele foi
aprovado na Lei Câmara Cascudo. Botei o último ponto em 2003. Reescrevi várias
vezes. Eu dava para ler e as pessoas encontravam defeitos e eu ia mudando.
Inclusive, agora, depois de publicado, encontraram um defeito nele. Um dia, se
eu puder reeditar, eu tiro esse erro. (risos).</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Na
orelha do livro consta que “Jonas Camarão é o antípoda do seu ancestral Filipe
Camarão. Sempre pronto a sacrificar os mais básicos valores morais pelo seu bem
estar financeiro”. Você estava com uma bola de cristal? Hoje vivemos uma época
de grandes escândalos onde são comuns esses “antípodas morais” que fazem
qualquer negócio para ganhar dinheiro.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – É verdade.
O ponto de partida do romance, como falei, é a história da cidade. É uma
tentativa de traçar um perfil mais ou menos psicológico do povo potiguar e como
ele reage. Um povo heroico, mas governado por algumas pessoas desprovidas de
princípios morais. Não são todos, mas alguns homens com poder de decisão - da
classe política e econômica – têm alguns desvios. Repito: não são todos, mas há
uma parcela podre. Jonas Camarão é um retrato disso, um cara que descende de um
herói potiguar. Filipe Camarão também não foi um cara corretíssimo, ele teve lá
seus interesses econômicos. Mas lutou na época das invasões holandesas, e por isso
não deixa de ser considerado um herói. O personagem do livro é um anti-herói,
que busca o caminho da corrupção e do mal. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por
falar na família Camarão, Diógenes da Cunha Lima está trabalhando para que
durante a Copa do Mundo no Brasil seja apresentado um balé de sua autoria
contando a história de Clara Camarão.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Eu acho
legal. No meu livro, Clara Camarão é uma heroína. Ela combate os holandeses.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
ficou rico com os livros que lançou?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – (risos)
Nossa! Em Natal quando você vende 100 exemplares já é um best-seller. A cidade
tem quase um milhão de habitantes, por aí você tira. Então, ou o autor se
diverte com isso ou enlouquece, vira um sujeito amargo e não vive mais. A
pessoa também tem que aprender a rir de si mesma.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Partindo
da premissa de que seu livro é um best-seller, ou seja, vendeu 100 exemplares,
como o seu futuro 101º leitor deve proceder para adquirir “Cidade dos Reis”?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Ou ele vai
na banca do Nordestão, na Avenida Engenheiro Roberto Freire, ou arrisca ir no
Sebo Vermelho. Se ele encontrar aberto... (risos). É mais aconselhável ir no
começo da semana.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Não é
possível encontrar o livro à venda na Internet? Você não o comercializa no seu
blog?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Ainda não
aprendi essa ferramenta de vender pela Internet. Vou consultar meus gênios da
computação, meus amigos que entendem desse negócio, para agilizar isso. A ideia
é muito boa, obrigado. Não tinha pensado nessa alternativa.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Fale um
pouco sobre o seu blog.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Para não enferrujar,
criei um blog chamado “Feriasnoinferno's Blog”. O endereço é <a href="http://feriasnoinferno.wordpress.com/">http://feriasnoinferno.wordpress.com/</a>
Se pesquisar “Férias no Inferno” no tio Google, ele vai apresentar meu blog
logo na cabeça, entre os resultados. Comecei esse blog para exorcizar meus
demônios, por isso o nome é esse. No início eu estava bastante zangado, por
isso as notas estão bem agressivas. As primeiras são bem violentas. A minha
base é Rimbaud. Comecei imitando o rancor dele pela humanidade, aquela falta de
paciência com os seres humanos. Mas depois tive a ideia de escrever romances,
lá. Já que estava com preguiça de botar as notinhas, passei a escrever um
romance que não tem título ainda, é provisório. Está lá, é um folhetim. Não sei
ainda o que diabo vou fazer com esse romance. É um cangaço tecnológico. Conto a
história de um cangaceiro moderno no sertão potiguar. Só que o local não é
fixado. É um sertão imaginário. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
também é colunista do Substantivo Plural, de Tácito Costa. (<a href="http://www.substantivoplural.com.br/">www.substantivoplural.com.br</a>) </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Eu já
participei mais, mas me cansei daquelas discussões. Tácito é um sujeito muito
bom, mas, sinceramente, eu não tenho muita paciência para aquelas discussões.
Aqui e acolá eu boto um artigo que acho interessante, algumas coisas que estou
lendo ou um filme que vi. Mas sem grandes compromissos.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E a sua
coluna na Tribuna do Norte?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Ela se
chama “Toque - Livros e Cultura”. Essa coluna é uma coisa que eu levo à sério.
Há três anos escrevo para essa coluna toda semana. Recebo livros das editoras,
seleciono o que acho que vale a pena e comento. Não faço crítica literária na
acepção da palavra, mas escrevo pequenas resenhas. Comento se o livro oferece
algum prazer, se vale a pena ler...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – De cada
dez livros que você recebe, quantos viram uma resenha?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Três. Os
outros não passam no filtro. Estou até pensando em dar um caminho a esses
livros que não passam na peneira. Estou criando um novo blog, em parceria com
Everton Dantas, que vai ser a extensão da minha coluna. O que não passar lá,
vai tudo pro blog. Aí vou botar lá best-seller, livro de autoajuda... A
tranqueira que as editoras mandarem eu solto lá. Lê quem quiser.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Everton
Dantas é um dos melhores profissionais dessa nova geração da imprensa potiguar.
Muito competente.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – É um cara
bom, novo, inteligente e escreve bem pra caramba. Pergunte mais.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você tem
consciência de que seu blog têm condições de ser muito mais lido do que a sua
coluna no jornal? Como você encara esse jornalismo do futuro que estamos
vivendo com a difusão da internet?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – A web é um
campo aberto, disponível para ser explorado. Hoje estamos nos acostumando a
ver, de época em época, alguns fenômenos midiáticos ocupando os comentários.
Com o meu blog seria mais difícil acontecer, já que nele trato de coisas sérias
e o povão não gosta disso. Eu dou importância à Internet, mas tenho os pés no
chão. Porém, não deixo de reconhecer que as possibilidades são muitas.
Recentemente, nesse blog, comentei aquele filme sobre as chacretes (Alô, Alô
Terezinha). No dia seguinte recebi um e-mail do cineasta agradecendo. Como em
outras épocas você, morando em Natal, teria um feedback desses? Essas
ferramentas modernas dão um retorno interessante para o nosso trabalho.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Vamos
transformar essa entrevista em um serviço de utilidade pública. Sugira uns
livros, filmes e peças para o leitor.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Eu tenho
que pensar... Livro: todo mundo tem que ler, mas tem que ler mesmo, “Grande
Sertão, Veredas”...</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – A gente
podia fazer assim: você sugere um potiguar e os outros dois seguindo qualquer
critério.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Combinado.
“Grande Sertão, Veredas” e “Vidas Secas”. O potiguar seria “As Pelejas de
Ojuara”, que é tão universal quanto esses dois que citei anteriormente. O que
mais você quer?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Filmes.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O potiguar
é “Boi de Prata”, do diretor Augusto Ribeiro Júnior. Esse é o primeiro filme
considerado genuinamente potiguar. A trilha sonora é de Mirabô Dantas. Os
outros que eu sugiro assistir são “Cidadão Kane” e “Deus e o Diabo na Terra do
Sol”. Quanto à música, eu citaria Mozart, Paulinho da Viola e Mirabô Dantas. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Artes
plásticas.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – Aí é mais
difícil, porque eu não entendo bem. Mas vamos escolher Picasso, Di Cavalcanti e
Marcelus Bob. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Teatro.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> –
Shakespeare, Antunes Filho e João Marcelino.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
concorda que o maior intelectual potiguar é mesmo Câmara Cascudo?</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O grande
nome potiguar, o homem que extrapolou as nossas fronteiras foi Câmara Cascudo,
apesar de se considerar um provinciano incurável. Ele foi o nosso único grande
nome universal. Cascudo era de outra época, era um iluminista, um homem do
século XVIII. Realmente ele é universal, não há o que questionar. Apesar de
tudo isso, ele era um cara simples, mesmo ressaltando que, naquela época, Natal
era uma província do tamanho de Areia Branca. </div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Para
encerrar, deixe um recado para o leitor do Zona Sul e responda o que porventura
não lhe foi perguntado.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>CARLÃO</u></b> – O papo foi
muito legal. Para quem chegar até aqui nessa entrevista, a minha recomendação é
muito simples: leia muito, leia tudo o que chegar às mãos. Não importa se é uma
bula de remédio ou esse jornal. Leia tudo, leia na internet, onde for. O
caminho é ler. Ler é conhecimento. Se você tem conhecimento, tem tudo. A
Internet facilitou o acesso à informação. Pena que muita gente use essa
ferramenta para conversar besteira o dia todinho. Se quiser usar para obter
conhecimento, é a melhor ferramenta que existe.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-IJPf8qh-P9A/T7rOgicZriI/AAAAAAAAA-Y/xqUI27B_M-Q/s1600/DSC02359.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="http://4.bp.blogspot.com/-IJPf8qh-P9A/T7rOgicZriI/AAAAAAAAA-Y/xqUI27B_M-Q/s400/DSC02359.JPG" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-78639120129891002242012-04-20T08:32:00.000-03:002012-04-20T11:58:18.951-03:00Entrevista: Marco Antônio Gonçalves<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 20pt;">UMA VIDA POR TRÁS DAS LENTES</span></b> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-DhmRiszpsTI/T5FHNFXcEKI/AAAAAAAAA9o/let41M5XRbU/s1600/JBA_6580_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-_VobT8ReWPQ/T5FHPNB0NrI/AAAAAAAAA9w/pybGSQG9_Yc/s1600/JBA_6583_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-_VobT8ReWPQ/T5FHPNB0NrI/AAAAAAAAA9w/pybGSQG9_Yc/s320/JBA_6583_1.jpg" width="320" /></a>Durante quase uma hora e meia, Marco Antônio Gonçalves desfiou detalhes da sua vida. Sobretudo, ele falou da sua experiência de onze anos como cinegrafista da Rede Globo. Nesse período
todo, o trabalho na principal emissora do país rendeu momentos marcantes, como a
exclusiva cobertura do desastre aéreo ocorrido em Brasília com um avião da
Vasp, no início dos anos 1980. Marco Antônio também falou de sua infância e
adolescência transcorridas em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília. Com
orgulho, lembrou das parcerias teatrais que estabeleceu com uma Françoise
Fourton em início de carreira. Enquanto eu capturava cada palavra de Marco
Antônio, o fotógrafo pernambucano João Batista Azevedo, o Jotabê, não deixava
escapar os gestos do entrevistado. O resultado você confere a partir de agora.
(robertohomem@gmail.com)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<u><b>ZONA SUL</b></u> – Onde
você nasceu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Em Belo
Horizonte, mas logo aos cinco anos fui morar no Rio. Meu pai era mineiro e minha
mãe era carioca. Não guardo na memória muitos registros do período em que
passei na capital de Minas Gerais. Meu pai, Dilo Guilherme Gonçalves, foi
representante de laboratório farmacêutico. Minha mãe, Hercy Ribeiro Gonçalves,
se formou na Escola de Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro. Os dois já
faleceram. Minha mãe trocou o Rio por Brasília para trabalhar no Hospital de Base.
Já em Brasília, ela foi designada pelo hospital para atender uma solicitação da
Presidência da República: aplicar uma injeção no então presidente, Castelo
Branco, no Palácio da Alvorada. Minha mãe foi e, logo em seguida, a convocaram para ficar como enfermeira à disposição do Palácio do Planalto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você tem
irmãos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Sou o mais
novo de sete filhos. Gilberto é aposentado da Caixa Econômica Federal. Emílio
também é bancário aposentado. Márcio, que já morreu, era advogado. Glória era
dona de casa. Ela também já faleceu. Paulo, também falecido, era bancário.
Geraldo está aposentado. Trabalhou como representante de vendas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O que
você lembra do período de cinco anos no qual morou em Belo Horizonte?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Só de
algumas brincadeiras de infância, como participar de guerras de mamona. Hoje em
dia usam a mamona até para fazer combustível, mas, naquela época, ela só servia
para jogar nos outros. E era um barato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
lembra de ter sentido algum impacto em trocar Belo Horizonte pelo Rio?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Não,
excetuando a praia, que era uma coisa diferente. Do mar guardo lembranças desde
o início. Recordo, por exemplo, que a gente trocava de roupa na própria areia,
na hora de voltar para casa. Os adultos construíam uma barreira com toalhas e a
gente ficava pelado para poder vestir o short e pegar o ônibus. Era chato ficar
peladão na praia, era meio complicado. Tenho muitas dessas lembranças
diferentes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – No Rio,
onde você morava?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – No subúrbio
do Encantado. Zico é do Quintino, que é praticamente colado. O bairro não é
muito longe do centro. A gente pegava aquele trem que chamavam “parador” porque
ele parava de estação em estação. Naquela época não tinha esse negócio de trem
de luxo ou metrô. Nesse “parador”, as portas e janelas ficavam abertas. Ia gente
pendurada em tudo que é lugar. Eu costumava descer e subir quando o trem
estava em movimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E os
estudos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Estudei em
colégio de freiras, o Nossa Senhora da Piedade, lá no Encantado. É um colégio
bem tradicional. Às vezes, no meio de uma aula, a gente ouvia o som de um
piano, ao fundo. Era um negócio bem bucólico. O colégio era bem grande: ainda
lembro aquelas freiras andando pelos corredores, parecidas com urubus, usando
aquelas roupas, aqueles hábitos. Era um negócio diferente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> –
Estudante costuma se apaixonar pela professora. Você se apaixonou por alguma
das freiras do colégio?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Não. Como o
colégio era misto, senti aquelas paixões tímidas por outras alunas. Aquela era
uma outra época, a gente costumava ficar só nos olhares. Naquele tempo não
existia a maldade que tem hoje. Aquela sensação de inocência era muito gostosa.
As professoras eram freiras e havia muita cobrança no que diz respeito à
disciplina e à moral. Não tinha a mínima condição de alguém se apaixonar por
uma freira. Diferente de hoje – quando se escuta até “rap e funk” nas escolas –
no meu tempo a gente era obrigado a cantar o Hino Nacional antes do início das
aulas. Hoje em dia o negócio é mais bagunçado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Estudar
em colégio de freiras o transformou em um homem religioso?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Pode até
não ter transformado, mas a parte metódica da educação eu absorvi. Foi bom
porque essa formação valeu para a minha vida toda. De lá fui para o Colégio São
Judas Tadeu, também no Encantado. Nessa época minha mãe já havia se mudado para
Brasília e eu morava com a minha avó.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E o seu
pai?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> –
Praticamente não tive relacionamento com o meu pai. Pouco depois que nasci ele
ficou doente do pulmão, contraiu tuberculose, e foi internado. Quem pegava essa
doença era obrigado a se internar em um sanatório. O remédio era uma mudança de
ares, para um município de serra. Meu pai se internou em Petrópolis. A
tuberculose parecia estar ligada ao romantismo e a extravagâncias como fumar
exageradamente. Era comum entre cantores e poetas. Parece que alguns até
procuravam essa doença. Meu pai deu bobeira e ficou tuberculoso. Por isso não
tive muito contato com ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Depois
que ele foi internado em Petrópolis você não o viu mais?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> –
Praticamente não. Lembro de tê-lo visto umas duas vezes. Por esse motivo não
pude vivenciar uma relação entre pai e filho. Minha mãe ia sempre visitá-lo,
mas como era uma doença contagiosa, não nos levava. Quando meu pai morreu, nem
pude experimentar o sentimento de luto, pois, além do pouco contato, eu também
era muito novo: tinha uns dez anos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O que
mais você contaria para encerrar esse seu ciclo no Rio de Janeiro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Ao sair do
Rio, abdiquei do futebol (que eu gostava de acompanhar pelo rádio) e das peladas
(que eu costumava assistir). O interessante é que, mesmo gostando de ouvir as
partidas, nunca escolhi um time para torcer. Da mesma forma, também não
participava das peladas: eu curtia ficar vendo, do lado de fora da quadra de
futebol de salão. A primeira vez que tentei jogar, quebrei a perna. Aí, desisti.
Em termos de exercício físico, o que eu fiz mesmo foi andar de bicicleta. Como
morava em um prédio de cinco andares, no
Encantado, e não tinha elevador, era obrigado a pegar aquela bicicleta e
levá-la nas costas todos esses lances de escada. Era um exercício obrigatório.
O pior é que eram aquelas bicicletas de pneu balão, bem mais pesadas, que na
época eram as mais modernas. Não tinha também esse negócio de marcha, a gente
pedalava no dedão mesmo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – No Rio
você frequentava qual praia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Como eu era
menino, tinha que frequentar uma praia mais tranquila e perto de casa. Então
minha avó me levava para a Praia Vermelha, no bairro da Urca. Era uma praia
mais mansa, não tinha aquelas ondas pesadas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como se
deu a mudança do Rio para Brasília?</div>
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-of6QaXF-IEI/T5FHKsW2PRI/AAAAAAAAA9g/AwN6697Xh_w/s1600/JBA_6577_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-of6QaXF-IEI/T5FHKsW2PRI/AAAAAAAAA9g/AwN6697Xh_w/s320/JBA_6577_1.jpg" width="320" /></a><b><u>MARCO</u></b> – Eu já
estava praticamente indo e vindo, pois minha mãe já morava em Brasília. Então,
na Revolução de 1964, mudei de vez. Todo mundo estava indo morar em Brasília,
já que a cidade representava a esperança de um novo tempo. Vim de ônibus. Foi a
partir daí que tudo aconteceu: a juventude, os 15 anos, o colégio... Tudo muito
diferente dos outros lugares. Naquela época não tinha violência, as amizades
eram melhores e o trânsito quase não existia.<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Brasília
era uma criança, ainda...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Exatamente,
tinha apenas quatro anos. A gente sequer ouvia falar nesse negócio tão
difundido hoje, que é a corrupção. Eram poucos os casos. Até o Congresso
Nacional tinha um ônibus que pegava na escola os alunos filhos de deputados e
de outras pessoas, e levava para casa. Era tudo muito calmo, não tinha briga de
colégios, de gangues, nada disso. Havia rivalidades, mas o pessoal gostava
apenas era de bandalhar. Não tinha esse negócio de turma A enfrentar a turma B.
Existiam as brincadeiras praticadas contra determinados segmentos,
especialmente os gays e os recos, que eram os soldados novatos. Mas não era
nada de espancar ou tocar fogo: no máximo a gente jogava ovos. Não passava
disso. Os recos que ficavam passeando, de bobeira, querendo namorar as
empregadinhas domésticas, eram alvos fáceis. Mas era só sacanagem mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – E os
seus primeiros namoros?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Ninguém se
importava em ter namoro sério. A gente era como os recos, também gostava de
arrumar confusão com as empregadas domésticas. Tudo era bandalhação. Quando
pegava uma menina de 12 anos, era namoro família, comportado. Ninguém entrava
numas de sacanagem, era um negócio mais puro. A confusão toda era com as
empregadas domésticas. Elas também gostavam, pois os garotões - para elas -
representavam divertimento. Outra característica daquela Brasília dos primeiros
anos é que a cidade não tinha sinal de trânsito, não tinha pardal, não tinha
nada. Isso contribuiu para o surgimento de vários pilotos de automobilismo como
Nélson Piquet e Roberto Pupo Moreno. Muitas corridas de rua ficaram famosas.
Uma delas foi os 1000 quilômetros de Brasília, cuja largada era à meia-noite e,
a chegada, ao meio-dia. Participei da Federação de Automobilismo e ajudei em
algumas corridas como fiscal ou bandeirinha. Foi muito divertido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
chegou a pilotar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> - Sempre tive
vontade, mas nunca pilotei. Esse negócio ficava mais para os malucos. Na
verdade, ninguém sabia muito bem o que era pilotar. Sabia era fazer loucura em
cima dos carros. A sorte é que naquela época os automóveis eram de baixa
cilindrada, como Volks, V-Maguetes... Hoje não se compara as velocidades.
Muitos carros ficavam pelo caminho, não chegavam ao final da prova. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Brasília
era uma boa cidade para os jovens viverem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Sim. Uma
coisa bacana é que havia muita união entre os estudantes. Não tinha muita
rivalidade entre as escolas e rapazes e moças circulavam por todos os colégios,
sem problemas. Foi a fase do crescimento do rock por aqui. A juventude de
Brasília, no início, era muito mais sadia que a de hoje. Antes não havia
preocupação com cocaína ou outras drogas pesadas. Ninguém sabia o que era isso.
No máximo, esporadicamente aparecia maconha, mas não era um negócio muito
visível. O pessoal vivia mais em torno de curtir a cidade e a liberdade que ela
nos oferecia. Depois do surgimento de uma turma ou outra reunindo filhos de
políticos é que a cidade começou a mudar para pior.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Devido a
impunidade?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Com
certeza. Como eram filhos de gente importante, eles achavam que podiam usar e
abusar. Foi aí, com essa junção de poder com a impunidade, que Brasília ganhou
uma fama pejorativa. Esses garotões aprontavam e tinham seus pecados abafados.
Não eram apenas políticos: filhos de militares também estavam no meio dessas
turmas. Quando algo de ruim era feito por uma turma dessas, as investigações
nunca levavam a nome nenhum e os jornais também não estampavam as fotos dos
responsáveis. Tudo era abafado devido ao envolvimento de filhos de senadores,
deputados, ministros e militares. Um caso emblemático foi o assassinato de Ana
Lídia Braga, ocorrido nos anos 1970, durante a ditadura militar. Ela tinha sete
anos de idade quando foi sequestrada do colégio onde estudava. Depois de
torturada e estuprada, ela foi morta por asfixia. Seu corpo foi encontrado por
policiais em um terreno da UnB. Ela estava nua e tinha marcas de cigarro no
corpo. O crime nunca foi esclarecido. Entre os suspeitos estavam filhos de
políticos influentes e membros da sociedade de Brasília. O caso foi abafado.
Ana Lídia hoje é considerada santa. Brasília perdeu a pureza a partir desse
episódio de impunidade. Foi a partir daí que a cidade recebeu o apelido de Ilha
da Fantasia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Foi
nesse período que você passou a se envolver no movimento cultural da cidade
através do teatro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Exatamente.
Minha ligação com a parte artística de Brasília foi muito ampla e dinâmica, na
época. Como a cidade não era muito grande, havia a possibilidade de uma maior
proximidade entre as pessoas. Era mais fácil se conhecer e se enturmar. Também
contribuía o fato de não ter praia ou muitas outras opções de lazer. Ou as pessoas ficavam nas garagens, aprendendo a tocar guitarra, ou se envolviam com a
dança ou o teatro. Foi então que conheci pessoas que estavam começando no
teatro, capitaneadas por um diretor de espetáculos infantis, Donato Donati, que
sempre vinha de Belo Horizonte fazer peças em Brasília. Integrava esse grupo a
atriz Françoise Fourton, que se envolveu muito cedo com o teatro, aqui em
Brasília. Tive a oportunidade de trabalhar com ela em algumas peças. Uma delas
foi A Bela Adormecida. Foi nessa peça que Françoise Fourton deu o seu primeiro
beijo artístico. Ela era a Bela Adormecida e eu encenava o Príncipe. Tenho até
uma foto, com dedicatória assinada por ela, lembrando o fato de ter sido comigo
o seu primeiro beijo em cima de um palco. Depois disso ela foi para o Rio de
Janeiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Por que
você também não tentou seguir o caminho do teatro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Na época até havia essa possibilidade. A Rede Globo ainda estava começando a produzir suas
novelas e não havia artistas com fama nacional. A chance de alguém sair de
Brasília e chegar ao estrelato era muita, porque o mercado no Rio de Janeiro
ainda estava aberto. Acredito que se eu tivesse arriscado voltar para o Rio,
poderia ter feito uma peça aqui e outra acolá e, quem sabe, chegar até a Rede
Globo como ator. De qualquer forma cheguei na Globo pelo lado do
telejornalismo.</div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Teve
algum motivo específico para você largar a carreira no teatro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – O principal
é que, com a saída de Françoise Fourton - ela que era a estrela principal - o
nosso grupo se desmanchou. Sem ela não seria mesma coisa. Ela já era
importante, tinha feito balé na Academia Lúcia Toller... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Paralelo
à atividade no teatro, o que você fazia da vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Eu só
estudava. No teatro eu ganhava algum dinheiro e, graças a ele, fazia algumas
propagandas para televisão. Fui contratado para fazer comercial de móveis
devido ao meu porte físico: tinha os cabelos grandes, um ar despojado... Era
cabeludão, parecia hippie. A parte técnica das emissoras de Brasília era bem
precária: não tinha grua e as câmeras eram bem simples. A gravação era na TV
Brasília, a primeira emissora da cidade. Esse material não existe mais, deve
ter se perdido com o tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como se
deu sua entrada no telejornalismo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-rLGGTQAlJy4/T5FHsyQ3-MI/AAAAAAAAA94/yQRzUc8fleU/s1600/JBA_6572_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-rLGGTQAlJy4/T5FHsyQ3-MI/AAAAAAAAA94/yQRzUc8fleU/s320/JBA_6572_1.jpg" width="320" /></a><b><u>MARCO</u></b> – Foi coisa
do destino. Comecei a namorar uma menina cujo pai era jornalista em Brasília.
Ele recebia sempre uns amigos, também jornalistas, para jogar carteado. Numa
dessas ocasiões, fui apresentado a um diretor de jornalismo da TV Globo de Brasília.
Ele me convidou para visitar a emissora. Dei a sorte de, nessa visita, conhecer
um cinegrafista do Rio de Janeiro que cobria a Presidência da República, o
Evilásio Carneiro. Por intermédio desse diretor de jornalismo da Globo, ganhei
a oportunidade de fazer iluminação para Evilásio, em reportagens cobrindo o
Planalto. Foi aí que me empolguei com o lance de televisão. Seis meses depois
deixei de ser pau de luz (assistente de cinegrafista) e fui promovido a
cinegrafista da Globo. Naquela época era uma ascensão muito difícil de
acontecer, porque não era videotape, era cinema. Para se trabalhar como
cinegrafista na TV de antigamente a pessoa tinha que aprender cinema, e não
videotape. Tudo começou com filme preto e branco de 16 milímetros. A televisão
custava muito mais caro do que hoje em dia. Agora é possível fazer várias
gravações por cima da outra em uma mídia só. Antes o filme era revelado e não
tinha mais como mexer nele. E era preto e branco. Depois foi que a Globo
implantou novamente o sistema de filme, dessa vez já o colorido. Depois do
filme colorido veio o videotape. A partir daí a bagunça ficou formada. Na ordem
natural das coisas, o motorista vira assistente de cinegrafista, que passa para cinegrafista. No Brasil não tem escola para formar profissionais aptos a
trabalhar na parte de vídeo, cinema etc.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você já
começou como assistente de cinegrafista no Palácio do Planalto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Sim,
cobrindo a Presidência da República. Quando eu ainda era assistente de
cinegrafista, aconteceu um fato pitoresco. Era época dos militares. Apesar de
trabalhar como iluminador, tinha oportunidade de fazer uma imagem aqui, outra
ali. Foi quando me chamaram para fazer uma filmagem dentro do gabinete do então
presidente da República, João Figueiredo. A câmera era ainda de cinema. Fui
filmar o presidente porque estava sem cinegrafista na redação. Fiquei tão
nervoso que na hora de preparar a câmera – era uma câmera com três jogos de
lente (grande angular, média e normal) – posicionei metade de uma lente com
metade da outra. O resultado é que aparecia metade da cara do presidente e a
outra metade era apenas escuridão. Esse filme não foi aproveitado pela
emissora. Uma oportunidade dessas a gente não pode perder, mas foi um momento
difícil. Aliás, gravar um presidente da República não é mesmo fácil. Na época
dos militares a gente entrava para filmar o presidente com tempo cronometrado.
Já entrava com a câmera ligada. Os fotógrafos já começavam a bater antes de
entrar. Se demorasse um pouco, os assessores dos militares começavam a desligar
nossas luzes das tomadas, porque sem luz a gente não podia filmar. Ninguém
filmava ou fotografava mais nada. O tempo era muito curto. No máximo dava para
fazer três ou quatro fotos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
começou com qual presidente?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Comecei com
João Figueiredo. Trabalhei onze anos na TV Globo, como cinegrafista. Fiz várias
viagens. É uma profissão muito interessante: você tem oportunidade de conhecer
vários lugares e sabe que milhares de pessoas estão acompanhando o seu trabalho.
Por outro lado, trabalhar em uma emissora de ponta amplifica um erro que você possa cometer. A TV depende muito de suas imagens e você não pode perder. A Globo é
diferente porque sempre exige dos seus profissionais o melhor: as melhores
imagens, os melhores ângulos e as melhores falas. Ser profissional de uma
emissora como a Globo não é fácil. Não se pode negar que a qualidade da Globo é
diferente das demais. A responsabilidade de um cinegrafista da Globo é muito
grande.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Os onze
anos foram na Presidência?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO </u></b>– Sempre
cobrindo a Presidência e o Congresso Nacional. Na verdade, quando necessário eu
cobria todo o Distrito Federal. Cobria desde o mármore de carrara até uma
favela. Corria atrás de cenas perigosas e fazia também o dia a dia da política.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Conte
alguma cobertura perigosa da qual você participou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Em 1982 um
avião da Vasp partiu-se ao meio durante uma aterrissagem no Aeroporto
Internacional de Brasília. Estava caindo um temporal muito grande na cidade.
Duas pessoas morreram nesse acidente, que ocorreu durante a madrugada. Como eu
morava perto da emissora, sempre era o primeiro a ser chamado nessas
emergências. Na televisão ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo.
Quando cheguei no saguão do aeroporto, vi vários repórteres sem informação
nenhuma. Fui no carro da Globo, com o nosso repórter, circular o aeroporto para
tentar conseguir alguma imagem diferente. Nisso, encostamos o carro perto da
grade que protege a pista. É bom lembrar que a área do aeroporto é de segurança
nacional. Ninguém pode entrar numa pista de avião sem autorização. Então
passamos um rádio para a televisão dizendo que só havia um meio de ver o que
estava acontecendo: pular a cerca do aeroporto JK. Mas se pulássemos e fôssemos
pegos, seríamos presos. O chefe de reportagem de plantão autorizou: “pode
pular, se vocês forem presos, a gente tira”. Todos os outros repórteres no
saguão, e a gente ali. Pulamos, percorremos um matagal de dois metros de
altura, e entramos na pista do aeroporto. Minha câmera de filmar parecia uma
metralhadora. Botei ela pra baixo, como se fosse uma arma. Essa câmera a TV
Globo tinha comprado depois do fim da guerra do Vietnã. Já estava em desuso nos
Estados Unidos. Era uma câmera pesada, pronta para a guerra. Era toda com chassi
blindado de um metal muito forte. Conseguimos caminhar e chegar perto do
acidente. Éramos a única equipe que estava na pista. O avião estava com o bico
para um lado e a traseira para o outro, divido ao meio. Filmei aquilo e ninguém
mais tinha aquelas imagens. Fiz o suficiente até que passou um trator e a gente
subiu nele, como se fôssemos funcionários de alguma empresa. Saímos pela porta
da frente do saguão sem falar nada com nenhum repórter. Pegamos o carro,
voltamos para a Globo e esse material saiu no primeiro jornal da emissora.
Imagens inéditas mostrando o avião dividido. Ninguém viu a gente nem entrando e
nem saindo. Como minha câmera parecia uma metralhadora, passamos como se
fôssemos soldados. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Tem
outra história de perigo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-jZDBNIWN3MQ/T5FHxn3ZVLI/AAAAAAAAA-I/l9Y5lOXS8J0/s1600/JBA_6609_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-jZDBNIWN3MQ/T5FHxn3ZVLI/AAAAAAAAA-I/l9Y5lOXS8J0/s320/JBA_6609_1.jpg" width="320" /></a><b><u>MARCO</u></b> – Na verdade,
a história que contei foi mais de emoção, pelo fato de testemunhar aquela
tragédia, do que propriamente de perigo. O perigo mesmo que passei foi em uma
visita à aldeia caiapó, no Xingu. A aventura que vou contar foi fotografada
pelo fotógrafo de O Globo, Jamil Bittar, que morreu recentemente. A Globo
recebeu a notícia de que os índios estavam mantendo como reféns funcionários da
Funai dentro do galpão da aldeia. Eles diziam que só libertariam os
prisioneiros quando fosse resolvido o problema de pescadores ilegais que
estavam atuando em território da reserva indígena. Diversas emissoras de
Brasília mandaram equipes para lá. Foram vários aviõezinhos daqui para o Xingu.
Era a primeira ocasião em que índios prendiam funcionários públicos e
mantinham-nos como reféns. A TV Globo e o jornal O Globo fizeram uma parceria e
fomos juntos para o Xingu. Chegamos um pouco antes dos concorrentes dos outros
veículos. No momento em que aterrissamos, fomos recebidos pelo Raoni. Ele, com
toda aquela indumentária de cacique, conduziu a gente até o centro da aldeia,
que ficava perto. Lá, os índios estavam todos vestidos e pintados para guerra,
apontando flechas para a gente: eu, meu assistente, o fotógrafo do Globo e uma
jornalista. Nesse momento, começaram a nos dar bordunadas. O fotógrafo, quando
viu o cerco se fechando, pulou fora e começou a fotografar a cena, bem de longe
da confusão. Meu assistente era evangélico, ao começar a levar bordunadas, ele
se ajoelhou e começou a pedir ajuda a Deus. Até o cacique Raoni deu bordunadas
na gente, enquanto os índios, todos pintados, gritavam uh-uh-uh pra cá e pra
lá. Eu pensei: “vou morrer, mas não vou desligar minha câmera”. E não
desliguei: gravei toda a nossa possível morte. Foram uns três minutos a gente
apanhando. A emoção foi tão grande que eu não sabia se filmava, se rezava ou se
morria. O interessante é que as pancadas não doíam muito. Não sei se era por
causa da adrenalina... Eu ainda tentei me defender com a câmera que estava
usando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Era a
blindada? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Não, era
uma bem frágil. Jamil conseguiu tirar algumas fotos dessa pancadaria toda na
gente. O mais interessante é que, logo que acabou a pancadaria, o Raoni chegou
perto da gente, pediu desculpas e falou que aquilo era apenas um desabafo. Os
índios estavam querendo desabafar em alguém, e como nós fomos os primeiros a
chegar, pagamos o pato. Em pouco tempo começou a descer teco-teco pra cá e
teco-teco pra lá com o resto da imprensa. Eles não sofreram nada, o “desabafo”
foi todo em cima da gente. Depois disso foi aquela amizade, com beijos e
abraços. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Conte
outro fato interessante, não necessariamente de perigo, que você vivenciou na
sua profissão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Certa vez
fui destacado para viajar até o Piauí. Recebi um envelope lacrado, com ordem de
só abri-lo dentro do avião. Eu encontraria com uma equipe da repetidora da
Globo, em Teresina. Tinha um caso interessante no estado. Eu receberia os
detalhes quando desembarcasse. Viajei com uma câmera de cinema. No avião,
quando abri o envelope, descobri que o objetivo da viagem era filmar uma santa
que estava aparecendo em Piripiri. Imediatamente pensei: como vou filmar uma
santa? Ao chegar no aeroporto, encontrei a equipe que ia me conduzir ao local
das aparições. Só que o jornal local havia divulgado uma matéria contando que
uma equipe do Jornal Nacional estava chegando para filmar a santa que estava
aparecendo em Piripiri. No dia seguinte fui com um repórter de lá. Quando
estávamos chegando perto de Piripiri, começamos a ver na estrada bicicletas,
charretes, cavalos, ônibus e carros vindos de tudo o quanto é lado. A notícia
do jornal local havia chamado atenção e as pessoas tinham resolvido acompanhar
a filmagem em uma romaria enorme. A santa tinha sido vista por duas crianças.
