sábado, 4 de julho de 2009

Entrevista: Papel Gomes

OS 30 ANOS DE MÚSICA DE PAPEL GOMES

No final dos anos 1980, o amigo Stênio Dantas me presenteou com um chaveiro de acrílico contendo uma foto de Papel Gomes, que na época fazia grande sucesso em Natal com o seu forró recheado de irreverência. Eu e Stênio éramos estudantes de Comunicação Social na UFRN. Desde aquela época, eu já encarava sem preconceito personalidades que não eram muito bem vistas no meio universitário, como o próprio Papel e o apresentador de televisão Silvio Santos. Muitos anos depois, eis que surge a oportunidade de entrevistar o grande Papel Gomes. Do apartamento em Natal do jornalista Roberto Fontes, Papel falou para o Zona Sul. Ao lado dele, o próprio Roberto Fontes, o jornalista Costa Júnior e o advogado e meu irmão Ronaldo Siqueira. De sua casa em Pirangi, acompanhando ao vivo pelo site www.myspace.com/robertohomem, Sérgio Almeida participou ativamente da entrevista com diversas perguntas. De minha casa em Brasília, completei o time. Tudo isso via internet, através dos programas de comunicação Skype e Gtalk. O resultado da conversa você confere a seguir. (robertohomem@gmail.com)

