quinta-feira, 22 de julho de 2010

Entrevista: Moacir Reis, O Menestrel

POR BAIXO DA MAQUIAGEM DO MENESTREL

Conheci O Menestrel assistindo a uma das diversas apresentações que ele realizou durante o VI Salão do Livro do Tocantins, ocorrido em Palmas. Percebi como as pessoas que prestavam atenção à sua performance ficaram encantadas e sensibilizadas ao testemunhar aquele bobo da corte, ao invés de fazer graça, desferir palavras certeiras em direção do coração de cada uma delas. Moacir Reis eu vi pela primeira vez no café da manhã do hotel. Mesmo chegando apressado para o desjejum, ele ingressou na sala saudando a todos com um bom dia. Não lembro agora se ele fez a saudação em italiano, espanhol ou francês. De qualquer forma, percebi logo que O Menestrel Moacir Reis seria uma ótima entrevista. Agendamos a conversa, que somente se confirmou no último dia do evento literário. A seguir você descobre um pouco do que há por baixo da maquiagem do Menestrel. Essa e as entrevistas anteriores estão disponíveis no www.zonasulnatal.blogspot.com. As fotos são de Britto Gomes. (robertohomem@gmail.com)

ZONA SUL – Seu nome é Mário Reis...
O MENESTREL – Moacir Reis.
ZONA SUL – Desculpe, confundi seu nome com o de Mário Reis, o cantor...
O MENESTREL – Não conheço o cara. Canta bem?
ZONA SUL – Não é da minha época... Você é O Menestrel desde quando?
O MENESTREL – Desde há 15 mil anos atrás. Nasci, cheguei ao portal dimensional, com essa missão: encantar a humanidade com poesia. Participar durante esses dez dias do 6º Salão do Livro de Tocantins, em Palmas, foi um sonho que realizei. Vim com a missão de mexer com a sensibilidade, tocar o coração da humanidade através da poesia, de levar arte e cultura para todos. Com tanta violência, medo e egoísmo, despertar a sensibilidade no coração do povo é digno de prêmio.
ZONA SUL – Onde nasceu Moacir Reis?
O MENESTREL – Por acaso, o portal abriu em São Paulo. Mas deixei a cidade com 14 anos de idade. Depois de ter corrido o Brasil, hoje estou de corpo e alma na Ilha de Santa Catarina. Lá é o meu berço. Percorro o Brasil com um espetáculo, promovendo o meu DVD, um recital chamado “O importante é saber compreender”, com texto em prosa atribuído a William Shakespeare. É uma mensagem que toca a emoção. Encontrei na poesia um canal de comunicação para despertar a consciência do ser humano para os valores de um mundo positivo e sobre a importância do autoconhecimento. Estou celebrando 10 anos do trabalho que se transformou nesse DVD que venho espalhando pelo Brasil. Vamos ouvir poesia, vamos despertar essa sensibilidade no coração. Vamos deixar de violência, medo e egoísmo. É isso que procuro transmitir, através da minha arte.
ZONA SUL – O que você fez até os 14 anos de idade, período em que morou em São Paulo?
O MENESTREL – Olha meu amigo, já estou com certa idade. Sou de uma geração, digamos, muito oprimida. Você, com esses seus cabelos grisalhos, também deve ter passado algum drama. Nas décadas de 1960 e 1970 não tínhamos a liberdade que a juventude de hoje tem. Quem contestasse algo do sistema, levava uma pancada nas idéias. Muitos não sobreviveram. Agradeço a Deus, ao Universo, por ter conseguido superar esses obstáculos. Respondendo à sua pergunta, minha infância não foi fácil. Tive que enfrentar muitos desafios para chegar até aqui.
ZONA SUL – Que tipo de desafios?
O MENESTREL – Todos, devido à crueldade da humanidade. Não quero generalizar, mas a humanidade muitas vezes é desumana. Já dizia o poeta. Com amor no coração e muita esperança, venho superando os obstáculos. Fazer arte e cultura no Brasil não é fácil. Não tenho apoio cultural, nem patrocínio. Levar arte de qualidade e fazer um trabalho sério é o oposto desse “Big Burro Brasil”. As pessoas vão lá só para mostrar o bumbum, fazer bobagem e faturar 1,5 milhão de reais. Enquanto isso, artistas de talento passam fome e enfrentam dificuldades espalhados pelo país. Alguns desistem da arte em nome da sobrevivência. Eu mesmo cheguei a cogitar largar tudo e retornar à quinta dimensão, que é o lugar de onde venho. Mas com perseverança e garra, hoje estou aqui. São dez anos de amor que estou transmitindo através da minha arte, para todos vocês.