Seus pais não queriam propaganda. Antes de ir ao local da aparição, visitamos o
bispo da igreja católica. Teoricamente ele era o cara mais confiável para dar
um depoimento sobre o assunto. A igreja é contra esse tipo de romaria para
dizer que santo tá aparecendo. Mesmo que exista esse tipo de aparição, a igreja
não concorda com essa propaganda. Como suspeitava que a gente não seria bem
atendido, já cheguei gravando a cena em que o nosso repórter pergunta ao bispo
se o aparecimento da santa era verdade. “De jeito nenhum, não está aparecendo
santa nenhuma, isso não existe, não quero falar nada, isso é boato”, foi a
resposta que o bispo deu. Pra gente foi o esperado. De lá fomos ao local da
suposta aparição. No caminho, encontramos várias pessoas a pé, uma romaria
danada: gente vestida de branco, crianças, distribuição de santinhos... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Como era
o local da aparição?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-DhmRiszpsTI/T5FHNFXcEKI/AAAAAAAAA9o/let41M5XRbU/s1600/JBA_6580_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-DhmRiszpsTI/T5FHNFXcEKI/AAAAAAAAA9o/let41M5XRbU/s320/JBA_6580_1.jpg" width="320" /></a><b><u>MARCO</u></b> - Era em um
matagal danado. Perto de uma cerca estava cheio de caminhão, carro e tudo o
mais estacionado. Andei um pouco e um cara disse que a santa tinha aparecido
próximo a um toco que ele estava apontando. O toco estava rodeado por velas.
Olhei pro repórter e perguntei: “e agora?”. Para não perder a viagem, resolvi
subir em uma árvore. Lá de cima joguei o microfone, com um cabo bem grande,
para o repórter. Pedi para ele entrar no meio do povão. De cima da árvore,
chamei todo mundo para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria, pra ver se a santa
aparecia. Filmei o toco em primeiro plano, as pessoas mais humildes em segundo
plano, junto com aquelas velas e aquele matagal todo. Essa cena já salvava a
minha viagem. Começaram a se ajoelhar, a entrar na minha, todo mundo rezando um
Pai Nosso pra cá, uma Ave Maria pra lá. Para captar imagens de outro ângulo,
desci da árvore e fui filmar em volta do toco. Coincidentemente, no instante em
que desci o pessoal começou a chorar e a dizer que estava vendo a santa. Não
sei se queriam aparecer na filmagem, mas começaram a apontar e a dizer que a
santa estava vestida toda de branco. O material começou a crescer com aquelas
pessoas falando, enquanto outras choravam. A gravação foi ficando bonita pra
diabo! Esse material saiu no Jornal Nacional do sábado seguinte. A repercussão
foi muito boa. A televisão disse que não havia santa, que era apenas um toco,
que aquele povo teve uma catarse naquele lance da filmagem, todo mundo junto.
Outra coisa interessante que deixava uma ponta de dúvida, apesar da fantasia da
filmagem, é que fomos para a aldeia procurar as pessoas que viram, para dar
credibilidade à matéria. Fomos até a casa de uma das meninas que primeiro tinha
visto a aparição. O pai, muito humilde - na porta de sua casa de palha, com um
cachorrinho por perto - pediu para não filmarmos as filhas dele. Então eu
perguntei o que ele pediria à santa se a visse. Ele respondeu que pediria para ela
aparecer também para as outras pessoas, para a família dele não passar por
mentirosa. Interessante, porque ele podia falar que queria saúde pra todo
mundo, dinheiro, felicidade... Mas pediu apenas para a santa voltar a aparecer
para que suas filhas pudessem recuperar a credibilidade. Apesar de toda aquela
preparação das imagens, de toda a plasticidade da televisão - que é uma
fantasia - saí mais ou menos acreditando que realmente as meninas teriam visto
aquela santa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – De
cobertura específica no Planalto, o que você lembra de mais inusitado que
aconteceu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Hoje em dia
a parte técnica de televisão está bem mais cuidadosa do que antigamente. Antes
tinha uns paus de luz que viviam pipocando na cara dos outros. Aconteceu um
caso interessante, na época da guerra fria, quando o secretário de Estado
norte-americano, Henry Kissinger, visitou o Palácio do Planalto. Ele era muito
visado até em termos de atentado terrorista. Quando a gente estava filmando o
discurso dele, no salão nobre, as luzes de um cinegrafista pipocaram,
explodiram. No mesmo instante Kissinger se abaixou, achando que estava sendo
atacado. O norte-americano e seus seguranças acharam realmente que naquele
momento estava sendo promovido um atentado em pleno salão nobre do Palácio do Planalto.
Depois desse episódio, o Planalto baixou uma determinação obrigando toda
iluminação ter uma tela de metal na frente da lâmpada, para evitar de acontecer
o mesmo que ocorreu com Kissinger. O susto foi grande, pois o barulho da
lâmpada de mil quando pipoca é semelhante ao de um de tiro. Na hora Kissinger
se abaixou por trás do púlpito e instantaneamente os seguranças foram para
cima, para protegê-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Depois
desses onze anos na Globo o que você foi fazer da vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> – Desisti da
Globo porque teria que me mudar para o Rio de Janeiro ou talvez pegar uma
sucursal fora do país. Então parti para fazer gravações por conta própria. Como
eu tinha aparelhagem de videotape, decidi fazer gravações por conta própria no
Congresso Nacional. Era um grande filão, pois não tinha TV por lá, ainda. Foi
quando me deparei acidentalmente com o então deputado federal Ratinho, que hoje
é famoso em todo o país através da tela do SBT. Na época ele tinha um programa,
na CNT do Paraná, chamado Cadeia. Ele era deputado e fazia esse programa
policial. Acidentalmente cruzei com ele no Congresso e, durante a conversa, ele
me chamou para fazer algumas filmagens para o programa Cadeia. Como ele era
maluco e eu acompanhei um pouco a maluquice dele, fizemos muitas coisas interessantes
juntos. A primeira foi durante a discussão que estava havendo no Congresso a
respeito de monarquia ou república. Tive a ideia de fantasiá-lo como rei.
Peguei a fantasia emprestada da escola de samba do Cruzeiro. Ratinho se vestiu
como rei e apareceu no programa falando sobre a monarquia. Outra matéria foi
comparando as cúpulas do Congresso com discos voadores. As pessoas começaram a
gostar e a querer saber quem estava fazendo aquilo para o Ratinho. Dessa forma
fui indicado para ser o responsável pela abertura do canal CNT, em Brasília.
Aceitei e fiquei por 16 anos como diretor de jornalismo da emissora. Me
desliguei do Ratinho para essa tarefa. Foi até uma pena, porque se eu tivesse
ficado com ele provavelmente hoje estava rico. Depois da CNT fiz algumas coisas
em redações de televisão até que fui convidado para ser produtor executivo da
NBR, fazendo as coberturas ao vivo nessa TV do governo federal. Estou gostando
muito de trabalhar com coberturas ao vivo, pois durante vários anos da minha
vida atuei apenas com tudo gravado. Qualquer erro, na gravação, você volta. Ao
vivo, além de trazer uma repercussão imediata, exige um cuidado redobrado e uma
responsabilidade grande. Também estou dando suporte na parte de gerenciamento
de risco de imagem no Ministério da Previdência Social. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – O que
você diria a alguém que pretende ingressar na carreira de cinegrafista?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b>MARCO</b> – É uma profissão
que vale a pena, apesar de ser muito estressante. A televisão é uma mistura de
arte, profissionalismo e estresse. Se a pessoa quiser ir para o campo da imagem
- quer seja na cinegrafia ou na fotografia – vai encontrar um bom campo para
trabalhar, porque hoje em dia todo mundo quer aparecer. Também vale a pena
enveredar por esse ramo porque no momento em que você está com o olho no visor,
praticamente esquece do resto do mundo. É o seu olho capturando a vida através
da câmera. Você vai, através daquelas imagens capturadas, oferecer ao
telespectador a sua versão da realidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>ZONA SUL</u></b> – Você
conhece o Rio Grande do Norte?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u>MARCO</u></b> - Estive em
viagens presidenciais, mas não pude ficar muito tempo. Acompanhei, por exemplo,
o presidente Figueiredo em uma passagem rápida. Mas pude passar vinte dias de
férias em Natal. É uma cidade muito legal. Tenho planos de, quando me aposentar,
ir morar na beira da praia. O litoral potiguar é um dos favoritos nessa futura
opção que farei. Enquanto esse dia não chega, vou continuando a minha batalha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tEZp1QksnKk/T5FHvt16wDI/AAAAAAAAA-A/aXxyZY3bxIk/s1600/JBA_6586_1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="424" src="http://1.bp.blogspot.com/-tEZp1QksnKk/T5FHvt16wDI/AAAAAAAAA-A/aXxyZY3bxIk/s640/JBA_6586_1.jpg" width="640" /></a>
</div>
<br />
<br />Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-20162617022552914832012-03-22T20:09:00.098-03:002012-03-22T20:37:33.929-03:00Entrevista: Rildo Lima<div><a href="http://3.bp.blogspot.com/-A6jq9k3Vk6I/T2u2iUKQiMI/AAAAAAAAA9Y/tMOhUHgDUgY/s1600/2012-02-26%2B19.26.16.jpg"></a><div><div><div><div><div><div><div><div align="center"><span ><strong><em>...E O ALPHORRIA CRIOU O REGGAE POTIGUAR</em></strong></span></div><span></span><p><span>A história do reggae em Natal se confunde com a da banda Alphorria, <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868149107279074" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-M_AOoix7yAc/T2u2QrPvxOI/AAAAAAAAA8Q/_8uOkje_87Y/s320/2012-02-26%2B19.21.44.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 320px; height: 240px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline">cujo sucesso extrapolou a fronteira potiguar. O grupo criado por<br />Rildo Lima, Francisco Bethoven, Jolian Joumes, Silvio Boy, Eduardo<br />Taufic e Carlos Suassuna - responsável pela popularização do ritmo<br />jamaicano em Natal – arrebanhou importantes fãs como os<br />integrantes do Cidade Negra, sobretudo Toni Garrido. Devido a<br />importância do nosso entrevistado do mês - o vocalista do<br />Alphorria, Rildo José de Lima - escalamos uma verdadeira seleção<br />para arguí-lo: além da já tradicional e indispensável presença<br />do jornalista Roberto Fontes, pude contar com a colaboração de um<br />dos produtores da banda Inácio Toca Trumpete, Neneto Almeida. Direto<br />de Fortaleza, o compositor e veterano do basquetebol, Almir Ribeiro,<br />também contribuiu de forma decisiva para tudo o que vamos ler a<br />partir de agora. Com vocês, o grande craque da música e do basquete<br />potiguar, RILDO LIMA!!! (<a class="western" href="mailto:robertohomem@gmail.com">robertohomem@gmail.com</a>)<br /></span><br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – De onde veio Rildo José de Lima?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> - Nasci em Natal. Papai também é natalense. Minha mãe, Dona Da Guia, é de Parelhas. Ela casou cedo e veio do interior para cá. Até hoje é exímia dona de casa. Meu pai é Paulo Cunha, um dos nomes mais conhecidos do basquete potiguar. Foi dele que herdei meu lado esportivo. Tenho um irmão gêmeo, José Rildo. Nossos nomes são invertidos: eu sou Rildo José, ele é José Rildo. Papai era botafoguense, Rildo foi um grande lateral do time. Meu pai prestou essa homenagem.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Em qual bairro você nasceu?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Na Cidade Alta. Minha família morava na Princesa Isabel, ao lado do Banco do Brasil. Foi a casa onde meus pais foram morar, depois que casaram. Minha infância toda foi na Cidade Alta. Da Princesa Isabel mudamos para a Vigário Bartolomeu. Eu tinha uns cinco ou seis anos.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Quais as primeiras imagens que surgem na sua memória?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – As lembranças mais vivas - a partir de seis, sete anos - já são do tempo da Vigário Bartolomeu. Recordo do futebol na rua, de andar de bicicleta... Natal era tranquila, dava para fazer isso tudo. Cursei o jardim de infância no colégio Sossego da Mamãe, que ficava ao lado do Hospital Infantil Varela Santiago. De lá fui para o Instituto Montessori, que era colado à Escola Doméstica. Era comum o aluno sair do Montessori para o Marista ou para o Salesiano. Eu fui para o Salesiano.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – O basquete já fazia parte da sua vida nessa época?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Desde os seis anos, quando comecei a assistir os jogos de papai, senti vontade de jogar basquete. Mas ele só deixou quando completei sete. Ele era professor da escolinha da AABB. Daquela época pra cá, nunca mais saí das quadras.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Almir Ribeiro, que foi aluno do seu pai, pergunta como ele está. Almir também pede para você falar um pouco sobre a carreira de Paulo Cunha.<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Papai está bem demais, graças a Deus! Sua história é bem interessante. Meu pai começou no esporte através do remo, que na época era bastante tradicional em Natal. Ele era um negrão fortão. Aos 18 anos recebeu convite para jogar basquete. Era uma idade avançada para começar outra modalidade esportiva. Seu primeiro técnico disse que meu pai não teria sucesso no basquete por ser muito forte.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Qual a altura de Paulo Cunha?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Media 1,85m, era um homem alto para os padrões da época. Hoje ele seria considerado baixo, mas há 50 anos, não. Papai jogou até de pivô! Como o primeiro técnico não o quis, ele aceitou o convite do treinador José Augusto e foi jogar pela AABB. A partir daí começou a se aperfeiçoar e rapidamente alcançou a seleção do Rio Grande do Norte. Naquela época, todo ano havia um campeonato brasileiro de seleções. Em um desses anos, o RN ficou entre os três primeiros. Como papai foi o destaque do time, acabou sendo convocado para a Seleção Brasileira. Foi a mesma seleção que conquistou o título mundial de 1959. Papai ainda ganhou o Sul-Americano, ao lado de atletas como Wlamir Marques, Algodão e Rosa Branca, e sob o comando do técnico Kanela. Ele não foi para o mundial porque, pouco tempo antes de embarcar, escorregou no vestiário - no intervalo de uma partida - e quebrou o cotovelo.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Depois que se recuperou, ele continuou jogando?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Sim, mas só no Rio Grande do Norte. Papai jogou muito, ainda. Cheguei a atuar com ele, quando eu tinha 19 pra 20 anos. Jogamos na AABB. Ele só não retornou para a Seleção porque ficou fisicamente um pouco limitado.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como foi sua progressão dentro do esporte?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Comecei na escolinha aos sete anos e hoje disputo campeonato de másters. O basquete máster é muito forte no Brasil e no mundo. É dividido por categorias que obedecem a faixas etárias. Papai, com 75 anos, ainda joga. Esse ano, vamos disputar o Norte-Nordeste, em João Pessoa, e o brasileiro, em São Paulo. No ano retrasado, o brasileiro foi realizado em Fortaleza. Wlamir Marques foi convidado para a abertura e para dar umas palestras. Foi um evento marcante para mim, porque pude testemunhar o encontro dele com o meu pai. Fazia 50 anos que não se viam. Para mim, estar com Wlamir Marques ao lado do meu pai foi tudo! Em qualquer transmissão importante, Wlamir Marques é tratado como um dos maiores nomes do basquete. Saber que o meu pai teve o mesmo nível dele, que jogaram juntos na Seleção Brasileira, é motivo de muito orgulho. Ainda mais conhecendo os obstáculos que meu pai teve que ultrapassar para chegar até a Seleção, saindo de um estado pequeno como o Rio Grande do Norte.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Almir Ribeiro recorda que conheceu seu pai logo após o mundial de basquete disputado nas Filipinas, no qual o Brasil classificou-se em terceiro lugar. Paulo Cunha foi ao Colégio Salesiano falar sobre a escolinha que iria iniciar. Na ocasião, contou a história dele como jogador de Seleção. A seguir, um comentário e uma pergunta de Almir Ribeiro, direto de Fortaleza: “Você foi o melhor jogador de basquete, em Natal, da minha geração. Poderia ter chegado inclusive na NBA. Nunca pensou em jogar profissionalmente em outro estado brasileiro?”.<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – O clube que joguei a vida inteira, e que continuo jogando até hoje, é a AABB. Só saí um período para atuar pelo América. No basquete escolar, atuei pelo Salesiano. Foi em um período que a competição entre as escolas era pau: tinha torcida organizada, bandeiras, charangas, ginásio lotado... Os Jogos Estudantis do RN (JERNs) interrompiam as aulas. Os maiores rivais do Salesiano eram o Marista e a EFRN. Estou falando do período entre 1980 e 1985. Foi a época que vi o basquete ser mais movimentado. De lá para cá, caiu muito. Com exceção de América e AABB, os clubes de Natal são times de colégio vestindo sua camisa.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Você não respondeu a pergunta de Almir: “pensou em jogar basquete em outro estado”?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Pensar, pensei, e até recebi convites. O primeiro foi de um time de Brasília, depois que disputei uns Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) na capital do país. Antigamente essa competição envolvia as seleções estaduais. Hoje a equipe campeã dos jogos escolares de cada estado vai representá-lo. Meu primeiro JEBs foi em 1982, eu tinha 16 anos. Foi minha primeira competição escolar a nível nacional. Foi depois desses JEBs que recebi o convite para jogar em Brasília, feito pelo treinador da equipe do DF. Esse técnico era amigo de papai. O RN ficou na mesma chave de Brasília e jogamos contra eles. Não aceitei o convite porque decidi aguardar mais um pouco e concluir os estudos. No ano seguinte fomos disputar um campeonato de seleções no Rio Grande do Sul. Repeti a boa performance e fui convidado a jogar no Vasco da Gama. Também não topei porque as notícias da época mostravam que o time não era bem organizado. No terceiro ano recebi convite para jogar em um clube de São Paulo, acho que era a Hebraica. Mas eu já estava no período de conclusão do estudo, naquela fase de decidir o que fazer da vida. Mais uma vez não topei.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – E a música, quando entra na sua história?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> - O basquete e a música sempre estiveram entrelaçados. Passei a me envolver com a música no Salesiano. Aliás, quando eu estava para concluir o segundo grau, aos 17 anos, me reprovei para poder jogar mais um ano basquete pelo colégio. Essa foi a principal causa por eu não ter terminado os estudos, pois no ano seguinte fui servir ao Exército. Voltando à música, aos 14 anos comecei a me interessar pelo violão de papai. Ele tocava acompanhando aqueles caderninhos. Eu pegava o violão dele pra desafinar. Como não sabia nada, rodava as tarrachas. Até que um dia resolvi experimentar um caderninho dos deles. Comecei assim. Achei aquilo interessante, divertido e passei a comprar os meus próprios cadernos. Até porque os do meu pai eram de músicas antigas. Apesar desse contato com o violão, meu primeiro instrumento profissional foi a bateria. Começou quando passei a integrar a charanga da torcida do Salesiano. Quando eu não estava jogando, estava torcendo, tocando tarol, caixa, bumbo... Juntava o tarol e a caixa e fazia uma zoadeira, como se fosse uma bateria. Sempre gostei de percussão. Certo dia descobrimos que havia instrumentos de uma banda guardados em uma sala do Salesiano. Conversamos com um daqueles padres, que nos autorizou a utilizá-los, contanto que os mantivéssemos conservados. Quando a gente foi ver aqueles instrumentos empoeirados do Salesiano, tinha uma guitarra, um contrabaixo e uma bateria. Junto com três amigos, montamos uma banda: Marco Túlio e Gilberto (guitarras) Erick Firmino (contrabaixo) e eu na bateria. Tocávamos rock dos anos 1980 em festinhas. Essa primeira banda chamava-se Censura Livre. O repertório incluía covers de Legião, Paralamas, Titãs, Pink Floyd... Não ganhávamos dinheiro, era apenas diversão.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – E o Exército? <br class="Apple-interchange-newline"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868179187290050" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-diPo9s79ts0/T2u2SbTYT8I/AAAAAAAAA80/Z7caUuifmrs/s320/2012-02-26%2B19.22.43.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 240px; height: 320px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> – Tive a oportunidade de não servir o Exército. Meu pai tinha alguns contatos que poderiam me ajudar a ser dispensado do serviço militar. Mas eu sempre tive espírito aventureiro, de querer conhecer as coisas. Por isso resolvi me alistar e servir, para adquirir essa experiência. Como eu era alto e forte, fui destacado para a Polícia do Exército. Lá dentro, fiz um curso de três meses, em Recife, para cabo. Foi legal, aprendi táticas de guerra e aquelas coisas das Forças Armadas. Só que tinha um detalhe: não nasci para ser mandado. Ser cabo era melhor do que ser soldado, porque aí eu já mandava em alguém, não apenas obedecia. Mas quando chegou a época de decidir se continuava ou não, se fazia um curso de sargento, resolvi sair. Gosto de liberdade, de fazer o que quero, na hora que quero... Fui embora. Apesar de tudo, no Exército foi legal, me acostumei a ganhar meu dinheirinho. Por isso, logo que saí, fui procurar outra ocupação que me rendesse uma grana. Por coincidência, estava abrindo em Natal as Casas Pernambucanas. Fui trabalhar por lá. Com 19, 20 anos, eu ganhava salário comercial, estava tranquilo. Por intermédio do basquete, eu havia conhecido Ricardo Menezes, que trabalhava no Bandern e tocava na banda Cabeças Errantes. Fui convidado para substituir o baterista deles. Topei. Com os Cabeças Errantes tocamos em vários festivais de música em Natal.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Até então não tinha pintado nenhum tostão com a música...<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Nada, só tapinha nas costas e um beijinho aqui e acolá. Foi quando Ricardo me propôs tocar com ele em um barzinho que estava para ser inaugurado. Era voz, violão e percussão. Com o dinheirinho que eu ganhava nas Casas Pernambucanas, comprei uma timba. Ele fazia voz e violão e eu fazia voz e percussão. Começamos a ganhar uma graninha boa. Um ano depois, a Riachuelo abriu um lojão em parte do terreno onde hoje é o Midway. Como o salário era melhor, fui trabalhar lá. Em pouco tempo percebi que na Riachuelo quem mais ganhava era o cara que vendia. Fui buscar comissão nas vendas. Ao mesmo tempo em que estava subindo na loja - digamos assim - passei a tocar mais na noite, com Ricardo. Até que chegou uma época em que o que eu ganhava com música era o dobro do que eu faturava com a Riachuelo. Pedi as contas da Riachuelo, optei pela música. O basquete vinha no paralelo, mas como hobby. Jogava aqui e acolá. Isso tudo foi entre 1986 e 1991.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como surgiu a banda Alphorria?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> - Como eu vinha me destacando como baterista, além de tocar no Cabeças Errantes passei a acompanhar Sueldo, Pedrinho, Lucinha Lyra, Manassés, Leão Neto e toda a galera que cantava e fazia shows naquela época. Paralelo, continuava com Ricardo, nos barzinhos. Dava pra faturar uma graninha legal, já que não tinha muita responsabilidade ainda, era solteiro e tal. A partir de 1991, o Dom Quixote deu aquele boom lá na praça Augusto Leite. Carlos Sérgio, o dono, precisava de bandas para tocar por lá. Já havia a de Jolian, que tocava toda quinta, o dia que bombava. Foi quando resolvi montar uma banda pra tocar lá também. Sérgio Farias, que na época era conhecido como Serginho Estranho, era o meu baixista. Eduardo, que hoje é dono de um dos melhores estúdios de Natal, tocava guitarra. Tinha também Bethoven fazendo umas participações. Além da minha banda e da banda de Julian, uma outra também passou a tocar no Dom Quixote. Foi quando em 1992 ou 93 recebemos o convite para fazer a primeira festa de reggae de Natal. Claudio Porpino disse a Jolian que precisava de uma banda que tocasse reggae, pois ele ia promover uma festa chamada Caju com Reggae. Ninguém tinha um repertório de reggae suficiente para um show só de reggae. Depois dessa primeira festa, houve uma segunda, que bombou. Um pessoal de Fortaleza que assistiu, resolveu promover uma festa semelhante por lá, no mês seguinte. Foi quando me ligaram, propondo juntar o repertório das duas bandas. Assim surgiu o Alphorria.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como se deu a escolha do nome?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Na verdade, essa história que contei foi a da formação da banda. O nome Alphorria surgiu em uma tocada, quando fui baterista de Sueldo Soaress. Ele sempre gostou de anunciar seus show como Sueldo Soaress e Banda Tal. Sempre batizou a banda que o acompanhava com algum nome. Em um batismo desse, ele escolheu Alphorria. Era Sueldo Soaress e Banda Alphorria. Eu tocava bateria, Serginho tocava contrabaixo, Manoca tocava guitarra, Eduardo Taufic, com 17 anos, tocava teclado e Silvio Franco tocava percussão. Fizemos vários shows com Sueldo em Natal, Fortaleza e Mossoró. Tinha muito reggae e a gente tocava também aquele estilo de batucada que Sueldo fazia muito na época. Antes dessa junção que culminou com a formação do Alphorria, essa nossa banda que acompanhava Sueldo foi convidada a fazer uma daquelas batucadas de Carnatal, na praça de alimentação do Natal Shopping. Sueldo trabalhava na Petrobras, estava embarcado, não podia ir. Como eu cantava e nós já tínhamos repertório, resolvemos tocar. O nome da banda foi mantido Alphorria. Foi um estouro. Assumi o vocal tocando bateria. A partir daí passamos a ter a banda Alphorria tocando com Sueldo, e, como segunda opção, Alphorria sem Sueldo, comigo cantando. Foi quando surgiu o convite para a festa do reggae. Juntamos as duas bandas. Como eu já estava cantando, dividi o vocal com Jolian, que cantava na banda dele. A outra banda era de Carlinhos Suassuna, que ficou como guitarrista. Da minha banda entraram também Silvio Franco, que assumiu a bateria, Dudu Taufic, nos teclados e Bethoven, com algumas participações. A partir dessa festa começa a história do Alphorria.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – O Alphorria foi a primeira banda de reggae a se apresentar no Carnatal. Qual a reação do público? <br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> – Tivemos um bloco com o nome Alphorria. Foi a primeira e única vez que o reggae entrou no Carnatal. Até a gente conquistar um público cativo em Natal, tocamos muito. No início, 1992, 93, a gente só tocava cover. A partir daí comecei a desenvolver meu lado de compositor. É que, tocando muito, as pessoas começaram a perguntar quando a banda gravaria um CD. E, para isso, a gente precisava de repertório autoral. Tive um parceiro excelente, Eduardo Taufic. Dessa forma começou a se desenhar a história do disco. Nessa época havia entrado em vigor a lei de incentivo à cultura que se tornou conhecida como Lei Mineiro. Resolvemos aproveitar esse incentivo. Alphorria foi a primeira banda que utilizou-se dessa lei e realmente formatou um produto, que foi o CD. Gravamos no Rio de Janeiro. Natal estava começando a ter estúdio. Investimos R$ 25 mil. Na época era muito dinheiro. Selecionamos 12 músicas, metade dessas composições tem a minha participação. Valorizamos o pessoal da terra, como Sueldo, Babal e Cleudo. Incluímos Malandrinha, de Edson Gomes. Com parte da grana do incentivo pagamos pela liberação.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Quais canções do disco fizeram mais sucesso?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Sonho Rasta (minha e de Dudu Taufic), Banana Reggae (parceria minha com Cleudo e Bethoven) e Malandrinha, de Edson Gomes. A partir do CD, começamos a fazer um show quase totalmente autoral. O fato de o Alphorria ter colocado a cara a tapa foi decisivo para termos alcançado tanto sucesso. Nesse processo de CD eu já estava casado com Telma. Graças a Deus minha esposa está comigo até hoje. Lá se vão 20 anos. Aguentar tanto tempo convivendo com um músico, não é fácil. Com o casamento e o nascimento do nosso primeiro filho, Paulo Rafael, voltei a me empregar para ter uma renda adicional ao que eu acumulava com a música. Entrei na Varig, na época a companhia aérea top line do Brasil. Foi bom porque quando a gravadora enviou a remessa com os CDs que gravamos, eu mesmo fui quem recebeu, no setor de cargas da Varig. Hoje, além de Rafael, que completou 20 anos, temos também Gabriela (19) e Juliana (12).<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Fale um pouco sobre a gravação do CD, que levou o próprio nome da banda.<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Gravamos no mês que eu tinha de férias. Fomos os nove da banda e três produtores: 12 passagens. A hospedagem foi em um hotel do Leme. Antes de ir, tínhamos mandado umas pré-gravações para Vanius Lemos, que hoje é considerado um dos melhores diretores técnicos de som do país. Ele achou o trabalho legal e nos ajudou a gravar tudo em onze dias. Logo em seguida, retornamos a Natal. Quando recebi o disco, chamei a galera para conhecer aquele nosso filho que acabara de chegar. Com as 2 mil cópias do CD nas mãos, começamos a vender, a distribuir entre os patrocinadores, a divulgar junto a imprensa... Na época nem sei quantos artistas já tinham CD em Natal. Mas os nossos discos acabaram rapidinho. A arte da capa do CD foi feita por Camila, uma natalense que estava morando no Rio: fazia faculdade de desenho e trabalhava em uma agência. Camila namorava um cara chamado Rick Nogueira. O pai dele tem uma editora de livros no Rio. Rick gostava de promover festas. Quando o axé estava chegando no Rio, ele levou várias bandas desse ritmo para tocar em festas por lá. Em uma das audições que Camila estava fazendo, buscando inspiração para bolar a capa do nosso CD, Rick ouviu aquele som e gostou. Pediu para fazer uma cópia e passou a divulgar o nosso trabalho entre seus amigos. Como a repercussão foi muito boa e ele tinha grana, resolveu nos convidar para uma temporada no Rio. O combinado é que ele nos bancaria durante dois meses. Em troca concordamos em ceder participação nos lucros, se estourássemos. Nessa época a gente enchia todas as casas de Natal. Já tínhamos mostrado nosso trabalho também em João Pessoa, Recife e Fortaleza, abrindo shows do Cidade Negra. Quem conseguiu essa oportunidade foi Alexandre Maia, que produziu um dos shows do Cidade em Natal. Para tentar essa profissionalização no Rio, sai da Varig. Carlinhos, que era arquiteto, afastou-se também do seu trabalho. Dudu Taufic, que estava gravando e tocando com muita gente, aceitou ficar exclusivo no Alphorria.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como foi esse período no Rio? <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868160008378962" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/-A0MlmBEPvxQ/T2u2RT2xWlI/AAAAAAAAA8Y/SE7LbLnjDcU/s320/2012-02-26%2B19.22.01.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 240px; height: 320px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> - Chegamos com agenda marcada para um mês todo de apresentações. Tocamos em uma casa no Baixo Gávea que promovia shows de Ed Motta. A gente tocava na sexta, e ele na quinta. A gente se identificou muito com o lugar porque era tipo o Dom Quixote, de Natal. Casa cheia. Os amigos que iam nas festas do Rick foram ver a banda que ele tinha trazido e já tinha apresentado por CD. A gente começou a ganhar certa credibilidade lá dentro. Antes da estreia, como a gente já tinha contato com o pessoal do Cidade Negra, deixamos mensagem na secretária eletrônica comunicando que estávamos no Rio e que faríamos o nosso primeiro show naquela noite. Primeira noite de show, casa lotada, a gente já no camarim, entra Toni Garrido. Ele explicou que estava passando só para desejar um bom show pra gente. Não podia ficar porque o CD estava em processo de finalização e ele tinha que ficar direto dentro do estúdio Nas Nuvens, com o produtor Liminha. Pra gente foi demais receber um ídolo do reggae nacional só pra nos desejar boa sorte. Paralelo aos shows, visitamos várias gravadoras. Perto de a gente voltar para Natal, fizemos uma apresentação no Hipódromo Up, boate em São Conrado. Casa legal, com camarim e mezanino. Sempre tinha gente da Globo por lá. Quando a gente tava no camarim, a menina da produção chegou com os olhões desse tamanho assim: “vocês não sabem quem está na primeira mesa e veio para assistir o show”. Era Tony Garrido e Liminha. Ao final da apresentação, Toni Garrido e Liminha, já no camarim conosco, perguntaram quem fazia os arranjos. Dissemos que eram coletivos. Eles indagaram então pelos arranjos de sopro. Eram de Bethoven e Dudu Taufic. Toni e Liminha pediram para a gente criar os arranjos de metais para a finalização do disco do Cidade Negra.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Qual era o disco?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – SOS Brasil, que ficou mais conhecido como O Erê. No outro dia, nove da manhã, eu, Bethoven e Dudu estávamos no estúdio Nas Nuvens. Mesmo sabendo que eu não ia gravar, não ia fazer nada, fui. Eu sabia que não podia perder a oportunidade de estar junto dos caras, de adquirir conhecimento com aquelas feras do reggae nacional. Recebemos cópia do CD e levamos pra casa, uma coberturazinha massa no Leblon. A gente varou a noite. Dudu e Bethoven fizeram os arranjos, e eu acompanhei tudo. No outro dia, fomos lá mostrar o trabalho. Essa música, SOS Brasil, foi a de trabalho do disco. Toni e Liminha aprovaram e pediram que fosse feito arranjo para as outras músicas do CD. Se você pegar o disco SOS Brasil, vai ver que estão registradas as participações e os arranjos do Alphorria.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Conseguiram gravadora no Rio de Janeiro? <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868167442058098" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-sY9CGqnx9zA/T2u2RvjGS3I/AAAAAAAAA8o/TItPyYWHqM0/s320/2012-02-26%2B19.22.11.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 240px; height: 320px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> – Voltamos pra Natal sem gravadora. Fizemos muitos shows e mantivemos bastante contatos, mas não conseguimos gravadora. A promoter Alicinha Cavalcanti chegou a dizer que, na sua opinião, as melhores bandas do Brasil eram Cidade Negra e Skank e que a nossa seria a próxima da vez. Algum tempo depois que chegamos em Natal, Rick ligou dizendo que uma gravadora a qual ele tinha mandado o nosso CD havia achado aquele trabalho interessante. Era a Natasha Records, que fazia distribuição pela Sony Music do Brasil e tinha como uma das sócias a Paula Lavigne, mulher de Caetano Veloso. O sócio dela era Felipe Llerena, que hoje é o cara da Imusica, um dos sites de música mais acessados. Ele gostou, mas disse que precisava ver a banda ao vivo. Eu propus que Rick trouxesse o cara para o Carnatal, pois a gente estava com um bloco e um trio. Conseguimos hospedagem no Mar Hotel e passagens pela Varig. Llerena veio passar dois dias com a gente. Botamos o cara em cima do trio elétrico. Aqueles três mil foliões dançando reggae no ritmo do Alphorria, em pleno Carnatal, o deixaram alucinado. No ano seguinte, a gente fechou o contrato com a Natasha. Voltamos para o Rio, fizemos outros shows, participamos da Expomusic, no estande da Sony. As principais gravadoras do país estavam representadas naquele galpão enorme, no RioCentro. O estande da Sony era um globo de vidro, bem no meio. Fizemos um show lá. A Sony Music já estava distribuindo nosso CD.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como foi a história de um link ao vivo agendado para o Fantástico, com o objetivo de mostrar o Alphorria no Carnatal?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Por intermédio do Rick conseguimos marcar esse link. Só que um problema técnico impediu a nossa entrada ao vivo. Em compensação, aparecemos no Vídeo Show apresentados por Toni Garrido. A gravação foi na Lagoa, ele apresentou o Alphorria como uma nova banda de reggae que estava vindo do Rio Grande do Norte e despontando no país. Logo em seguida as coisas começaram a desandar.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> - O que houve?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Imaturidade, deslumbramento... As peças começaram a se desencaixar lá dentro, digamos assim. Deu uma rachada. O Alphorria era uma sociedade dividida em duas: a banda e a produtora. Alguns acharam que devia haver mudanças na banda. E essas mudanças realmente ocorreram. Quando a gente foi fazer o show de estreia da temporada, no Rio de Janeiro, o produtor disse logo: “o produto que eu comprei não foi esse, algumas coisas está errada, não tem como eu comprar um produto lá e vocês me apresentarem outro aqui”. Entre essas mudanças, me tiraram do vocal. Como sócio da banda, fiquei fazendo produção. Jolian assumiu o vocal. Depois do racha, parte do grupo tentou uma nova fase em São Paulo, mas não surtiu muito efeito. Quando a gente desmanchou o Alphorria, montei a Banda Kais. Foi na época que estava nascendo o Blackout. Tocamos muito lá.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Em qual ano foi esse racha do Alphorria?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Foi em 1998. A gente já tinha acertado a participação em vários programas e entrevistas, mas foi tudo cortado. Depois de alguns anos a maturidade foi chegando, a gente sentou, conversou sobre o acontecido e botou tudo em pratos limpos. Resolvemos nossas diferenças e cada um foi tocar sua vida. Em seguida, a gente recebeu o convite para comemorar 15 anos do Alphorria. Foi no MADA. Ensaiamos e apresentamos o show: foi maravilhoso. Algum tempo depois, Dover Goes ligou propondo um show do Alphorria na Ponta do Morcego. Perguntou se tinha como Toni Garrido participar. Respondi que, pagando o cachê dele, não teria problema. E assim foi feito. Foi o primeiro contato no mesmo palco com ele. Até então a gente só tinha aberto shows para o Cidade Negra. Depois de 15 anos, realizamos o sonho de tocar com Toni Garrido. O resumo da história é que fizemos juntos 11 shows. Em Natal, João Pessoa e Mossoró, com a participação dele. Criou-se um vínculo muito forte de amizade entre eu, ele e o irmão dele, o empresário Ricardo Garrido. Nessa época Toni tinha saído do Cidade. Ano passado o Cidade voltou com ele. Tiveram uma conversa e voltaram a tocar.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Foi no ano passado que você dividiu o palco com ele mais uma vez, dessa feita em um show no Teatro Riachuelo? <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868452147890370" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-A6jq9k3Vk6I/T2u2iUKQiMI/AAAAAAAAA9Y/tMOhUHgDUgY/s320/2012-02-26%2B19.26.16.