ZONA SUL – Você nasceu em Parelhas, não é isso?
PAPEL – Sim. Minha família toda é de lá. Estou com 47. Saí de lá com seis anos de idade. Viemos todos para Natal, a família inteira, em cima de um caminhão. Papai era telegrafista dos Correios. Foi transferido do interior para a capital. Ele nasceu em Serra Negra do Norte. A família todinha é do Seridó. Pense numa região boa, o Seridó! Tenho parentes em Alexandria, Serra Negra do Norte, Parelhas, Caicó, Jardim... No Seridó, em qualquer cidade que você botar o dedo, eu tenho familiares.
ZONA SUL – Esse curto período em Parelhas, seis anos, deixou alguma recordação?
PAPEL – Sim. Lembro que eu e meu irmão, que depois virou policial, fazíamos sexo com as burras. A gente ia buscá-las na feira.
ZONA SUL – (Risos em Natal e em Brasília)
PAPEL – Eu posso continuar falando a verdade?
ZONA SUL – Pode.
PAPEL – Na última vez em que eu e esse meu irmão - Piragibe, que morreu - estávamos com uma burra, o dono do animal apareceu por trás e meteu a mão no meu pé-de-ouvido. Caí na hora. Eu tinha seis anos de idade.
ZONA SUL – Vocês nunca enfrentaram problemas com algum jumento ciumento?
PAPEL – Não, a gente só pegava as burras.
ZONA SUL – Mas é só isso que você recorda de Parelhas?
PAPEL – (Risos). Não, recordo também dos vizinhos que eu tinha. Lembro de Seu Bilinho, de Seu Arnaud, que foi prefeito durante muitos anos, de Valter... Dizem que as pessoas, quando vão envelhecendo, começam a esquecer das coisas. Pois eu não esqueci de nada. Dos cinco anos de idade para cá, lembro de tudo. Outro que recordo é de Doutor Ulisses, que morreu recentemente com quase 100 anos. Doutor Ulisses salvou a minha vida, a dos meus pais e a dos irmãos.
ZONA SUL – Como foi isso?
PAPEL – Foi quando a casa onde morávamos desabou em cima de todos nós. Quase mata todo mundo. Estávamos dormindo. Acordei embaixo de telha, caibro, ripa... Eu deitado na rede, coberto pelos destroços.
ZONA SUL – O internauta Sérgio Luís quer saber se é verdade que Parelhas é conhecida como a cidade dos caminhoneiros.
PAPEL – Não só dos caminhoneiros, mas também como a cidade das mulheres bonitas e dos homens gostosos, como eu. Ta vendo aqui? (risos) Agora estou ficando um pouco feio, mas já fui muito bonito.
ZONA SUL – Sendo Parelhas a terra das mulheres bonitas, por que você e seu irmão escolheram namorar logo com as burras?
PAPEL – Menino gosta mesmo dessas travessuras. Hoje não tem mais isso, a criançada vai logo para a internet, para ver mulher nua, homem nu. Mas como na minha época não tinha isso, a gente saía mesmo era procurando burra.
ZONA SUL – Quer dizer que você era burrófilo...
PAPEL – (Risos) Eu era burrófilo mesmo.
ZONA SUL – Quando mudou-se para Natal, você foi morar onde?
PAPEL – Até hoje quando perguntam onde moro, dou o endereço de Potilândia. Cheguei lá com seis anos e estou na Rua do Granito há 41, ali perto do Sesc. Vivo lá porque mamãe ainda mora lá. Meu pai e meu irmão faleceram. Praticamente tudo meu é lá, até o escritório artístico. Vivo lá praticamente as 24 horas do dia.
ZONA SUL – Em Natal, você estudou em quais colégios?
PAPEL – Foram muitos, mas até isso eu lembro. Da mesma forma como lembro das burras, lembro também da minha carreira de estudo todinha. Comecei no João Tibúrcio, no Alecrim. De lá fui para o Jorge Fernandes, em Potilândia. Depois passei para o Nívea Madruga, que era onde hoje funciona o Bradesco do Alecrim. Isso foi em 1974. Fui para o Churchill e depois para o Atheneu. Estudei também no Helvécio Dahe, à noite. Estudei em tudo que é canto.
ZONA SUL – Como iniciou sua ligação com a música?
PAPEL – Papai tocava violão. Quando completei dez anos, passei a gostar de música, de guitarra, de violão... Para você ter uma idéia, estou completando, agora em 2009, trinta anos de atividades musicais.
ZONA SUL – Parabéns.
PAPEL – Lembro como hoje: eu era frequentador assíduo do cabaré de Maria Boa. Toda semana ia lá. Eu tocava em uma banda chamada Os Zíngaros, que se apresentava lá. Como eu era de menor, não podia tocar em Maria Boa. Tinha que me apresentar escondido atrás de uma caixa de som. Naquela época tinha isso, hoje não tem mais não. Também toquei na boate Piri-Piri, em uma banda chamada Sam Music, em 1980. Era uma grande banda e uma grande boate. As melhores raparigas de Natal frequentavam Maria Boa e a boate Piri-Piri.