ZONA SUL – Antes de O Menestrel ser criado você já gostava de poesia?
O MENESTREL – Desde a infância concluí que não queria ser mais um nesse planeta. Eu queria deixar minha marca. Essa sempre foi minha filosofia. Tenho que valorizar minha existência. A arte me deu essa possibilidade. Se eu partir hoje para outra dimensão, minha marca já está aqui. Faça o bem e você vai ter o bem de volta. Plante amor e você vai ter o amor de volta. A poesia é esse canal de comunicação do qual estou usufruindo. Na infância eu já queria mostrar, valorizar e honrar a minha existência. O fato de estar vivo já é um grande milagre. Muitos não entendem e desprezam essa dádiva com drogas e violência. Procuro sensibilizar a humanidade, através da minha arte, sobre a importância de fazer algo de valor nessa vida.
ZONA SUL – Qual sua primeira tentativa na perseguição desse sonho de deixar sua marca?
O MENESTREL – Olha, foram muitas. Tenho know-how na área cultural e artística. Tive a honra, no final da década de 1970, no começo da minha carreira, de fazer a iluminação de um show do Chacrinha lá em Niterói, na praia de Itaipu. Considero isso o início da minha carreira.
ZONA SUL – E antes desse episódio de iluminar um show do Chacrinha?
O MENESTREL – Olha meu amigo, a história é um pouco longa, mas vou tentar resumi-la. Como comentei, saí de casa aos 14 anos sem lenço e sem documento. Cheguei ao Rio e não tinha o que comer nem onde dormir. Pra não pedir esmola, nem me submeter à maldade humana, fui trabalhar em um restaurante dançante. Mas, como eu já comentei, eu queria ir além. Fui contratado como copeiro, mas eu não queria ser copeiro durante a vida inteira. Era um grande restaurante, onde ocorriam vários espetáculos. Um deles foi o show do Chacrinha. Devido à minha ambição, eu prestava atenção em toda aquela tecnologia do auge da discoteca e da dance music. Eu ligado em evoluir, aprendi a operar as máquinas. Um dia o DJ faltou e assumi o seu lugar. Ele ganhava, vou dar um exemplo, cinco mil reais. Como copeiro eu faturava 500. O dono do restaurante, que não era bobo, me conseguiu o emprego lá. Fiquei com a vaga, aproveitei a oportunidade. Estudei, estudei, estudei. Saí desse restaurante e trabalhei como DJ em várias outras casas de espetáculos do Rio. Depois parti para as artes cênicas. Estudei teatro no Rio. Ainda na ambição de procurar evoluir sempre, trabalhei como produtor cultural. Minha linha sempre foi a da cultura de qualidade, não aquela coisa comercial e descartável. Só para resumir, tive a honra de produzir o lançamento do disco “Alma”, de Egberto Gismonti. Os dois primeiros discos de Renato Borghetti foram lançados no meu espaço cultural.
ZONA SUL – Isso tudo no Rio de Janeiro?
O MENESTREL – Não, esse espaço cultural já foi em Curitiba, no Paraná. O disco “Claro”, de Luiz Melodia, também foi lançado lá. A idéia de popularizar a poesia surgiu quando tive a honra de promover dois discos do Paulo Autran, com poemas. Os discos dele são só a voz. Aperfeiçoei a idéia e criei o personagem O Menestrel. Ele é o instrumento de promoção da poesia. É o lúdico. Vocês vão ver na minha foto. Procuro despertar o lúdico na humanidade através desse personagem. Nesse feedback que tive com Paulo Autran veio a idéia de popularizar a poesia. Por que? Porque considero a poesia como a minha terapia. Não fosse ela, acho que eu nem existiria mais. Com tanto terror e tanta maldade com as quais me deparei vindas da humanidade, a poesia foi minha salvação. Estou procurando compartilhar com a humanidade essa terapia, esse despertar de consciência. Nos discos Paulo Autran interpreta Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e outros. Hoje estou celebrando com chave de ouro o meu DVD “O importante é saber compreender”, com texto em prosa atribuído a William Shakespeare. Quero agradecer a oportunidade que vocês estão me dando...