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 240px; height: 320px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> – Sim. O primeiro show da turnê nacional do Cidade Negra foi em Natal. Quando Toni desembarcou, eu liguei. Ele pediu para eu encontrá-lo mais tarde, para me entregar uns ingressos. Quando fui ao hotel, ele estava indo passar o som. Combinamos de conversar depois da apresentação. Fui mais cedo para o show, para pegar meus ingressos. Quando cheguei, também estavam por lá Renato Vilar, que é um regueiro louco pelo Cidade, e um outro amigo do fã clube em Natal. Tinha 12 ingressos para nós três, quatro para cada um. A gente pensava que teria só um pra cada. Isso era oito da noite, o show estava marcado pras nove. Liguei pra Telma: “arrume Juju (a minha pequena de 12 anos) que eu vou buscá-las para assistir o show”. Com 12 anos, Juliana nunca tinha me visto no palco. Quando via fotos, ela perguntava se minha banda tinha feito sucesso. Eu respondia: “seu pai foi um dos caras mais famosos dessa cidade”. (risos). Quando o show começou, fiquei perto da mesa de som. Juju já sabia quem era Toni, pois já havia nos acompanhado em algumas saídas, nas vezes em que ele esteve em Natal. Ela ficou impressionada em presenciar aquela casa lotada para ver meu amigo cantar. No meio do show, do nada, Toni Garrido fez uma citação: “vocês conhecem um cara que mora aqui em Natal, o Rildo, cantor da banda Alphorria?” Algumas pessoas tiveram uma reação legal. Foi motivo de orgulho: no show de volta do Cidade, ele citar o meu nome. Sempre fui fã dele não só pelo potencial artístico, mas pela pessoa que é, pela simplicidade, por não ter nenhum estrelismo.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Mas você cantou com ele, tem o vídeo no Youtube...<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Quando acabou o show, a galera começou a pedir mais um. A banda voltou e a galera pediu O Erê. Eu tinha participado da história de O Erê, da gravação de SOS Brasil. Passou o filme naquela hora. Foi quando ele disse “Rildo, se você estiver na área, venha: vamos fazer essa música juntos”. Juliana falou, “pai, ele tá lhe chamando”. Uma galera incentivou e eu fui. No pé do palco, a música já rolando, o segurança não quis me deixar passar por não ter certeza que eu era Rildo. Ele resolveu falar com o chefe da segurança, enquanto a música rolava. Foi quando chegou um cara da produção, que me conhecia, e disse que podia deixar, o Rildo era eu mesmo. Me pegou pelo braço, entrou por um caminho ao lado das cortinas. Já cheguei na coxia. Toni me viu e me chamou. Foi a maior emoção da minha vida, o coração veio pela boca. Cantamos O Erê. O teatro vibrou, não pelo fato de eu estar ali, pois nem a metade das pessoas me conheciam, mas pelo Cidade Negra estar abrindo espaço para um cara da terra, em um show de abertura de turnê nacional. Só caiu a ficha pra mim, depois. Depois a minha esposa falou que a Juliana ficou com os olhos desse tamanho.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – O que você anda fazendo agora e quais os planos para o futuro?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – A música é mais ou menos como futebol, você tem um tempo limite. Se atinge uma certa idade sem ter conquistado um reconhecimento nacional, não tem mais como chegar. É como no futebol, quando o jogador atinge uma certa idade e passa a defender apenas times pequenos ou disputar peladas. Na música, se você não consegue sucesso a nível nacional, vai terminar tocando em bar. Não que seja impossível, pois temos o exemplo de Lenine, que fez sucesso depois de 30 anos de música. Hoje, não é que eu não pense mais nisso, mas não existe mais aquele deslumbramento. A música se tornou um hobby. Até como profissão eu já deixei de tocar na noite. Não se paga bem, não se valoriza. Infelizmente é uma realidade de Natal. Hoje trabalho em um escritório de advocacia, onde desenvolvo um serviço burocrático, administrativo. Também trabalho com Herbalife, uma atividade voltada para o condicionamento físico, para melhorar a longevidade. Tem ligação direta com o esporte. Me identifiquei muito, estou bem focado com a área empresarial da Herbalife. Continuo fazendo música, mas é mais para me reunir com os amigos e tocar do que pela grana. Claro que qualquer grana que entre ajuda, dá para botar combustível no carro. Mas hoje não é possível viver apenas de música. Sobre o futuro, penso em gravar um CD, mas não com a pretensão de estourar. Quero fazer um registro das minhas obras. Ainda não estou gravando, mas tenho muitas composições. Talvez eu conclua esse projeto ainda esse ano.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Que conselhos você daria para quem pensa em iniciar na música?<br /><u><strong>RILDO</strong></u> – Eu diria o seguinte: quer se dedicar à música? Se dedique para ser top. Do contrário, daqui a pouco você vai ter 40 ou 50 anos e os de 20 vão tomar o seu lugar. Você não terá mais espaço no mercado. Até o seu pique será outro. Chega um tempo em que não dá mais para se aventurar.<br /><u><strong>ZONA SUL</strong></u> – Como o fã pode ter contato e ter acesso aos seus trabalhos? <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5722868192707242498" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/-jd7h6T7-NPs/T2u2TNqyagI/AAAAAAAAA9A/rQStK4_1Ufs/s320/2012-02-26%2B19.24.32.jpg" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; width: 240px; height: 320px; float: right; cursor: pointer; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><strong>RILDO</strong></u> – Tenho Facebook, basta procurar por Rildo Lima. No Youtube estão divulgadas algumas gravações e vídeos. Tem por lá, inclusive, a gravação feita da minha participação no show do Cidade Negra, no Teatro Riachuelo. Também tem um vídeo muito legal que é uma gravação das gêmeas Marina Rodrigues e Manuela Dac cantando uma canção que fiz para a minha esposa: “Todas as coisas do mundo”. Essa é uma das músicas que pretendo incluir nesse CD de registro. A música nunca vai deixar de fazer parte da minha vida. O violão está sempre ao lado da cama. A música é uma das minhas três paixões. As outras são a família e o basquete. </p></div></div></div></div></div></div></div></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-34960353380023635582012-02-23T14:43:00.005-02:002012-02-23T15:21:15.457-02:00Entrevista: João Bosco<div style="text-align: center;"><b style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; "><u><span style="font-size:18.0pt">AS MEMÓRIAS E OS SEGREDOS DE UM SERTANEJO</span></u></b></div><span ><span style="font-size: 100%;"><img src="http://2.bp.blogspot.com/-10Ul6-jN7ZY/T0ZzDXtkpSI/AAAAAAAAA7E/AkZi7jQrjAc/s320/IMG_0554.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712379679108015394" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><p class="MsoNormal" align="center" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; text-align: center; "><span style="text-align: justify; font-size: 100%; ">No dia 24 de março de 1956, dona Alzira Tavares de Araújo saiu da propriedade rural localizada em Umbuzeiro e foi até Caicó para ter o seu quarto filho. Até então, haviam nascido três meninas. João Bosco de Araújo foi o quarto e primeiro dos três filhos homens que dona Alzira teve. Bosco nasceu na cidade, das mãos de uma parteira, e voltou para o sítio. Somente alguns anos depois, retornou a Caicó para estudar. De lá, ganhou o mundo. Hoje mora em Brasília. Na capital federal trabalha como jornalista do Ministério da Saúde. Também escreve um importante blog do cenário político-cultural potiguar, o AssessoRN. Durante mais de quatro horas ininterruptas, Bosco fez uma retrospectiva detalhada de sua vida. Nesse período foram consumidas algumas garrafas de vinho, outras tantas latas de cerveja e porções de linguiça, frango assado e frango à milanesa, acompanhados de salada de maionese e farofa. O álcool e os carboidratos fizeram com que Bosco falasse como se estivesse diante de um confessionário. Nenhuma pergunta ficou sem resposta. Nenhum segredo permaneceu oculto. Testemunhando essa catarse estivemos eu e o repórter fotográfico Roque de Sá – direto de Brasília – e o jornalista Roberto Fontes e o advogado Ronaldo Siqueira, via Skype, participando de Natal. Essa entrevista também está disponível no site </span><a href="http://zonasulnatal.blogspot.com/" style="text-align: justify; font-size: 100%; ">http://zonasulnatal.blogspot.com</a><span style="text-align: justify; font-size: 100%; "> (robertohomem@gmail.com)</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; text-align: justify; "><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; text-align: justify; "><br /></p><p style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; "></p><span ><span style="font-size: 100%;"><b><u>ZONA SUL</u></b> – Você nasceu em Caicó...</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> - Sim, na Rua Augusto Monteiro. A casa ainda existe, mas não pertence mais à minha família. Ela ficava no centro da cidade, em frente a uma usina de beneficiamento de algodão pertencente ao ex-governador Dinarte Mariz. Essa usina funcionou no local até os anos 1960. Depois de ter ficado fechada cerca de uma década, a usina foi demolida e o terreno passou a sediar lojas de comércio e oficina mecânica. Hoje a rua é totalmente comercial, mas a nossa casa - que foi vendida após a morte do meu pai, em 1981 - ainda existe. Meu pai, Pedro Salviano de Araújo, sempre foi agricultor e morou na zona rural. Ele nasceu no Sítio Umbuzeiro, em 1907, a 25 quilômetros de Caicó, na divisa com Ouro Branco. Minha mãe, Alzira Tavares de Araújo, nasceu em São Mamede, na Paraíba, em 1929. A casa foi vendida porque, naquele período, meus irmãos já moravam em Natal. Viúva, mamãe foi morar com os filhos. Minha mãe ainda está viva. Os pais dela foram chapeleiros: Severino Tavares de Araújo e Luzia Maria da Conceição. Casaram na Paraíba e, depois de três anos juntos, mudaram para Caicó. Foram pioneiros nessa arte de fazer chapéus de couro. Depois eles levaram vários parentes da Paraíba para morar no Rio Grande do Norte. Minha mãe e meus tios foram educados graças aos recursos que meus avós conseguiram trabalhando com a fabricação e a venda de chapéus. Em 1945 minha mãe foi designada para ser professora na região de Umbuzeiro. Lá, conheceu meu pai. Quando casaram, ele já tinha 42 anos.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – A casa da fazenda onde o seu pai morava ainda pertence à família?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Nós a vendemos entre 1983 e 1984, mais ou menos na época em que também negociamos a casa de Caicó. Com o dinheiro, compramos a atual casa, em Natal, onde minha mãe mora hoje, aos 82 anos, com a com a minha irmã mais velha, que é professora aposentada e tem 63 anos. Nós somos sete irmãos: quatro mulheres, que nasceram primeiro, e três homens. Sou o mais velho dos homens. Minha mãe foi professora até por volta de 1952, quando nasceu sua terceira filha. A partir daí ela entregou o cargo na prefeitura e passou à atividade doméstica. Aposentou-se pelo INSS como costureira. Meu pai, antes de se casar, era comerciante-tropeiro. Ele conduzia os animais para o trabalho em usinas de cana-de-açúcar instaladas no sul de Pernambuco. Após o casamento, em 1947, se dedicou exclusivamente à família, na fazenda.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quais as recordações que você guarda dos seus primeiros anos de vida?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Minha mãe resolveu desde cedo que educaria os filhos, ao invés de nos deixar seguir a <img src="http://1.bp.blogspot.com/-ej-csqGKv8Y/T0ZzDAKUfKI/AAAAAAAAA64/QayqSEbOQzE/s320/IMG_0552.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712379672786140322" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><span ><span style="font-size: 100%;"> sina de ser vaqueiros. Meu pai queria que os filhos fossem caminhoneiros. Antes de casar, ele foi noivo de uma mulher, Severina, mas não casou com ela. Meu pai foi vivo, escolheu minha mãe, que era professora, ao invés de Severina, que era analfabeta. A gente nascia em Caicó e depois ia para o sítio. Quando chegava a época de estudar, ia para a casa do meu avô, pai da minha mãe, na Rua Augusto Monteiro. Meus irmãos se chamam Gilberto e Flávio. Depois que três das minhas irmãs – Socorro, Salete e Sônia – já estavam estudando e morando nessa casa do meu avô, quando chegou a vez de minha irmã Suelen ir também, meu pai comprou a casa vizinha à do meu avô. Nós, os filhos que estudávamos, moramos lá. Meus pais iam duas vezes por semana visitar a gente e levar mantimentos, como leite e queijo, que eles mesmos produziam. Um desses dias era o sábado, que era dia de feira.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quer dizer que a sua infância foi um pouco distante dos seus pais.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sim, por isso tive mais afinidade com a minha avó. Fui alfabetizado na escola de Dona Marizene. Nasci na cidade, nas mãos de uma parteira. Meu pai era um pequeno fazendeiro, tinha 300 hectares de terra. Como a região é pobre, ele era, digamos assim, classe média. Até os sete anos morei na roça, mas como privilegiado, na fazenda. Por perto tinha gente que passava fome. A gente naquela alegria, no jantar, e eles bem pertinho da casa grande onde a gente morava. Eu, como criança, não percebia isso. Tomei consciência depois. Meu pai ajudava essa família. Nós, os filhos, éramos ilhados desses problemas sociais. Meu pai era generoso, também costumava ajudar os parentes e os vizinhos que mais precisavam. Ele tinha uma caminhonete 1951 Chevrolet, comprada em Campina Grande. Esse veículo transportou muita gente na região. Outras pessoas tinham carro, mas não davam carona nem nada. Meu pai era o contrário. Chegava gente de madrugada pedindo para levar alguém para o hospital. Até defunto ele carregou em cima dessa caminhonete. Fazia sem cobrar nada. Ajudava a quem podia. Minha mãe tinha outras características marcantes, como seu lado de liderança e de organização muito fortes.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – De quais jogos e brincadeiras você participou na infância?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Eu gostava muito de jogar futebol. Também fazia coruja, que chamam de pipa. A barra-bandeira era toda noite, era sagrado. Lembrei-me de um fato interessante: quando criança eu era metido a besta e meu apelido era Boscão. Eu era valente, mas depois, quando cresci, coitado... (risos) Deus sabe o que faz! Nunca tive inimigo, mas, quando criança, andei me estranhando com um colega conhecido por Geraldo Besteira. Nossa turma brincava de manzuá, de bandido, de tica... Tinha também o garrafão. Uma vez, brincando de garrafão, dei uma lapada tão grande que Geraldo Besteira caiu. Nessa brincadeira, quem fica por último leva uma porrada. Um tempo desse ele veio falar comigo, em Natal: “Bosco, você se lembra que a gente era intrigado?”. (risos)</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Então vocês já fizeram as pazes.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sim. Quando eu era criança, não podia ver alguém da minha idade que dava vontade <img src="http://1.bp.blogspot.com/-eBrFy9xjvMQ/T0Zz5peqkEI/AAAAAAAAA7s/31f3xwaPKHA/s320/IMG_0562.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712380611590262850" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><span ><span style="font-size: 100%;"> de bater nessa pessoa. Tinha uma raiva danada de menino. Lembro também que eu costumava ameaçar um senhor, contratado do meu pai, que fazia remonte de selas e cangalhas de animal. Eu costumava dizer a ele: “vou matar você, seu velho safado”. (risos). Nessa época eu adorava ameaçar que matava, que esfolava... Eu tinha mesmo uma inclinação muito ruim. Acho que se eu tivesse nascido antes, teria virado um cangaceiro ou um bandido.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Então se pode dizer que Lampião teve sorte, não foi obrigado a enfrentar a sua concorrência. (risos). Você</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Não vamos exagerar... (risos). Mas eu queria contar que quando meus tios - os irmãos da minha mãe - foram embora para São Paulo, deixaram muitos livros. Li muitas publicações de filosofia lá na casa da minha avó. Mas o que eu gostei mesmo foi da sobra deixada pelo meu tio Antenor, que era uma pessoa bem participativa na vida social. Tio Antenor teve até blocos de carnaval. Foi com esse material que aprendi a tocar tamborim, chocalho e outros instrumentos de percussão. Hoje sou percussionista. Aproveitei as sobras do bloco de carnaval do meu tio para aperfeiçoar nossas brincadeiras. Por exemplo: fizemos o nosso próprio circo. Eu era o diretor: armava as tramas, as cenas... Nos Sete de Setembro, também, a gente construía os instrumentos e tocava na rua.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – E os estudos?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> - Eu cursava o ginásio. Quando terminava a aula - depois que almoçava, em casa - ia brincar na rua, ao invés de estudar. Sorte que eu não era muito burro, pelo contrário, era sabido. Enquanto alguns colegas bagunçavam durante as aulas, eu ficava na minha escutando, prestando atenção, vendo o que a professora ensinava. O dever de casa eu já fazia na hora em que estava copiando no caderno. Já levava para casa tudo pronto. No outro dia era só entregar a ela.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você já pensava em ser jornalista?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> - Até a véspera de eu fazer vestibular, queria ser engenheiro. Esse era o meu sonho. Já o meu pai queria que eu fosse advogado ou juiz. Foi em 1968, quando eu tinha uns 12 ou 13 anos, que começou a aparecer essa escoliose que tenho até hoje. A partir daí a minha vida e a minha personalidade começaram a mudar. Passei a me sentir rejeitado. Com a escoliose, passei a ser excluído. Meu pai até tinha condições financeiras de pagar um tratamento para mim, quando o problema apareceu. Seria até fácil corrigir, eu soube depois. Hoje em dia até com exercícios feitos na natação se corrige. Minha irmã, com o mesmo problema, já tinha se submetido a um tratamento com colete. Mas parece que ficou pior, não houve êxito nesse tratamento. Provavelmente por isso meus pais resolveram não repetir esse tratamento comigo.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você ficou revoltado quando passou a se sentir rejeitado?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sim, um pouco. Eu me olhava no espelho e não aceitava. Como já tinha uma inclinação ruim, sem perceber eu descontava maltratando as pessoas. A única coisa boa é que fui dispensado da educação física. Mas, em compensação, eu queria jogar bola e não podia. Também fui excluído da banda da cidade. Eu tocava tarol como ninguém. Esse é um instrumento muito <img src="http://3.bp.blogspot.com/-dqKdSABjV0s/T0Zz5N_qXnI/AAAAAAAAA7g/PtI0ZPAOzak/s320/IMG_0560.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712380604212469362" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><span ><span style="font-size: 100%;"> difícil, requer muita habilidade. A banda tocava no desfile de Sete de Setembro. Cheguei a desfilar um ano, mas, logo em seguida, fui desligado do grupo. Então, excluído da educação física, dos jogos e do desfile, criei a minha própria banda e a brincadeira de circo com os colegas. Construí um tarol com couro de gato. Consegui restos do couro em oficinas de instrumentos musicais. Alguns dos instrumentos da banda aproveitamos das sobras do meu tio. As cornetas foram feitas com mangueira. A gente saía à noite tocando nas ruas próximas lá de casa. Muitos que tocaram comigo, depois foram para a banda da cidade. Anos depois surgiram em Salvador aquelas bandas, como a Olodum, montadas com a participação da população. Mais ou menos como a gente tinha feito lá em Caicó. Nas brincadeiras de circo eu tocava uma bateria construída por mim mesmo. Além de diretor, eu era o baterista. A gente usava um armazém abandonado para as brincadeiras. O lugar tinha sido uma fábrica de queijo. Esse ano foi muito intenso de brincadeiras: só não rui reprovado na escola por milagre. Dois colegas não tiveram essa sorte. Na verdade, a gente não estudava, só brincava.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Por que você saiu de Caicó e para onde foi?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Morei em Caicó até 1973, quando completei 17 anos. De lá fui para São Paulo. Resolvi ir embora para um centro grande justamente por me sentir excluído. Eu ia para os clubes e não arranjava namorada. As mulheres só queriam galã. Na escola eu era vítima de piadinhas, como me chamarem de Nélson Ned. Mas eu levava na esportiva e respondia: “eu não pareço com Nélson Ned, ele é quem parece comigo”. Apesar de eu não me incomodar mais com essas gozações, comecei a beber. Caicó não tem muitas diversões a não ser frequentar bares. Como eu não estava fazendo muito sucesso nos clubes perto lá de casa, passei a frequentar os bairros mais afastados, como o João XXIII, onde as meninas pobres não tinham aquele “cu doce” comum nas garotas da sociedade. Naquele tempo eu bebia conhaque e cinzano. A gente arrumava as meninas e descia para a beira do rio. Na época não se transava, mas a gente tirava um sarro. Na periferia tudo transcorria numa boa. Foi quando minha irmã se casou com um marceneiro. Desempregado e sem formação acadêmica, precisando trabalhar, ele atendeu ao convite do Tio Antenor, que já morava em São Paulo, e foi tentar a sorte na capital paulista. Minha irmã me convidou para ir com eles e eu topei.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Pelo visto, já que você não estava fazendo nada mesmo, deixar Caicó não foi tão difícil.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Eu não tinha concluído ainda o segundo grau, o ano letivo sequer tinha terminado, mas, mesmo assim, fui. Antes de ir para São Paulo eu tinha trabalhado com o namorado de outra irmã. Ele era representante do Óleo Mavioso, produzido em Jardim do Seridó. Eu tinha uns 15 pra 16 anos. Arrecadava o dinheiro no comércio de Caicó e levava para Jardim, de do ônibus. Isso me deu muita responsabilidade. No final de semana esse “cunhado” saía com a minha irmã e me levava. A gente ia tomar cerveja na AABB. Na hora da conta, enquanto todos pensavam que ele estava bancando a minha parte, acontecia era o contrário: ele registrava tudo e descontava na hora de pagar meu salário. Nesse emprego eu só ganhei experiência, responsabilidade e a bebida. Quando fui para São Paulo, arranjaram um senhor para me substituir. Na primeira viagem ele roubou uma caixa de óleo. Botaram pra fora e contrataram meu irmão, Gilberto. Ele era mais novo do que eu um ano. Quando eu estava mamando, ele nasceu e tomou o peito de mamãe. Eu era puto com ele. (risos). Quando cresceu virou um monstro, de grande. Depois sofreu um acidente e quase morreu. Hoje esse meu irmão trabalha no Bradesco.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi a vida em São Paulo?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Fiquei dois anos em São Paulo, até 1975. Morei no bairro Santana. No primeiro ano, por já ser final de ano letivo, fiz um curso de contabilidade, à noite. No ano seguinte fui estudar em uma escola estadual perto da casa do meu cunhado. Lembro que certa vez o professor de literatura organizou um trabalho de pesquisa que era visitar algumas redações de veículos de comunicação em São Paulo. Foi quando estive no Estadão, no Grupo Abril, na Folha... Achei aquela vida bacana. Gostei do tipo de trabalho, ali sentado, escrevendo. Mas eu queria ainda era ser engenheiro. Naquele tempo eu era bem magro. Em seguida fui para o alistamento do Exército. Fui dispensado por insuficiência física. Paralelo a isso comecei a assistir os programas de Benito de Paula. Na metade dos anos 1970 o Brasil estava cheio de problemas sociais, a luta contra o regime militar estava pegando fogo e a ditadura continuava a torturar nos porões, enquanto os guerrilheiros assaltavam bancos e sequestravam diplomatas. E eu permanecia alienado a tudo isso. Só me politizei na universidade.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Em São Paulo você conseguiu trabalhar?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Fui para São Paulo dar um pontapé inicial na minha vida, na minha carreira. Quando completei 18 anos comecei a fazer testes em empresas. Fiz um curso de auxiliar administrativo, da prefeitura, que incluía datilografia e relações públicas. Passei a fazer provas para trabalhar como contínuo. Tentei na Credicard, no Banco Mercantil de São Paulo e em outros locais. Foi quando minha irmã, depois de ter desistido de um trabalho que arranjou, resolveu voltar para Caicó. Como eu não tinha conseguido nem emprego, nem namorada, voltei com ela. Apesar de não ter sequer iniciado a minha vida profissional em São Paulo, em compensação foi lá que que tive a minha primeira noite como homem.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Fui até a Boca do Lixo com o irmão do meu cunhado. Lá ele me deu uma grana para eu <img src="http://4.bp.blogspot.com/-vwa7YE-Nyb8/T0Zz6_dkhcI/AAAAAAAAA70/Wxb0iXGgDQA/s320/IMG_0591.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712380634671121858" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><span ><span style="font-size: 100%;">pagar a prostituta e foi embora. As “meninas” ficavam desfilando com aquelas botas de salto alto. Eu nem tinha carteira de identidade, levei o registro de nascimento no bolso. Naquela época não tinha Aids, só tinha doença venérea. Esse cara me deixou na Boca do Lixo como quem solta um bicho faminto. Peguei uma mulatona novinha. Fomos a um hotel que cobrava por hora. Funcionava em um prédio antigo. Na portaria, pediram meus documentos. Lá em cima tinha vários quartos. O pagamento era adiantado. Só que, quando o cliente estava animado, um cara vinha e batia na porta mandando apressar, dizendo que o tempo tinha acabado. Por conta dessa agonia toda, nessa minha primeira vez nem houve penetração. Não deu tempo. Quando acabei, a mulher se levantou, se lavou e caiu fora. Mas foi bom porque aprendi o caminho.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi o retorno a Caicó?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Na volta concluí o segundo grau no Colégio Diocesano. Cheguei na cidade usando cabelo black power e calça boca de sino. No primeiro dia no colégio a professora perguntou de onde eu estava vindo. Quando respondi que era de São Paulo, as meninas completaram: “do Potengi... São Paulo do Potengi”. Terminei o científico e fui prestar vestibular em Natal. Como eu sempre tirei notas razoáveis em Caicó, achei que seria aprovado. Foi uma decepção quando saiu o resultado e não passei. Reprovado, com o apoio das minhas irmãs entrei no Ferro Cardoso. No cursinho comecei a despertar para o jornalismo. Foi quando chegou a notícia de que haveria vestibular para o curso de jornalismo, em Campina Grande. Passei. Isso foi em julho de 2007. Fiquei três anos e meio lá. Na época do cursinho eu morava na casa de um irmão da minha mãe, na Rua Joaquim Fagundes, na Praça Augusto Leite.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Foi na faculdade de Campina Grande que surgiu seu interesse pela política?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sim, no curso de jornalismo foi que passei a ter consciência social e humana. Como eu falei, em São Paulo era totalmente alienado. Na faculdade comecei a despertar vendo aqueles grupos, o sentimento de antiamericanismo... Como eu tive uma formação religiosa muito forte, ficava confrontando o comunismo com a religião. Minhas avós são católicas, vim dessa tradição. A mãe do meu pai era rezadeira, era beata, vivia rezando terços. Na época da universidade eu achava que o socialismo era bom. Mas não concordava com o comunismo, devido a minha formação. Não cheguei a pensar em ser guerrilheiro, mas tinha certa tendência de esquerda. Eu nunca entrei naquele fanatismo de pregar que tudo que é americano não presta. Porém, nunca gostei da política deles de tirar o que é nosso, de ter aproveitado o momento político brasileiro para apoiar o golpe militar de 1964. Eu sabia que se o americano era ruim, o russo poderia ser pior. Na minha lógica, ao invés de escolher entre um e outro a gente tinha que ser brasileiro mesmo.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – E o jornalismo?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sempre gostei de ler e de ir ao cinema. Aos 17 anos eu acompanhava Osni Damásio – que hoje também é jornalista – no mural que ele fazia no colégio e também nas cartas que ele escrevia para emissoras de rádio de ondas curtas, como as rádios Moscou, Vaticano, BBC e Voz da América. Na adolescência eu escrevia crônicas e mandava para as emissoras de rádio. Assinava com pseudônimos, tipo Johnny Boscóli, e ficava aguardando para escutar esses textos serem lidos. Ninguém sabia que era eu. Perto de concluir jornalismo, em 1980, passei em um concurso do IBGE para trabalhar no censo, como recenseador. Estudava pela manhã e fazia as pesquisas nas casas à tarde. Esse emprego me rendeu uma boa poupança. Com o dinheiro comprei meu primeiro paletó e paguei as despesas da minha festa da minha formatura. O trabalho no IBGE era com carteira assinada, apesar de provisório. Éramos regidos pela CLT. A turma que trabalhou comigo foi admitida definitivamente, depois de recorrer à Justiça. Eu não pleiteei esse direito porque preferi atender ao chamado de minha irmã para voltar a morar em Natal.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Tinha algum emprego certo na cidade?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Não, mas consegui um estágio na Rádio Rural. Eu recebia umas fichas para fazer ligações em orelhão e ia para a rua, entrevistar o povo. Eu não recebia salário. Fiquei lá até Orlando Caboré me indicar para fazer um trabalho de pesquisa na Fundação José Augusto. Era um levantamento sobre a história dos municípios. Fui para Serrinha e fiquei dois meses pesquisando. Vivi esse período na maior mordomia... Foi a partir daí que comecei a engordar. (risos). Depois de Serrinha, como gostaram do meu trabalho, me enviaram para Santo Antônio. Quando concluí o trabalho, não teve mais outra, acabou o emprego. Resultado: fiquei desempregado. Fiz concurso para a UFRN, em 1981. Nessa época a cachaça era o centro de tudo. Isso me lascou. Dos 300 candidatos, apenas seis foram aprovados para a prova prática. Eu estava entre eles. O emprego era no laboratório fotográfico do curso de jornalismo da Universidade. Na noite anterior à prova, enchi a cara na festa de aniversário de um sobrinho. Nem pensei que no dia seguinte tinha a prova. Quando cheguei na universidade, ainda estrava tremendo. Mandaram-me tirar uma foto, revelar e copiar. Não consegui nem colocar o filme na máquina. Não sei o que foi aquilo, mas fui reprovado.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Foi aí que você se mudou para Fortaleza?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Um parente do meu pai era dono de uma empresa de informática de Fortaleza que era <img src="http://4.bp.blogspot.com/-iVxhdQ9p0MQ/T0ZzCVY-hJI/AAAAAAAAA6k/79sGazejvhE/s320/IMG_0548.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712379661304890514" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><span ><span style="font-size: 100%;">ligada à Sistema Informática, de Natal. Esse parente do meu pai tentou conseguir um emprego pra mim na Sistema. Não consegui a vaga porque acharam que eu era comunista. O jeito foi ir trabalhar no Ceará. Isso foi em 1982. Comecei arrumando pacotes, embalando e despachando para os caminhões entregarem nas empresas. Daí, progredi e fui para a digitação. Cheguei até o setor de vendas, local onde se trabalhava de paletó. Era a turma que vendia os produtos, que firmava os contratos. Desisti porque vi que aquilo não dava para mim. Voltei para Natal e fui novamente procurar emprego. Nessa época meu pai tinha morrido, a fazenda estava abandonada e a minha mãe estava só. Fui morar com ela e trabalhar no jornal que Paulo Tarcísio estava montando.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você demorou muito tempo com Paulo Tarcísio?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Não. Minha irmã conseguiu uma vaga pra mim no “trem da alegria” promovido pelo então governador José Agripino. Fui para a TV Universitária através daquele convênio com o SITERN. Rogério Cadengue me levou para lá. Fui pauteiro, coordenador de telejornalismo, redator, produtor, coordenador de rede, pauteiro, editor de textos e de imagens, entre outras atividades. Quando Geraldo Melo assumiu o governo, como eu era formalmente lotado na Secretaria da Educação, fui convidado para trabalhar na redação oficial de lá. Fiquei quatro anos, recebendo também uma gratificação. Nessa época Geraldo Melo acabou com os técnicos A, B e C e formou a categoria de Técnico de Nível Superior. Passamos a ganhar, como jornalistas, o equivalente a médico: 10 salários mínimos. Os professores ficaram putos, pois Geraldo Melo privilegiou somente os jornalistas e a polícia. Só que como o salário não era vinculado ao salário mínimo, em poucos anos a inflação comeu tudo.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> - Por que você pediu as contas do Estado?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Antes de sair, em 1990, houve outro concurso para trabalhar no censo do IBGE. Fernando Collor era o presidente da República. Fiz concurso para supervisor e passei.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;">A legislação permitia acumular com o emprego no Estado. Desde o primeiro, os censos no Brasil eram realizados a cada dez. Só esse, que deveria ter sido em 1990, passou para 1991. Collor aguardou ser aprovado o Regime Jurídico Único para não ser obrigado a efetivar quem trabalhasse no censo. Voltei para a TVU, no turno noturno, enquanto trabalhava no censo durante o dia. Terminado o censo, permaneci na TV. Em 1994, já no governo Itamar Franco, fui aprovado em um concurso para o Ministério da Educação. A prova foi em João Pessoa, em julho. No mês seguinte saiu o resultado: passei em segundo lugar. Eu não estava inscrito nas vagas de deficiente. No mesmo período passei para a Polícia Federal, para escrivão. Não fui aceito no teste físico.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – O MEC lhe chamou?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Em virtude de o resultado do MEC ter saído perto das eleições, não podia haver <img src="http://1.bp.blogspot.com/-8yWpEsjNCFU/T0ZzCmwu_OI/AAAAAAAAA6s/gUGGOjd9egk/s320/IMG_0550.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712379665967938786" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><span ><span style="font-size: 100%;"> contratação. Foi adiada para o próximo ano. Minha vaga era em Cuiabá, no Mato Grosso. Na Delegacia do MEC de Natal me informaram que eu trabalharia em Cuiabá. Eu soube que o primeiro lugar havia desistido e que eu seria o primeiro a ser contratado. A vaga era minha, mas não pude ser nomeado, por causa das eleições. Pediram para eu adiantar a minha documentação e mandaram aguardar, pois a contratação seria em janeiro. Só que Fernando Henrique Cardoso, logo que assumiu a presidência, suspendeu todas as nomeações. O concurso tinha validade de dois anos. Esse primeiro prazo foi renovado para 1998. Mesmo assim, não fui chamado. Em 1997 eu ainda estava na TV-U. Resolvi ir a Cuiabá e, para isso, pedi uma licença especial de três meses. Um amigo meu, militar, estava terminando o tempo dele em Rondônia. Chamou-me para passar por lá, antes de ir a Cuiabá. Embarquei no ônibus, em Natal, em uma segunda-feira, às seis da tarde. Cheguei na sexta, ao meio-dia, em Porto Velho. Estava todo quebrado. Fiquei uma semana em Porto Velho. Logo ao chegar - como era o meu aniversário - fui logo para um cabaré, comemorar. Lá conheci uma mineira do cabelão. Era primeira. Fiquei uma semana com essa mulher. Apaixonei-me e decidi levá-la para Mato Grosso. Expliquei que estava indo morar em Cuiabá para assumir um emprego. Ela topou ir comigo. Essa mineira tinha uma filha. Foi expulsa de casa aos 16 anos, quando a menina nasceu. A criança foi criada pela avó. Passei a semana namorando com ela. O combinado era eu deixá-la em Pontes de Lacerda enquanto eu resolvia a vida em Cuiabá. Não deu certo.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você chegou a ir mesmo até Cuiabá?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Sim. Fui apresentado como o novo funcionário que seria nomeado em 15 dias. Já tinha uma sala com computador, pronta pra mim. O chefe disse que eu ficasse esperando a nomeação, mas eu respondi que tinha que ir a Natal pegar minha roupa. Na verdade, viajei foi para Brasília. Fui no Ministério da Educação, procurar saber a quantas andava a minha nomeação. Estava na mesa do ministro Bresser Pereira. Voltei para Natal. O governo estava com um programa de demissão voluntária. Aproveitei e assinei minha demissão. Cresci os olhos, pois tudo indicava que eu seria nomeado e não poderia manter os dois empregos. Só que veio a crise e Fernando Henrique acabou com as nomeações. Fiquei desempregado. Com o dinheiro da rescisão, depois de 13 anos de serviço, comprei três carros e fui trabalhar com um amigo, alugando veículos. Paralelo, fui escrever como colaborador nos jornais de Natal. Um dia, entregando uma crônica no Diário, fui convidado para trabalhar por Osair Vasconcelos. Era para atuar no interior, em um projeto sobre os municípios. Era ano de eleição. O projeto que duraria até lá. Topei. Ganhava sete salários mínimos. Era dinheiro demais pra quem estava desempregado. Mesmo assim, botei banca: pedi, além do salário, uma assinatura do jornal.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – O projeto durou mesmo até as eleições?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> - O projeto foi um sucesso tão grande que o caderno continuou, mesmo após a eleição. <img src="http://1.bp.blogspot.com/-2VOIcHBpWUM/T0ZzDypFLUI/AAAAAAAAA7Q/vinvtrcGVWk/s320/IMG_0593.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712379686336933186" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span></span><br class="Apple-interchange-newline"><span ><span style="font-size: 100%;"> Fiquei dez anos nesse trabalho, só que eles nunca assinaram a minha carteira. Quando a nova direção chegou no Diário, nem pôde me demitir, já que eu não tinha carteira assinada. Eu ia trabalhar todo dia, como se fosse bobo. Eles prometiam assinar a carteira e regularizar a minha situação. Nesse período que fiquei lá, junto com Paulo Tarcísio, revitalizamos a Rádio Poti. O projeto dos municípios passou a ser programa de rádio também. Mas isso durou pouco, logo em seguida a Rádio Clube tomou conta da Poti. Foi aí que aconteceram as demissões. O Sindicato dos Jornalistas botou um advogado e eu fui indenizado quando saí. Na verdade, eu tinha começado com sete salários mínimos, mas, no final, o salário não valia mais nada. Comecei a me endividar. Vendi um carro, um golzinho que tinha, para pagar o cartão de crédito. Os juros do cartão tinham engolido tudo. A locadora já tinha acabado há quatro anos.