ZONA SUL – Sim, mas vamos voltar para o seu relacionamento com o outro tipo de violão, o instrumento de cordas...
PAPEL – Algum tempo depois que comecei a tocar, fui estudar violão clássico na Escola de Música. Estudei durante dois anos. Fui aluno do professor Glênio, da professora Leda. Mas antes de eu entrar profissionalmente na música, eu tocava violão na capela do Campus Universitário com o Padre Penha. Isso foi em 1976, se não me engano.
ZONA SUL – Mais uma pergunta vinda da internet: antes de entrar na música você experimentou o lado do futebol? Disputou partidas com Eugênio, ex-goleiro do América, e o ex-ABC Álvaro?
PAPEL – Apenas batia bola com eles. Aliás, até hoje jogo. E vou dizer uma coisa: sou bom de gol. Não sou só bom de burra não, sou bom de gol. Jogo de atacante.
ZONA SUL – O que aconteceu na sua vida musical depois desse período em que você tocou nas missas da Capela do Campus?
PAPEL – Toquei também na igreja de Potilândia. Quando saí, fui tocar em banda. Comecei n’Os Zíngaros. De lá fui para Os Bárbaros, de Getúlio Medeiros. Depois ingressei no Status, passei para Os Terríveis, até chegar no Impacto Cinco. Em seguida fui contratado para integrar a banda da Casa da Música Popular Brasileira. Passei uns três anos tocando por lá. Foi nesse período que toquei com diversos artistas do cenário nacional, como Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Benito di Paula e Geraldo Azevedo. Naquela época os artistas vinham de fora sem banda. Era apenas voz e violão. A banda era composta por gente daqui. Dessa forma acompanhei diversos artistas.
ZONA SUL – Vocês tinham tempo para ensaiar com o artista que vinha de fora?
PAPEL – Naquela época a gente tinha o ouvido muito bom, ainda hoje tem. Bastava ouvir a música uma vez, para aprendê-la todinha. Além disso, vinha tudo por escrito, cifrado ou na partitura. Bastava ler. Em um ensaio só, você passava um repertório de 15 ou 20 músicas. Toda semana acompanhava um artista diferente.
ZONA SUL – Você lê partituras?
PAPEL – Sim. Hoje não tou lendo mais como antes. Eu lia muito bem. Mas tudo o que você sabe, se ficar um bom tempo sem praticar, perde o embalo. Por exemplo: de vez em quando pego o violão para estudar violão clássico, se não fizer assim, esqueço.
ZONA SUL – Além do violão e da guitarra, que outros instrumentos você toca?
PAPEL – De corda eu toco tudo. Sou baixista, toco bandolim, cavaquinho... Também sou baterista.
ZONA SUL – Seu nome é Arabutãn Pereira Sátiro. Como surgiu o apelido Papel Gomes?
PAPEL – Quem fez ressurgir o carnaval do Rio Grande do Norte, na década de 1980, foi o Trio Elétrico Dodô e Osmar, vindo se apresentar na cidade. Seu Osmar (o pai de Armandinho, de Betinho e de André), antes de morrer, dizia que eu era o representante dele no Rio Grande do Norte, na Paraíba e no Ceará. Eu tocava aqueles frevos, fazia aqueles solos todos. Por isso o nome Papel Gomes, em alusão a Pepeu Gomes. Se você perguntar por Arabutãn, ninguém conhece.
ZONA SUL – Desde quando você é Papel Gomes?
PAPEL – Desde quando eu gravei o primeiro elepê, em 1989. Toquei com todos os artistas que você imaginar. Gravei com Carlos Alexandre, com Fernando Luiz e Gilliard, que na época fizeram grande sucesso nacional.
ZONA SUL – Você tentou fazer carreira fora do Rio Grande do Norte?
PAPEL – Tentei, fui para o Rio, São Paulo, Brasília... Só não fui para o exterior. Passei um mês em Brasília. Tá uma cidade que gostei! Ainda vou voltar. Pense numa cidade completa de tudo! O pessoal diz que bom é São Paulo, mas acho melhor Brasília. É mais movimentada pra quem gosta da noitada, das boates.
ZONA SUL – O Rio foi o centro da cultura do país no final do século passado, época em que você tentou ultrapassar as fronteiras do Rio Grande do Norte para exportar sua música. Como foi sua experiência por lá?