ZONA SUL – Calma, a entrevista está apenas começando.
O MENESTREL – Perfeito. Então vamos espalhar essa semente, pois a humanidade está carente.
ZONA SUL – Voltemos no tempo: por que você saiu de casa, aos 14 anos de idade, e trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro?
O MENESTREL – Olha querido, prefiro não comentar, porque periga você chorar. E o meu negócio é passar alegria. Mas posso dizer que aprendi o que é o perdão. Saí de minha casa aos 14 anos com garra e coragem. Enfrentei todos os obstáculos. Podia ter me transformado num marginal ou num bandido. Mas, não! Preferi lutar para ser alguém de valor. Antes de você ser um homem de sucesso, procure ser um homem de valor. Essa é a filosofia de vida que eu tenho. Acredito que sou um vitorioso. Criei um casal de filhos. Ele já tem quase 30 anos e ela está com 23. A missão agora é com os dois. Minha mensagem eu passei, meu exemplo, dei. Assim como recebi do meu pai. Sabe o nome do meu pai?
ZONA SUL – Não.
O MENESTREL – Homero! Tenho que honrar esse nome ou não tenho? Encontrei na poesia essa oportunidade.
ZONA SUL – Do Rio de Janeiro você foi para Curitiba? Como se deu essa transição?
O MENESTREL – Sim. A família do meu pai é toda de Curitiba. Naquela época a coisa não era fácil: comi o pão que o diabo amassou. Minha paixão sempre foi a arte. Mas fazer arte e cultura no Brasil, como já disse, não é fácil. Tive que superar diversos obstáculos. Depois de anos na escola da vida, surgiu a oportunidade de retornar à Curitiba. Fui comercializar produtos culturais: discos, objetos de arte, livros... Também passei a promover shows de grandes artistas: Egberto Gismonti, Luiz Melodia, Paulo Autran, Renato Borghetti e por aí vai. Fiquei em Curitiba uns 10 ou 12 anos, até que novamente fui vítima da maldade. Nada que consegui na vida veio de mão beijada, sempre batalhei muito para conseguir.
ZONA SUL – O que ocorreu?
O MENESTREL – Na época eu não pensava na maldade. Sempre fiz as coisas com amor. Até por ignorância e pela inocência, eu não via maldade nas situações. Eu era jovem. Firmei sociedade com um empresário de lá. Não assinamos contrato, nem nada. Depois que nosso trabalho estava sendo um sucesso, esse empresário simplesmente olhou para minha cara e disse que não ia me pagar nada. Passei cinco anos na Justiça e não consegui recuperar nem 10% do que tinha direito. Renasci das cinzas na Ilha de Santa Catarina, que é onde estou há 20 anos. Hoje tenho meu trabalho reconhecido em todo o Brasil. Planejo para 2011 - quando vou celebrar realmente os 10 anos desse recital que deixou de ser um CD e agora é DVD – levar meu espetáculo para a Europa. Vou tocar o coração carente de poesia dos brasileiros que estão lá. Em cada lugar que visitar - já estou montando o roteiro - vou declamar um poeta no idioma do país. Em Portugal será Fernando Pessoa. Na França, Victor Hugo, na Inglaterra, Shakespeare. E assim por diante. Farei isso no idioma local. Agirei diferente da maioria dos estrangeiros que vêm ao Brasil e não se preocupa em falar ao menos um pouquinho do português. Vou levar uma mensagem de amor ao Brasil. Quero espalhar a consciência da importância de valorizarmos nossa pátria.
ZONA SUL – Quais seus primeiros passos para “renascer das cinzas” em Santa Catarina?
MENESTREL – Olha meu amigo, foi barra pesada. Saí de um caos, de uma crueldade. Por acreditar na humanidade, esse oportunista se aproveitou da minha inocência e me ferrou totalmente. Cheguei à Ilha com uma mão na frente e a outra atrás, numa depressão profunda. Tive que renascer, realmente, das cinzas. Mas eu tinha uma bagagem, uma força interior, que hoje procuro transmitir através da minha arte. Em cima desse aprendizado, lancei na Ilha de Santa Catarina uma revista para promover arte e cultura. Não trabalho a cultura como se ela fosse abobrinha e mandioca. Respeito a história. Meu negócio é a história. Não faço essa coisa descartável que infelizmente a grande mídia tanto valoriza. Procuro zelar por esse patrimônio importante que é a arte e a cultura nacional. Em Florianópolis criei essa revista que sobrevivia através da mídia, do espaço publicitário que vendia. Mas, por mais criativo que você seja, com uma mão na frente e a outra atrás, é difícil. Isso foi de 1990 pra 91. A coisa era mais barra pesada ainda, mas enfrentei.