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você casou? Tem filhos?</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> - Vivi junto com uma mulher e tive uma enteada que me adotou. Hoje ela é minha filha, a Maria Fernanda. Ela me adotou: disse que eu era o pai dela, com dois anos de idade. Achei isso muito bonito. Passei um tempo com essa mulher. Depois que perdi o emprego, perdi a mulher também. Foi quando resolvi vender o carro e comprar um computador para voltar a estudar. Isso foi em 2009. Naquela época estavam ocorrendo muitos concursos. Depois de seis meses estudando, fiz concurso para o IBGE, para recenseamento. Passei, mas não me chamaram. Até então eu fazia concurso disputando as vagas normais. Foi quando um médico falou que eu podia utilizar o meu atestado de insuficiência física que me dispensou do serviço militar para pleitear a cota de portador de necessidade especial. Minha escoliose permitia isso. Resolvi tentar na área de jornalismo: passei em três. O primeiro que me chamou, em 2010, foi o Ministério da Saúde, em Brasília. Estou trabalhando nesse emprego até hoje.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Além dele, você também tem um blog.</span></span><br /><span ><span style="font-size: 100%;"><u><b>BOSCO</b></u> – Tenho esse blog desde 2006, quando trabalhava no Diário de Natal. As matérias que eu fazia, as dos municípios, eu aproveitava e colocava no blog. Foi na época do surgimento dos blogs. Como o meu trabalho era mais ou menos uma assessoria, eu coloquei ASSESSORN, mistura de Assessor com RN, de Rio Grande do Norte. Quando saí do jornal, uma das atividades que mantive foi escrever para o blog, mesmo sem receber remuneração nenhuma. O endereço é http://www.assessorn.com . A média de acessos chega a quase mil por dia. Além das notícias, no blog também estão disponíveis artigos que eu publiquei em vários veículos de comunicação. Pretendo reuni-los para lançar um livro. Tenho muita coisa que merece ser publicada.</span></span><br /><div><img src="http://2.bp.blogspot.com/-Lxit9dfyXiw/T0Z0UtOj3uI/AAAAAAAAA8E/1SYG_vW3vWA/s320/IMG_0580.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5712381076452925154" style="color: rgb(0, 0, 238); font-family: Georgia, serif; font-size: 16px; text-decoration: underline; display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><br class="Apple-interchange-newline"></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-53262299222883356672012-01-23T20:43:00.010-02:002012-01-24T17:52:29.760-02:00Entrevista: Abimael Silva<a href="http://3.bp.blogspot.com/-GKBmIZpSjSo/Tx3lA2XoM-I/AAAAAAAAA6c/ssjBe6x30VQ/s1600/Entrevista%2Bcom%2BAbimael.jpg"></a><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold; " >A LITERATURA POTIGUAR É VERMELHA</span></div><br />Apesar de reunir todas as cores, é inegável que, hoje, a literatura do Rio Grande do <br class="Apple-interchange-newline"><img src="http://3.bp.blogspot.com/-X6sB8epg-hU/Tx3juIBPQRI/AAAAAAAAA40/O1rYiBG8_dI/s320/DSC02278.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700963084887081234" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px; " /><br class="Apple-interchange-newline"> Norte carrega um tom encarnado. Antes que julguem o contrário, é bom que se diga que não estamos falando de política. O rubro que permeia a cultura potiguar vem de Abimael Silva. Mais precisamente, da sua editora: a Sebo Vermelho Edições. Ex-bancário e ex-vendedor de loja de discos, o sebista e editor é antes de tudo um entusiasta das coisas que dizem respeito ao solo papa-jerimum. A entrevista a seguir foi realizada em parceria com o jornalista, amigo e meu xará Roberto Fontes. Do seu apartamento, Roberto e Abimael conversaram comigo, que estava na minha casa, em Brasília. Via Skype as ideias no ciberespaço e o resultado você pode conferir agora. O texto também está disponível no site http://www.zonasulnatal.blogspot.com<div><br /><br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o seu nome completo?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – José Abimael da Silva. Nasci no Agreste potiguar, na cidade de Várzea. Mais precisamente em um lugarejo chamado Tanque do Boi. No final dos anos 1960 fui morar em Tibau do Sul. Fiquei por lá até 1973. Depois mudei para Natal.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Em que seus pais trabalhavam?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Minha mãe era dona de casa e trabalhava com artesanato, com sisal. O meu pai, carpinteiro, fazia de tudo: móveis, porta, cama e até caixão de defunto quando morria alguém... No tempo em que moramos em Tibau ele construía barcos no porto, além de fazer as outras coisas.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o nome deles?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – O nome da minha mãe é Maria Rodrigues da Silva. E o meu pai, Severino Hercílio da Silva. Só a minha mãe está viva. Lamentavelmente meu pai morreu no ano de 1980.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Por que sua família trocou Tanque de Boi por Tibau?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – No tempo em que a gente morava nesse lugarejo, o meu avô por parte de pai – Manoel Florêncio, o Seu Quincas - de repente resolveu vender a sua propriedade. Cada um dos filhos morava em uma casa dentro dessa área. Meu pai, por ser o filho mais velho, foi o primeiro a ser sacrificado. A gente teve que ir morar junto com outros familiares lá em Tibau.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual a sua idade nessa época?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Uns cinco anos. Lembro da mudança e até da comida que a gente comeu nesse dia. Foi leite de vaca escaldado com farinha. Um pirão, uma comida bem de pobre mesmo. A gente comeu e saiu do sítio em direção à cidade, transportando os móveis... Coisa bem de retirante mesmo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – As principais lembranças de sua infância são de Tibau...<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – É. Inclusive, no tempo em que eu morava em Tibau, Pipa não era nada. Havia certa rivalidade entre os moradores de Tibau e os de Pipa. Quando passava, por exemplo, os moradores de Pipa em direção à feira de Goianinha, as pessoas de Tibau jogavam pedra e gritavam: “lá vem os pipeiros”. Era aquela concorrência besta.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o motivo dessa rivalidade?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Era rivalidade normal de um lugarejo com outro, de uma cidade com outra. Mas eu falava sobre a minha infância em Tibau. Nesse tempo não tinha luz elétrica. À noite, entre 6 e 9, era ligado um gerador. De manhã cedo eu ia pegar água no chafariz para a minha mãe fazer o trabalho doméstico. Depois eu ia ao porto. Todos os dias o meu pai fazia barcos lá. Nossa família era bem pobre, necessitada. Naquele tempo tinha muita lagosta na praia. Quando chegava um barco, os pescadores, com um garfo, dispensavam a cabeça da lagosta e ficavam só com a cauda. Meu pai pegava umas cinco ou seis cabeças das maiores. Meu trabalho era pegar essas cabeças de lagosta e levar para a minha mãe fazer um cozido. A gente comia isso com batata, com macaxeira, com inhame, com farinha mesmo...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E os estudos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Em Tibau estudei o básico. No começo dos anos 1970, minha mãe, já preocupada com os estudos dos filhos, resolveu que a família deveria mudar para Natal ou, pelo menos, enviar para a capital os filhos mais interessados. Dois dos meus irmãos não estavam nem aí para os estudos. Foi assim que a gente veio: eu e duas irmãs, que hoje são freiras. Uma mora em Angola, Irmã Maria Dionice, e a outra, Irmã Maria José, em Emaús. Ambas são da congregação Filhas de Santana.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você tem quantos irmãos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Cinco irmãs e dois irmãos. Sou o mais novo entre os homens e o quarto filho.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Em Tibau você demonstrava interesse pelos estudos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Com relação a gostar de ler, como eu já falei em vários momentos, devo tudo ao</div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-mOdMPZwT6zY/Tx3juYHMBFI/AAAAAAAAA48/--JuKEbP_OE/s320/DSC02275.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700963089207002194" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px; " /><br class="Apple-interchange-newline"><div> professor Antenor Laurentino Ramos. É um brilhante professor de língua portuguesa, literatura e francês. Ele foi o grande mestre, um incentivador para eu gostar de ler e de alguns autores, principalmente José Lins do Rego, que é o preferido dele.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vamos voltar um pouco no tempo para você comentar como foi a transição de Tibau para Natal. Você sentiu algum impacto ao vir morar na capital?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Senti um impacto forte ao chegar em Natal, no começo dos anos 1970. Fui morar nas Rocas. Morei no Areal e depois fui morar no Alto da Castanha, na Rua Desembargador Lemos Filho. Fui estudar no Isabel Gondim. As Rocas tinha toda aquela efervescência. Existia a festa de Santos Reis, o cinema Panorama... Quando saía da aula, eu ficava no Canto do Mangue curtindo o movimento dos barcos. Como não tinha outra diversão, eu ia na fábrica de gelo que tinha ao lado e pegava duas pedras de gelo e ficava chupando. De repente a gente pode encontrar a felicidade em uma pedra de gelo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Além de estudar no Isabel Gondim você, nessa época, precisava trabalhar para ajudar no sustento da família?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Nesse tempo eu não trabalhava, mas logo em seguida comecei a vender confeito. Meu pai construiu um tabuleiro e eu passei a vender confeito na porta das escolas e nas praias do Meio e dos Artistas. Sempre tentei sobreviver de alguma maneira, para não ter que ficar pedindo dinheiro ao meu pai ou à minha mãe. Eles eram tão necessitados que eu resolvi que precisava ter uma certa independência. Eu era muito criança, acho que tinha uns doze anos. Todo ano, quando chegava o inverno, eu falia. É que todos os confeitos e chocolates amoleciam e colavam. Ficava aquela bola de doce. Só quando o inverno terminava eu me recapitalizava para começar tudo de novo. Quando terminou a coisa dos confeitos, trabalhei um tempo em uma padaria enchendo os sacos de brotes e de bolachas. Trabalhava de cinco às onze da manhã e estudava no período da tarde.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Nesse ritmo você conseguiu ser um bom aluno?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Fui um aluno razoável em algumas matérias. Quando passava para aquela coisa de cálculo, eu me lascava todo. Em matemática sempre fui um fracasso. Também nunca me dei bem em química, física... Em 1976 fui morar nas Quintas e passei a estudar no Colégio João XXIII. Foi lá que conheci o professor Antenor. Ele trabalhava muito José Lins do Rego. Depois acabei conhecendo Pilar, local onde acontece toda aquela trama de Menino de Engenho. Fui com Antenor. Foi uma viagem que até hoje lembro. A gente viajou de Kombi o dia todinho para chegar em Pilar. Até hoje Antenor é um amigo. Ele sempre foi um professor muito dedicado.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Além de José Lins do Rego, o que mais ele recomendou a você, nessa época?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Ele trabalhava muito os nordestinos: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e um pouco de Jorge Amado.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você concluiu o segundo grau?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Na verdade eu sou um ordinário. Não concluí o segundo grau, parei no terceiro ano. Tudo por causa de um professor de matemática. Minhas notas não estavam muito boas e eu disse a ele que tudo o que eu queria mesmo era concluir o ano. Ele respondeu que não me aprovaria porque lá na frente eu poderia ser reprovado em um concurso e colocar a culpa nele. Insisti, mas ele acabou me reprovando. Fiquei com raiva e disse a ele: “não irei concluir o segundo grau por sua culpa”. ZONA SUL – Quando o Sebo Vermelho entra na sua vida?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Antes de ter deixado o colégio, eu já havia aberto o sebo. Isso ajudou na decisão de não concluir o segundo grau.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Mas antes do sebo você teve outras atividades...<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Trabalhei em uma loja de discos, a Discol, durante quatro ou cinco anos. Vendia discos, fitas. Depois trabalhei quatro anos no Unibanco. Tenho 48 anos, mas na verdade me considero um cidadão de 44 anos. Os quatro anos que passei no banco considero perdidos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você fazia no banco?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Comecei como contínuo. Até aí, tudo bem: eu saía, resolvia as coisas do banco, dava uma volta na rua. Depois fui para o setor de contas correntes. Uma chatice: todo dia tinha que somar 500 cheques e chegar a um valor exato. Era uma tortura. Consegui suportar quatro anos na marra. Depois resolvi sair. Com todo respeito a quem trabalha em banco e aos militares: se você passar 20 anos como soldado, se lhe perguntarem o que você sabe fazer, quando deixar o quartel, a resposta será: “nada, eu fui soldado”. Com o bancário é a mesma coisa. Você trabalha, trabalha, trabalha e não tem nenhuma utilidade.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual a reação da sua família quando você resolveu deixar o Unibanco para montar um sebo?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Só quem deu força foi minha irmã que hoje é freira e mora em Angola. Todos os outros disseram que eu estava maluco. A minha mãe, mesmo, ficou horrorizada: “como pode sair de um banco para botar um sebo, vender livro velho”. Foi um horror. Mas eu estava decidido. Saí por ter participado daquela famosa greve geral dos bancos de 1985, começo de 1986. Fiz piquete na porta do banco. Quando me demitiram, senti um alívio grande.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Natal já tinha outros sebos quando você abriu o Sebo Vermelho?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Tinha o sebo da família de Jácio. O meu foi o primeiro a usar a palavra “sebo”. </div><img src="http://4.bp.blogspot.com/-cdRP54fU2Uc/Tx3k_fSPN-I/AAAAAAAAA6E/PnZB9RpW38E/s320/12052011054.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700964482701801442" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><br class="Apple-interchange-newline"><div>Quando coloquei, pichei alguns muros e coloquei “Sebo Vermelho” junto com algumas frases de efeito: “Transar fiado, no pau ou fazer troca-troca, vá de Sebo Vermelho”. Saí pichando tudo que foi esquina e algumas pessoas se chocaram com essa coisa de sebo. Perguntaram se eu sabia o significado da palavra. Não só as pessoas de fora, mas as da minha família. Tive que mostrar o dicionário para minha mãe, para ela entender que sebo era livraria que vende livros usados. Mesmo assim ela insistiu que aquela era uma palavra horrível. Por parte da família de Jácio eu era o intruso, aquele que não podia dar certo. Tanto que o pai dele, seu Raimundo, ficava lá no início dizendo que era melhor eu vender manteiga do sertão, caixas de uva. Comecei o sebo com a minha biblioteca, sacrificando 90 por cento dos meus livros.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quantos títulos, mais ou menos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Comecei com uns 600 livros. Vendi com a maior pena. Mas era o capital inicial e tinha que ser dessa maneira. Foi muito duro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – De um começo de 600 livros, hoje o acervo do Sebo tem quantos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Uns 30 mil.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Por que Sebo Vermelho?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Tinha que ter um nome. Funcionava em uma cigarreira na Vigário Bartolomeu, quase em frente ao Banco do Nordeste, próximo à Praça Padre João Maria. Natal tinha cigarreira amarela, azul, verde, branca... Só não tinha preto e vermelho. Se pintasse preto, não daria certo por causa do calor. Resolvi pintar de vermelho, que é vida, sangue, energia e é a cor do amor. Toda propaganda importante tem vermelho.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Ancorado no Sebo Vermelho você lançou também um jornal.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Em 1986 abri o Sebo. Em 1990 lancei o jornalzinho do Sebo. Em 1987, junto com Dorian Lima, eu já fazia o jornal “A Franga”, que era razoavelmente anárquico ironizando e concorrendo com “O Galo”, jornal oficial do Governo do Estado. Estou reeditando em fac-símile a coleção completa, os cinco números. Depois fiz o jornalzinho do Sebo e, em seguida, “O Canguleiro”, um jornal sobre a Ribeira. Fiz também “O Cascudinho”. O “Jornal do Sebo Vermelho” circulou de 1990 a 2004. Teve 55 números com textos importantes. Era mensal, mas saía conforme os patrocinadores.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Nos primeiros anos do Sebo Vermelho o que vendia mais? Livros ou discos?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – No início, principalmente discos. Mas livros também vendia bem, tanto que eu ia comprar em Recife, lá na “Livro 7”. Comprava livro com preço defasado e vendia no sebo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Depois da chegada do CD caiu a procura pelo sebo?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – De 1992 para cá, o vinil entrou em decadência total. Seu espaço foi ocupado pelo CD. Mas hoje em dia o elepê está voltando a ser procurado, tem todo um encanto. Algumas gravadoras estão fabricando vinil. Acho isso puro sentimentalismo besta. Não tem mais condições. Ninguém tem mais agulha, vitrola... Como vai gravar um vinil desse tamanho podendo gravar tudo isso em um arquivo que é a metade de uma unha?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como surgiu a ideia de o Sebo Vermelho editar livros?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Começou com um livro de Anchieta Fernandes, sobre a história do cinema de Natal. Ele estava com dificuldade para publicar o livro. Em 1991 fiz uma parceria com Varela Cavalcanti, que era presidente do Sindicato dos Bancários do RN. Ele disse: “compre o material que eu imprimo”. Assim foi feito. “Écran natalense” foi um grande sucesso e está adotado, inclusive, no curso de Comunicação da UFRN.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A primeira edição saiu com quantos exemplares?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – No geral as nossas edições saem com 300 exemplares. Talvez essa de Anchieta tenha saído com 500, por ser o primeiro livro e ter aquele encantamento todo. O livro recebeu críticas favoráveis de jornalistas da cidade como Nélson Patriota e Otto Guerra.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Até então o projeto era o de apenas lançar esse livro, e não uma editora. Como você sentiu que tinha espaço para o Sebo Vermelho ter sua editora?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Como esse primeiro livro foi um sucesso, despertou o interesse de continuar. Eu tinha na minha biblioteca particular a primeira antologia poética do Rio Grande do Norte. Reeditei essa antologia em 1993: “Poetas do Rio Grande do Norte”, de Ezequiel Wanderley. Tinha sido publicado em 1922, em Recife. Reúne 108 poetas do RN. Fiz uma reprodução fac-similar em có-edição com Carlos Lima, da “Clima”. O livro foi um sucesso estrondoso. Foi resenhado no Jornal do Brasil, com direito a figurar entre os lançamentos do mês. De repente o livro esgotou. Só na noite do lançamento foram vendidos 102 exemplares. Ao todo, foram vendidos 500. Tomei um gosto danado e resolvei tentar publicar pelo menos um livro por ano. Sempre em parceria, principalmente com Wodem Madruga, na época presidente da Fundação José Augusto.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Existe literatura no Rio Grande do Norte?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – E como tem! O que falta é as pessoas descobrirem. Claro que tem que separar o joio do trigo. Tem muita coisa comum, sem futuro mesmo. Mas, procurando, tem poetas de importância internacional, cronistas, contistas, romancistas e grandes historiadores. No Rio Grande do Norte o que falta é essa separação e também uma divulgação, uma janela que mostre esses autores.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o livro da editora que mais vendeu até hoje?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – O livro que mais vendeu das edições do Sebo Vermelho é um livro de Marlene da Silva Mariz e Coquinho (Luis Eduardo Brandão Suassuna): “História do Rio Grande do Norte”. Quase todo ano a gente faz uma reimpressão dele, de 300 exemplares. Outro que deu um impacto danado foi um livrinho de Celso da Silveira e José de Souza: “O valor que o peido tem”. Esse livro causa um zumzumzum danado. Quase toda semana chega alguém lá no sebo procurando um exemplar. O livro mostra o peido no lado científico. A composição do peido, a descrição...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o livro que mais lhe orgulhou publicar?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Existem vários livros que até hoje eu não canso de ler e reler. O principal é “Cartas de Drummond a Zila Mamede”, organizado por Graça Aquino. Pretendo reeditá-lo agora em 2012. Reúne mais de 60 cartas que Carlos Drummond de Andrade enviou para Zila Mamede, cada uma mais carinhosa que a outra. Esse livro foi um marco nas nossas edições. Foi o 20º título da Coleção João Nicodemos de Lima.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quem foi João Nicodemos de Lima?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Foi o primeiro sebista do Rio Grande do Norte. Teve um sebo, de 1932 a 1975, na Ribeira, na Tavares de Lira. Foi um homem de grande importância, citado por Cascudo em alguns livros, como “O tempo e eu” e “Na ronda do tempo”. É um cidadão completamente esquecido. A única homenagem que ele recebeu foi essa nossa coleção. Não tem um nome de rua, de praça. Depois de João Nicodemos, Natal teve outro sebista, Cazuza. Mas João Nicodemos foi o primeiro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O livro das cartas de Drummond a Zila é uma reedição ou era inédito?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – É uma edição mesmo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como você conseguiu essas cartas para publicar?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Na lei do direito autoral, a carta pertence a quem recebe. Se você mandar uma carta para o Papa, o Papa é quem vai ter os direitos autorais. Mas se ele lhe enviar uma carta, o direito autoral será seu e você terá total liberdade de publicar essa carta. Zila Mamede manteve correspondência não apenas com Drummond, mas também com João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e com Geir Campos. A família tem muitas cartas. De João Cabral, tem 37. De Manuel Bandeira, se não me falha a memória, tem 18. De Geir Campos tem mais de 100. Essas cartas pertencem à família de Zila Mamede. Uma professora, Graça Aquino, reuniu, e eu publiquei. Os herdeiros de Drummond ficaram com a cara toda enjoada, querendo fazer confusão pelos direitos autorais. Mas, no pé da letra, a carta pertence a quem recebe.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Existe algum título que você gostaria muito de publicar.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Dezenas. Tenho nos meus papéis mais de 80 títulos que pretendo reeditar. Na verdade, o que gosto mesmo é de reeditar um livro que tenha alguma importância, além do interesse pessoal. Só de Cascudo - mas aí vou ter que me entender com a família dele - tenho material que dá para fazer mais de vinte livros inéditos, reunindo coisas de grande importância que ainda não foram concretizadas. Como, por exemplo, material de Cascudo só sobre livreiros e editores. Uma série de vinte artigos descrevendo a questão. Tenho uma coleção bem razoável de livros no prelo. Agora mesmo estou publicando o primeiro livro sobre cangaço no Brasil. É de um paraibano chamado João Bandeira. Ele publicou um livro, em 1929, chamado “Cangaceiros do Nordeste”, quando a Paraíba ainda era Parahyba do Norte. Esse livro nunca foi reeditado. Estou fazendo uma reprodução fac-similar dele.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O fato de hoje se encontrar livros e fragmentos de praticamente todo tipo de texto na Internet de alguma maneira interferiu no seu negócio como editor e sebista? As novas tecnologias afastaram o leitor do livro?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Pelo contrário: a internet só viabilizou, só tornou o livro mais viável, mais íntimo do leitor comum. A Sebo Vermelho Edições, por exemplo, já tem quase 350 livros publicados. A grande maioria sobre o Rio Grande do Norte.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O Poder Público estimula o seu trabalho de alguma maneira? Você tem alguma parceria com governo ou prefeitura?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Até o presente momento, não. Mas, se for esperar pelo Poder Público, não se realiza nenhum sonho. O Poder Público só chega junto quando envia ofícios solicitando a doação de livros para essa ou aquela biblioteca. Até hoje nunca um governo estadual, municipal ou federal chegou para comprar nem dez títulos sobre a história do Rio Grande do Norte, de Natal, de Baixa Verde, ou de Mossoró...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A editora é rentável?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Você fez uma pergunta cruel. É e não é. Aqui e acolá um livro acontece, mas no geral a gente espera muito e é aquele fracasso. Às vezes a gente até perde a amizade com o autor porque ele estava esperando vender 100 exemplares e vende oito ou dez. Mas sempre tem um livro que vai compensando os outros. Meu único objetivo é com a venda de um livro viabilizar a publicação de outro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Excetuando o Rio Grande do Norte, qual o estado que mais compra as publicações da editora?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – É a Paraíba O difícil do livro nem é publicar, mas fazer ele livro acontecer, distribuir. O duro é convencer o dono da livraria a expor o seu livro, que ele poderá ganhar um bom dinheiro com aquilo. Agora mesmo, por exemplo, uma grande livraria de um shopping de Natal não tem nenhum livro de autores do Rio Grande do Norte. Isso é um descaso muito grande, é um desserviço à cultura do estado e ao desenvolvimento da nossa região.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Hoje quem é o grande nome da literatura do Rio Grande do Norte?<br /><img src="http://2.bp.blogspot.com/-YpMMKin6zZs/Tx3k_BLmS3I/AAAAAAAAA50/9lTvrV-rvnc/s320/12052011053.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700964474620889970" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><br class="Apple-interchange-newline"><u><b>ABIMAEL</b></u> – É difícil citar só um, mas pegando como exemplo um nome que a grande maioria conhece, eu escolheria Nei Leandro de Castro. Ele é um ótimo romancista, ótimo poeta e bom cronista. Tem livros publicados por grandes editoras, como a Nova Fronteira e a Siciliano. Mas não é o único: Sanderson Negreiros é um grande cronista, Iracema Macedo já mereceu o reconhecimento da crítica a nível nacional e temos muitos outros nomes de talento.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E o Abimael escritor?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Publiquei alguns livrinhos: “Guia dos Sebos de Natal & textos afins”, “Eu e Natal”, “As 14 mais da poesia potiguar” (uma antologia com 14 poetas que eu acho que são figuras importantes aqui) e estou preparando “Como comprar, preparar e comer um bom caranguejo uçá”. Será a primeira publicação sobre caranguejo na gastronomia brasileira. Também estou organizando uma antologia chamada “Poesia Futebol Clube”. O livro reunirá 23 poetas do Rio Grande do Norte, todos escrevendo sobre futebol. Tem Adriano de Souza, Chico Ivan, Ferreira Itajubá e muita figuras interessantes.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Onde se pode adquirir os livros da Sebo Vermelho Edições? Eles estão disponíveis pela internet?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Um sebo de Campina Grande comercializa na internet todas as edições do Sebo. Na Estante Virtual (http://www.estantevirtual.com.br/) tem muita gente vendendo. Estou pensando em começar a dar cabimento à internet. Ainda sou da máquina de escrever. Mas meus livros estão disponíveis no Sebo Vermelho (Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta – Natal) e em algumas livrarias como a Potylivros.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você ainda não utiliza a internet para vender os livros?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – O Sebo tem um blog (http://sebovermelhoedicoes.blogspot.com/) organizado por Alexandre Oliveira, o meu capista. Ele é um danado, é quem mexe e faz tudo. Quando alguém pede um livro, eu separo e ele envia para o sujeito. Além do blog tenho outra página, também, mas é a minha esposa quem dá os pitacos lá e coordena tudo. Eu nem lembro o danado do nome dessa página.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você pretende comercializar suas publicações também em formato digital?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – O caminho é esse, embora eu ache que o livro de papel ainda vá durar uns 200 anos. Mesmo com toda a tecnologia e essa história de não derrubar árvores, ele vai continuar existindo. A tendência é que os dois formatos sejam oferecidos ao leitor. Acredito demais no impresso e até no livro como objeto de arte.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fale sobre a entrevista que você deu a Jô Soares.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Foi em 2003, quando completei 40 anos e recebi o título de cidadão natalense. Na mesma época eu tinha editado o centésimo livro da editora Sebo Vermelho. A produção de Jô deve ter tomado conhecimento através de matérias que saíram no Diário e na Tribuna. Quando eles mantiveram contato, no início pensei que era brincadeira. O diferencial para a entrevista acontecer foi o fato de o Sebo Vermelho ser o único do país que edita livros. Esse foi o gancho. Pra se sincero, eu viajei meio temeroso. Jô Soares joga muito pesado quando entrevista um cidadão comum. Quando é uma autoridade, ele faz aquele lengalenga. No cidadão comum ele bota pra lascar mesmo. Se ele viesse dizer, por exemplo, que nordestino come calango ou lagartixa, eu responderia à altura. Fui preparado: para a guerra ou para a paz.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você levou uns caranguejos para preparar no programa...<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> - Quando a produção estava me entrevistando, antes de agendar a entrevista, falei do projeto de escrever o livro sobre caranguejo. Imediatamente eles pediram para eu levar alguns caranguejos. Foi uma novela danada, uma burocracia tremenda, transportar esses caranguejos. Só o frete no aeroporto, na época, foi quase 80 reais. Caranguejo tem que ser comido quentinho, morno. Se esfriar a carne não sai com facilidade. E como a cozinha ficava longe do estúdio, preparei os caranguejos e pedi a um cara para ele levar quente, durante a entrevista. Do contrário o ar-condicionado muito pesado estragaria o caranguejo. O problema é que quando o cara foi buscar, perdeu o horário. Eu tinha preparado duas cordas de caranguejo. Depois vi pessoas comendo - um músico, um funcionário - mas Jô Soares não comeu.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que Jô Soares procurou abordar na conversa que teve com você?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – A conversa foi sobre o sebo. Eu mostrei a ele um cartaz feito na primeira eleição pra presidente, em 1989. Reunia depoimentos fictícios de várias figuras. Tinha Lula com um chapéu dizendo: “eu tiro o chapéu para o sebo vermelho”. Gabeira falando: “porra, Abimael bem que podia criar o Sebo Verde, também”. Jô Soares abriu e ficou lá, paparicando Ulysses Guimarães, Afif Domingos e Brizola. Quando a entrevista terminou ele disse: “agora eu conversei com essa figura extraordinária” e papapá. Foi bem interessante. A entrevista foi no dia 2 de julho de 2003.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Selecione alguns livros imperdíveis de sua coleção.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Começaria citando dois sobre os quais já falei nessa entrevista: “Poetas do Rio Grande do Norte”, de Ezequiel Wanderley, e “Écran Natalense”, de Anchieta Fernandes. Nessa relação, incluiria “Os americanos em Natal”, de Lenine Pinto. É uma reedição do Sebo de um livro publicado pela Gráfica do Senado, em 1975. É a melhor crônica sobre Natal durante a guerra. Tem também um livro de Djalma Maranhão que considero o livro mais natalense que publiquei: “Esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata”. Um outro imperdível foi organizado por Moacy Cirne e Nei Leandro de Castro: “69 poemas de Chico Doido de Caicó”. Esse livro virou peça que foi encenada no Teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Ficou três meses em cartaz. Imagina, uma peça baseada em um livro publicado no Rio Grande do Norte, com resenhas na Veja, no Estadão, Globo, Jornal do Brasil... Outro que eu gostaria de acrescentar é o livro organizado por Manoel Onofre Jr., “Contistas Potiguares”. É uma antologia com os principais contistas do Rio Grande do Norte. Do jeito que tem livros esses livros especiais, tem outros que fico um pouco sem querer lembrar. Chega muita gente querendo publicar livro reiera mesmo. Um amigo, Inácio, bispo de Taipu, certa vez pediu que eu publicasse um livro. Eu disse que não publicaria de maneira alguma, que o texto era muito sem futuro. Ele então sugeriu: “crie uma coleção chamada “Langanha” para editar tudo o que chegar de porcaria”. A ideia é até boa, mas quem é que vai querer ver seu livro sair pelo selo “Langanha”? (risos)<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quais os projetos para o futuro?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Eu pretendo, agora em 2012, publicar uns 50 títulos. Por ser um ano eleitoral, tudo fica mais fácil. Se você fizer um lançamento na caixa d'água do Banespa, chega fulano, sicrano,</div><img src="http://3.bp.blogspot.com/-gRHlquhxA74/Tx3jxDZv5uI/AAAAAAAAA5g/miE5Aakb27w/s320/DSC02281.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700963135187314402" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px; " /><br class="Apple-interchange-newline"><div> beltrano e tudo que é candidato. Eles vão e compram o livro, tiram uma fotografia e tal. Quando o ano não é eleitoral, como foi 2011, tudo fica mais complicado. Mesmo assim, em 2011 publiquei uns 30 títulos. Agora no começo do ano vai sair um livro que tem tudo para se tornar um best-seller: “Histórias de um taxista”. É de um motorista de táxi de 30 e poucos anos que tem tendência a ser literato. Ele tem histórias ótimas. Uma delas é a seguinte. Um cachorrinho daqueles bem miudinhos morreu. Como a família ficou arrasada, o veterinário se ofereceu para providenciar o enterro em um cemitério de animais localizado em São Gonçalo do Amarante. O dono do animal aceitou. Então o veterinário telefonou para esse taxista e pagou para ele transportar o cachorro, que estava dentro de um saco plástico, até o cemitério. O motorista colocou a “encomenda” na mala do carro e resolveu que levaria o bicho pra São Gonçalo após a última corrida do dia. No final da tarde ele pegou uma corrida de uma família que tinha feito compras no Hiper. Acomodou as compras na mala e fez a viagem. No destino, a família levou as compras e ele continuou a trabalhar. No final do dia, quando resolveu levar o cachorro para o cemitério, cadê o saco? A família tinha tirado, junto com as compras. Quando me contou essa história, o taxista comentou: “só fiquei com pena da mulher quando foi guardar as compras e encontrou aquele cachorro morto”. (risos)<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Pelo visto vai ser mesmo um sucesso.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> - O cara é demais. Ele está escrevendo e um amigo meu, professor de língua portuguesa, está fazendo uma revisão rigorosa. Outra história contada pelo taxista é de uma mulher que chegou perguntando quanto ele cobrava para ir procurar o marido dela nas Rocas, no picado do Monteiro - no Alecrim - e no bairro Nordeste. A mulher era linda, segundo o taxista. Chegaram em uma espelunca pesada, nas Rocas. O marido não estava. Dez e meia, onze horas, o cara também não estava no Alecrim. Foram para o Bairro Nordeste e ela viu logo o carro do marido. Estava na casa da amante. Ela esculhambou o marido, pegou uma pedra, amassou uma porta e quebrou o para-brisa do carro. Dois minutos depois o marido saiu, só de cuecas e com sono. Ela esculhambou: “Seu cachorro, você não tem vergonha de estar na casa dessa rapariga”. Foi o maior escândalo. A amante saiu também e começou a confusão entre as duas. O marido chegou para o taxista e disse: “rapaz, leva essa mulher daqui”. O taxista perguntou logo: “E a corrida?”. “Eu pago, quanto foi?”. “Trezentos reais”. O cara deu o dinheiro. O taxista chegou para a mulher e disse: “dona, vamos embora que a polícia está chegando, a vizinhança já denunciou”. Quando entrou no carro, ele disse: “a senhora é muito mais bonita do que ela e também o estrago que a senhora fez no carro ele nunca mais vai esquecer”. Assim ele conseguiu levar a mulher. Outra história parecida foi a corrida que ele fez para pegar um cliente em um motel. Quando chegou, uma cinquentona e um garotão com cara de 16 anos. Quando chegou na casa da mulher, o marido fez o maior escândalo. “Como você chega uma hora dessa”. A mulher respondeu no ato: “só vim agora porque sabia que você ia dar esse escândalo”. O marido perguntou quem era o garoto. A esposa já tinha a resposta na ponta da língua: “Dormi na casa da minha prima, esse é o filho dela. Ele veio pra evitar de você me bater. Agora, pague a corrida e dê algum dinheiro ao garoto”. O cara pagou e ainda deu uma gorjeta ao boy. O cara contando é coisa de você gravar e comparar com as histórias de Gabriel Garcia Márquez.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E história desse tipo vivida por você? Tem muita?<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Antigamente, quando perguntavam se eu publicava livro, eu já respondia que sim. Certa vez chegou uma senhora no Sebo Vermelho. Era começo de semana, duas e meia da tarde.</div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-JjINOgrgKKg/Tx3ju8Eev7I/AAAAAAAAA5M/DgQuorHouu4/s320/DSC02277.