PAPEL – A primeira vez que fui ao Rio foi em 1980. Passei um mês e quase morro lá. Naquela época tinha muito pó. Quase que eu ficava doido. Vim embora. Eu não gostava. O cara botava pra mim, eu recusava. Eu era careta, resolvi voltar para Natal. Eu tinha medo: já era doido por nascença, achava que se cheirasse, ficaria mais doido ainda. Depois disso fiquei indo para Rio / São Paulo e voltando para Natal. Andei o Brasil todo. Estive muito na Bahia.
(Nesse momento a conexão com o Skype caiu. Retomamos a conversa pelo Gtalk, da Google)
PAPEL – Censuraram o programa, saiu do ar!
ZONA SUL – E dizem que a censura acabou... Mas, vamos retornar à entrevista. Um artista que sai, por exemplo, do Rio Grande do Norte, tem boa chance de conseguir alguma coisa no sul do país ou é um trabalho perdido?
PAPEL – Hoje está mais fácil, mas na minha época era quase um trabalho perdido. Existe um pouco de preconceito. Quando você diz que é nordestino, algumas pessoas começam a rir, principalmente no Rio. Em São Paulo não, já que lá é terra de muito nordestino.
ZONA SUL – O seu estilo de música, um forró bem escrachado, motivou também algum tipo de preconceito?
PAPEL – Não. A música não tem fronteira, é uma só. Como diz Ivanildo o Sax de Ouro, o dó é um só, o ré é um só, o sol é um só... Quando você é um músico bom, onde chega tem espaço.
ZONA SUL – O Rio Grande do Norte lhe valoriza como você merece?
PAPEL – O cantor é que tem que ir atrás, tem que batalhar, para conseguir reconhecimento. Eu não sei nem o que responder, ai meu Deus do céu, que pergunta... Ninguém sabe explicar o sucesso. Ele primeiro vem de Deus, depois da sorte.
ZONA SUL – Essa não é uma posição meio comodista? E o trabalho? E aquela coisa de correr atrás?
PAPEL – É meio complicado. Hoje está tudo mais fácil, embora tenha aumentado a concorrência. Antigamente a concorrência era menor, mas era mais difícil.
ZONA SUL – Você teve contato com Terezinha de Jesus nessas andanças pelo Rio?
PAPEL – Sim. Eu sou mais novo que ela. Meu amigo Chico Guedes, que hoje toca com Zé Ramalho mas que tocou comigo no Piri-Piri, foi casado com ela durante uns cinco anos. Inclusive, Terezinha agora mora em Natal.
ZONA SUL – Sim, ela foi a primeira entrevistada do Zona Sul.
PAPEL – Faz uns dez anos que não a vejo. Terezinha tem um disco, “Pra incendiar seu coração”, produzido pelo finado maestro Sivuca. Pense num disco! Eu tocava tudinho. Quando ela vinha pra cá, eu tinha tudo na mente. Sabia todas as músicas dela.
ZONA SUL – Como você encarou o fato de, depois de ter tentado a sorte no eixo Rio-São Paulo, ter sido obrigado a retornar a Natal sem alcançar o sucesso pretendido?
PAPEL – O artista nunca está preparado para a caída, ele sempre imagina o sucesso. Quando o sucesso passa, ou o artista vai beber e fumar, ou vai se drogar ou virar viado. Dos três, um.
ZONA SUL – Com você, aconteceu o que?
PAPEL – (Risos) Eu fiquei naquela depressão. Eu sempre fui preparado pra tudo. O sucesso passa rápido. Depois daquela época da TV Ponta Negra, de Carlos Alberto, quando senti que o sucesso estava passando, corri logo para banda. Montei uma banda. Não esperei, aconteci. Fui logo pra cima.
ZONA SUL – Hoje em dia, como está sua carreira?
PAPEL – Sou empresário de uma banda que é um fenômeno aqui. Vai fazer cinco anos. Antes se chamava Banda Massa, quando funcionou durante oito anos. Depois de uma parada, voltou como Traz a Massa. Durante um ano chegou a fazer 180 shows. É uma marca. Hoje é a banda mais solicitada para eventos. Toca forró, mas toca baile também.
ZONA SUL – Você é apenas o empresário ou também canta e toca nessa banda?
PAPEL – O que pedem, eu faço. Se pedem pra tocar, eu toco, se pedem pra cantar, eu canto. Também faço backing vocal. Porém, fico mais na parte da administração.
ZONA SUL – Qual seu disco de maior sucesso?
PAPEL – Acho que foi o primeiro, o elepê “Bahia de São Salvador”, gravado em 1988 e lançado no ano seguinte.
ZONA SUL – Chegou a vender quantas cópias?
PAPEL – Naquela época ninguém sabia com certeza. Mas deve ter vendido entre 15 a 20 mil discos, o que era uma grande marca. Hoje, com a pirataria, ninguém consegue vender mais.