ZONA SUL – E no campo da promoção de eventos?
O MENESTREL - O primeiro evento que produzi na Ilha foi um vernissage na Praia do Campestre, no Caminho das Antas. A exposição foi no atelier de Ruy Braga, um grande nome das artes plásticas. Hoje, se não me engano, ele está na Bahia. Lá reuni diversos artistas, como João Moro e o poeta paranaense José Gaspar Chemin. Depois vou presentear você com o livro que ele está lançando agora. Esse vernissage foi meu primeiro evento. Depois produzi vários shows. Um deles foi especial: um índio cherokee norte-americano, na comemoração do Dia do Índio, no Teatro Álvaro de Carvalho. Foi um protesto contra o racismo, através do blues. Não ganhei nenhum tostão, sabe por quê? A Ordem dos Músicos, à época, tinha poder de polícia e chegou lá dizendo: ou você me dá a grana, ou vou barrar sua bilheteria. Fui obrigado a dar minha parte todinha à Ordem dos Músicos. Você não tinha perguntado sobre obstáculos que enfrentei? Esse foi um deles. Mas enfrentei, fui à luta. Resumindo, porque a história é longa e não vou fazer você chorar: a poesia foi a minha salvação. Em 1996 criei o personagem O Menestrel.
ZONA SUL – Como surgiu O Menestrel?
O MENESTREL – Quando cheguei com a proposta de popularizar a poesia, os céticos de plantão olharam pra mim e disseram: “você é bobo, cara?”. Eles alegaram que o brasileiro não tinha cultura para entender poesia. “Brasileiro não tem oportunidade”, foi o que eu respondi. Passar o valor da arte e da poesia depende da criatividade e da inteligência de cada um. Acreditei nisso e hoje estou aqui. Quando eles disseram que eu era bobo, surgiu o personagem: o bobo da corte, que, na realidade, é uma metáfora. De bobo ele não tem nada. Está ali passando uma mensagem. O bobo da corte, o menestrel, é um personagem medieval. Através da música e da poesia, ele procurava, naquela época medieval, contestar as mazelas praticadas contra o povo. Agora, nessa nova Idade Média, estou fazendo a minha parte: através da poesia estou contestando as mazelas cometidas contra o povo.
ZONA SUL – Sua indumentária já começou essa que você está usando ou ela se aperfeiçoou ao longo do tempo?
O MENESTREL – Era mais simples, porque eu não tinha recursos. No começo, tudo foi aos trancos e barrancos. Tive que bancar toda a minha produção. Nesse figurino que vocês podem visualizar através das fotos, procuro caracterizar as cores da bandeira brasileira. Eu amo o Brasil. Minha roupa tem o verde, amarelo, azul e branco.
No próximo DVD que pretendo lançar com a obra do poeta catarinense Alcides Buss, vocês ficarão encantados com o novo figurino que estou mandando confeccionar, graças ao que consegui captar durante o Salão do Livro de Palmas. Todo recurso que arrecado, estou investindo nesse projeto. O figurino está lindo. Ele mantém a figura do bobo da corte. O Menestrel é o símbolo.
ZONA SUL – Qual o primeiro texto interpretado pelo Menestrel?
O MENESTREL – Na real, essa apresentação que virou DVD foi feita a partir do meu segundo CD. Meu primeiro CD foi mais um laboratório, onde interpretei o texto de uma poeta gaúcha: Eliana Vobeto.
ZONA SUL – Do que tratava o texto?