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700963098859323314" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px; " /><br class="Apple-interchange-newline"><div> Ela perguntou se eu publicava livros. Respondi que sim. Ela disse que queria publicar um. Expliquei que geralmente o Sebo pagava 50% dos custos e a pessoa interessada pagava a outra parte. “Dinheiro não é problema: quero pagar tudo”, ela respondeu. Nesse instante, já fiquei com uma pulga atrás da orelha. “Quero fazer um livro sobre o meu neto, que está completando cinco anos. Vai ter uma festa bonita e só o contrato com o buffet foi R$ 5 mil ”. Nessa época, com R$ 2 mil a gente editava o livro que ela queria. Aperreado, comecei a me perguntar como eu ia conseguir sair daquela camisa de sete varas, já que eu tinha dito que publicava o livro. Um livro sobre o neto de cinco anos... Se fosse um neto de 30 ou de 40, tudo bem. Ainda perguntei se ela não achava que estava muito cedo para fazer um livro para o neto. “Não, é um presente. Isso aqui já está programado”. Nisso, do outro lado da rua estava uma Pajero. O motorista tinha ficado para estacionar o carro. Tentei explicar à mulher que só publicava se fosse sobre a história do Rio Grande do Norte. Mas ela não aceitou de jeito nenhum. “Nosso acordo é esse e eu vou pagar tudo”. A conversa continuou até que chegou uma hora em que ela disse que queria o livro publicado em uma edição bilíngue - português e inglês - e com capa dupla. Vi aquilo como a minha salvação. Disse logo que eu não fazia capa dupla e emendei: “Seu neto também não tem grande importância, ele é muito novo para a senhora fazer um livro, e ainda por cima em edição bilíngue”. Encerrei dizendo que não tinha a mínima condição de fazer e sugeri que ela procurasse outro. Dei o endereço da Offset Gráfica e autorizei ela a usar meu nome quando fosse falar com Ivan Júnior. Ela insistiu disse que queria o livro com o selo do Sebo Vermelho, que até podia fazer em outro local, mas com o selo do Sebo. Não concordei. Certa hora o motorista ligou e eu só ouvi ela falar: “não, não deu certo. O garoto aqui está todo queixudo”. Eu sentado numa cadeira, tomando uma cerveja, três horas da tarde. “E ele tá me encarando aqui, venha, traga o carro, ele não quer fazer de maneira alguma. Está me encarando agora”. Quando ela botou o pé fora do sebo, fiz um juramento com Padre João Maria: “Nunca mais cometerei esse deslize, esse antiprofissionalismo de dizer que publico qualquer coisa”.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Para finalizar, deixe um recado para o leitor.<br /><u><b>ABIMAEL</b></u> – Leia, mesmo que seja bula de remédio, revista Tio Patinhas, Tex, Sabrina, Bianca, Júlia ou jornal disso ou daquilo. A coisa mais importante é ler. Com a leitura você vai descobrir caminhos e fazer novas viagens. O conhecimento é a única coisa que, depois que você adquire, é para sempre. Por fim, quero dar os parabéns a Costa Júnior e a Edson Benigno por manterem esse jornal que já circula há muitos anos. Eu, como idealizador de alguns jornais, sei a dificuldade, a complicação que é fazer e manter um periódico. É muito louvável essa iniciativa. </div><div><img src="http://3.bp.blogspot.com/-Y-xpYcQ9mDs/Tx3lAb1SClI/AAAAAAAAA6M/jT8AqitdY00/s320/DSC02276.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700964498954914386" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px; " /><img src="http://3.bp.blogspot.com/-GKBmIZpSjSo/Tx3lA2XoM-I/AAAAAAAAA6c/ssjBe6x30VQ/s320/Entrevista%2Bcom%2BAbimael.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700964506078295010" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 213px; " /><br class="Apple-interchange-newline"></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-24546602949858403362011-12-17T11:17:00.007-02:002011-12-17T18:34:07.540-02:00Entrevista: Pedro Pereira<a href="http://2.bp.blogspot.com/-v01zNmyjtBE/Tuygp7-4LPI/AAAAAAAAA4o/A5IsQ1HqiBg/s1600/pedropereira7.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"></a><div style="text-align: center;"><b style="font-size: 27px; ">A ARTE, AS IDEIAS E AS PERALTICES DE PEDRO PEREIRA</b></div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-0CsrY-AW4VA/Tuye_EPS4rI/AAAAAAAAA2w/Vgg-q9rEpVo/s320/pedropereira9.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095235768935090" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><div><span class="Apple-style-span" ><u><br /></u></span><p class="western" align="CENTER" style="margin-bottom: 0cm"></p><p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm">Ele é poeta. É artista plástico. Foi apelidado de Peralta nos incendiários tempos em que transformava em uma usina de performances os palcos onde a banda Cabeças Errantes se apresentava. Lançou livro. Expôs arte em tela e em camiseta. Sobretudo, nosso entrevistado do mês, se expôs. Nunca se furtou de mostrar a que veio. Inovador, construiu trilhas diferentes do tradicional. Pedro Pereira da Silva nasceu em Passa e Fica, em 1963. Mas ficou por lá apenas seis anos. Natal foi a cidade onde realmente ele passou e ficou. Aqui, construiu sua história e tornou-se reconhecido como ícone de diversas artes. Entrevistar Pedro Pereira, mesmo que via Internet (por meio do Skype), foi um prazer e uma honra. Melhor ainda porque tive ao lado, caprichando nas indagações, o amigo jornalista Roberto Fontes. Diante de dois Robertos, Pedro Pereira não fugiu de nenhuma pergunta. O que ele não lembrava – algumas passagens do período no qual esteve em coma, devido a um acidente vascular cerebral – sua esposa e companheira Alda Pereira gentilmente ofereceu as respostas. O resultado você confere a seguir. As fotos foram cedidas pelo próprio entrevistado, através do seu Facebook. (robertohomem@gmail.com)</p><p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><br /></p><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vamos beber alguma coisa enquanto conversamos, Pedro? Eu e o Roberto Fontes estamos abrindo uma garrafa de vinho...<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Ô coisa boa! Só que eu não bebo mais. Desde o AVC (acidente vascular cerebral) eu não bebo mais, não. Só tomo água e suco.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Um suquinho de caju também é uma delícia!<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Eu gosto de qualquer tipo de suco: de caju, manga, mangaba, graviola...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Bebidas à parte, vamos, então, à entrevista? Você morou muito tempo em Passa e Fica?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Somente seis anos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você recorda desse tempo?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Recordo pouca coisa. Uma delas é que no quintal da minha casa tinha um pé de imbu muito grande. Eu comia muito imbu. Não lembro de mais muita coisa. Sequer lembro de algum amigo daquela época.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – De Passa e Fica você mudou-se para onde? Qual foi o motivo?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Para Natal. A mudança foi devido ao famoso êxodo rural. Quando o meu avô morreu, meus pais resolveram fixar residência em Natal. Minha família é de agricultores. Meu avô se chamava Antônio Pereira da Silva. O nome do meu pai era José Pereira da Silva, e o da minha mãe, Damiana Francisca da Conceição. Viemos para Natal morar no bairro de Tirol, na Praça Augusto Leite. Na época, anos 1970, meu pai arrumou um emprego de pedreiro e, a minha mãe, de lavadeira. Eu fui estudar na Escola Estadual Manoel Dantas.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quais suas primeiras lembranças de Natal?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Cheguei aqui criança. Lembro que me impressionou bastante ver o grande número<img src="http://2.bp.blogspot.com/-ZFGX9CsJNuo/Tuye_Y2uOyI/AAAAAAAAA28/5CjHyuBsJTQ/s320/pedropereira2.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095241303014178" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 211px; height: 320px; " /> de carros, nas ruas. Eu também nunca tinha visto aqueles prédios altos. Sofri o impacto natural de quem sai do interior, do mato, e chega na cidade. A diferença é radical, apesar de nem sempre a gente perceber de imediato. A mudança vai se dando devagarzinho, vai se lapidando na mente. Em resumo: o progresso foi o grande impacto que senti. Também me surpreendi com a quantidade de pessoas nas ruas e a diferente forma de comportamento, dos cortes dos cabelos e do vestuário.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Nessa época você já sentia alguma curiosidade com relação à arte?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Desde o meu primeiro ano no colégio eu já me destacava por gostar de declamar poemas e pintar quadros com os amigos... Arte já era comigo, desde aquela época. Apear de eu não ter, naquela época, nenhum conhecimento de nada, já se percebia meu interesse pela poesia e pela pintura.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Algum antepassado seu enveredou pelo caminho da arte?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Que eu saiba, não. Nem repente, nem viola, nem nada. Pode ter havido algum, mas eu não fiquei sabendo. Minha mãe nasceu em Araruna, na Paraíba. Meu pai é natural de Passa e Fica. O meu interesse pela arte se deu em virtude da escola e pela influência que recebi de um artista: Dorian Gray Caldas.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como você o conheceu? Qual idade tinha?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Quando tinha onze anos, fui adotado por uma família que morava vizinho a Dorian Gray. Minha mãe lavava roupas na casa dessa família com quem fui morar. Eles pediram que eu fosse morar com eles e a minha mãe me doou. Morei 15 anos nesse novo lar.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você achou disso? Ficou triste?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Que nada, eu curti muito: passei a ter tudo o que eu não tinha em casa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Pelo visto você continuou tendo a sua família original e ganhou mais uma.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Exatamente. Passei a ter duas famílias. Eu sempre voltava em casa para ver a minha mãe. Vera Montenegro Pires e Afrânio Pires foram as pessoas que me adotaram. Ele era comerciante, tinha uma distribuidora de livros lá na Ribeira. Também vendia caneta, papel...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Após ser adotado você continuou estudando na mesma escola?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Estudei até a quarta série na escola Manoel Dantas, depois fui para a Escola Estadual Alberto Torres, perto da Praça das Flores.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que mudou na sua vida, após a troca de família?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Mudou para melhor: passei a ter maior facilidade e condições para sair de casa e visitar outros lugares que eu não conhecia. Deixei de me limitar a um só reduto. Passei a frequentar lugares como uma granja, em Extremoz, e a praia de Muriú, no veraneio.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Talvez, para sua futura carreira, o decisivo mesmo nessa época tenha sido você conhecer o vizinho, Dorian Gray. Como foi esse encontro?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Perfeito! Sou da idade da filha de Dorian, a Dione Caldas. Minha mãe de criação, </div><img src="http://3.bp.blogspot.com/-sgZT26W4z_s/Tuyfmm6uVmI/AAAAAAAAA3g/5ggI77plpLc/s320/pedropereira1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095915092792930" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 306px; " /><div>Vera, era amiga da mulher de Dorian, Vanda. Eu ia lá dar recado de Vera para Vanda. Quando eu entrava, via as tapeçarias de Dorian e também observava ele trabalhar. Um dia ele me percebeu e disse que eu podia entrar, podia olhar ele trabalhando. A partir daí passei a ter acesso livre à casa dele. Eu nem sabia ainda que Dorian era o artista famoso que é até hoje. Mesmo assim, eu achava aquele trabalho muito bonito e inspirador. O ambiente era bastante agradável. Dorian é uma pessoa muito educada, doce, amável e gentil. Ele sempre me tratou muito bem.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Dorian chegou a lhe ensinar as primeiras lições das artes plásticas?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Não formalmente, mas, em compensação, ele abriu as portas para eu observá-lo trabalhar. Depois de algum tempo comecei a trabalhar na Construtora Serra Negra. Certamente influenciado pelos trabalhos que vi na casa de Dorian Gray, passei a investir parte do meu salário em arte.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você fazia nessa construtora?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Eu era apontador. Sabe o que é isso?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você anotava, enquanto os outros trabalhavam...<br /><u><b>PEDRO</b></u> – (risos) É isso mesmo! Eu media a produção dos operários, passava essa informação para as planilhas e enviava relatórios para o escritório. Minha carteira era assinada. Eu investia o salário em mim: comprava livros, discos e objetos de arte, para o meu deleite. Também ajudava em casa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você gostava de ler, nessa época?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Não apenas livros relacionados às artes plásticas, mas também biografias de poetas e escritores como Castro Alves, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. Com relação a música, eu costumava ouvir os discos de Tim Maia, Beatles, Fagner, Ednardo e toda aquela turma do final dos anos 1970, início dos anos 1980.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você também gostava de ouvir rádio?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Sim. Por incrível que pareça, eu gostava de escutar “A Voz do Brasil”. Falando sério! Lá tinha muita informação. Era curioso ouvir. No rádio eu ouvia muito, aos domingos, um programa só de MPB que tocava artistas como Luiz Airão, João Nogueira, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Caetano... Escutava também algumas coisas em ondas curtas.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Voltando ao trabalho como apontador: você aproveitou esse emprego para se qualificar intelectualmente e culturalmente, não é mesmo?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Perfeito. Na verdade, nunca tive – nem na época de criança – brinquedos ou bicicletas. Sempre me interessei mais por outros horizontes.<br /><b><u>ZONA SUL</u></b> – Você não brincava com as outras crianças? Não jogava futebol, por exemplo?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Jogava sim, fui goleiro. Só levava pancada. Eu era perna de pau demais.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Era tão ruim que escalaram você para o gol...<br /><u><b>PEDRO</b></u> – (risos) É isso aí mesmo!<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Nessa época em que você passou a gastar seu salário com arte, teve contato também com os artistas locais?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – De 1980 em diante, passei a ter contato com vários poetas. Em 1981, lancei um livrinho: “Lutar pela paz”. Era um livro de poesias bem livres, sem preocupação... Não tinha preocupação teórica com nada. O objetivo foi mais de me manter vivo na história, com o pessoal. Foi editado em mimeógrafo. Fiz parte daquela geração com Dorian Lima, Carlos Gurgel, Aloísio Matias, Sofia Gosson, Venâncio Pinheiro e muitos outros que publicavam poemas em cópias mimeografadas ou xerografadas. Era só a nata.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como Natal recebeu o trabalho dessa “geração mimeógrafo”?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Éramos os únicos a fazer arte independente. Nosso trabalho era anarquista. Somente nós fazíamos aquela arte não tradicional. Éramos os loucos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E na música?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – O grande guru da música, na época, era Raul Andrade, da Alcateia Maldita. Era o papa, o guru de todos. Ele puxava o bonde. Me inspirei bastante, e até hoje me inspiro nele. Raul não tinha papas na língua, nem era cópia de ninguém: era único, singular, autêntico e muito criativo. Os outros não apresentavam aquela força performática que ele tinha. Paralelo a Raul, tinha também o Gato Lúdico, de Vicente Vitoriano. Nessa mesma época foi que surgiu o Cabeças Errantes.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como apareceu a ideia de criar o Cabeças Errantes?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – De uma só vez surgiram várias bandas: Fluidos, Modus Vivendi, Cabeças Errantes...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Cabeças Errantes foi a primeira banda da qual você participou?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Foi. Eu fazia as performances e tocava um parangolé lá, uma percussão. Mas eu dizia que o Cabeças Errantes surgiu a partir de uma proposta de Vlamir Cruz, meu grande amigo. Ele tinha retornado para Natal, depois de passar um tempo trabalhando na Petrobras, no Rio. Vlamir juntou os amigos – eu, Ricardo Menezes e Piragibe – e formou a banda.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual era a proposta inicial da banda?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Fazer música sem se preocupar se iria fazer sucesso ou não. Queríamos mostrar a cara através da participação em shows, festivais e eventos. Não era para gravar disco.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Desde o início vocês já definiram que, além do som, a banda teria um lado performático?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Esse lado das performances surgiu comigo, no Festival do Forte, em 1984. Para não</div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-9VbhBP7_kO0/TuygFdQdOtI/AAAAAAAAA4Q/Odb4E5PB7FE/s320/pedropereira8.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687096445075536594" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 218px; height: 320px; " /><div> ficar aquela coisa de só blem-blem-blem-blem, eu desci do palco e fiz uma performance poética. Montamos uma performance com várias poesias minhas, para eu falar durante uma música instrumental. Eles tocavam e eu interagia com o público.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual a reação da plateia?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Delírio total! Enquanto eu andava de um lado para o outro, no palco, ou então circulava pela plateia, ia falando aqueles poemas que tinha escolhido para o festival.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quem também gosta muito de misturar texto com música, nos shows, é Jorge Mautner.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – É. Mautner é outro guru. Foi nesse Festival do Forte que a performance foi incorporada à banda Cabeças Errantes.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O repertório de vocês era autoral?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Total. No começo, quase todas as músicas eram de André Júnior. Depois, Vlamir passou a compor com ele também. Após o sucesso que foi a apresentação no Festival do Forte, agendamos um show para o Teatro Jesiel Figueiredo. Foi outro sucesso fantástico. Lá lançamos um livro chamado “Artimanha”. Grande parte dos poemas eram as letras das músicas que a banda tocava. A intenção era que a plateia cantasse junto. A aceitação foi maravilhosa. Muitos artistas foram assistir, como Manoca, Carito e Erick. No palco, fiz algumas poesias performáticas. Depois desse show vieram muitos outros. Alguns antológicos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quais as principais apresentações dos Cabeças Errantes? Lembro de uma no I Festival de Música da ETFRN.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Ali foi fantástico, genial. Durante uma música, eu pintei um quadro. Pintei e depois destruí a pintura. O nome da poesia era “Amor Selvagem”. Eu não destruí o quadro brutalmente, mas pintei por cima do que eu tinha criado. Em outro show, cheguei montado em uma bicicleta. Foi no Festival da Poesia realizado em Candelária. Tiramos o primeiro lugar com meu poema “Pós-Lennon”. O texto é grande, mas o início é assim: “Pós ler / Pós lendo / Pós pós / Pós-Lennon”.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vocês usavam algum tipo de aditivo químico - drogas ou bebida - para encarar a plateia e protagonizar essas performances?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Usava melhoral infantil. (risos). Era só água mesmo. Nem Vlamir, nem eu e nem Ricardo usávamos drogas. A gente já era doido de nascença mesmo. Nem maconha a gente tinha experimentado. Nessa época, por volta de 1986, era só o amor pela arte. Lembro de um show em um festival realizado na Cidade da Criança. O maior sucesso foi a apresentação do Cabeças Errantes. Conseguimos, com a Marinha, quatro sinalizadores de navio. Acendemos no palco. No vídeo “Amor Selvagem”, postado no Youtube, tem algumas cenas desse show e de outras performances.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como surgiu o artista plástico Pedro Pereira?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Em 1988 fui demitido da Construtora Serra Negra, devido a uma redução de pessoal.</div><img src="http://2.bp.blogspot.com/-v01zNmyjtBE/Tuygp7-4LPI/AAAAAAAAA4o/A5IsQ1HqiBg/s320/pedropereira7.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687097071798594802" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 216px; " /><div> Peguei o dinheiro da rescisão, tudo o que tinha direito, e viajei para Brasília. Passei primeiro por Salvador. Peguei um ônibus para Salvador. Passei 15 dias por lá e depois fui para Brasília. Amei Brasília. Gastei quase tudo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Também gostou de Salvador?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Achei muito parecida com Natal. A diferença foram as mulatas. Minha intenção era conhecer museus, artistas, gente, ir a shows, andar por novos lugares. Enfim, eu queria sair da toca, de Natal, e crescer culturalmente. Em Salvador, por exemplo, fiquei amigo do músico Jorge Papapá. Conheci também Raimundo Sodré. Ele vivia biritando lá na Barra.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você ainda tem contato com esse pessoal?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Com Jorge, falo vez por, via Internet. Em Brasília conheci todos aqueles monumentos históricos e estive em bares como o Beirute. Também fui nas boates do Gilberto Salomão. Lembro da Água Mineral e do Shopping Venâncio 2000. Em Brasília comprei muitos discos, livros e um violão.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – No retorno a Natal você produziu – ou na área da literatura ou das artes plásticas - alguma coisa com relação a essa viagem?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Quando voltei para Natal vendi os discos, vendi o violão e só guardei os livros. O violão vendi a Abimael Silva, do Sebo Vermelho. Ele comprou para revender.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Enveredamos pelo assunto da viagem, mas você ia falar sobre o seu começo nas artes plásticas.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Juntei o dinheiro que sobrou da viagem com o da venda do violão e dos discos e comprei tinta, camisetas, pincéis e papéis.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como surgiu a ideia de transformar camisetas em tela?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Foi porque eu não conseguia vender as minhas telas, era pior que Van Gogh. Nem o meu irmão comprava. Até porque ele era liso. (risos). Descobri por conta própria que a camiseta poderia se transformar em um veículo para produzir arte original - sem perder meu brilho e minha característica - e vender mais rápido. Fui lá para a Rua João Pessoa, na época em que existia a Casa Lux. Na porta da loja, botei um cordão e estendi as camisetas. Com o dono da Casa Lux eu não tinha problema, quem implicava eram os guardas do município. Às vezes sim, às vezes não. Foi uma grande novidade para Natal. As pessoas gostaram muito, recebi elogios e vendi bastante. Foi um “boom”. A camiseta é um veículo ótimo para criar novas ideias. Minha intenção, a princípio, era usar a camiseta para me aperfeiçoar nas artes plásticas. Ao invés de treinar com papel, eu treinei com camiseta. Fiquei lá, naquele ponto, até 1990, quando mudei de rota. Em 1991 resolvi sair da rua. Fui para a galeria. Fiz uma exposição grandiosa com cem camisetas. Expus em um só dia, na AABB. Os jornais – Diário de Natal e Tribuna do Norte – noticiaram. As emissoras de TV também foram lá. No outro dia saiu o noticiário completo. Vendi todas em um dia só. Daí em diante não mais fui à rua. Levei minha exposição de arte camiseta também para Mossoró. Depois fui para Recife e Fortaleza.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fora do Rio Grande do Norte as pessoas também receberam bem o seu trabalho?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Foi tudo maravilhoso. O Diário do Nordeste, em Fortaleza, me entrevistou. Lá a exposição foi em um teatro. Vendi um pouco menos, mas mesmo assim foi legal. Em Recife foi melhor ainda.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual a temática que você usava, na época, nesse seu trabalho de arte-camiseta?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Não tinha temática. Gosto de pintar jardins, temas abstratos... Sou muito eclético.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Depois do emprego de apontador você passou a se dedicar integralmente à arte ou teve outra profissão?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Passei a me dedicar à arte de corpo e alma, total. Desde lá sobrevivo apenas da arte. Tudo veio de supetão: resolvi não ser mais empregado de ninguém. Decidi que trabalharia para mim. Como eu tinha aptidão para a arte, foi por esse caminho que optei. Foi assim que me descobri artista: eu posso, eu quero e eu sou.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – As apresentações da banda Cabeças Errantes rendiam alguma grana para vocês?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Eu pagava por aquilo, eu gastava dinheiro no material das performances. Nenhum de nós lucrou com a música. Era totalmente por prazer. Recebíamos cachês simbólicos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Não dava nem para pagar a cerveja e o melhoral infantil...<br /><u><b>PEDRO</b></u> – (risos). No máximo dava para isso, no máximo! Da mesma forma, a poesia só rendeu<img src="http://3.bp.blogspot.com/-azb7X6wlMnI/TuyfAO1oEYI/AAAAAAAAA3M/-dxjl8t0aVU/s320/pedropereira5.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095255793930626" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /> inteligência à minha mente e serviu como um poderoso anti-stress. A poesia também funcionou para o meu deleite. Desenvolvi essas atividades devido ao meu amor pela arte.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Por que os Cabeças Errantes acabaram?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Não é nem que acabou. O tempo lapida as pessoas. As coisas mudam. Um casou, outro foi trabalhar com outras coisas... Um foi ter filhos, outro mudou de cidade... Isso fez com que nos distanciássemos. Esse é o rumo natural da vida.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você sente falta daquela época?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Foi uma época muito boa, mas não sinto falta. Outras ocupações e interesses já preencheram essa lacuna.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A arte-camiseta cumpriu seu objetivo de servir de laboratório para você passar a trabalhar com telas?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – A arte-camiseta ainda é o meu laboratório, até hoje. Sempre foi. Com o passar do tempo, descobri que a arte em tela ou em camiseta tem o mesmo valor. Hoje pinto em camiseta e em tela. Minha sobrevivência vem dessas duas vertentes das artes plásticas. Talvez a minha missão seja desmistificar a arte convencional.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Alguém já lhe copia na arte-camiseta?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Hoje tem algumas pessoas trabalhando com arte-camiseta. Quando comecei a pintar dessa forma, não tinha conhecimento de nenhuma experiência parecida. Depois de algum tempo, já trabalhando com arte-camiseta, descobri que Pink Wainer (artista plástica filha do jornalista Samuel Wainer e da ex-modelo e escritora Danuza Leão), pintava em tecidos. Ela tornou-se, então, uma fonte de onde eu pude beber.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Incomoda falar sobre o acidente vascular cerebral que você sofreu?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Podemos falar sobre isso, sim, numa boa. Já é passado. Aconteceu quando eu estava no velório da minha mãe. De repente, bateu uma tonturazinha. Eu amoleci, caí e já entrei em coma. Foi em 2002. Só recordo até o momento em que senti a tontura e caí. Daí em diante, não lembro de mais nada. Passei três meses em coma.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você lembra do momento em que acordou?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Saí do coma aos pouquinhos. Recordo de Geraldo Carvalho indo lá tocar para mim.<br /><u><b>ALDA</b></u> – Geraldo pediu para ir cantar uma música para Pedro, quando ele ainda estava no coma. Até então, às vezes eu falava e Pedro abria o olho, mas não conseguia se expressar. No dia em que Geraldinho foi, Pedro começou a chorar. A gente via que ele estava emocionado, que estava consciente. Ele escutou. Pedro até lembra da música que Geraldinho cantou.<br /><img src="http://3.bp.blogspot.com/-6YgM8DY6YDY/Tuyfm1IdjcI/AAAAAAAAA3s/EhXbL7XR_kQ/s320/pedropereira3.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095918908509634" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /><u><b>PEDRO</b></u> - Foi Pétala, de Djavan.<br /><u><b>ALDA</b></u> - Geraldinho também tocou duas músicas dele mesmo. Na UTI do Walfredo, só podia entrar uma pessoa de cada vez. Geraldinho entrou com o violão e eu fiquei esperando lá fora. De repente, a médica veio me chamar. Nessa hora, quase morri. Pensei que tinha acontecido alguma coisa. Mas ela apenas pediu para eu entrar, dizendo que Pedro estava bastante emocionado. Na UTI, segurei a mão dele, enquanto Geraldinho cantava. Desde o começo, quando Pedro tinha entrado no coma, eu conversava muito com ele. Sempre falava o que estava acontecendo na cidade e contava como as pessoas estavam solidárias. Tudo que acontecia, eu falava.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Então ele nunca deixou de estar atualizado...<br /><u><b>ALDA</b></u> - Ele estava sempre atualizado, apesar de fora do ar. Na hora, eu me enchia de força para falar sem chorar. Procurava agir como se ele estivesse bem. Porém, quando eu saía da UTI, desmontava. Felizmente Pedro não ficou com aparência de uma pessoa que passou três meses na UTI. As pessoas que o visitavam sempre diziam que ele estava muito bem. Realmente, apesar desse tempo todo, ele não ficou com aparência ruim. Ficou magrinho e tudo, mas só isso. As pessoas comentavam que ele estava corado e eu achava que estavam querendo me enganar, porque todo dia que eu chegava, o quadro era o mesmo: Pedro não tinha reagido a nada.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual foi a primeira reação, a primeira mostra de que ele estava recobrando a consciência?<br /><u><b>ALDA</b></u> - Um dia, quando uma bandeja caiu, Pedro esboçou uma reação ao ouvir o barulho. Esqueci de dizer que, no início, ele também ficou sem ver. Não enxergava nada quando começou a abrir o olho. Pedro saiu da UTI ainda em coma. O médico dizia que ele ia ficar vegetativo, por isso teve que sair da UTI, para ceder o lugar para pacientes em pior situação que ele. Graças a Deus, depois disso ele foi reagindo e se recuperou. Pedro lembra de coisas que aconteceram quando ele ainda estava no hospital. Depois que saiu da UTI, consegui uma vaga no Hospital Onofre Lopes, que tinha uma enfermaria melhor do que a do Walfredo Gurgel. Pedro mistura fatos que ocorreram na enfermaria do Onofre Lopes com outros da UTI do Walfredo. Pedro voltou para casa com traqueostomia, sem se comunicar de forma alguma, a não ser com os olhos. Como ele estava muito frágil, a médica achou melhor ele ir para casa, para não correr o risco de pegar uma infecção.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A recuperação, após chegar em casa, demorou muito?<br /><u><b>ALDA</b></u> – Foi lenta. Ele chegou, em casa, em março. Passamos abril e, em maio, conseguimos uma vaga no Hospital Sarah Kubitschek. Primeiro ele foi para o Sarah em Fortaleza. Depois foi encaminhado para Brasília, porque estava com um problema no braço direito, o que ele tem movimento. Foi detectado um problema no nervo. Teve que fazer uma cirurgia. Voltamos de Fortaleza para Natal, até para eu conseguir uma licença do meu trabalho, e fomos para Brasília. Depois do Sarah foi que ele passou a reagir mais e começou a se alimentar normalmente. No período em que saiu do hospital, Pedro ficou ainda um mês com a traqueostomia, em casa. Depois que foi voltando a respirar, a médica tirou. Voltar a falar mesmo, foi lá pro final do ano. Ele falava uma linguagem que só ele entendia.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Era russo. (risos)<br /><u><b>ALDA</b></u> - A voz ficou esquisita e ele não conseguia articular as palavras. Até hoje está um pouco assim. Você está entendendo o que ele está falando?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Estamos entendendo, sim.<br /><u><b>ALDA</b></u> – Às vezes ele não respira para falar.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vocês tem filhos?<br /><u><b>ALDA</b></u> – Não. Tivemos uma filha, mas ela não sobreviveu. Chegou a nascer, mas faleceu no dia em que nasceu. Mas isso foi bem antes.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Obrigado, Alda. Pedro, você é um expoente da arte potiguar. É uma figura que cabe em qualquer enciclopédia que for escrita sobre o Rio Grande do Norte. Não importa se o tema seja poesia, música, artes plásticas... Certamente você figuraria em qualquer coletânea de arte contemporânea feita no estado. Precisaríamos de muito mais tempo para entrevistar alguém do seu porte. Por isso, muita coisa deixou de lhe ser perguntada. Para suprir, pelo menos parcialmente, essa lacuna, pedimos a sua ajuda: o que de mais significativo faltou ser perguntado?<br /><img src="http://4.bp.blogspot.com/-g96KnkJAyv8/Tuyfns2TfAI/AAAAAAAAA34/BGCFtHOgj5A/s320/pedropereira6.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687095933864737794" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 215px; " /><u><b>PEDRO</b></u> – Acho que o básico foi colocado. Mas, talvez tenha faltado eu falar sobre o meu lado de artista autodidata. Muitos menosprezam o autodidata. Mas isso não tem nada a ver. Busquei meus conhecimentos por conta própria, mas sempre procurei absorver o lado mais amplo da criação pictórica. Procurei conhecer os mestres da arte plástica mundial e me colocar em um contexto. Hoje eu sei onde estou, o que eu faço, como eu faço e por que faço. O cara que mais me deixou claro isso foi Salvador Dali, que nunca foi adepto da academia. A academia, para ele, era uma grande merda. Dali foi meu grande mestre na parte teórica, na parte prática, Claude Monet foi meu grande guru.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como você classificaria as artes plásticas do Rio Grande do Norte? O que vale a pena apreciar?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Nós temos pessoas célebres em vários estilos. Por exemplo: Thomé Filgueira – falecido há poucos anos - foi o maior expoente do expressionismo que tivemos. Dorian Gray é um grande astro da arte contemporânea. Newton Navarro foi um baluarte. Tem muitos - como Assis Marinho e outros - que se enquadram no mundo da arte plástica universal. Na verdade, não existe diferença se a pessoa é potiguar ou de outro planeta. O que vale é a arte conceitual, é o valor artístico cultural. Não é apenas melecar uma tela: o trabalho tem que ter contexto e conteúdo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você recomendaria a um jovem que desenha bem e aparentemente tem talento para as artes plásticas?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Eu diria que não se limite ao desenho. O desenho limita a pessoa. Desenhar é importante, mas não se limite a ele. Desenho é só uma parcela da arte, um fragmento. O desenho cria uma redoma e você se fecha. Procure horizontes abertos, criação aberta. Vá também para o abstrato, experimente outras escolas da pintura. Só assim você vai achar a sua.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como o leitor pode ter acesso ao seu trabalho? Como adquirir uma obra em tela ou em camiseta de Pedro Pereira?<br /><u><b>PEDRO</b></u> – Atualmente tenho utilizado o Facebook como minha galeria. Na minha página estão disponíveis fotografias de quadros e também de camisetas que estão à venda. Basta me procurar através do Facebook ou enviar um e-mail para que possamos manter contato: pedropereiranatal@gmail.com Quem quiser ter uma noção da minha arte, também pode me visitar através do Facebook.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Despeça-se do leitor do jornal.<br /><u><b>PEDRO</b></u> – A todos os amantes e amados pela arte sintam-se convidados a ter, em vida, a arte em suas casas. Deem vida a arte. Ter arte em vida é viver com a arte dentro de casa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Salve, Pedro Pereira!!!</div><div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-KxB4spgqvCU/TuygSRaBtMI/AAAAAAAAA4c/CaGEQkAXrXY/s320/pedropereira4.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687096665232749762" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 213px; " /></div><div><br /></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-50907858311701537732011-11-18T21:13:00.006-02:002011-11-19T10:04:23.018-02:00Entrevista: Marcos Brandão<div style="text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span">O HEDONISTA QUE NUNCA DEIXOU DE SER PROFISSIONAL</span></b></div><a href="http://3.bp.blogspot.com/-6_QE50td5iY/Tsbo223nWCI/AAAAAAAAA1Q/xv1wPrQULjs/s1600/IMG_0321.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"></a><br />Lembro de Marcos Brandão desde a época do I Festival de Música da Escola Técnica Federal do<img src="http://1.bp.blogspot.com/-32U-0V_nDFU/TsbniA7g3lI/AAAAAAAAAz8/pv8aOi1ZQ84/s320/IMG_0294.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676478951898275410" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /> Rio Grande do Norte, realizado, em Natal, no início dos anos 1980. A canção defendida por ele e um grupo de músicos de Ceará-Mirim estava entre as favoritas para ganhar o primeiro prêmio do evento. Devo tê-lo assistido dezenas de meses também no bar da ASFARN (Associação dos Servidores Públicos Fazendários do RN), na Ponta do Morcego. Mas, infelizmente, nunca tinha sido apresentado a ele. A oportunidade surgiu agora, graças ao meu irmão e patrocinador de boas causas, Ronaldo Siqueira. Com ele e os jornalistas Roberto Fontes, Márcia Pinheiro, Fabiana Bagdonas e Costa Júnior, entrevistei Marcos Brandão no Restaurante Veleiros. O vinho, como sempre, estava na temperatura ideal. A comida servida pela equipe do Veleiros, comandada por Ricardo Menezes, foi o aperitivo ideal para a saborosa conversa. Marcos Brandão contou toda a sua trajetória: um cara que não se acovarda quando é o momento de pegar no pesado, mas que também não abre mão de experimentar todos os prazeres possíveis. (robertohomem@gmail.com)<br /><br /><br /><u><b>ZONA SUL</b></u> - Diga o seu nome completo.