ZONA SUL – Fiz umas pesquisas na internet e percebi que você além de não ter site, não disponibiliza informações sobre o seu trabalho nas páginas específicas de música. Você não acredita que o futuro do artista está na rede mundial de computadores?
PAPEL – Até hoje não me liguei nisso. O livro de Leide Câmara, “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, traz informações sobre mim.
ZONA SUL – O “Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira” (http://www.dicionariompb.com.br) também hospeda um verbete sobre Papel Gomes. É o único registro encontrado na internet.
PAPEL – Eu tenho um orkut cheio de mulheres me abraçando, me beijando, o maior cabaré do mundo.
ZONA SUL – Você nunca casou? Sua mulher não sente ciúmes?
PAPEL – Casei a primeira vez quando tinha 21 anos. Minha mulher tinha 14. Depois de sete anos e dois filhos, me separei. Casei com outra de 14 anos. Estou com ela até hoje. Temos três filhos. Um dos filhos do meu primeiro casamento é músico: Zainho dos Teclados. Minha mulher é ciumenta, mas fazer o que? O espírito é forte, mas a carne é fraca.
ZONA SUL – Seu filho toca aí mesmo pelo Rio Grande do Norte?
PAPEL – Sim. Ele toca teclados, desenvolve carreira solo.
ZONA SUL – Qual sua música de maior sucesso?
PAPEL – Foi uma do primeiro disco, “Mexe Mexe”. “Mexe mexe, bole bole, vai e vem...”. Nessa época, quem fazia sucesso em Natal eram Paulinho de Macau e Papel Gomes. Paulinho, infelizmente, morreu. Mas, graças a Deus, eu estou vivo até hoje. Só não sei até quando...
ZONA SUL – Houve um show seu e de Paulinho de Macau que teve uma propaganda divulgando o evento como “o encontro do século”...
PAPEL – Teve sim. Paulinho de Macau e Papel Gomes foram o maior sucesso dos anos 1989 e 1990. Ele morreu depois que caiu ao levar um choque consertando a antena da televisão da casa dele.
ZONA SUL – Você realmente faz sucesso com as mulheres ou é apenas uma jogada de marketing?
PAPEL – Rapaz, quando você é bom de cama, faz sucesso mesmo. Às vezes a mulher até acha que o cara é feio, mas, quando experimenta, se apaixona, fica doida.
ZONA SUL – O que você achou quando Ratinho quebrou o seu disco em um programa no SBT?
PAPEL – Eu achei bom. Eu já fui sabendo que ele ia quebrar. O produtor do programa do Ratinho, na época, era Herbert de Souza. Ele é de Equador, que também fica no Seridó, no Rio Grande do Norte. Ele hoje está na TV Gazeta. Eu tinha feito uma música bastante polêmica chamada “Só sou homem com o dedo no ânus”. Ele queria que eu cantasse essa música, incluída no CD “O garanhão do forró”. Ratinho quebrou o CD, naquela época era bom. Ele passou uns dez minutos falando nessa música. Eu queria que Ratinho quebrasse toda semana um disco meu no seu programa. Ele não tinha dito que ia quebrar meu disco, mas é claro que eu sabia que isso ia acontecer. Não poderia ser diferente quando escolheram para tocar logo aquela música. Outra música minha nesse mesmo estilo que fez sucesso foi “Cheio de veia”. Durante dez anos ela abriu o programa de Mução. Foi transmitida para o mundo todo. “Ta entrando... uhhh / Devagar mas ta entrando...”. O cara que for cantar uma música dessas em qualquer canto não pode esperar coisa boa.
ZONA SUL – Você participou de outros programas em rede nacional?
PAPEL – Fui para a Rede Globo fazer uma gravação para o Programa da Xuxa, por intermédio de Vladimir Távora, que tinha conseguido também para Paulinho de Macau. Na hora em que fui gravar, Marlene Mattos não deixou porque disse que eu era feio. Paulinho de Macau ela deixou. Eu não. Ficou de remarcar a gravação, mas aí eu desisti, não fui mais. Gravei na Rede Manchete para o programa Milk Shake, apresentado por Angélica. Isso tudo foi no período de 1989 até 1991. As gravações foram de forró, mas sem letras de duplo sentido.
ZONA SUL – Por que as músicas de duplo sentido fazem sucesso?
PAPEL – Sérgio Reis me disse certa ocasião que toda música que causa impacto faz sucesso. O saudoso Carlos Alexandre também dizia que para fazer sucesso a gente tem que fazer diferente. Se todos compuserem igual, só o primeiro vai fazer sucesso. O negócio é se diferenciar. “Só sou homem com o dedo no ânus” faz sucesso. “Cheio de veia” faz sucesso. “A dança do jacu” faz sucesso. São músicas diferentes.