O MENESTREL – Existência. Os poemas dela tocam a alma. Minha única tristeza foi ter me apaixonado por ela. E não deu liga, meu amigo. Mulher ciumenta é o bicho, entendeu? Quando a coisa estava começando a estourar, depois de muito tranco e barranco, ela simplesmente tomou, porque o poema era dela. Só que quem produziu tudo, quem bancou tudo, foi o bobo aqui. A poesia dela estava na gaveta. Eu tirei a poesia da gaveta e dei vida às palavras dela. Só que mulher brava é o bicho. Mas eu já tinha a resposta do povo, sabia do potencial daquela idéia. E como Deus conspira a favor, Ele chegou e me apresentou a esse texto atribuído a Shakespeare. “Grave esse texto!”. Depois da crueldade dessa mulher e de outras crueldades – principalmente o golpe que recebi em Curitiba – veio a compensação: toda a arte do meu CD que se transformou nesse DVD atual era o layout do meu centro cultural no Paraná. Estava tudo pronto ali, como um milagre mesmo. Chegou num recado divino: “grave somente essa mensagem”. Gravei, também na pauleira. Tirei leite de pedra para conseguir pagar à gravadora. Peguei o layout do centro cultural, montei toda a arte e está aqui. Veja como Deus escreve certo por linhas tortas. Hoje o DVD e o CD estão em todo o Brasil.
ZONA SUL – Por que o convite para suas apresentações é uma imitação de dinheiro com a foto do Menestrel estampada no centro?
O MENESTREL - Faço essa sátira para alertar que o ser humano hoje só se preocupa em ter, ter, ter. Vamos pensar no ser. É isso que estou procurando transmitir e despertar através da minha arte.
ZONA SUL – Quais os locais onde o Menestrel se apresentou pelas primeiras vezes? Escolas? Teatros?
O MENESTREL – Esse texto do DVD, como você já captou, é uma mensagem impactante. Hoje sou um multimídia, um homem de marketing. Na escola da vida, trabalhei nos principais veículos de comunicação em Santa Catarina: grupo RBS, jornal A Notícia... Sempre na área da mídia. Essa foi a minha escola. Absorvi esses conhecimentos para criar o meu veículo de comunicação. Hoje tenho o meu veículo de comunicação. Mas eu esqueci a sua pergunta...
ZONA SUL – Onde você começou apresentando o espetáculo do Menestrel...
O MENESTREL – Ah, perfeito. Na captura de patrocínio para produzir esse texto, me deparei com um empresário (na época ele era presidente da DVP, na Ilha de Santa Catarina). Assim como eu e você, ele ficou encantado quando ouviu a mensagem e me convidou para um megaevento no Costão do Santinho Resort, direcionado a grandes empresários. Foi aí o meu primeiro espetáculo. Depois um comentou com outro e os convites foram surgindo. Só que daí veio outra crueldade. Caprichoso que sou, produzi um CD multimídia. Só que os oportunistas de plantão copiaram o vídeo do meu CD multimídia e jogaram, sem a minha autorização, na Internet, no Youtube. Na ignorância, pensando que artista não tem que pagar conta, não tem que pagar produção. Eu preciso, pois não estou no “Big Burro Brasil”, não sou bonitinho e não tenho bumbum bonito. Porém, felizmente não sou burro pra entrar num programa desses da vida. Ralo pra fazer minha arte. Como meu trabalho não tem apoio cultural, nem patrocínio e sobrevive da venda do CD recital original, essa atitude comprometeu a continuidade da minha arte.
ZONA SUL – Muita gente já viu esse vídeo?
O MENESTREL – Hoje já são mais de 3 milhões de acessos no Youtube. Os americanos é que estão ganhando dinheiro com isso. Não recebo um tostão pelo sacrifício que fiz para produzir aquele vídeo. Quando surgiu a oportunidade, o convite para participar do salão do livro em Palmas, eu – perfeccionista e buscando evoluir em todos os sentidos – produzi a toque de caixa, relâmpago, o meu DVD. Áudio e vídeo com qualidade digital e uma edição, modéstia à parte, espetacular. O DVD também conta a minha história através de fotografias, clipagem de imprensa, e conta com trilhas sonoras fantásticas. Cada pessoa que adquire um produto meu se transforma, para mim, em um rei ou uma rainha. Eles é que dão condições de eu continuar minha missão. Zelo pela qualidade. Não comercializo um produto que não tenha passado pelo selo de qualidade da minha produtora, a Cultura Impressa.
ZONA SUL – Você desenvolve alguma outra atividade além de desempenhar o papel de O Menestrel?