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Marcos Antônio Cocentino Brandão.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você é das bandas de Ceará-Mirim...<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Nasci por lá, minha infância foi toda lá. Meus pais também são da região. Minha família, Cocentino, é de origem italiana, mas se estabeleceu em Ceará-Mirim, no início do século passado. Meus pais eram agricultores, tinham propriedades, cultivavam cana-de-açúcar. Eles também tinham hortaliças e mexeram com cerâmica. Por último, entraram no ramo de restaurante. Administraram restaurantes pequenos, mas bem frequentados.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – De alguma forma seus pais se envolveram com a música?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Minha mãe, na juventude, foi cantora e tocou violão. Aliás, todas as minhas tias maternas tocam violão. Desde a infância até hoje, vivi em um ambiente de música.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Sua mãe tocava violão apenas em casa?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – No início ela tocou em banda, lá em Ceará-Mirim: fez shows na cidade e tudo. Depois que casou, deixou de tocar. Na casa da minha avó sempre tinha um violão afinado. Como todo mundo da família tocava ou conhecia alguma coisa do instrumento, quem chegava já ia logo fazendo um som. Comumente a gente se reunia, à noite, para tocar. Dos filhos e netos, eu e mais dois ou três, somente, nos interessamos pela música.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fale um pouco sobre a sua infância, as primeiras recordações...<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Inicialmente a minha infância transcorreu em uma pequena propriedade do meu<img src="http://3.bp.blogspot.com/-_WW7qubCC2s/TsbnjVSxABI/AAAAAAAAA0U/oti_IT_ZPEk/s320/IMG_0297.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676478974544379922" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /> avô no distrito chamado Várzea de Dentro. Depois de nascer em Ceará-Mirim, fui morar nesse distrito, onde sequer tinha energia elétrica! A família ia dormir às sete da noite, nunca esqueci esse detalhe. O jantar era servido às cinco. Depois, ficávamos um tempinho na frente da casa. Às seis e meia todos íamos para a cama. Em compensação, antes das cinco da manhã meu avô chegava da cidade e me levava para o curral, para a ordenha. Lá eu tomava meu copo de leite com Toddy. Depois disso ia tomar banho no rio para, em seguida, ir até Ceará-Mirim estudar. No final da aula voltava para a fazenda, a cavalo, acompanhado de um vaqueiro. Essa era a melhor parte: cavalgar até em casa. Percorríamos nove quilômetros em cerca de 40 minutos. Quando completei dez anos fui morar na cidade, em Ceará-Mirim. Foi uma mudança brusca: o ritmo de vida passou a ser outro, as brincadeiras eram diferentes... Na fazenda era muito mais agradável, embora a cidade foi onde comecei a ter mais curiosidade pela vida.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Na fazenda você convivia com outras pessoas da sua faixa etária?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Os trabalhadores da fazenda tinham filhos. Eu brincava e convivia com eles. Nosso dia era cheio de atividades, a principal diversão era passar horas tomando banho de rio. O Rio Ceará-Mirim passava no meio da propriedade. Ele ficava a cerca de dois quilômetros da casa onde eu morava. Qualquer tempo livre, corríamos para o rio. Fora isso, a gente também andava a cavalo, observava a ordenha, a separação de gado... A criação era de gado para corte e também de gado para leite. Eu adorava preparar a ração para o gado, auxiliando os trabalhadores. Porém eu preferia mesmo era andar a cavalo e tomar banho no rio.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E na cidade?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Quando viemos morar na zona urbana, Ceará-Mirim ainda era uma cidade muito provinciana. Ainda era a época da ditadura. Só existiam dois partidos políticos. O que mais animava a cidade era a festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, que ocorria em dezembro. O São João e a época da campanha política também agitavam a população. Ceará-Mirim tem - e já tinha naquela época - uma biblioteca muito boa, chamada Dr. José Pacheco Dantas. Desde que fui morar na cidade, me tornei assíduo frequentador de lá, apesar de ter apenas 10 ou 11 anos de idade. Na verdade, sempre gostei muito de ler.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O gosto pela leitura foi incentivado pelos seus pais?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Quem mais me incentivou foi uma tia, a tia Darilene, que, infelizmente, já faleceu. Ela era professora. Aliás, duas tias maternas foram professoras: tia Dilma e tia Darilene. Tia Darilene tinha uma ânsia de ensinar muito grande. Então ela incentivou bastante esse meu gosto pela leitura.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você lia nessa época?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Eu gostava de ler Neimar de Barros, alguns livros clássicos e Machado de Assis. Li <img src="http://2.bp.blogspot.com/-X30rNbokcHU/TsboQ5q2KxI/AAAAAAAAA04/ha5oI41BDhU/s320/IMG_0315.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676479757403171602" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px; " />também muitas obras filosóficas. Por incrível que pareça, meu gosto era voltado para esse lado. Meus irmãos e irmãs não se interessaram por essa área, a filosofia, que foi uma leitura que muito me agradou naquela época. Eu também gostava de ler o trivial, como os livros de romance e os de aventura. Na verdade, eu gostava mesmo era de ler. Lia até bula de remédio, rótulo de desinfetante e tudo o mais que fosse possível.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Também ouvia muita música? O que costumava ouvir?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Sim, ouvia muita música. Na época lembro que escutei muito Roberto Carlos, aprendi a cantar dezenas de canções dele. Sempre gostei da boa música brasileira: Noel Rosa, Sílvio Caldas, Sinhô... Também ouvia a jovem guarda: eu gostava de Celly Campelo. Outros que me agradavam eram Erasmo Carlos e Raul Seixas, entre tantos outros.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Pelo visto, você gostava de músicas mais antigas do que as de sua geração...<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Realmente o meu gosto é mais antigo. Talvez por ter sido o primeiro neto, eu andava muito com o meu avô, Danilo Brandão. Eu ia com ele, de jipe, comprar farelo em João Câmara. O jipe não tinha som, então ele cantava a viagem inteira. O detalhe é que ele andava a 30 quilômetros por hora. De Ceará-Mirim para João Câmara são 48 km. Nós gastávamos quase uma hora e meia para chegar lá. Nesse percurso, ele ia cantando. Então, eu ouvia muita coisa. Também contribuiu para esse meu gosto o fato de na casa da minha avó paterna haver muitos discos antigos de intérpretes como Nélson Gonçalves, Carlos Gardel, Milton Carlos e Paulo Sérgio. Até morei uma época com os meus avôs.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – No colégio você participou de manifestações culturais? Havia algum movimento musical?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Desde o jardim de infância, de cara, quando entrava em uma escola eu já procurava a bandinha. Eu ensaiava para tocar corneta no desfile de 7 de Setembro. No Grupo Escolar Barão de Ceará-Mirim eu fiz parte de uma bandinha de fanfarra que tinha.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual o instrumento?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Sempre corneta, sempre instrumento de sopro. Também estudei pistom na banda de música, porém, sofri um acidente de carro e fiquei com uma sequela no lábio. O resultado é que perdi a embocadura. Foi por isso que deixei de tocar pistom. Mas sempre a minha atenção foi voltada para a música. Quando chegava em qualquer escola procurava me informar se havia banda. Se a resposta fosse positiva, eu procurava logo fazer parte.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quer dizer que o violão foi uma alternativa quando você perdeu a condição de tocar instrumentos de sopro.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Foi. É bom ressaltar que antes do violão eu já cantava. Antes de tocar eu tive bons parceiros para me acompanhar. Só que às vezes acontecia algum imprevisto de aquele músico faltar e eu ser obrigado a ter que conseguir outra pessoa, de última hora, sem sequer ter ensaiado. Isso contribuiu para eu desenvolver o interesse pelo violão. No começo eu tocava com o violão emprestado por um vizinho. Aprendi olhando aquelas revistinhas de acordes. Foi assim até o dia em que, ao chegar em casa, meu pai tinha comprado um violão usado. A partir daí me interessei realmente pelo instrumento. Na sequencia montei um repertório com o qual eu tinha condições de me apresentar em qualquer lugar, para os amigos. Posteriormente virei músico profissional.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que incluía esse seu primeiro repertório?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Até hoje gosto muito mais das coisas antigas do que das novas. Na época eu já<img src="http://3.bp.blogspot.com/-JRzAKLSjItE/Tsbo2r9sYtI/AAAAAAAAA1E/xRtbKoiZitQ/s320/IMG_0320.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676480406559154898" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /> curtia Chico Buarque, Caetano Veloso, Alceu Valença... Isso era a década de 1980. Foi quando desenvolvi um repertório para tocar de forma profissional. O auge daquele tempo eram as canções estilo Cazuza e as daquelas bandas de rock, como Titãs e Paralamas do Sucesso. Porém eu estava voltado para Chico Buarque, Caetano, Tom Jobim, Vinicius de Moraes... Posso voltar um pouco no tempo para contar uma coisa que eu esqueci de dizer antes?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Claro, a entrevista é sua.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Nas férias escolares da minha infância – que iam de dezembro até o início de março – a tia sobre quem falei, Darilene, me pegava em Ceará-Mirim e me levava para a casa dela, em Natal, na Rua Jundiaí. Lá tinha muitos discos, como, por exemplo, de Luiz Gonzaga, Chico Buarque. Tudo o que saía, ela comprava. Então eu passava esses três meses de férias ouvindo música da melhor qualidade. O esposo dela, Edgar, que também me influenciou muito, da mesma forma tinha um gosto musical fantástico. Sua paixão pela leitura era maior ainda. Na casa desses tios foi onde realmente conheci muita coisa boa da música. Na época eu tinha uns 13 anos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você começou a compor antes de passar a tocar nos bares?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Não.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Então, antes de entrar na fase das composições, explique como se deu a transição de tocar para os amigos para se apresentar em bares.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Meu pai tinha uma indústria de cerâmica em sociedade com o meu avô e com esse tio por afinidade, Edgar. A cerâmica enfrentou dificuldades financeiras, em 1982, e acabou fechando. A cerâmica foi vendida e houve um rolo. Meu pai acabou perdendo tudo. Então ele resolveu abrir um bar. Foi nesse bar que fiz minhas primeiras apresentações. Eu tocava junto com Jean Carlos – que hoje é do Grogs e é um grande cantor. Na época ele cantava somente músicas dos Beatles. A irmã dele, Giane, que hoje é professora, também cantava. Seu repertório eram músicas de Simone, Gal Costa e Maria Bethânia. Eu cantava Chico, Caetano, João Bosco... Um dos gêneros fortes do bar era a seresta. Lá tocava muito Noel Rosa, Bororó, Lupicínio... A música ao vivo durava umas oito horas: de meio-dia às 8 da noite. Era um bar e restaurante.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quem frequentava?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Naquela época ainda não tinha a rodovia nova, que vai para o litoral norte. Então, quem ia para as praias do litoral norte tinha que passar por Extremoz (se fosse para as praias mais próximas), ou por Ceará-Mirim. Muitos dos que pretendiam ir para as praias mais longe, ao passar no bar, paravam lá mesmo ficavam, nem seguiam viagem. Preferiam ficar ouvindo a música, que, como eu já disse, ia até 8 da noite. Nós, os músicos, íamos nos revezando. A partir daí surgiu a oportunidade para eu vir cantar em Natal, pela primeira vez, no Restaurante ASFARN, lá na Ponta do Morcego. Toquei lá um bom tempo. A partir daí fui me profissionalizando cada vez mais. Na verdade, esse termo profissional eu utilizo com pouca propriedade, já que nunca fui um bom profissional. Sempre fui aquela pessoa que agradava bastante cantando, mas nunca fui aquele músico profissional ao pé da letra. Por exemplo: meu repertório nunca foi fechado. Eu chegava chegava e cantava uma aqui, outra acolá, até descobrir o fio da meada. Era nesse filão que eu investia. Eu também bebia e fumava no palco. Quer dizer, nunca fui um músico exemplar. Em minha defesa tem a explicação de que, naquela época, anos 1980, a boemia era muito ligada à produção musical. Era diferente de hoje, que ainda aceita os boêmios no palco, mas exige uma certa discrição.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quando você veio tocar em Natal já tinha concluído os estudos?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Tinha terminado o segundo grau, mas ainda não havia começado o ensino superior.<div><img src="http://3.bp.blogspot.com/-6_QE50td5iY/Tsbo223nWCI/AAAAAAAAA1Q/xv1wPrQULjs/s320/IMG_0321.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676480409486448674" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /> O negócio é que casei muito cedo. De fato eu casei duas vezes. A terceira foi praticamente um casamento. Casar precocemente fez com que eu parasse os estudos e começasse a tentar ganhar dinheiro. Eu sempre trabalhei.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Qual seu primeiro emprego?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Meu primeiro emprego fora de um negócio da família foi em uma empresa subsidiária da Petrobras. Lá eu fui almoxarife. Trabalhava durante o dia e tocava à noite, de domingo a domingo. Foi uma época muito boa da minha vida, apesar de bastante cansativa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u>- Quando você resolveu retomar os estudos?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Vivi, na noite, 22 anos tocando como profissional. Em uma casa só, passei 14 anos. Isso foi em um bar lá na Praia dos Artistas que começou como “Trampolim” e depois passou a ser “Trem de Minas”. Comecei lá em 1991 e saí em 2005, quando parei de tocar em barzinhos. Eu tocava e cantava. Às vezes era acompanhado por uma percussão ou outro músico.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Destaque alguns artistas que se apresentaram com você nesses anos todos.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Alexandre Lacerda, que é um grande compositor de Ceará-Mirim, foi um deles. Toquei também com João Maria Varela, um violonista também de Ceará-Mirim. Aqui em Natal me apresentei com Marcelo Randemarck, com Edmar (da Banda Anos 60), com Romildo Soaress, com o baterista Carlinhos... Também fiz shows em bares e participei de festivais com Galvão Filho. Enfim, toquei com praticamente toda a turma da década de 1980 até o final dos anos 1990.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como surgiram as primeiras composições?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Meu parceiro Alexandre Lacerda foi a pessoa que mais me influenciou. Ele <div>compunha compulsivamente, não parava de compor: sempre estava com uma ideia na cabeça. Alexandre me mostrava, eu dava uma opinião. Algumas de nossas parcerias eu fiz a melodia e ele colocou a letra. Em outras participei, com ele, na letra da música. Compus também com Zeca Brasil. Inclusive, Zeca gravou “Jura”. Compus com Ivando Monte, com Michelle Lima... Ivando Monte é, pra mim, atualmente, um dos melhores compositores de Natal. O meu lado musical foi mais para a interpretação do que para a composição. Todas as minhas músicas são em parceria. Tenho alguns poemas que aos poucos estou levando ao conhecimento de colegas para musicar. Tenho uma dificuldade terrível em musicar. Prefiro fazer a música e depois colocar a letra do que o contrário. Tenho muito mais facilidade em compor a letra do que a música.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Suas composições têm algum tema específico?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Não. Por exemplo: em parceria com Alexandre Lacerda fiz uma música baseada naquele livro “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Com Zeca Brasil fiz uma canção retratando uma paixão que estava sentindo por determinada pessoa, naquele instante. Com Michelle Lima e Ivando Monte também fiz músicas sentimentais. Quer dizer, não existe um tema específico.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você senta e escreve uma música ou espera a inspiração chegar para poder compor?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Normalmente a música vem pra mim como um sentimento. Ela nunca me vem como uma história. Geralmente ela vem mais pelo que estou sentindo, pelo que estou passando. </div><img src="http://2.bp.blogspot.com/-gsQjKpf9iN8/TsboO5K-lkI/AAAAAAAAA0g/UZctlaglEnE/s320/IMG_0313.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676479722909767234" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><div>As coisas me ocorrem quando estou caminhando pela manhã, quando começo a pensar... Eu deveria gravar essas ideias. Hoje em dia todo celular grava, mas nunca fiz isso. Depois é que tento relembrar e vou escrevendo aos poucos. Hoje escrevo um pouquinho, amanhã lembro e retomo o que escrevi, ou modifico tudo. Comigo acontece assim, mas pode até ser que saia alguma coisa se decidir fazer uma música a qualquer momento. Mas normalmente não funciona assim.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vamos falar de sua fase participando de festivais.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – O primeiro festival do qual participei foi um da UFRN, no começo dos anos 1980. A música não era minha, era de Alexandre Lacerda. Conseguimos classificar duas músicas para esse festival. Uma chamava-se “Terceiro mundo”, uma crítica ao sistema político-econômico brasileiro. A outra era “Sarjai o Apartheid”. Estava na época de Mandela e do Apartheid na África do Sul. Nesse festival ficamos em terceiro lugar com “Sarjai o apartheid”. Aconteceram alguns fatos curiosos. O primeiro foi que estava combinado para, no início da música “Sarjai o apartheid”, por se tratar de um tema afro, eu dizer: “um axé para todos”. Na hora embolei a língua e pronunciei “um axê”. Um elemento lá da plateia olhou e disse: “o nome não é axê, não, animal: o nome é axé”. Pouco tempo depois, quando subi ao palco para defender uma música no festival da ETFRN, o camarada estava lá e me reconheceu: “diga aí, Axê”. Era um gordão, bonachão, daqueles caras divertidos. Quase morro de vergonha. Outro fato curioso é que a música ficou empatada com o segundo lugar. No dia do festival, trouxemos, de Ceará-Mirim, uma torcida maravilhosa para nos aplaudir. No meio veio o meu irmão mais novo, Renato. Ele tinha ido mais pela farra do que pelo festival. Quando saiu o resultado de empate, pediram que uma pessoa da plateia que escolhesse o vencedor, que desempatasse. Pediram ao meu irmão e ele votou na música do concorrente. Por isso ficamos em terceiro. (risos)<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Esse foi o da UFRN. E depois?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Depois participamos do Festival do SESI. Houve um fato curioso com a música “Veias abertas da América do Sul”, baseada no livro do Eduardo Galeano. A música ficou em quarto lugar. O curioso é que o apresentador, famoso em Natal, na hora de nos apresentar, disse: “agora vamos convidar Marcos Brandão para interpretar a música “Véias (de velhas) abertas da América do Sul'”. Todo mundo caiu na gargalhada. Quando cheguei no palco tive que corrigir aquela gafe. Depois teve o festival da ETFRN, que foi muito bom, apesar do problema que foi a acústica do ginásio. Ficamos em terceiro lugar. Ao todo, participamos de três festivais do SESI. Ganhamos o prêmio de melhor intérprete com Sueldo, que fazia parte do nosso grupo. Em um desses festivais também ficamos em primeiro lugar com a música “Natureza”, de Alexandre Lacerda.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fora de Natal você se apresentou?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Em festivais, não. Mas toquei em São Luís, do Maranhão. A empresa que sempre trabalhei, Transpel - Transportes de Petróleo, tem negócios em São Luís. Fui lá substituir um gerente nosso que estava com problema de saúde e acabei ficando alguns meses. Naturalmente levei o violão e lá surgiram vários contatos. Trabalhei bastante em São Luís. Também fiz shows em Recife.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Em São Luís você conheceu alguns músicos que aconselharia o leitor a procurar se inteirar do trabalho dele?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Fiz vários shows, lá, sozinho. Mas conheci muita gente boa. Para não correr o rico de esquecer alguns deles, vou citar o nome de apenas um que me agradou bastante: Beto Pereira. Ele já está mais ou menos no cenário nacional. É um dos que eu recomendo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – No Maranhão, se apresentando em São Luís, você chegou a incluir no seu repertório canções de artistas potiguares?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Sim, principalmente de Alexandre Lacerda. Trabalhamos juntos uns dez anos. Apresentei muitas canções dele, tenho boas músicas dele no meu repertório que apresento em qualquer lugar. Sempre procuro mostrar as músicas de Alexandre, que são muito boas. Também cantei Ivando Monte e algumas canções antigas, como “Praieira”. Gosto muito de Chico Eliont e Elino Julião, por exemplo. Certa vez jantei na casa de Elino, foi maravilhoso.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi? Como era Elino Julião na intimidade?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Foi maravilhoso. O cardápio incluiu batata-doce, linguiça do sertão... Elino era uma pessoa tão simples que pedia desculpas para falar. Ele dizia: “desculpa aí, deixa eu falar aqui uma coisa...”. Participei de um jantar organizado por dois amigos. Estivemos lá eu, Lene Macedo, Jô Fernandes, Marcelo, Carlos... Levamos o som. Era aniversário de Elino. O jantar era comida do sertão. Aquela coisa de você comer e passar a semana cheio. Foi divertido demais. Ele, na janela, pegou um gravadorzinho de fita cassete e ficou lá gravando a gente cantar. A simplicidade nasceu dele. Elino Julião era um compositor fantástico.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Infelizmente, como tantos outros, Elino Julião morreu quase que esquecido. Por que, no geral, o artista potiguar não tem o reconhecimento que merece?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Há uma lacuna enorme, mas eu responderia com uma pergunta: qual a característica do povo potiguar? Qual a característica que marca? O que o faz reconhecer um potiguar fora de Natal? Se você chegar no Rio de Janeiro, facilmente identificará um cearense, um pernambucano, um baiano, um paraibano... E o potiguar? Já busquei essa característica e não encontrei. Não há essa característica exclusiva que faça o potiguar ser reconhecido onde vá, como ocorre com os nascidos nos outros estados que citei. Outra coisa: qual o prato típico potiguar? Qual a comida originária do Rio Grande do Norte?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A carne de sol do Seridó é espetacular.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – É, mas quando se chega no centro sul do país, só se fala na carne de sol da Paraíba. O povo potiguar, talvez por ser extremamente hospitaleiro, valoriza mais os que vêm de fora do que os da sua própria terra. Talvez até pela influência americana no país, na época da segunda guerra mundial. Então, não há valorização do conterrâneo. Houve uma época em que eu tinha uma bandinha, que não tinha nome, mas que tocava todo tipo de festa. O repertório ia desde o Trio Irakitan até Chico Buarque, incluindo a música dos anos 60.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quem fazia parte dessa banda?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Eu tocava violão de seis cordas, Alexandre Lacerda uma viola de 12 cordas, a </div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-Ffc2odB3k4A/TsbnjMBEAHI/AAAAAAAAA0I/tAsuEAFkA4Q/s320/IMG_0295.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676478972054208626" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px; " /><div>percussão ficava por conta de Arimatéia e Zé Maria. Era uma banda bem eclética. Qualquer tipo de festa que você quisesse fazer, a gente tocava. Uma vez, lá em Ceará-Mirim, contrataram uma banda para fazer uma festa. Ceará-Mirim, mesmo tendo grandes músicos, trazia gente de Natal pra tocar. Já Natal trazia de outros estados. Mas eu dizia que esse grupo contratado cobrou o triplo do que nós cobraríamos e, sem falsa modéstia, talvez tivéssemos a mesma qualidade deles. Mas o grupo faltou no dia da festa. O clube municipal, lotado, e nada do conjunto para tocar. Como eu morava vizinho ao clube, o organizador do evento foi me procurar. Eu disse que topava tocar, mas cobrei seis vezes mais do que o cachê acertado com o grupo de Natal. Ele quis reclamar, mas eu falei: “se você tivesse nos procurado antes, teria um grupo lá agora, nesse momento”. Coisa parecida acontece com o Carnatal, que poderia ser muito bem feito só com músicos da terra. Temos artistas excelentes que fariam com a mesma animação. O problema é que não se valoriza. Basta ver os shows do Projeto Seis e Meia. As pessoas entram no teatro no meio do show da atração local. Quando entra o artista nacional, o teatro está lotado.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O pior de tudo é que o artista de fora recebe antes e o daqui pena para receber seu cachê. Outro dia li Isaque Galvão cobrando, no Facebook, o cachê do São João do ano passado.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Conheço vários casos desse. Outro problema é a diferença enorme de cachê. O artista local, além de receber bem menos, às vezes nem recebe.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você nunca pensou em gravar um CD para registrar o seu trabalho?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Sou uma pessoa niilista. Esse é um termo muito abrangente que resume-se no seguinte: é aquela pessoa pra quem nada tem valor. Nada é importante, a não ser aquilo que estou vivendo naquele momento. Então, não gravei Cds sozinho. Gravei em bar e participando de discos de outros artistas. Gravei, por exemplo, com Ivando Monte. Porém, passei todas as cópias que ele me deu para pessoas queridas de quem gosto. Gravei com Lene Macedo, mas também não tenho o disco. Gravei um CD do “Estação de Minas”. Nesse gravei três músicas, mas, da mesma forma, não tenho uma cópia. Se você me pedir que eu mostre algum desses trabalhos, não tenho como. Agora, quando chego na casa dos meus amigos, todos têm. Também praticamente não tenho fotografias minhas em casa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Youtube, Facebook, Myspace... Você utiliza algum desses recursos?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Tenho Youtube e Facebook, mas alimento muito raramente, até por falta de estímulo. De fato, esses são instrumentos viciantes. Se você se envolver, acaba demandando muito tempo. E eu exerço várias atividades simultaneamente. Essas coisas fazem com que o meu tempo se torne bem curto. Prezo muito pela qualidade de vida. Sempre destinei, prioritariamente, um tempo para o lazer, para o prazer. Trabalho desde os onze anos de idade. Apesar de o trabalho me fascinar, entre a qualidade de vida e desenvolver uma obra fantástica, inesquecível ou memorável, prefiro a primeira opção.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como encontrar você nessas redes sociais?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Basta procurar Marcos Brandão. Vai achar alguma coisa no Youtube, Orkut, Facebook... Se digitar Marcos Brandão, surgirão alguns. Eu estarei lá, no meio.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Hoje em dia qual a sua relação com a música?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Sou um eterno apaixonado pela música. Tenho dois violões e não me separo deles. Toco violão praticamente todo dia, nem que seja por 30 segundos. Meu violão fica desencapado. Mesmo que eu chegue tarde da noite, toco nem que seja 30 segundos. Não ando sem o violão na mala do carro. Digo muito que a música deveria ser uma disciplina obrigatória: desde o ensino fundamental até o superior. Em qualquer curso que se fizesse, devia ter uma cadeira chamada música. Em todas as escolas, na minha infância, tinha música. Pelo menos em educação artística se pagava um crédito de música. Comecei estudando pistom, como falei. A música é matemática pura e simples. Todos os compassos e notas têm uma divisão. A música ajuda no desenvolvimento do intelecto. Muito do que aprendi na vida foi por causa da música. Se a música fosse obrigatória, teríamos uma sociedade mais culta e certamente menos violenta.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi a sua vida acadêmica?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Como falei, comecei a trabalhar aos onze anos. Meu pai tinha uma indústria de <img src="http://3.bp.blogspot.com/-gbj1HRoBmxs/TsboQsVENTI/AAAAAAAAA0s/Skf-leUytvk/s320/IMG_0314.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676479753822156082" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " />cerâmica em Ceará-Mirim. Eu queria ter salário, mas não de graça. Queria fazer alguma coisa. Por isso, fui trabalhar. Ganhava 30 cruzeiros por semana, enquanto a maioria dos jovens da minha idade recebia um cruzeiro para ir ao cinema. Depois, aos 18, comecei a trabalhar na empresa subsidiária da Petrobras a qual me referi. Casei muito novo e tive uma filha. No segundo casamento tive outra filha. Como eu tocava e queria ver minha filha crescer, optei por não estudar. Dessa forma também pude curtir a vida que eu tinha na época. Somente depois foi que voltei a estudar e fiz o curso de Direito. Me graduei e me tornei advogado. Hoje trabalho nessa empresa e advogo. Todos os dias chego em casa às onze da noite. Antes vou ao escritório fazer também o meu trabalho de advocacia. Só que na sexta, sábado e domingo não existe mais nada pra mim a não ser a vida, a não ser a noite. Já era assim quando eu estudava.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fala-se muito em acabar o exame da OAB por supostamente ele ser uma prova muito difícil de passar. O que você acha disso?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Realmente há uma polêmica grande com relação à OAB. No meu caso, nunca perdi um final de semana por causa desse exame. Passei na OAB antes de terminar o curso de Direito, no décimo período. É só uma questão de determinação ou de necessidade para passar. No eu caso foi de necessidade. Muitas pessoas fazem Direito apenas para adquirir conhecimento. Algumas dessas pessoas até já estão bem empregadas. Na minha turma a maioria tinha mais de uma graduação. Nem todos se interessavam muito. Minha primeira paixão é a música, mas a segunda é a advocacia. Minha vida profissional hoje resume-se ao trabalho na empresa que gerencio e à advocacia. Posso dizer que sou um advogado praticamente em início de carreira. Não sou um velho advogado, sou um advogado velho.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Se tivéssemos que fazer mais uma pergunta a você, qual seria ela?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Vocês perguntariam como eu sou.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Tudo bem. Então, como você é?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Gosto de me descrever assim: sou um cara extremamente espontâneo, que não temvergonha de absolutamente nada. Não há nada que eu não possa fazer, se eu quiser. Sou uma pessoa muito prestativa. Às vezes os outros se incomodam, mas me dá prazer servir às pessoas. Vivi minha vida inteira desse jeito. Também posso dizer que não tenho apego a nada material e que sou um hedonista. Sou capaz de sair daqui pra Baía Formosa pra comer um goiamum. Cansei de sair daqui pra lá, de andar 90 quilômetros, pra sentar, comer um goiamum e voltar. O prazer me move.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você tem um diferencial no seu repertório: canta muito lado B, ou seja, as canções que não fizeram tanto sucesso. Isso é proposital? É seu gosto pessoal ou foi uma demanda do público?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Isso advém de um desejo incontrolável que tenho de descobrir o desconhecido. Gosto de pesquisar, sou apaixonado pela pesquisa. Às vezes descubro uma música que ninguém ouviu falar. Nesses casos, procuro apresentar essa nova canção ao maior número possível de pessoas. Tenho duas filhas: Maria Claria, que tem um gosto mais parecido com o meu, e Luiza Helena, que prefere as músicas mais modernas. Quando descubro algo diferente, mostro primeiro a elas. Eu acho que deveria ter feito História, antes de Direito. Quem sabe um dia anda não concluo esse curso... A História ensina muita coisa. A própria música pode ser instrutiva. Por exemplo: Em “Alfonsina e el mar” Mercedes Sosa canta a história de Alfonsina Storni, filha de pais argentinos que nasceu na Suiça. Era uma poetisa que descobriu que estava com câncer de mama e suicidou-se andando para dentro do mar. Imagine que dor ela sentiu pra cometer um gesto desses. Descobri pesquisando, após ouvir a música. Quando descubro uma nova canção fico igual a um menino que ganhou um brinquedo novo. Onde chego quero mostrar. Descobrir o novo é muito interessante.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Recentemente Amy Whinehouse morreu. O que você falaria sobre ela?<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Antes de falar sobre essa intérprete, gostaria de dizer que o sucesso é um mar bravio<img src="http://1.bp.blogspot.com/-wC5vxPWuayk/Tsbnh5RVCBI/AAAAAAAAAzw/EXYEhKyNsX4/s320/IMG_0293.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676478949842290706" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px; " /> difícil de atravessar. São poucos os que conseguem atravessar, incólumes, o esplendor do sucesso. A história comprova isso. Vários roqueiros morreram aos 27 anos, e aos 30, aos 50, enfim... Amy tinha uma voz belíssima, uma interpretação fantástica. Seu repertório era ótimo. Ela tinha uma expressão fora de série. Acredito que um dos atributos fundamentais dela era a espontaneidade. Era espontânea até demais. Gosto das pessoas que não se preocupam. Faço a barba todos os dias por necessidade, pelo meu trabalho. Mas admiro a pessoa que sai de casa com a barba por fazer, que não usa roupas de marca, que usa palito de dentes. Admiro as coisas espontâneas, que você faz sem querer, faz por fazer.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Chegou a hora de você se despedir do leitor do jornal.<br /><u><b>MARCOS</b></u> – Agradeço demais por essa oportunidade. Era um sonho antigo fazer parte desse sucesso que é o trabalho desenvolvido pelo jornal Zona Sul. Sou uma pessoa que pouco falo de mim. Muitos dizem que sou trancado, que não exprimo sentimento. Aprendi que os sentimentos devem ficar dentro de cada pessoa. Porém, essa oportunidade foi muito boa. Falei tanto sobre mim como nunca tinha falado na vida. Gostaria de agradecer a todos vocês, especialmente a Ronaldo Siqueira, que é uma pessoa por quem tenho grande carinho. Todos vocês me deixarão tão à vontade que eu consegui dizer tudo o que gostaria. Talvez eu também tenha dito algumas besteiras. Se for o caso, peço desculpas por isso. Mas é bom lembrar que não há quem não diga as suas bobagens. Agora o que me resta é esperar essa entrevista ser publicada. Obrigado.<br /></div></div><div><br /></div><div><br /></div><div><img src="http://1.bp.blogspot.com/-H7H3AkvNf-Q/Tsbpkg4-BRI/AAAAAAAAA1c/NTWGWAukYts/s320/IMG_0316.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676481193860531474" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /><img src="http://3.bp.blogspot.com/-0fW5oN_UfNA/TsbpkymDlCI/AAAAAAAAA1o/sgilxau6seE/s320/IMG_0298.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5676481198613042210" style="color: rgb(0, 0, 238); text-decoration: underline; display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></div><div><br /></div><div><br /></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-50431851819218558922011-10-19T22:03:00.007-02:002011-10-19T22:20:21.654-02:00Entrevista: Sérgio Farias<a href="http://1.bp.blogspot.com/-w16UGSMt_VI/Tp9nIsGVPdI/AAAAAAAAAzM/fVSNiUJbkWA/s1600/IMG_0338.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"></a><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span">DE VOLTA AO VELHO CONTINENTE</span></div><span class="Apple-style-span"><br /><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://1.bp.blogspot.com/--fneLayzW6c/Tp9mJVmOX_I/AAAAAAAAAyQ/XDRqAESZYSY/s320/IMG_0345.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665359166857699314" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span">Incluído em qualquer relação dos melhores músicos potiguares, o violonista e compositor Sérgio Gondim Miranda de Farias nasceu no Rio de Janeiro. Algumas semanas antes de embarcar para uma longa temporada na França, ele conversou comigo, com o jornalista Roberto Fontes e com o advogado Ronaldo Siqueira. O anfitrião, como não poderia deixar de ser quando as entrevistas são realizadas em Natal, foi o Veleiros Restaurante, de Ricardo Menezes. Durante pouco mais de uma hora, Sérgio Farias traçou um resumo de sua trajetória. Falou sobre os irmãos músicos, as precoces apresentações nos barzinhos de Natal, o retorno ao Rio para se aperfeiçoar no violão, o festival de música da Rede Globo e sua primeira ida à França. Vamos acompanhar o que Sérgio tem para contar. (robertohomem@gmail.com)<br /><br /><br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você não nasceu no Rio Grande do Norte...<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Nasci no Rio de Janeiro. Meu pai, José Miranda de Farias, era militar da Marinha: vivia viajando. A vida de militar era itinerante. Minha família morou em Belém, Recife, Rio de Janeiro e em Natal. Mamãe era daqui de Natal. Somos sete irmãos. Fui o único que nasci fora. Todos os outros são de Natal. Passei só dois anos e pouco no Rio, não assimilei nada. De lá, meu pai fixou-se com a família em Natal. Só voltei ao Rio já velho.