ZONA SUL – Qual seu último disco gravado e como alguém que se interesse em conhecer seu trabalho poderá adquiri-lo?
PAPEL – Meu último CD foi “A dança do Jacu”, faz uns oito anos. Não se encontra mais, nem eu tenho. Quem tem, tem; quem não tem, reiou-se. O negócio é achar alguém que tenha e pedir para fazer uma cópia. Estou com 47 anos, passarei mais um tempo na estrada e gravarei um DVD para encerrar a carreira, daqui a alguns anos. Depois disso vou entrar em uma igreja e cantar para Jesus, se Deus quiser. Vou cantar música gospel.
ZONA SUL – Você vai enveredar pelo mundo gospel por uma estratégia de marketing ou está pensando seriamente em se arrepender dos pecados?
PAPEL – Me arrepender dos pecados e de tudo. O cara vai ficando velho, vai percebendo que a vida não leva a nada. Fica cansado e não vai a canto nenhum. Só tem uma coisa certa na vida, a morte. Todo mundo vai morrer. Você tem que procurar Jesus enquanto pode achá-lo, enquanto está vivo. Quando morrer, não adianta mais. Então, se você está vivo e está chegando ao fim da carreira, está ficando velho, tem que procurar o outro lado, porque, dessa lado aqui, o que você tinha que fazer, já fez.
ZONA SUL – É um pensamento mais pragmático, então...
PAPEL – Como comecei tocando na igreja, vou terminar na igreja, se Deus quiser. Ainda hoje lembro de músicas que eu tocava lá há 35 anos. As bandas que tocavam forró, antigamente, não eram fortes como hoje. Forró tocava pouco. Você era obrigado a tocar música de novela. A música de novela que você imaginar da Rede Globo, a partir de 1977, eu sei cantar e tocar. O astro, Pai herói...
ZONA SUL – Sua última banda foi Impacto Cinco?
PAPEL – Foi. Fui guitarrista em 1988. Não foi na época de Joca. Quando ele tocou, eu estava ainda mamando nos peitos de mamãe. Ele é da década de 1970. Foi substituído, na banda, por Kiko Chagas, que mora no Rio e toca com Jimmy Cliff. Chico Guedes toca com Zé Ramalho. Mingo esteve com Paul Simon, agora parece que está tocando com Maria Rita. Neguinho também está com Maria Rita, é baterista. Wigder está aqui em Natal. Ele é professor da Escola de Música.
ZONA SUL – Quem foram os grandes músicos seus contemporâneos?
PAPEL – No Impacto Cinco toquei com Etelvino, grande músico, grande tecladista, grande compositor. Também com Chico Guedes, Neguinho, Chagas, Nilton, guitarrista que está morando nos Estados Unidos. Roberto, cantor, que está com 58 anos. Ainda canta.
ZONA SUL – Dessa geração nova, quem toca bem?
PAPEL – Tem muita gente tocando muito. Você vê menino de 14, de 15 anos já engolindo a guitarra. Não só guitarra: é bateria, é baixo, é teclado, sanfona... Você vê nesses programas de televisão cada talento, que fica de queixo caído.
ZONA SUL – O DVD já está encaminhado?
PAPEL – Não. Vou preparar o DVD daqui a uns dois anos. Mas a idéia já está na cabeça.
ZONA SUL – O que você acha do turista estrangeiro que vai para Natal em busca de sexo?
PAPEL – Isso tem em todo o Brasil, porque nosso país é o lugar que tem mais mulheres gostosas do mundo. Na Itália e na França você só vê mulher feia com os peitos caídos, sem bunda, sem nada. No Brasil só tem gostosa. Nem precisa ir pra longe, você chega em Parelhas, em Caicó e é só o que encontra. Natal tem tanta mulher bonita que você sai para qualquer lugar e fica com o pescoço doído de tanto olhar para um lado e para o outro para as mulheres que passam. Falar nisso, tou ficando com a boca cheia d’água.
ZONA SUL – O que você costumar ouvir atualmente?
PAPEL – Toda semana vou às FMs 95 e 96. São as emissoras de Natal que recebem mais músicas. Toda semana as bandas e cantores deixam CD lá. Toda semana levo CD para casa e escuto todos eles para olhar o que é bom, o que vai fazer sucesso e me modernizar. É um vício que eu tenho.
ZONA SUL – Do que você tem ouvido, o que recomendaria?