O MENESTREL – Na produção independente é preciso assoviar e chupar cana. Além da parte artística, tenho que cuidar de todos os bastidores, que acompanhar clientes e fãs, e que fazer o meio-campo com a mídia e a imprensa. Ano passado, buscando diversificar meu trabalho - mas sem perder o foco da poesia - criei um novo personagem: O Trovador. Você poderá conhecê-lo no meu site. Ele atua em casamentos e bodas. A apresentação tem um poema belíssimo de Carlos Drummond de Andrade e também tem Vinicius de Moraes cantando “Eu sei que vou te amar”. No site www.culturaimpressa.com você pode assistir a diversos ensaios do meu trabalho e acompanhar minha carreira, minha turnê pelo Brasil. Daqui estou indo para Minas Gerais onde apresentarei O Menestrel em uma formatura do Centro Educacional Santa Edwiges.
ZONA SUL – Você tem idéia de quantas pessoas assistiram, ao vivo, a essa sua performance até hoje?
O MENESTREL – Só aqui em Palmas foram 300 mil pessoas. Nesses dez anos fiz grandes eventos. No site tem a relação dos principais. A média de público de cada apresentação minha é em torno de mil a 1500 pessoas. Some durante dez anos e você terá uma noção. É essa a responsabilidade que tenho. Por isso sempre peço que valorizem o artista e digam não à pirataria. Não é fácil. Humildemente, abri meu coração para você. Muito do que você captou, eu nunca tinha comentado, guardava para mim mesmo. Não peço favor a ninguém, eu ofereço um produto. Quer valorizar o meu trabalho? Eu tenho um trabalho de valor. Procuro também sensibilizar aos órgãos públicos, às fundações culturais. Mas, graças a Deus, nunca dependi deles para fazer a minha arte. Hoje o meu trabalho vende por si. Ele se auto-sustenta tanto através do DVD e do CD, como do espetáculo, também. Mas foi uma batalha, foi necessária muita perseverança. Que isso sirva de exemplo para tudo o que você fizer na vida. Quando decidir fazer alguma coisa, não faça pensando no dinheiro. Faça primeiro pensando no amor que você tem. Fazendo por amor, o dinheiro é uma conseqüência.
ZONA SUL – Como alguém pode contratar o seu show? O DVD está disponível para venda através da Internet?
O MENESTREL – Entrando no meu site, vou repetir o endereço (www.culturaimpressa.com), você encontra todos os contatos: telefone, email... É só fazer o pedido. Mando o DVD, via Correios, para todo o Brasil e o exterior. Se você quiser abrilhantar um evento, quiser tocar o coração do seu público com poesia, você encontrou o cara. É só ligar pra mim, na real, não sou de me prevalecer de nada. Qualquer espaço para mim é uma oportunidade. Só que eu tenho um custo de produção: é transporte, hospedagem, alimentação... Cada vez que me apresento, também tenho que restaurar o figurino. E isso implica no gasto de dinheiro. Como você está vendo, esse meu figurino desgastou depois de tantas apresentações nesses dez dias em Palmas. Na volta a Santa Catarina vou preparar um novo, porque eu zelo pela minha imagem, pelo meu trabalho e principalmente pelo público que me valoriza.
ZONA SUL – Nessas tantas apresentações que você fez até hoje, alguma foi especial?
O MENESTREL – Como diz o Rei: “são tantas emoções...”. Cada uma maior que a outra. Não seria justo eu escolher uma, pois todas foram especiais. Não dá para comparar, pois cada público é diferente, a emoção é diferente. Mas posso dizer que eventos literários são ambientes fantásticos para o meu trabalho. Aqui em Palmas fui muito bem recebido. O povo é tão caloroso quanto a cidade - aqui é quente pra dedéu. Meu personagem é um bobo, mas me senti como rei aqui, com tanto carinho e tanta emoção. Volto para a Ilha com o coração cheio de alegria. A felicidade só não é completa porque no período em que permaneci em Palmas a minha casa, lá na Ilha, foi assaltada. Nem sei ainda o que roubaram. Pelo que meu vizinho falou, arrombaram e levaram tudo de dentro da minha casa. Vou ter que chegar lá e comprar tudo de novo. Pra você ter uma noção do que é o perrengue. Mas eu estou aqui, feliz da vida. Tiraram coisas materiais. Eles podem pensar que me destruíram, com isso. Mal sabem que o que não me mata, me fortalece, como já dizia o grande filósofo.
ZONA SUL – Você é muito assediado, sobretudo pelas crianças. Como você lida com essa procura toda?