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quer dizer que você não acompanhou a vida itinerante do seu pai.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Não. Peguei o final, quase a aposentadoria dele. Meu pai era militar da parte médica, era dentista. Sua participação nas Forças Armadas era mais leve. Nunca senti papai militar, até porque ele deixava essa faceta na Marinha. Fora alguns stress, ele não trazia para dentro de casa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Sua mãe tinha alguma ocupação?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Mamãe, Guacyra Gondim Miranda de Farias, é uma heroína, como toda mãe. Além de ter criado os sete filhos, quando completei uns sete anos ela voltou à faculdade. Concluiu e passou a atuar como professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi engraçado porque eu acompanhava, como criança, essa participação científica dela. Os outros curtiram mais o lado dela de mãe. Na minha época ela passava o dia todo na universidade, pesquisando.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Ela pesquisava em qual área?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Bioquímica. Começou a pesquisar nessa área numa época em que não havia nem</span><span class="Apple-style-span">centro de pesquisa. Os equipamentos eram adaptados. Quando os pesquisadores de São Paulo vinham a Natal, achavam surpreendente a maneira como os pesquisadores daqui trabalhavam, sem aquele apoio tecnológico ao qual eles estavam habituados. Hoje - graças a esse desbravamento feito por ela e por uma geração de pesquisadores – a bioquímica de Natal é superequipada. Logicamente ainda não é comparada a São Paulo ou ao Rio de Janeiro, mas já atingiu um nível importante.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Seus pais tinham alguma ligação com a música?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Tanto a família da minha mãe como a do meu pai gostavam muito de música. Eu tinha menos contato com a família do meu pai, que é de Pernambuco. Às vezes a gente passava anos sem se ver, mas quando se reencontrava, parecia que tinha acabado de se deixar. O pernambucano têm um espírito muito vivo e alegre. Não é a toa que o frevo nasceu lá. Meu avô, Mário Henrique de Farias, gostava de cantar e de dançar. Contam que ele saía de casa para dançar. Mas não era em clubes, como hoje. Ele morava no interior, no distrito de Casinhas, em Surubim. Saía de noite para cantar e dançar ciranda com as crianças, na rua. Nem precisava de acompanhamento: era só o canto e as palmas. Quando a gente chegava em Pernambuco, sempre tinha uma ciranda da família nas nossas reuniões.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E na família da sua mãe?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Dois tios gostavam muito de música e de boemia: Carlos Gondim, o filho, e Tota, o Fernando Antônio. Dentro da minha casa também tinha música. Meu irmão mais velho, Mário Henrique (as pessoas o conhecem pelo trabalho que fez na Banda Anos 60), é um compositor fantástico. É impressionante a tranquilidade com a qual ele toca bossa nova. Ele tem uma facilidade enorme de acompanhar.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Mário Henrique foi a fonte através da qual você se inspirou para ingressar no caminho da música?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Não sei. De qualquer forma era uma facilidade muito grande ter, dentro de casa, uma referência ótima de violão. No começo eu queria tocar como ele. Mas não havia disputa, porque além de ele tocar muito mais do que eu, na verdade comecei estudando bandolim. Por tocarmos instrumentos diferentes, ele geralmente me acompanhava. Outro irmão, Carlos Gondim, também me acompanhou muito, tocando violão.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Nas suas brincadeiras de criança a música entrava de alguma maneira?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Dividi muitas brincadeiras com meus primos. A família pra mim era uma coisa</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-Z5V_LS_Ah5I/Tp9nId4lv4I/AAAAAAAAAy8/gtLQ2JNeibs/s320/IMG_0337.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665360251413970818" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span"> muito legal. Tive muitos primos praticamente da mesma idade. Às vezes juntávamos uns oito, todos na mesma sintonia. Naquela época a gente era mais solto, tudo era mais natural. Sem jogos eletrônicos, o negócio era a criatividade. Brincávamos de forte apache, de jogar bola ou outros jogos coletivos, como esconde-esconde, 31 alerta... Nunca esqueci certa ocasião quando, ao término das férias, comecei a pensar que a volta às aulas significaria uma diminuição no ritmo daqueles encontros. Eu tinha uns sete anos. Foi quando Elis Regina interpretou: “O bêbado e o equilibrista”. Um mês depois de aquelas férias acabarem, bastava eu escutar aquela música que eu caía no choro. A dose emocional era duplicada: o fato das férias terem acabado e própria música, que de tão bonita mexia lá no fundo. Quando a música acabava, eu repetia e chorava de novo. Apesar de naquela época eu já escutar muita música, foi essa a primeira pancada musical que recebi.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você ouvia?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Carlinhos, meu irmão, brincava dizendo: “Serginho, você gosta de escutar esse tipo de música para agradar papai”. Senti uma empatia muito grande com algumas músicas de compositores que saíram em uma coleção de música popular brasileira. Nela vinham discos encartados com seis músicas. Eram de um tamanho intermediário: nem compacto simples, nem longplay. Nessa coleção descobri João de Barro e Alberto Ribeiro, Ismael Silva, Ary Barroso. Gostava mais deles do que dos mais modernos, como Caetano Veloso. Uma das músicas que eu mais gostava era “Antonico”. Quando comecei a tocar violão, com oito ou nove anos de idade, eu já sabia essas músicas.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como você começou a tocar?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Aprendi o básico e pouco a pouco passei a conhecer um acorde ou outro mais complexo com meu irmão Mário Henrique. Os sambas que eu gostava não eram tão difíceis como a bossa nova, que tem acordes demais. Não tinham harmonia nem melodia difíceis, nem enorme sofisticação. Mas a letra e a melodia eram bem feitas. Outra música ótima que recordo é “Seu Libório”, de Alberto Ribeiro e João de Barro. Ainda tenho vontade de criar um grupo chamado “Lado B”, pois sempre gostei dessas músicas que ficavam do lado menos interessante do disco. Antigamente o lado A do disco tinha as músicas mais populares. No segundo lado as gravadoras deviam dizer para o artista: “nesse aí você faz o que quiser”. O primeiro lado era para vender o produto. Eu sempre gostei do segundo lado.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Mas você estava contando como começou a tocar... Você participou de algum grupo musical na escola?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Minha participação na escola, sobretudo até o ginásio, não teve nada a ver com música. As pessoas só sabiam que eu tocava quando tinha, por exemplo, um encontro. Até porque estudei no Colégio Marista no finalzinho da ditadura. Ainda tinha um ranço danado. Não foi uma época boa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você foi bom aluno?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Nunca fui bom aluno. Engraçada essa coisa de ser bom aluno. Somente quando fui convidado pela UFRN para participar de uma banca, de um júri, e para falar sobre a minha experiência na França, foi que me dei conta que nunca tinha gostado de estudar. Apesar disso, fiz uma quantidade enorme de cursos musicais. Só pós-graduações, fiz umas três. Apesar de não ser tão dedicado, enquanto estudava, procurei sempre aprender e absorver alguma coisa. Sobretudo depois de mais velho. Até a universidade, eu estudava para me livrar daquela obrigação.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você foi aluno da então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sim, fiz mecânica na ETFRN. Se pagassem bem, naquela época, a um técnico de mecânica, eu teria seguido carreira. Adorava abrir um motor, regular um carburador. Depois fiz até o terceiro ano de engenharia mecânica. Vi que não queria aquilo quando fui fazer um estágio. Descobri que o engenheiro tinha que ficar em uma mesa, desenvolvendo projetos, sem se sujar com nada. Eu não queria ser o engomadinho da mecânica. Tive o bom senso de desistir na metade do curso. Depois fiz educação artística, com habilitação em música. Eu queria fazer música, mas não tinha.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que veio primeiro: suas composições ou as apresentações?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Comecei acompanhando alguns artistas. Na época foi difícil, pois eu era bem novinho, tinha 16 anos. As primeiras apresentações fiz com Edimar Costa, da Caixa Econômica. Ele também era um cara novo e tinha a versatilidade de acompanhar vários estilos. Edimar gostava muito de Gonzaguinha. Antes de a gente se apresentar, ele teve que ir conversar com o meu pai, assegurar que eu não me envolveria com bebida...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Foi quase como um pedido de noivado...<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Foi. Papai achava a música legal em casa. Mas ele tinha um medo danado da boemia, sobretudo de os filhos passarem a beber. Como eu era o mais novo, a preocupação crescia. Papai não tinha medo de a gente entrar no mundo da droga. Até porque a droga era um negócio escondido e distante da vida de todos nós. Não havia nem recomendação com relação a isso.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Onde foram suas primeiras apresentações?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Nos bares em Ponta Negra, como “Casa da Sogra”. Tocávamos eu, Edimar, Fábio Fernandez, no baixo, e Carlinhos, na bateria. Depois dessa fase, comecei a fazer uns cursos de harmonia. Não lembro se eu paguei integralmente esses cursos, mas sei que no começo papai não queria ajudar. Usei os cachês com essa finalidade. O professor era Manoca Barreto. Logo que ele voltou do Rio, colocou um cursinho. Devo ter bancado uns dois meses. A partir daí, vendo o meu interesse, papai e mamãe devem ter passado a ajudar. Não lembro exatamente, mas sei que na época foi difícil, houve resistência. Através de Manoca, em pouco tempo apareceram outros trabalhos. Éramos poucos os músicos de Natal que, naquela época, líamos cifra. Contavam-se nos dedos os guitarristas que liam cifras e que moravam em Natal. Apesar de eu ser muito novo, já era requisitado. Manoca foi super importante para Natal: ele ensinou vários músicos a ler cifra e muitas outras coisas. Eu, Erick (que passou mais de 15 anos tocando com Margareth Menezes) e Wallid fomos alguns dos que aprendemos com ele. Toda uma geração foi pegar essa informação que Manoca buscou lá fora. Alexandre Siqueira e Ricardo Menezes foram outros alunos dele. Manoca, quando não podia fazer alguns trabalhos, passava para mim. Foi assim que surgiu a oportunidade de trabalhar com Pedrinho Mendes. Fiz trabalhos com outros artistas que gostavam da praticidade que a banda da gente tinha de ler partituras e cifras, de fazer dois ou três ensaios e não esquecer no próximo encontro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você tocou com Pedrinho naquela fase do “Boteco”?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Não, já peguei Pedrinho na época de campanha, dos carnavais. Fizemos o primeiro Carnatal. Pedrinho era o máximo. Natal mal conhecia as bandas de Salvador. Poucas rádios tocavam uma ou outra música, mas, no geral, ninguém conhecia, com exceção de Luiz Caldas, Banda Mel e duas ou três outras. No primeiro Carnatal, a apoteose do evento foi Pedrinho Mendes e Moraes Moreira. A gente olhava para a Prudente de Moraes, da Praça Cívica, e via </span><div><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-7cBHTytSoQ4/Tp9mJFchm9I/AAAAAAAAAyA/-reRamFfBdE/s320/IMG_0346.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665359162522049490" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span"></span>gente entupida até a Apodi. Foi uma grande novidade para Natal, aquele povo todo e os trios elétricos passando. Era enorme a quantidade de pessoas ali. As pessoas tinham uma idolatria por Pedrinho. Fiquei morto de nervoso quando fui ensaiar com ele. Pedrinho era um grande astro e talvez ainda seja para muita gente, ainda hoje. Tenho grande respeito pelo trabalho dele. O brasileiro, de uma maneira geral, não tem muito sentimento de patriotismo, de bairrismo. A gente sempre acha legal o que vem de fora.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Talvez seja uma característica do potiguar. Pernambucano, por exemplo, se adora. O paraense e o paraibano também curtem seus artistas. O Ceará, do mesmo jeito.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Não sei, mas acho que se Pedrinho tivesse nascido na Bahia, teria sido mais do que Gilberto Gil. No mínimo ele deveria ser para o potiguar como Gilberto Gil é para o baiano. Babal também é outra fera. Tem alguns outros. Era para o potiguar ver Pedrinho em um restaurante e pedir um autógrafo. O cara devia entrar em um bar, ver Pedrinho e sentir orgulho de ter um cara como aquele na nossa terra. Mas vejo o pessoal desrespeitar até Câmara Cascudo! Quantas vezes ouvi comentários de que Câmara Cascudo inventava, quando não sabia determinada história. Quantas vezes escutei essa imbecilidade. Câmara Cascudo é o maior expoente da cultura popular no mundo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E ele construiu sua obra sem internet, com os meios de comunicação precários da época, recorrendo a cartas e bibliotecas.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Não existe um paralelo para ele. Não existe pesquisador americano ou francês que tenha feito o que ele fez. E ele recebia a todos na sua casa. Mas a gente não idolatra nem Câmara Cascudo. Tem gente que fica procurando defeitos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Que outros artistas você acompanhou nessa época em que dava seus primeiros passos na música? Você já compunha?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Ainda não. Acompanhei vários artistas: Sueldo Soaress, Cleudo Freire, Tarcísio Flor,</span></div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://1.bp.blogspot.com/-w16UGSMt_VI/Tp9nIsGVPdI/AAAAAAAAAzM/fVSNiUJbkWA/s320/IMG_0338.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665360255229705682" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span"></span><div><span class="Apple-style-span"> Valéria Oliveira, Galvão, Babal... Naquela época as pessoas gostavam do nosso núcleo de instrumentistas. Esse grupo variava alguns integrantes: Manoca (depois ele parou um pouco), eu na guitarra, no baixo Erick (tocava com 100% dos artistas), Eduardo Taufic nos teclados, e Sílvio, na bateria. Depois entraram Distéfano (bateria) e outros artistas. O grupo começou a aumentar até se dividir. Mas foi um núcleo de músicos que acompanhou muita gente, como Antônio Ronaldo, Manassés Campos e o pessoal do Trampo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Foi nessa época sua ida para o Rio?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Depois que trabalhei com Joca Costa resolvi fazer um curso de arranjo. Quando fui assumir a direção do Instituto Waldemar de Almeida, da Fundação José Augusto, tive oportunidade de dizer a Joca – que é professor de lá – que devo a ele parte da minha vontade de ser músico. Minha trajetória mudou muito quando o conheci. Ele fazia arranjos belíssimos. Escrevia para cordas, para metais, para flauta... Construía a grade de partitura... Eu queria aprender aquilo. Assim, aos 20 anos, resolvi fazer um curso de arranjo no Rio de Janeiro. Quando concluí, com menos de um ano, surgiram as composições. Por causa do curso, tive que fazer arranjos e composições também. Comecei a compor uma música, duas, três... Quando voltei para Natal um ano e meio depois, estava com umas 14 músicas. Me deu aquela vontade louca de fazer um disco. Foi quando surgiu “Palmyra”, o primeiro CD.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O disco foi gravado em Natal?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sim, mas a qualidade na época não era boa, a cidade só tinha um estúdio. No Rio fiz o curso de harmonia com o maestro Yan Gest, acho que ele é até húngaro. Ele representou para</span><span class="Apple-style-span"> o Rio o que Manoca significou para Natal: trouxe um curso de arranjo para o Rio de Janeiro. Os compositores e arranjadores tinham que estudar com ele. Até hoje ele é referência. Por isso fui lá fazer com ele. Depois de gravar “Palmyra”, voltei com o disco debaixo do braço para o Rio. Visitei as gravadoras que trabalhavam com música instrumental. Gostavam do disco, mas por serem pequenas, não tinham condições de fazer nada. O cara da Perfil Musical disse que também tinha gostado, mas a gravadora havia acabado de investir em Romero Lubambo e na diva do jazz brasileiro, Leny Andrade. Levei também na Vison e voltei achando que não tinha conseguido nada. Mas no outro dia me ligaram dizendo que se eu gravasse de novo, eles lançavam. Avaliaram que as composições eram ótimas, mas que a qualidade de gravação não era nada boa. Fiz um projeto dentro do Profinc e regravei no Rio. Interagi com muitos músicos, conheci Rildo Hora, Sérgio Galvão (irmão do Lula Galvão). Gravei com a Companhia de Cordas do Rio de Janeiro. Conheci Iura Ranevisky, outra figura importante. Em estúdio você conhece muitas pessoas. Foi mais fácil depois voltar pro Rio e começar a trabalhar. Quem também deu muita força foi um amigo daqui, Murilo, que tinha tocado um tempo com o MPB-4. Ele facilitou esse contato. Depois do disco, pude começar a trabalhar no Rio, pouco a pouco.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que você fez de mais importante nessa passagem pelo Rio?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Pra mim o mais importante Rio foi mudar minha maneira de tocar. Eu tocava muito pra mim, solava demais. Era igual aquela pessoa que, numa conversa, fala muito e ouve pouco. Então, comecei a relaxar mais. Percebi que a minha participação tinha que ser menor em todas as músicas. Pra mim foi difícil. Você pode ser o artista principal, mas está tocando em um grupo. Esse comportamento você tem que guardar para o resto da vida. A música é um trabalho em equipe. A dúvida entre um ser humano e outro é grande, imagine entre vários músicos tocando uma peça. A música suscita esse descobrimento interior. A prática musical leva você a algumas reflexões e atitudes. Ao mesmo tempo, é como criar um filho. Estou criando um filho agora. Estou com um menino lá em casa. Você nunca sabe bem como vai proceder. Você tem que refletir o tempo todo. São sempre situações novas, nunca é a mesma situação. As músicas que aparecem para a gente tocar dão isso pra gente. Quanto mais experiência você tem para tratar com a música, melhor. A música é muito exigente, ela lhe obriga a ficar em forma, sobretudo intelectualmente. A música é como um diálogo. Se você está falando com uma pessoa e ela começa a olhar para o lado, ela perde o fio da meada um pouquinho, quando volta, não está mais por dentro daquele assunto. Se é em grupo, pior. Se tem várias pessoas interagindo dentro de uma peça sonora, aí é que é complicado mesmo. Tem gente que é muito desleixado tocando. Bota as notas dentro do compasso e nem escuta. A música é uma exigência profunda.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você se apresentou com quem nessa primeira temporada no Rio?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Toquei com vários artistas. Tive um parceiro que foi muito legal pra mim, o Miltinho, do MPB-4. Ele é um excelente compositor, apesar de o Brasil pouco conhecer. E olhe que tem muitas músicas consagradas, como “Cicatrizes”, que Roberta Sá gravou agora. Ele tem um trabalho fantástico. E como integrante do MPB-4, nem precisa ser apresentado. A gente fez um trabalho instrumental e cantado muito íntimo. Eu tocava bandolim e violão com ele. Teve </span></div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-TBLQF1xdsg4/Tp9mKCuSy4I/AAAAAAAAAyY/Biy9OKbviZ4/s320/IMG_0340.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665359178971138946" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span"></span><div><span class="Apple-style-span">também a Dora Vergueiro, filha do Carlinhos Vergueiro. Também toquei com a Carol Saboya, filha do Antonio Adolfo. Teve uma temporada que integrei o Quarteto em Cy, quando a Celinha não pôde tocar. Tive um trabalho de parceria com a Simone Guimarães, com quem toquei um tempo. Eu era do Rio Grande do Norte e ela de Santa Rosa de Virtebo, interiorzão brabo de São Paulo. Ambos chegando ao Rio de Janeiro, àquela coisa grande. Também interagi com o Mauro Aguiar, que hoje é parceiro do Guinga. Foi o Guinga quem me apresentou a ele. Gravei um filme cujos arranjos foram de Maurício Maestro e, dessa forma, fiquei amigo dele. Quando houve aquela classificação minha no Festival da Rede Globo, em 2000, ele fez os arranjos. Uma coisa vai puxando outra.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi a história desse festival?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Escolheram a minha música entre 24 mil e poucos candidatos inscritos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você tinha esperança de classificar alguma música para a fase final do festival?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Tive um pouco de esperança porque a Simone Guimarães, que tem uma belíssima voz, cantou na gravação. Tinha uma possibilidade, de repente. Mas não achei que tivesse uma forte chance.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você estava morando no Rio ou em Natal?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Em Natal. Antes do festival começar, fizeram quatro ou cinco reuniões. Na primeira, um diretor da Globo chegou pra gente e disse: “quem acha que isso é um festival de música, está enganado. Isso é um festival de imagem, é um festival da Rede Globo”. Foi a primeira coisa que ele falou. O que valia era a imagem, as performances, os aspectos. Ali eu vi logo o que aquele festival seria. Mas, como eu dizia, passei uns quatro ou cinco anos morando no Rio, tocando com esse pessoal. Coloquei a cara entre os violonistas do Rio de Janeiro daquela época. Pensei que chegaria lá e seria apenas mais um violonista desapercebido. Mas notei que a música é uma coisa especial mesmo, sobretudo dentro de uma área específica. Na área da bossa nova, disponível para trabalhar, com gás para acompanhar um novo cantor e também com um cachê acessível, não tinha 500 violonistas. No final, mesmo longe de ser um violonista famoso no Rio, me tornei uma pessoa conhecida em todos os meios. Fui indicado para tocar com vários artistas, entre eles Ivan Lins.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Vamos falar na sua fase da França.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Voltei do Rio para Natal, e, depois que fiz meu curso superior, surgiu a oportunidade de uma bolsa da CAPES. Eu já estava praticamente noivo, minha esposa é cantora lírica. Nós dois fizemos projetos para uma bolsa de estudos da CAPES pra França, na mesma escola. Na época eu já era parceiro de Hermínio Belo de Carvalho, que fez uma carta de apresentação para mim. Acho que Miltinho também fez. Eu tinha várias cartas de recomendação de músicos da MPB, um belo currículo e dois discos publicados: “Palmyra” e “A nuvem acende”. Minha esposa fez também e o projeto dela foi aceito. Fomos para a França começar tudo do zero. Lá a linguagem musical é muito diferente. O francês tem uma paixão pelo som enorme. Se o músico tem uma grande virtude - que ele chama virtuose - no instrumento, tem uma velocidade muto grande, mas as notas não são muito bem explicadas, se o tempo não é precisamente controlado, se a emoção daquela pessoa não está na mão daquele artista, e se ele não dá o máximo de si e o som dele não é belíssimo, esse artista não terá muito futuro. Mas de todas as exigências, as maiores são o som e a afinação. Você tendo um belo som e uma bela afinação, eles perdoam um pouco o resto. No Brasil a gente é muito emotivo, gosta muito da cena, do palco, da performance da pessoa. O artista tem que dar um show, um espetáculo. Percebi morando na França que a grande referência do brasileiro são os Estados Unidos. </span></div><div><span class="Apple-style-span"><u><b>ZONA SUL</b></u> – Na França você tocou profissionalmente?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Lá fiz curso de composição para música de filme e também fiz várias apresentações. Uma semana depois que toquei pela primeira vez na França, meu telefone tocou. “Estou ligando porque um amigo músico viu você tocar e me recomendou, pois estou precisando de alguém que toque jazz, algumas coisas latinas e tal”. Depois desse segundo show, outro telefonema. No terceiro ano em que eu estava na França, meu telefone tocava três ou quatro vezes por semana. Eram pessoas diferentes procurando músico. No meu penúltimo ano na França fiz 67 concertos com artistas brasileiros, franceses e também apresentando meu trabalho. Aqui, pra fazer uma quantidade de show dessa tem que ser um artista de muito nome. Lógico que o fato de ser violonista é bom porque você se integra a vários grupos, mas pra um mercado musical, é fantástico.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Além disso, pelo que você mesmo falou, é fantástico pelo fato de o mercado ser superexigente. E de você ser um estrangeiro.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Por falar nisso, é um mito terrível que eles tenham alguma coisa contra contra brasileiro. Quando a gente vai para um lugar acaba entendendo algumas coisas, mesmo que não apoiando. Por exemplo: quando um estrangeiro vem ao Brasil e observa a violência e a miséria, ele não vai defender, mas vai entender o que são esses fenômenos. Vai saber que o brasileiro pode ir com certa tranquilidade a um restaurante à beira-mar sem sentir pavor de ser assaltado. Pelo menos a maioria das pessoas não sentem esse pânico. Para o estrangeiro a visão é mais ameaçadora. Já na visão do brasileiro, o estrangeiro é o cara que trás o dinheiro. Porém, de uns três anos para cá o brasileiro está percebendo que o estrangeiro também pode representar um problema. Ele pode estar aqui pelo turismo sexual, ou porque é trambiqueiro, ou até por estar usando dinheiro de maneira ilegal... Em suma, ele traz muita coisa positiva, mas também tem seus probleminhas. Na França é o contrário. O estrangeiro que se instala lá traz, na visão do francês, um problemão. Acima de tudo, ele vai usufruir de alguns direitos sociais concedidos no país. Independente de ser francês ou não, na França todo mundo tem. Então, na medida em que chega um a mais, vão ter que repartir a mais um bolo que continuará do mesmo tamanho. O francês também está perdendo poder aquisitivo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Com todas essas oportunidades na França, porque você retornou para Natal?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Meus pais estavam doentes e eu estava cansado. Não morar no seu país é muito. Chega um momento em que a pessoa se estafa, fica estressada. É muito tempo você desconectado de tudo, até da maneira de falar. Eu falava português com a minha esposa, mas tinha todo um universo de amigos franceses. Consegui amigos fantásticos.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como é hoje sua relação com a música?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – O principal de uma música é a mensagem. Se eu vou dizer uma mensagem que você </span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://2.bp.blogspot.com/-mqV5Lb_u3vo/Tp9muwJxCqI/AAAAAAAAAyw/nWuJRYMbopY/s320/IMG_0344.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665359809641253538" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px; " /></span><span class="Apple-style-span">não é sensível a ela, é a mesma coisa de eu estar falando com uma parede. Se o povo hoje só abre o canal do seu coração pra se liberar, para dançar - que é bom também, faz parte – ele só vai receber aquilo. O processo de mudança ao qual me submeti no Rio de Janeiro e também na França me fez melhorar um bocado. Fiquei mais atento com o meu som, passei a me olhar mais. Não melhorei porque estou tocando melhor, mas por ter ficado mais crítico comigo mesmo. Estou cada vez mais exigente e vigilante comigo mesmo e sobretudo isso: eu acho cada vez mais importante o que eu faço. Engraçado, tem tanta gente com profissões tão importantes, mas as minhas notas musicais já me levaram para tanto canto... Já fui para Nova Caledônia (arquipélago da Oceania), para o Caribe, França, Portugal, Itália, Espanha, passando muitas vezes dois ou três meses em cada lugar. Passei dois meses e meio na Itália, conhecendo cada lugarejo. Passamos quase um mês na Espanha, degustando os vinhos, comendo jambon, o presunto.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Fale um pouco do trabalho da sua esposa, a cantora lírica Alzeny Nelo.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Ela foi uma coisa fantástica na minha vida porque sou músico popular. Não somente a música que ela gosta é erudita, como ela própria é erudita. Alzeny é uma personalidade assim: ela combina demais com a França, é impressionante.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Ela é de Natal?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sim, ela é da Cidade da Esperança. Alzeny tem um temperamento bem adequado ao tipo de música que escolheu. Termina me complementando, pois sou bem alvoroçado. A música popular tem um lado rítmico muito forte: o bolero, o samba, o chorinho... Quando a gente fala em música popular, o ritmo vem logo junto. Na música erudita a percussão é um detalhe. Só “Bolero”, de Ravel, que tem aquela marcação contínua. No resto das músicas a percussão é um detalhe, um bolo na cereja. O cara fica um ano esperando um prato. A harmonia, o ritmo são as cordas. Você imagina 80 músicos tocando juntos. Aquele ritmo é muito flutuante. É preciso e não é. São vários músicos que vão dar o ritmo, e geralmente de natureza diferente. Às vezes é a flauta que dá o ritmo, noutras é o violoncelo, a corda grave. Esse bando de instrumentos tocando juntos é uma loucura. A noção de tempo de cada um é diferente. Já começa daí o grande aprendizado. E pra você tocar no tempo tem que ouvir aquele bando de instrumentos e jogar a nota naquele exato instante. Diferente do violão, que o cara toca a corda e o outro responde no baixo e o outro na bateria. Em um grupinho pequeno, a mensagem é rápida. A música erudita é delicada pela sua própria formação. Então, acabei assumindo esse mundo de Alzeny também. Compus uma sinfonia na época em que estudei na França. Fiz em homenagem a um músico de Natal que tinha falecido, Carlão, da Orquestra Sinfônica. A sinfonia chama-se “No tempo das árvores”. Foi apresentada uma vez. Estudei música erudita e análise musical durante quatro anos, na França.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como surgiu a oportunidade de voltar a morar na França.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Agora vamos em outras circunstâncias. Já fiz um belo núcleo de amigos, que é o principal na vida. Já volto tocando em grupos musicais, e tenho até show marcado lá. Tenho coisa marcada até em novembro de 2012! Esse show será em uma casa de jazz, acompanhando uma cantora. É muito raro conseguir espaço lá. Eles dão oportunidade de você ensaiar cinco dias no lugar, antes do show. A cantora me disse que a agenda desse local está completa até 2015.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A França será a sua base, mas você deverá tocar na Europa toda.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – É, com certeza. A base é a França. E é uma base fantástica e legal.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você já domina o francês.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Falo fluentemente. Lógico que aqui e acolá posso cometer um erro. Mas isso é comum </span><span class="Apple-style-span">até no português. Para viver na França é diferente. O brasileiro é muito mais acolhedor, ele aceita que o estrangeiro passe a vida toda sem aprender o português. O espanhol ou o alemão vem para o Brasil e não domina a pronúncia de algumas palavras e não aparece um brasileiro para corrigi-lo, não liga muito para isso. Mas, para o francês, a linguagem é muito importante. A gente tem que respeitar essa diferença. Você deve aceitar o francês como ele é e não criar um gueto e se juntar com um bando de outros brasileiros. Ainda mais você como visitante.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Seria a mesma coisa de ir a uma festa e se juntar em um grupinho para falar mal do dono.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – É, estou indo para a casa deles. Se a gente colocar dentro dessa maneira, eu estou indo para a casa de uma pessoa. Então tenho que respeitar o dono.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você vai ficar em Paris?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sim, em Paris.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Chegou a hora de partir para os finalmentes: você tem algum plano específico, pensa em gravar?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Desde 2005 estou compondo para o terceiro disco. Fiz vários experimentos em estúdio. Gravei três, quatro músicas e vi que não era aquilo que eu queria. Agora, depois desse tempo todo, é que estou voltando uma ideia que tive em 2005. Acho que naquela época eu não tinha habilidade para tocá-la. Eu não estava satisfeito. É uma coisa muito delicada você formar um grupo para gravar um disco. Na época eu gostaria de ter feito violão, baixo acústico e percussão. Eu queria menos ritmo no meu trabalho. Queria uma coisa bem silenciosa, para que a escuta do violão fosse bem presente. Quando o violão vai tocar com o piano na mesma hora, é muita frequência. Acusticamente já é difícil de equilibrar esses dois instrumentos. Quando você vai tocar com outro instrumentista, tem que ser muito planejado. Dois violões, um violão e uma guitarra... Tem que ser tudo muito combinadinho. Na medida em que você não tem esse outro instrumento harmônico e o solista, é só o violão, você tem muito espaço. Mas aí você tem que ser muito sintético também, porque se você tocar demais, acaba anulando os outros instrumentos que também tem que falar. Na época eu tentei e não consegui. Agora estou mais satisfeito. Já fiz umas gravações aqui...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – A tecnologia em Natal já melhorou ao ponto de ser possível gravar um disco com qualidade?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Já, agora está tranquilo. Pode gravar aqui e lançar até na França, sem problema nenhum.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como seus fãs aqui em Natal e no restante do país poderão acompanhar suas aventuras nessa nova temporada que você passará na Europa?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Acho que pelo Facebook. Agora, pela primeira vez, estou dando mais atenção à </span><span class="Apple-style-span">internet. Talvez porque a internet esteja mais interessante. No começo era um negócio aberto onde as pessoas escreviam o que queriam... Hoje está mais regulamentado e os sites estão mais interessantes. Por outro lado, em ferramentas como o Facebook a gente termina encontrando pessoas com afinidades parecidas e dizendo coisas interessantes também. No Facebook publico pouca coisa. Por exemplo, não publiquei nenhuma música minha. Vou começar a explorar o Youtube também. No Facebook as pessoas podem me encontrar pesquisando Sérgio Farias. Mas penso em fazer um site. Logo que ele esteja pronto, divulgarei pelo Facebook. Meu irmão Carlos Gondim é o grande incentivador.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Sua esposa também vai para a França?<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sim, e meu filho, Paulo Henrique, que tem três anos. Ele já toca bateria. Paulinho começou a tocar bateria com um ano e meio. Eu toco violão, o último instrumento que eu o estimularia a tocar seria a bateria. Mas ele acordava de madrugada e pegava várias bacias, com um ano e meio, e ficava tocando. E dizia: “bateria, bateria”.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Para o pai deve ser uma “maravilha” acordar de madrugada com o filho tocando bateria...<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Já me acostumei. Dois meses depois de ver essa coisa natural dele, comprei uma bateria.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Deixe uma mensagem para o leitor do jornal.<br /><u><b>SÉRGIO</b></u> – Sinto, com os 39 anos que tenho hoje, que a vida é muito boa. A ideia original da </span></div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-NoObl9EnI7o/Tp9mKZrtYLI/AAAAAAAAAyg/L1D8DyLrGfc/s320/IMG_0341.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665359185134313650" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px; " /></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span"></span><div><span class="Apple-style-span">vida, eu sinto isso, é perfeita. A gente tem um planeta belíssimo, eu sinto que a missão que temos no mundo é muito simples: é se relacionar. Essa é a coisa mais importante que temos que aprender: se relacionar bem com a natureza e com o ser humano. O que estou buscando é não atrapalhar o fluxo natural da vida. Ou seja, fazer as coisas que vão contribuir para o meu crescimento. Luto muito para procurar não me sentir especial. Especial de verdade, para mim, é ser mais um. É ser uma pessoa que, se não atrapalhar, já está bom. Essa mania de que a gente tem que ser grande atrapalha muito. A gente se envolve demais com os problemas cotidianos, fica fixado naquela vida pequena, voltado para nosso núcleo, nossa família, para meu filho, minha mulher, para o meu, o meu... E vai dando as migalhas para o próximo. O que sobra do estresse do dia a dia é o que a gente dedica ao próximo. Precisamos reverter esse quadro, a família é importante, mas a grande família é mais importante.<br /></span></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6375171257734539129.post-43314177297271450752011-09-16T10:19:00.021-03:002011-09-16T18:19:43.541-03:00Entrevista: Inri Cristo<div style="text-align: center;"><u><p class="western" style="margin-bottom: 0cm"><span ><b><span ><span style="font-size: 26pt">INRI</span></span>: o filho do <span ><span style="font-size: 40pt">PAI</span></span></b></span></p></u></div><div style="text-align: center;"><div><div style="text-align: left;">No meio da tarde de uma sexta-feira, fui com o</div></div></div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://2.bp.blogspot.com/-NxqPRIKA7co/TnOSypcyFKI/AAAAAAAAAvg/x6hvzM8Hetw/s320/IC5.