PAPEL – Tem muita porcaria, mas também tem muita coisa boa. Tem muito forró com pegada nova, música lenta também. Ontem mesmo eu gravei até duas da manhã com o forró Traz a Massa. Gravamos uma canção chamada “Meu erro foi te amar”. É uma pegada nova, um estilo novo. Aviões do Forró, por exemplo, cada vez que grava um CD apresenta uma pegada diferente. Tem o Forró do Muído, Dorgival Dantas...
ZONA SUL – O que você acha de Arleno Farias e dos Meirinhos do Forró?
PAPEL – Tenho um CD dos Meirinhos do Forró. É um pé-de-serra bem original, no estilo Luiz Gonzaga. Tem a mesma pegada do Luiz Gonzaga do passado. Já o Arleno faz um forró pé-de-serra mais moderno.
ZONA SUL – As emissoras de rádio valorizam o artista local?
PAPEL – Atualmente algumas emissoras tocam o artista local. Mas é por segmento. A FM Universitária, por exemplo, toca o estilo MPB. Já a 95 FM toca as bandas de forró daqui e também as de fora. Cada rádio abre espaço para um tipo de música determinado. Escuto rádio direto. Nos anos 1989 e 1990 teve um movimento, em Natal, comandado por mim e por Paulinho de Macau. Era o tempo dos programas de auditório. A televisão dava bastante espaço.
ZONA SUL – A Paraíba exportou Elba e Zé Ramalho, Cátia de França, Chico César e Vital Farias. O Ceará, Fagner, Ednardo, Belchior e Amelinha. Pernambuco Mandou para o sul do país Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Lenine e muitos mais. Por que artistas potiguares com o mesmo talento não conseguiram sucesso sequer parecido?
PAPEL – O segredo é a divulgação. Vou responder essa pergunta trazendo para a realidade do forró. Há uns 30 anos tem no Ceará um canal de televisão chamado TV Diário. Até três meses atrás, a emissora estourou várias bandas de forró, como Aviões e Mastruz com Leite. Qualquer banda estourava porque grande parte da programação da emissora era destinada a tocar forró de bandas locais. Como o sinal era captado por qualquer antena parabólica, estava tirando audiência da Globo. Por isso a Rede Globo mandou cortar esse sinal livre. Agora só através de TV por assinatura. O efeito já se sente na pele. Quem queria montar uma banda de forró há até quatro meses atrás tinha que ir para o Ceará. Tinha que reservar com dois ou três meses de antecedência, para se apresentar em um programa daqueles. Para tocar uma música lá, a gente tinha que pagar entre 800 e 1.200 reais. Mas, voltando ao mundo da MPB no período em que você situou sua pergunta, naquela mesma época em que estouraram Fagner e Belchior, tivemos uma banda do Rio Grande do Norte que foi sucesso no Brasil todo, o Impacto Cinco. Depois surgiram Flor de Cactus, Gilliard, Leno e Lílian... Todos fizeram sucesso.
ZONA SUL – O esquema de jabá, de pagar para tocar sua música, ainda existe no rádio?
PAPEL – Se eu disser que não existe, estarei mentindo. Que existe, existe, mas é o seguinte: se a sua música não for boa, ela só vai tocar durante um curto período. O jabá que você deu não vai adiantar nada.
ZONA SUL – Como você vê a música do Rio Grande do Norte hoje?
PAPEL – Tem mais espaço, mas está no mesmo patamar de há 30 anos. Natal tem grandes músicos e bons nomes. Mas precisa sorte. Quer uma cantora mais charmosa, bonita e gostosa do que Marina Elali? Além de tudo isso ela canta bem, é rica e teve tudo para fazer sucesso. Mas não fez. Marina Elali é uma cantora completa, mas faltou sorte. Teve até música em novela. O sucesso é difícil de explicar, só Deus.
ZONA SUL – Você vive exclusivamente de música?
PAPEL – Eu vivo de tudo, faço tudo na vida. Trabalho 24 horas por dia com música, mas tenho outra profissão: trabalho no Detran, mas estou perto de me aposentar, graças a Deus. Vivo da música, sou empresário de banda. Sou como um clínico geral: também faço festa. Noventa por cento das festas que promovo hoje são em parceria com prefeitos.
ZONA SUL – De qual forma alguém pode entrar em contato com Papel Gomes?
PAPEL – Antes de mais nada quero fazer um elogio: pense num jornal arrumado, esse Zona Sul! É muito bonito, vocês estão de parabéns. Mas, para quem quiser manter contato o meu celular é (84)9961-1046. Também podem acessar o perfil Papel Gomes, no Orkut, e mandar notícias por lá.