O MENESTREL – É uma troca de energias, eu não vivo sem eles. Eles são o combustível para a minha arte. Quando tenho a oportunidade de ter essa troca de energia, a alma vibra, embora o corpo pese um pouquinho. Tive a honra, aqui em Palmas, de apresentar meu espetáculo nos três períodos: manhã, tarde e noite. Você viu o assédio, foi pancadão. Quando chegava ao hotel, eu nem dormia, desmaiava. No outro dia tinha que levantar às 4 e meia da manhã para conseguir chegar a tempo. Só para fazer minha maquiagem, levo mais de uma hora. Não é fácil, mas quando se faz a coisa com amor, você resiste e enfrenta. É o seu sonho que está ali. Volto a repetir: nunca faça a coisa pensando em ter, pense no amor. Dessa forma você vai conquistar tudo na sua vida.
ZONA SUL – Descreva o seu espetáculo para quem ainda não teve a oportunidade de assisti-lo.
O MENESTREL – Sensibilidade. Amor. Compaixão. Acho que essas três palavras resumem o sentimento, a proposta da mensagem que eu interpreto. Encontrei realmente na poesia a minha terapia. E tenho a responsabilidade de compartilhar essa terapia. A humanidade, com toda essa violência, está em pânico. Você liga a TV e vê quanto terror espalhado, quanta crueldade. Quem assiste a meu espetáculo pára pra refletir. É fundamental parar para refletir sobre a sua existência. Chega de violência, chega de medo. Você tem que plantar isso no seu coração. Só é possível através do autoconhecimento, de compreender a responsabilidade que é estar vivo. Você tem que valorizar a sua vida.
ZONA SUL – E também a vida do próximo.
O MENESTREL – Meu amigo, a mensagem é essa: amar ao próximo como a ti mesmo. Essa é a grande sabedoria.
ZONA SUL – Você já visitou Natal?
O MENESTREL – Não tive a honra ainda, mas estou namorando a possibilidade de ir. Já percorri boa parte do Brasil. Ano passado realizei o sonho de apresentar meu espetáculo no Teatro Amazonas, em Manaus. É um templo sagrado. Fiz a performance para os delegados de polícia do Brasil. Estava lá o bobo da corte, no Teatro Amazonas. Foi mágico. Um amigo está mantendo entendimentos para que eu possa levar meu espetáculo para a Feira Pan-Amazônica do Livro, que será realizada em Belém. Quem sabe não me convidam para levar O Menestrel para Natal?
ZONA SUL – Quais os planos do Menestrel?
O MENESTREL – Continuar a missão lançando o próximo DVD com a obra do poeta catarinense Alcides Buss e levar para a Europa o meu espetáculo, em 2011. Já estou montando um roteiro, porque não quero ir no grito. Estou mantendo contatos com empresas de eventos em Portugal. O país será meu primeiro destino. De lá já tenho onde me apresentar em Toulouse. Também vou a Paris, Londres e algumas cidades da Itália... A princípio é isso.
ZONA SUL – E a possível entrevista no programa de Jô Soares?
O MENESTREL – Jô Soares é um dos caras mais inteligentes da TV brasileira. Venho sonhando há algum tempo em apresentar um trabalho de valor no seu programa. Chegou o momento. O salão do livro abriu esse canal. Pra abrilhantar a entrevista, vou montar um clipe de todas as pessoas que tiraram foto comigo. Enquanto eu estiver sendo entrevistado pelo gordinho, será exibido no telão o VI Salão do Livro de Tocantins. Essa é a idéia.
ZONA SUL – O que você sentiu falta de ser perguntado?
O MENESTREL – Fiquei tão à vontade que abri o meu coração. Coisas que eu nunca tinha dito a ninguém, falei agora nessa conversa. Sei que você tem sensibilidade e inteligência para saber dosar essa entrevista. As pessoas não precisam saber de tanta dor. Quero passar esperança para as pessoas.
ZONA SUL – Está bom. Muito obrigado.
O MENESTREL - Não faço nada obrigado, eu agradeço. Você faz alguma coisa obrigado? Não sei quem foi o português que, de mau humor, criou a expressão “obrigado”, para agradecer. Eu não faço nada obrigado. Então, não agradeça obrigado. Agradeço: essa é a palavra correta.
ZONA SUL – Eu agradeço.