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653023356097795234" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> jornalista Daniel Dutra e o repórter fotográfico Nicolas Gomes à sede da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (SOUST), em Brasília, entrevistar Iuri Thais, o Inri Cristo. Nascido em Indaial, Santa Catarina, em 22 de março de 1948, Iuri somente recebeu a revelação de que era Cristo em 1979, quando estava jejuando em Santiago, no Chile. Meses depois, no México, ele passou a ser chamado de Inri Cristo. Em 28 de fevereiro de 1982, acompanhado por milhares de seguidores, Inri invadiu a catedral de Belém (PA) durante a realização de uma missa, subiu no altar e arrancou um Cristo da cruz. Ele considera esse acontecimento como “O ato libertário”. No link http://www.inricristo.org.br estão disponíveis vídeos, fotografias e muitas informações oficiais sobre Inri Cristo. Na entrevista que concedeu ao Zona Sul, o “Filho do PAI” contou algumas histórias e passagens até então inéditas sobre a sua vida. Confira, a seguir, essa conversa exclusiva. A cobertura fotográfica é de Nicolas Gomes. (robertohomem@gmail.com)<br /><br /><u><b>INRI</b></u> - “Oh, PAI! Eterno e inefável. Deus infalível Criador do Universo. Das culminâncias do Teu reino, do trono do Teu poder, do alto do qual Teus olhos temíveis tudo descobrem, tudo veem. Abençoe Teus filhos com saúde, luz e justiça. Porque Tua é toda a glória para todo o sempre, oh, PAI!”. Após ter invocado o meu PAI, vou proceder com uma dissertação facultando assimilação de minhas palavras e de minha realidade. Eu sou o emissário do PAI. Reconheço o vosso direito de pensar e dizer o que quiserdes, desde que me respeiteis o direito de dizer-lhes e esclarecer quem sou. Não escolhi ser Cristo, não posso vos obrigar a saber quem sou, mas isto não altera a minha realidade. Pensais que é fácil, obediente ao meu PAI, andar indumentado assim, os </span><span class="Apple-style-span">ignorantes zombando de mim? Ainda que os malignos condenaram Galileu, a terra continuou gravitando em torno do sol. O sol brilha, e mesmo que todos duvidassem, ele não deixaria de ser sol. Assim também, ainda que a maioria dos terráqueos não creiam que sou Cristo, continuo sendo o mesmo que crucificaram. Não me é facultado abrir a cabeça do néscio com um serrote e introduzir um bilhetinho dizendo “acorda-te, ignorante, desperta-te: sou Inri Cristo, o filho do Homem”. O maligno disse, enquanto eu jejuava, há 2 mil anos: “se és o filho de Deus, transforma estas pedras em pão”. Ao que lhe respondi: “nem só de pão vive o homem”. Em verdade, em verdade eu vos digo: eu não preciso provar nada a ninguém, porque o óbvio é ululante e não carece de provas. Vós, meus filhos, é que necessitais provar que sois dignos do meu PAI, Supremo Criador, único ser incriado, único eterno, único ser digno de adoração e veneração, onisciente, onipresente e onipotente, único Senhor do Universo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O senhor está de volta ao planeta terra desta vez com qual missão?<br /><u><b>INRI</b></u> - Eu sou o libertador. Voltei a este mundo para libertar o meu povo do jugo dos falsos</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://2.bp.blogspot.com/-0T0__vPY0wA/TnOSy9oRQVI/AAAAAAAAAvo/Z_aywMmx5QI/s320/IC6.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653023361514684754" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> religiosos, dos grilhões da idolatria, da fantasia e da mentira. Amo a liberdade, por isso deixo livres os seres que amo. Se voltam, é porque me reconheceram e são meus filhos, dignos do meu PAI, Senhor e Deus. Se não voltam é porque jamais tiveram parte comigo. Se vedes em mim alguma coisa, um ato aparentemente faltoso e injustificável, o erro não está em mim, e sim na maldosa ótica de vossa visão. Em mim não pode haver erro, porque sou puro e vim sem livre arbítrio a este mundo só para executar a vontade do Ser Supremo e perfeito que me reenviou. Quando ousais julgar-me, estareis sendo julgado por Ele. Benditos são os olhos que me veem e veem quem sou. Benditos são os ouvidos que me ouvem e me reconhecem pela minha voz. Bem-aventurados sois vós, vós que me escutais, porque eu só vos falo o que escuto do meu PAI, que é em mim. Eu sou o primogênito de Deus, o alfa e o ômega, o começo e o fim, a estrela resplandescente da manhã. Meu PAI e eu somos uma só coisa. Eu sou a luz do mundo, a verdade e a vida. Eu sou o caminho, ninguém vem ao meu PAI senão por mim. Antes de ser crucificado, eu disse: “pela minha voz o meu rebanho me reconhecerá”. Voltei, como havia prometido, para, no cumprimento das escrituras, julgar a humanidade e instituir na terra o reino do meu PAI, Senhor e Deus. Sou o primogênito de Deus: Adão, que reencarnei como Noé, Abraão, Moisés, Davi, etc, depois como Jesus e agora como Inri. Inri é o meu novo nome. Inri é o nome que eu paguei com o meu sangue na cruz. Inri, o nome que Pilatos escreveu acima de minha cabeça quando eu agonizava na cruz, quando cuspiam no meu rosto, quando me humilhavam, quando se cumpriam as escrituras. Inri é o nome que custou o preço do sangue. Guardai-o em vossas cabeças e sereis fortes e felizes, meus filhos. Meu coração bate forte de amor por todos vós. Que a paz esteja convosco. Podem continuar as perguntas, fiquem à vontade.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quais as primeiras recordações que o senhor tem dessa sua atual passagem pelo nosso planeta?<br /><u><b>INRI</b></u> – Dessa vida?<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Sim, dessa vida. Como foi a sua infância?<br /><u><b>INRI</b></u> – Ai, meu filho, pergunta diferente e muito interessante. Nasci em uma pequena aldeia do interior de Santa Catarina chamada Indaial. Fui alfabetizado em três anos de escola. O menino que vivia na mesma casa que eu tinha um ano e quatro meses a mais. Quando ele foi matriculado para ir na Escola Pedro II, lá em Blumenau, eu também queria ir. Mas naquele tempo a lei não permitia alguém com menos de sete anos entrar na escola. Bati o pé até que Madalena, a mulher que me criou, conseguiu a permissão da professora.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Esse menino era filho de Madalena, a sua mãe de criação?<br /><u><b>INRI</b></u> – Sim. Entrei na escola, mas claro que não passei de ano. Sempre fui um péssimo aluno. Eu ficava olhando pro teto... Mas queria estar no meio das outras crianças. Quebrei um braço no primeiro ano, já de cara. No segundo ano, quando completei sete anos, aí, sim, passei de ano. Esse foi o melhor período da minha vida, até os dez anos. A gente morava em um lugar chamado Bom Retiro. Vivia em contato com a natureza, com o mato.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – As brincadeiras deviam ser bem saudáveis.<br /><u><b>INRI</b></u> – Já que você fez essa pergunta sobre o meu tempo de criança, lembrei de coisas deveras interessantes. Um dia estávamos voltando da escola quando uma cachorra chamada Diana pegou o calcanhar daquele menino. Madalena foi lá e comprou a cachorra. Eu não gostei de ver quando ela amarrou Diana em uma goiabeira e a dizimou. A coisa começou a complicar quando a gente mudou de bairro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Isso tudo em Blumenau...<br /><u><b>INRI</b></u> – É. Nós moramos em uma casa em um lugar chamado Morro Oswaldo Otte, que era a </span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://2.bp.blogspot.com/-pcCuwvqoWIU/TnOnB351nXI/AAAAAAAAAxQ/_aPrJQY5itc/s320/IC.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653045607908351346" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span">casa que pertencia ao Curtume Oswaldo Otte, onde Wilhelm Thais (pai de criação de Inri) era operário. Ele caiu dentro de um tanque de química, onde se curtia o couro, e ficou tuberculoso. Como eles eram muito ignorantes, não sabiam que tinham direito de ficar naquela casa. Com vergonha dos comentários dos vizinhos a respeito de Wilhelm Thais estar impedido de trabalhar, eles foram para outro bairro. Madalena foi trabalhar como lavadeira. O médico disse que Wilhelm Thais não podia ficar conosco, por ser tuberculoso. Mas como não tinha para onde ir, ele ficou e não aconteceu nada. Em resposta ao doutor Krueger – que disse que ele teria tantos anos de vida, Wilhelm Thais sempre dizia, até meio debochando: “doutor Krueger foi e eu estou aqui”. Às vezes a metafísica pode contrariar as leis naturais e falar mais alto do que a medicina.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Continue, por favor, a falar sobre sua vida de estudante.<br /><u><b>INRI</b></u> - Depois fui para o colégio Adolpho Konder, onde estudei o segundo ano. Quando passei para o terceiro ano, como a Madalena tinha que pagar o aluguel, as coisas ficaram mais difíceis. Deus me permitiu viver em um ambiente propício para eu compreender os problemas sociais. Em um mês, ela pagava o aluguel. No outro, pagava o armazém. As compras eram anotadas em um caderno. Hoje eu sei que os comerciantes sabiam que no mês seguinte ela não ia poder pagar a ele, pois tinha que pagar o aluguel. Nessas ocasiões Madalena fazia as compras em outro armazém que tinha lá na rua. Para pagar as contas ela carregava sacos de roupa nas costas para lavar. Eu ajudava carregando água: em cada mão uma lata de 20 litros. A água do poço da casa não era suficiente, eu tinha que ir buscar nas proximidades. Hoje eu sei que Deus queria que eu visse bem de perto as vicissitudes, as dificuldades que enfrentam as pessoas humildes.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que motivou o senhor a deixar sua casa aos 13 anos?<br /><u><b>INRI</b></u> – Nessa altura eu já tinha trabalhado como entregador de alimentos, como verdureiro... Desde criança eu obedecia uma voz que dizia que eu não podia falar pra ninguém. Certa tarde, minha roupa estava no quarador quando recebi a ordem de pegar tudo, botar dentro de um plástico e ir embora. Quando cheguei em Curitiba mandei uma carta.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Por que o senhor não podia dizer que ouvia essa voz?<br /><u><b>INRI</b></u> – Se eu falasse, óbvio que me internavam. Tive a oportunidade de ser oficialmente psiquiatrizado, em Belém do Pará, por uma junta médica. Eles concluíram que não poderiam dar um diagnóstico sobre mim.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como o senhor fez para sobreviver em Curitiba?<br /><u><b>INRI</b></u> – Ah, interessante! Antes eu passei por Joinville... Vamos ver o que vocês vão aproveitar. Espero que não distorçam as minhas palavras.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Estamos gravando a entrevista para reproduzirmos as suas palavras da maneira mais fiel possível.<br /><u><b>INRI</b></u> – Chegando em Joinville, já que você fez a pergunta... Deus me propiciou a ocasião de </span><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://1.bp.blogspot.com/-_NtfGjhc5Lw/TnOnCo1NefI/AAAAAAAAAxg/qxNMF7kSWag/s320/IC16.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653045621042280946" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span">conhecer bem o frio, a dor e a miséria. Em Blumenau conheci um cidadão chamado Antônio Domingos Alves. Ele era uma espécie de empreiteiro: alugava o nome de uma igreja e fazia rifa para arrecadar fundos. Trabalhei com ele em Blumenau. Depois que deixei a profissão de verdureiro, passei a ganhar comissão para vender as rifas. Chegando em Joinville, depois dessa minha saída de casa, eu estava sobrevivendo disso. Quando decidi ir para Curitiba, roubaram minha roupa, na pensão. Não pude esperar para descobrir quem foi. Cheguei em Curitiba, cerca de seis da tarde, batendo o queixo. Desembarquei naquele frio, sem ter sequer um casaco. Na frente da rodoviária antiga de Curitiba, vi dois gordinis estacionados, com uma faixa grande dizendo assim: “Rifa para a construção da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe”. Essa igreja que hoje tem lá em Curitiba foi construída com a minha ajuda, já que vendi muita rifa para ela. Quando vi aquilo, como já tinha experiência, fui direto no rapaz que estava vendendo. Ele me apontou o responsável. Fui lá correndo explicar minha situação. Ele disse que dava 20%. Antônio Domingos me pagava 40%.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Você já começou a vender rifas ali mesmo?<br /><u><b>INRI</b></u> - Na mesma noite eu vendi todo o talãozinho, que tinha dez folhas. Consegui 200, mas para eu me hospedar no Hotel Maia, precisaria de 220. Foi então que apareceu um cidadão de uns 40 anos, com uma pasta grande. Ao me ver tremer de frio, perguntou: “o que estás fazendo, menino, por que tu não vais pra casa?”. Respondi que não podia ir para o hotel porque estava faltando 20. Ele coçou o bolso e me deu os 20 que faltavam. Perguntei quando eu podia pagar. “Um dia tu pagas, em algum lugar, para alguém”. No dia seguinte, domingo, fui com o encarregado da rifa muito cedo para Campo Largo, no gordini, para pegar a primeira missa. Mal dormi, pensando nisso. Esqueci de dizer que aquele cidadão também me ofereceu um café e uma taça de leite com pão. Nunca ninguém me fez essa pergunta, agora eu vejo. Chamava de festeiro aquele que era responsável pela rifa.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi esse primeiro dia vendendo rifa na porta da igreja?<br /><u><b>INRI</b></u> - Os outros que estava junto comigo para vender as rifas lá em Campo Largo iam num passo de tartaruga. Tinha até uma freira. Quando vi um caminhão cheio de polaco, vindo para a missa, nem esperei eles descerem do caminhão. Subi e já fui enfiando no bolso de cada um uma rifa, explicando para o que era e tal. Na segunda-feira fui em uma loja dessas de turco, de árabe, e comprei um casaco com pele de coelho. Um dia vou escrever algumas coisas sobre a minha infância... Minha história é muito comprida. Fui garçom, também, a profissão que mais gostei.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O senhor foi garçom em Curitiba?<br /><u><b>INRI</b></u> – Não, em Passo Fundo.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – De Curitiba o senhor foi para onde?<br /><u><b>INRI</b></u> – Fui para o interior, depois voltei para Blumenau. Eu voltava sempre naquele Antonio Domingos. Ele era esperto. Era um homem gordo. Geralmente andava de calção, com uma </span></div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-Ag5orQTKyAc/TnOnCcm4OoI/AAAAAAAAAxY/itu-t7HXKTY/s320/IC1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653045617760942722" style="float: left; margin-top: 0px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; cursor: pointer; width: 214px; height: 320px; " /></span><div><span class="Apple-style-span">toalha. O irmão dele disse que Antonio era praticamente analfabeto. Ele fazia um contrato com as igrejas do interior, oferecia uma certa quantia a elas e depois realizava as rifas. Ele tinha vários automóveis. Como ele viu que eu produzia, me mandava ir em um dos seus automóveis com os outros vendedores. Dessa forma fui aprendendo cada vez mais. Mas, resumindo, com 18 anos eu já estava em Passo Fundo, trabalhando de garçom.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O que fez o senhor gostar tanto da profissão de garçom?<br /><u><b>INRI</b></u> – As duas profissões que gostei mais foram as de garçom e verdureiro. É que nesses trabalhos eu tinha bastante contato com o público. (Nesse instante, uma abelha se enrosca nos cabelos de Inri. Avisado pelas suas discípulas, ele não manifesta nenhuma reação de susto, nem tenta aniquilar o inseto. Quando percebe que a abelha consegue escapar de suas tranças, a abençoa: “vai embora, em paz”). Conheço o Brasil todo. Em cada lugar aconteciam coisas na minha vida. Vou falar uma das mensagens que eu recebia daquela voz. Eu levantava cedo, aos domingos, pra ir na missa. Wilhelm Thais, católico bem fervoroso, me levava sempre. Eu estava ajoelhado na fila para tomar a hóstia. Foi na Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, lá em Blumenau. Eu ajoelhado e o padreco lá com a hóstia. De repente eu olhei... Loucura: se eu não fosse quem sou. Olhei e vi o padreco com a hóstia. Por um furtivo momento, vi que a hóstia era eu. Imediatamente recebi a ordem de não falar aquilo pra ninguém. Se eu falasse, me internavam.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Até então o senhor nem sabia quem era.<br /><u><b>INRI</b></u> – Isso. E se eu falasse, o padreco seria o primeiro que iria mandar me internar. Já que vocês me abordaram, contarei outra experiência terrível dessas.... Em União da Vitória, no Paraná – eu já tinha 18, 19 anos – me roubaram a roupa. Parecia que era uma coisa: tinha sempre alguém para roubar minha roupa. Parece um absurdo. Eu estava hospedado no Hotel Flórida. Pedi para a dona do hotel a roupa que eu tinha mandado para a lavanderia. Ela foi e o tintureiro disse que não estava lá, que alguém já tinha apanhado. A polícia registrou um boletim de ocorrência... Óbvio que no documento foi registrado meu nome e a minha condição de vítima. Resolvi ir de trem para Rio Negro. Fui com o meu lugar-tenente: eu tinha um auxiliar que andava comigo. Esqueci de contar que vendi roupa de porta em porta quando criança. Uma tia costurava. Contratei um jovem mais velho e mais forte do que eu para carregar a mala com as roupas. Tirava 10% do que arrecadava vendendo as roupas para pagar a ele. Desde criança sempre tive facilidade de comunicar-me com as pessoas. Mas eu dizia que tinha ido para Rio Negro com o meu lugar-tenente, o Ventura Martins. Quando estávamos saindo da sessão, chegou aquela presença macabra, um policial fardado, dando logo uma carteirada. “Você está preso”. Me levou para a prisão. Era o tempo dos militares...<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – As prisões nem precisavam ser explicadas...<br /><u><b>INRI</b></u> – Fui para uma cela com o Martins. Ficamos detidos durante uma semana. Comíamos</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-czHIF1EptLg/TnOb7SVkNBI/AAAAAAAAAwI/XPqsV0TwTPI/s320/IC9.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653033400116982802" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> naquelas latas de óleo de milho, partidas ao meio. Era farinha de milho com água. Eu usava os pés do Martins como travesseiro e ele usava os meus. Pedroso, o policial que me prendeu, de vez em quando aparecia lá para dar umas risadas. Uma semana depois Pedroso foi na Rádio São José, de Rio Negro, e disse que ia recambiar para União da Vitória dois bandidos muito perigosos que ele tinha capturado. Durante a semana que passei ali constatei porque ele tinha tanto poder. Ouvi os murmúrios nos corredores da prisão que ele espoliava os presos. Também escutei que ele chefiava um sistema nos cabarés para conseguir dinheiro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E a experiência mística?<br /><u><b>INRI</b></u> - O policial encarregado de me custodiar até União da Vitória – eu não conhecia ele pelo nome, mas pelo apelido de Tucum – era um homem fortão e escuro. Pedroso me levou algemado no Martins... Deus há de inspirar para você não mentir, há de lhe dar luz para não publicar nenhuma inverdade. Quando cheguei na estação de trem, em Rio Negro, tinha uma enormidade de pessoas simples. O mesmo tipo de gente a quem eu vendia rifa lá em Campo Largo. Estavam me olhando. Eu, algemado no Martins, mas com meu espírito elevado. Vi o povo ali, todos me olhando como se eu fosse um bandido. Tive que passar por essa experiência amarga para ter essa visão. Por um furtivo momento eu olhei para eles e vi lá em Jerusalém o povo gritando: “crucifique, crucifique”. Foi tudo muito rápido. Nem para o Martins eu falei o que vi. Fiquei com o espírito mais elevado pensando: “pelo menos alguém está vendo que eu não tenho culpa, que sou inocente”. Dentro do trem, Tucum, a cada meia hora, olhava pra mim e dizia: “eu não tenho nada a ver com isso, eu não tenho nada a ver com isso, apenas estou cumprindo ordens”. Parecia que ele via alguma coisa que fazia pesar a sua consciência.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quando se desfez o engano e você, a vítima do assalto, foi solto pela polícia?<br /><u><b>INRI</b></u> - De madrugada, quando cheguei em União da Vitória, um cidadão chamado João Farmácia - que era um policial barbudo, com a barba por fazer - me recepcionou lá. Tucum nos</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://2.bp.blogspot.com/-dailNeTtV18/TnOb78-ldYI/AAAAAAAAAwY/LNmgo0x7YiQ/s320/IC14.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653033411563320706" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> entregou para ele. Fomos para uma cela em Rio Negro. Quando o dia amanheceu, escutei o barulho de grades abrindo e de vozes. Numa prisão, pra quem já esteve preso, é quase sempre a mesma coisa. Fui preso mais de 40 vezes. Só em Paris fui preso três vezes em um dia. Na prisão política de Asunción, fiquei sete dias. Curti o “hotel” do Stroessner muito bem curtido. Lá fiz uma pós-graduação em sociologia. Mas vou completar essa parte. O dia amanheceu, escutei as grades abrindo e uma voz de mulher. Quando ela chegou na frente da minha cela, que me viu, gritou: “ele não, ele é a vítima!!!”. Era a dona da lavanderia. (risos). O delegado me deu tapinhas nas costas e disse que tinha havido um equívoco, tinham mandado meus dados por engano, sei lá.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – E essa prisão na ditadura de Stroessner?<br /><u><b>INRI</b></u> - Em Asunción tive experiências magníficas. Aprendi coisas que não dá para aprender em livros, é impossível. Em Asunción fui do aeroporto direto para a prisão. Eu vinha de Santa Cruz de la Sierra. Eu tinha que passar pela prisão de Assunción para encontrar um cidadão chamado Gustavo. Naquele tempo eu era ateu e profeta de um deus desconhecido. Comecei minha vida pública na Rádio Princesa, de Francisco Beltrão, no Paraná, em março de 1969. A prisão de Asunción foi a mais horrível que conheci na minha vida toda. Gustavo era um cidadão argentino que tinha sido reitor de uma faculdade de Economia, em seu país. Eu era tão ateu ao ponto de debochar de qualquer pessoa que falasse desse deusinho que tem por aí. Gustavo me disse uma coisa muito interessante. Como eu era ateu, aquilo entrou na minha cabeça e ficou. Ele contou o motivo para estar preso. Tinha dado um golpe na universidade da qual era reitor. Foi para o Paraguai como refugiado, com todo o dinheiro que roubou. Lá cometeu um segundo delito, comprou uma identidade falsa. Quem vendeu a identidade o denunciou. O coronel que dirigia o presídio fez ele telefonar para a mulher, em Buenos Aires, dizendo que estava tudo bem, e ficou com o dinheiro.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O diretor do presídio ficou com o dinheiro?<br /><u><b>INRI</b></u> – Sim. Gustavo contou que era ateu até chegar na prisão. “Eu precisava vir aqui nessa</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-4Sud8vPnhgc/TnOb8UKcG7I/AAAAAAAAAwg/hkHcN_2-EFI/s320/IC11.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653033417787055026" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> prisão. Eu era reitor da faculdade, aqui eu varro o chão. Eu fiquei rico aqui. Eu tinha que vir aqui para ficar rico. Eu roubei muito dinheiro, mas aqui eu descobri Deus. Aqui só sobrou Deus pra mim”. Foi muito forte ouvir aquilo. Pedi ao Gustavo que ele se explicasse melhor. Ele contou que estava lá há quatro anos, que tinham roubado o dinheiro dele, que não deixavam nem ele falar com a mãe, com a mulher ou algum parente. Só sobrou Deus pra ele. Ele foi mais um mensageiro que cruzou o meu caminho. Eu tinha que tornar-me ateu para escapar dos malditos dogmas que são um cadeado para o raciocínio, para poder estar limpo, sem nenhum resquício, sem pegar nada das religiões. Quando cheguei ao jejum em Santiago do Chile, eu era ateu, graças a Deus. Lá tive a revelação.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Quando o senhor descobriu que era Cristo?<br /><u><b>INRI</b></u> – Quando saí do Brasil, após receber ordem para deixar o país, percorri vários países até chegar em Mendonza, na Argentina. Em Buenos Aires falei em um salão de beleza para muitas mulheres, porque a mídia me boicotou. Elas tiravam a cabeça de dentro daqueles secadores para me ouvir. Houve um boicote. Alguém deve ter ouvido alguma coisa que eu falei que não foi do agrado. Nem todo mundo gosta da verdade. Quase ninguém gosta, nos tempos atuais. De La Paz, providenciei minha ida para Santiago. Eu já sabia que quando fosse em Santiago ia acontecer alguma coisa, mas não sabia o que era. Impressionante isso. Eu e meu secretário da época, Antonio Marques de Oliveira, embarcamos com destino a Santiago. Paramos em Los Andes para tomar um café. Muitas vezes o Senhor regulou meus passos através da moeda. Eu tinha programado ir direto para Santiago. Sempre que eu chegava em um local, procurava falar em uma rádio, para o povo saber da minha presença. Eu via o futuro das pessoas. As pessoas vinham com seus problemas... Foi assim que eu vivi desde que comecei a minha vida pública. Antes de eu revelar que sou Inri Cristo, a mídia toda me anunciava, não tinha boicote. Agora é uma outra realidade: Cristo? Louco? A loucura e a sabedoria são irmãs gêmeas. Uma caminha tão paralelamente à outra que não dá para distinguir.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O senhor poderia explicar melhor?<br /><u><b>INRI</b></u> - Por exemplo: os inventores do avião, os inventores até da luz elétrica foram considerados loucos. Louco é aquela pessoa que tem uma ideia que ainda ninguém conhece. Enquanto a ideia não é colocada em prática, ele é louco. Mas voltando ao que eu dizia. Quando cheguei em Los</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-bF1vgTrqjak/TnOb8zDjIsI/AAAAAAAAAwo/m8ENALuP66g/s320/IC12.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653033426079654594" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> Andes, recebi a ordem de ficar por lá. Naquele momento, ficar em Los Andes sem dinheiro foi a pior coisa que aconteceu comigo. Mas cumpri a ordem e fui direto para o Hotel Plaza. Como a situação pecuniária me obrigava a começar logo a me mexer, procurei o único jornal periódico da cidade. Parece coisa programada. Cheguei e disse ao diretor do jornal que precisava me comunicar com as pessoas da cidade. Desde 20 de março de 1969 eu dependo sempre do povo. Nessa data comecei minha vida pública. O diretor olhou pra mim como se já estivesse me esperando. Ele perguntou se eu não gostaria de fazer uma viagem para representar o seu jornal. Parece coisa de louco. Perguntei o que era. Ele disse que ia haver a inauguração de um hotel de luxo na Cordilheira. Pediu para eu representar o jornal no evento. Eu tinha dito a ele que tinha urgência de me comunicar. Ele disse que lá eu apareceria para todos os chilenos. Aceitei. Um ônibus alemão, muito confortável, foi me apanhar no hotel, com os jornalistas e cinegrafistas de Santiago. Entendi porque ele não quis ir. Ele era o dono de um jornal interiorano e ia se sentir denegrido no meio dos orgulhosos da capital. Então ele quis humilhar os outros colocando um estrangeiro em seu lugar. No ônibus, os jornalistas diziam assim: “como é possível um estrangeiro representando um periódico chileno?”. Isso faz 30 anos. Quando chegamos lá, tinha uma espécie de comitê de recepção. A mídia tinha sido contratada para divulgar o lançamento do hotel. Mas como o dono do jornal de Los Andes disse que eu podia representá-lo do jeito que me aprouvesse, subi em uma mesa na frente de todos aqueles engravatados e dei um sermão. Eu, que recém tinha começado a falar espanhol, falei sobre o fim do mundo. Quando terminei, o dono do hotel perguntou se poderíamos começar os trabalhos da inauguração. (risos).<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Os chilenos não devem ter entendido nada!<br /><u><b>INRI</b></u> – O fato é que, depois, quando cheguei em Santiago a minha imagem já estava lá. O periódico “La Tercera” colocou na primeira página. Não cheguei mais como desconhecido. Se eu for contar com mais detalhes a minha história, vou até o mês que vem. Se um dia vocês voltarem à minha presença, poderemos continuar a conversar. Minhas portas estão abertas para todos os seres humanos sinceros e honestos. Se eu for falar, meus filhos, vou longe.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi o retorno para Los Andes?<br /><u><b>INRI</b></u> - Passei um momento muito difícil em Los Andes porque lá só tem duas classes sociais. Ou seja, não tem espaço para um profeta. Traduzindo por miúdo, tive que logo ir para Santiago. Em Los Andes ouvi falar muito em Patrício Varela. Disseram que eu tinha que ir para Santiago falar</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-j-8NOwo8g2s/TnOb7oBsxhI/AAAAAAAAAwQ/RECjim2C6e0/s320/IC10.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653033405939238418" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> com ele. Quando cheguei em Santiago, já sabia com quem eu tinha que falar. Mas Pinochet - que os infernos lhe sejam leves - não me deixou falar na televisão chilena. Falei só na Radio Portales, que é a maior emissora do Chile. O principal representante da emissora, na época, era o Patrício Varela. Quando o procurei, parecia que ele também estava me esperando. Fiquei mais de uma hora no ar, e todo o Chile pode me escutar. Depois de passar dois meses no Hotel Imperador recebendo pessoas em audiência, cumpriu-se o que a voz – que hoje eu sei que é do Senhor - já vinha me dizendo desde Los Andes. A voz dizia que as mulheres iam me mostrar algo. Foi quando apareceu uma mulher dizendo que representava um grupo esotérico em Santiago. Ela era a mais nova da turma, que estava na faixa dos 70 anos. Ela disse que seu grupo estava acompanhando pela Rádio Portales desde que eu tinha chegado no Chile. Falou também que dois meses antes de eu chegar lá, a líder delas tinha dito que eu iria para o Chile. A história é comprida, vou resumir. Fui me encontrar com esse grupo de 12 pessoas. Eles se reuniam em uma casa bem rústica que tinham construído. Eram pessoas de diferentes bairros, mas todos eles com uma visão metafísica. A pessoa que me procurou se chamava Berta Segura Sanchez. Ela me deu a chave dessa casa que o grupo tinha construído. Tinham marcado para eu jantar com eles. Como achei aquilo tudo muito estranho, devolvi a chave para ela. Disse que se um dia eu precisasse, pediria. Eu não sabia ainda que eu iria jejuar naquela casa. Botaram uma mesa para 12 pessoas e disseram que o meu lugar era na cabeceira. Como eu era ateu, achei tudo uma bobagem. Sinceramente falando, olhei para eles todos como se fossem pessoas lunáticas, mas bem educadas. Patrício Varela, que me levou lá em sua limousine, ficou na antessala. Depois voltei para o Hotel Imperador. Quando terminei a minha temporada lá, a mão do Senhor fez com que eu saísse do hotel e fosse para a casa de Berta Sanchez.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – No seu site tem a informação de que Berta Sanchez foi quem fez a sua primeira túnica.<br /><u><b>INRI</b></u> – Sim, foi ela. A casa de Berta Sanchez ficava no bairro de Maipu, em Santiago. O Senhor já tinha me dito que um dia eu precisaria da chave da casa construída pelo grupo do qual a</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://1.bp.blogspot.com/-a-73yxtDS4o/TnOVRbNed2I/AAAAAAAAAwA/bdGO60zWyZE/s320/IC2.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653026083874699106" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> minha anfitriã fazia parte. Foi quando eu soube que teria que jejuar lá. Aí é que aconteceu tudo. Entrei naquela casa como ateu. A história é muito comprida, mas, resumindo, Berta Sanchez confeccionou minha primeira túnica. Para jejuar eu teria que estar com aquela túnica. Na casa só estávamos eu e o Carrasquito. Carrasquito é o nome da pessoa que veio dormir lá comigo. Ele era um bancário. Carrasquito insistiu para ir dormir lá. Ainda bem que ele foi. Eu estava jejuando, olhando para as paredes e pensando: “o que eu vim fazer aqui?”. Não via nada, não acontecia nada. Nos filmes, às vezes aparece um espírito. Eu não via nada. Mas percebia que alguém saía do meu corpo. Como eu não estava comendo nada, nem bebendo, fiquei frágil. À noite, recebi a ordem imperativa: “levanta-te”. A ordem foi dada por aquela mesma voz que eu sempre escutei. Levantei de supetão. Como, devido ao processo de inanição, o sangue não subiu para a cabeça, como deveria, eu caí. Quando caí, minhas mãos não me ampararam. Caí de nariz no chão, inclusive quebrei o nariz. Na hora da dor, do sangue, escutei aquela voz: “as dores são necessárias, o sangue é necessário para que quando te negarem, tu lembrarás que é o mesmo que derramaste na cruz. Tu és meu filho primogênito, tu és o mesmo que crucificaram. Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Eu sou teu Senhor e Deus. Não penses que essa revelação será muito favorável. Serás prisioneiro, expulso. Pagarás para comer e não te deixarão comer. Mas esta é a tua condição”, disse o Senhor.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Então a partir daí você assumiu a identidade de Inri Cristo.<br /><u><b>INRI</b></u> – Ainda não. Nessa mesma noite Ele disse que eu não podia falar pra ninguém. Eu só</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-0T4_xJVQkVM/TnOVRNlRLPI/AAAAAAAAAv4/6igTspcVf5o/s320/IC4.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653026080216394994" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> poderia revelar depois que um jornal - por acaso, como que por engano - escrevesse meu nome como INRI. Percorri a América Central inteira, estive, inclusive, em Tegucigalpa. Quando estava no México, depois que falei ao povo no Quiosque da Alameda, o jornal Ovaciones escreveu: “INRI, el Cristo, Hijo de DIOS, habla al pueblo y cura a los enfermos em el Quiosque de la Alameda”. Foi quando Ele me mandou trocar de hotel e me registrar como Inri, ao invés de Iuri. A partir daí comecei a perceber o ódio dos donos das igrejas, o ódio dos que se dizem servos de Cristo. Até então, para eles eu era apenas um profeta. Quando assumi o nome de Inri, tudo mudou. Fiquei quatro meses no México. Em Guadalajara fui convidado para entrar em um templo. Um garçom insistiu porque queria que eu fosse na igreja evangélica dele. Eu dizia a ele que não ia, que só falava em praça pública. Mas ele veio tantas vezes falar comigo, que um dia eu disse: “olha, meu filho – ele era o garçom que me servia – fale para o chefe da sua igreja, para o líder, para o pastor, que se ele vier aqui pessoalmente me buscar, eu aceito o convite”. Eu achava que ele não viria. Não veio mesmo, mas mandou outro pastor para dizer que eu fosse, que estavam todos me esperando, que eu falaria para 5 mil pessoas. Quando cheguei lá, por um instante pensei que aquilo era a casa de Deus. Entrei e vi que só tinha um púlpito e tinha espécie de placa com a palavra Jeová. Jeová quer dizer Senhor.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como o senhor foi recebido pelos fiéis dessa igreja?<br /><u><b>INRI</b></u> – Bem, me virei para o microfone, que tinha um som perfeito, e comecei a falar. Na metade do sermão o povo começou a murmurar: “Jesus, Jesus”. Alguns começaram a chorar.<br />Nesse instante, o som começou a baixar até que não ficou som nenhum mais. Então veio um leão de chácara enorme, calçado com botas. Não esqueço o barulho daquelas botas. Dirigindo-se a mim, disse que estava na hora de eu sair. Pegaram-me no braço e me levaram para fora. Na saída ainda pude ver o povo dizendo “Jesus” e “Cristo”. Saí e entendi que ali não era a casa do meu PAI. Depois tive outra experiência parecida e nunca mais aceitei convite para nenhuma igreja.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – Como foi essa outra experiência?<br /><u><b>INRI</b></u> - Foi em Ajaccio, na Ilha da Córsega, na França. Eu estava hospedado em um hotel na</span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://4.bp.blogspot.com/-Y5Z-pCoU1XA/TnOSzEBOXrI/AAAAAAAAAvw/cBB5qHWZtr8/s320/IC7.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653023363229966002" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span><span class="Apple-style-span"> frente de um colégio. As crianças me viam e falavam em casa: “Cristo, Cristo, Cristo...”. Recebi o convite para falar na Igreja Evangélica Livre. Fiz essa última tentativa. A filha do pastor, o namorado e os amigos deles vieram falar comigo. Ela disse que a igreja era pequena, mas que todos tinham muito amor por mim. A filha do pastor percebeu quem eu era. Respondi que só iria se o pai dela viesse me buscar. Ele veio. Porém, logo que entrei no carro, quando vi o jeito que o colega dele pegou a bíblia, percebi que eles não iam se entender comigo. Ele pegou a bíblia fanaticamente. Cheguei na igreja e entrei. Estavam todos sentados, esperando. Botei meu manto em cima da poltrona e comecei a falar. Eu não falo francês muito bem. Falei na França para não morrer de fome, quando fui expulso da Inglaterra. Quinze dias depois que cheguei na França fui obrigado a falar na praça pública. Do contrário eu ia morrer de fome. Essa é a minha realidade, eu não posso pedir nada a ninguém. Mas eu dizia que quando comecei a falar, o pastor começou a ver no rosto das pessoas que elas estavam mudando. O pastor pegou o meu manto, me entregou e disse que estava na hora de eu partir. Como já conhecia esse argumento, levantei, virei as costas e saí. A filha dele e os jovens vieram atrás de mim e me levaram no hotel. A filha disse que estava muito triste pelo seu pai. Nunca mais vou entrar em nenhuma igreja.<br /><u><b>ZONA SUL</b></u> – O senhor já andou pelo Rio Grande do Norte?<br /><u><b>INRI</b></u> – Estive duas vezes em Natal. A primeira foi em 1981, quando estava percorrendo o Brasil todo. Em cada cidade que chegava, procurava uma praça para falar. Se as pessoas me davam ressonância, se alguém acercava-se, eu deixava a minha palavra. Se não, a minha missão estava cumprida. Para ser sincero, na primeira vez em Natal foi assim. A segunda vez eu estava de passagem. Cheguei a falar em algum jornal. Acho que no Diário de Natal. O que lembro da vossa terra, que é muito linda, é que minhas discípulas queriam desfrutar daquelas belezas, mas não puderam. Passamos em um lugar onde havia uma água muito linda. Elas queriam tomar banho, mas eu estava só de passagem. Um dia elas voltarão. Antes de deixar uma oração final, quero dizer que serão muito bem vindos se um dia voltarem aqui. Vou pedir ao PAI a benção. “Oh, PAI! Eterno e inefável, Deus infalível Criador do Universo. Das culminâncias do Teu reino, do trono do Teu poder, do alto do qual Teus olhos temíveis tudo descobrem, tudo veem, abençoe Teus filhos com saúde, luz e justiça. Porque Tua é toda a glória para todo o sempre, oh, PAI! Que a paz esteja com todos”.</span><div><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><img src="http://3.bp.blogspot.com/-8N-SSsxh6oc/TnOmiEyNbLI/AAAAAAAAAxA/jNRFAgLm-h8/s320/IC15.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5653045061610204338" style="display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px; " /></span></span></div><div><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 238); -webkit-text-decorations-in-effect: underline; "><br /></span></span></div></div>Roberto Homemhttp://www.blogger.com/profile/04731452928247828280noreply@blogger.com6