10 comentários:

  1. Dono de Som daqui de natal22 de julho de 2009 às 23:32

    Esse Papel Gomes, é o cara mais enrolão q já vi, me deve 350 Reais até hj...

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  2. Gostei da entrevista de papel Gomes. O cara é uma figura. Alem de talentoso, muito engraçado.

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  3. Rapaz, soube hoje da morte do Tico da Costa.. que grande perda! estivemos com ele em janeiro em Natal na casa da esposa do Ronaldo e vi que grande figura que ele era.

    Uma grande perda!

    Luizinho (Ex-Uskaravelho)

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  4. Esse do no de son daqui de Natal é um grande trambiqueiro, passou gato por lebre, por isso que Papel não pagou e nem paga. Eu também fui enrrolado por este cara de som de Natal.

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  5. Pois é, Luizinho, uma triste notícia mesmo, a morte de Tico. Aquele dia lá em Ronaldo foi realmente especial. Não apagará da memória.

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  6. José Carlos. Eu me diverti bastante entrevistando Papel Gomes. Isso mesmo à distância, pela Internet, já que eu estava em Brasília e ele em Natal. Papel é muito espirituoso e divertido. Obrigado pela visita.

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  7. Nossa! Andei muito no ônibus da "banda massa", eu era amiga dos vocalistas, Cigano (in memoria), Inácio (in memoria) a vocalista Ana e do marido dela o baterista e do Xingú, tinha as amigas Milena e Josa..., a gente ia a todos os lugares... lembro tbm do arraiá da esmeralda...só dava BANDA MASSA! muito bom aquele tempo!!!

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  8. Me lembro muito de Arabutã e seu irmão Piragibe e do pai deles aposentado dos Correios, que moravam em Potilândia em 1980. Piragibe faleceu em serviço como policial civil. Minha namorada morava na Djalma Santos e eles na Rua do Granito. Nos encontrávamos na rua da Granada no bar de Dona Jacy.

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