segunda-feira, 18 de julho de 2005

Entrevista: ÁTILA PESSOA

O HOMEM DOS SETE INSTRUMENTOS




Jornalista, publicitário, apresentador de programas de televisão, poeta, chefe de escoteiros, webdesigner e analista de sistemas. Se juntar tudo isso em um liquidificador, bater durante 33 anos e alguns meses, você tirará como resultado o potiguar hoje radicado em Brasília Átila Pessoa Costa. Quem lembra do Poupa Ganha certamente vai recordar de Átila. Quem assistiu as transmissões das corridas de kart pela TV Bandeirantes, também. Os espectadores do Globo Esporte no final dos anos 90 sacarão imediatamente ao ler a entrevista deste mês.

Noite de domingo em Brasília é como em qualquer outro lugar do mundo. Silêncio, famílias recolhidas, últimos instantes de descanso para a semana que se inicia... Mas na vida de Átila, sossego é algo que parece não fazer sentido. O homem está sempre ocupado. Sempre arrumando alguma coisa com a qual se envolver. É um verdadeiro homem que tem facilidade para manusear os mais diversos instrumentos. Ele reservou um espaço de uma dessas noites domingueiras para brindar os leitores do Zona Sul - que devem estar com saudades desse potiguar que não aparece mais na telinha das emissoras do estado - com pérolas e histórias que vão reproduzidas a seguir. (Roberto Homem)

ZONA SUL – Onde você nasceu e como foi sua infância?
ÁTILA - Nasci na Maternidade-Escola Januário Cicco. Era um domingo, meio-dia e trinta do dia 18 de dezembro de 1971. Meus pais são de Macaíba, mas, ambos importados. Minha família, por parte de mãe, veio do interior, de um lugar que não existe mais, Oiticica, que era vizinho a Macaíba. Outros parentes vieram da Paraíba, da família Barbosa Melo. Ainda tenho muitos parentes em Macaíba, da família dos Pessoa, principalmente. Minha infância foi muito particular. Quando nasci, meus pais moravam na Alexandrino de Alencar, naquela baixa com a Jaguarari onde sempre tinha alagamento. Depois nos mudamos para Morro Branco. Em seguida, fomos para o conjunto Bandeirante, que fica perto do local onde hoje funciona a Universidade Potiguar (UnP). Essa é a parte que eu lembro mais. Foi lá que aprendi a andar de bicicleta, onde comecei a ter um pouco mais de mobilidade. Até os 7 anos ficamos por ali. Depois alugamos uma casa na Rua São José, antigo Conjunto Potengi, que fica em frente à Praça das Bandeiras. Em seguida mudamos para a Cidade Jardim, ainda em construção. Era um barrão só. Eu tinha poucos amigos. Não tinha vizinhos. Para jogar bola no final da tarde, tínhamos que importar colegas de Mirassol e de Neópolis. Quando mudei para Brasília, ainda morava lá.

ZONA SUL – Que recordações você guarda dos colégios nos quais estudou?
ÁTILA – No maternal estudei na Cidade Encantada. Lembro muito pouco do colégio, lembro mais da kombi que nos levava. Depois fui para o Maristela, onde fiz alfabetização. No primeiro ano, fui estudar no Salesiano. Meu irmão, que fazia a terceira, também foi. Estudei lá de 1978 a 1986. Em 1987 a minha mãe, que é educadora, foi para a Associação Potiguar de Educação e Cultura, Colégio Apec. Fui junto. Fui fazer o segundo grau lá. Depois a Apec virou Colégio Objetivo. Foi lá que terminei o segundo grau, em 1989. Lembro mais dos tempos de Salesiano. Joguei futebol lá, na época do professor Eloy. Disputei dois Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (Jern’s): fui campeão e vice. Nas disputas dos jogos internos, recordo que a quarta série tinha dois times que alimentavam uma rixa feroz: o Globo e o Benguê. Eu nunca jogava porque a turma achava que eu não tinha tanta qualidade. Mas teve uma ocasião em um campeonato que fiz o gol decisivo de pênalti e dei o título para o nosso time. Virei herói do dia para a noite. Isso marcou. Fiz muitos amigos, até hoje encontro colegas do Salesiano na Internet, através do Orkut (http://www.orkut.com/). A comunidade do Salesiano tem mais de mil ex-alunos reunidos com o propósito de trocar informações pela Internet.

ZONA SUL – Você foi escoteiro nessa época ou virou depois de velho?
ÁTILA – O grupo escoteiro que eu fazia parte em Natal que era o Grupo Escoteiro Universitário, do qual sou membro fundador. O grupo foi fundado em 1980, mas o registro da União dos Escoteiros do Brasil pra gente foi liberado em 1981. Mas desde o final de 1979 ele começou a se reunir lá ainda no Conjunto dos Professores, em frente à pracinha do conjunto. Eu era muito pequeno, tinha 8 anos em 1979. Comecei como lobinho, depois fui escoteiro (na faixa dos 11 aos 14), mas não fui membro sênior. Afastei-me dos 15 aos 18. Depois dos 18 foi que voltei para o grupo, para atuar como pioneiro. Não fiquei muito tempo, por conta do jornalismo, já que tinha muito trabalho nos finais de semana. Era para eu estar acompanhando já como membro adulto, como chefe, auxiliando a sessão. Voltei para o movimento aqui em Brasília, quando passe a trabalhar como gente normal e dispor dos meus finais de semana.

ZONA SUL – Como entrou o jornalismo na sua história?
ATILA – Sempre tive interesse em trabalhar com informação. Já no comércio do meu pai eu fazia muitos relatórios de compras. Quando estava cursando o pré-vestibular eu lancei um fanzine, o Eco, que saía toda segunda-feira. Não era o Eco do Umberto Eco, mas o eco de repercussão. Isso em 1989, no Objetivo. Tinha umas fofocas, umas reportagens consistentes e outras de araque. Nessa época eu já tinha tomado a decisão de fazer jornalismo ao invés de direito.

ZONA SUL – Esse Eco, em resumo, era como qualquer jornal...
ATILA – Sim, bem a cara do jornalismo de hoje. A gente tentava fazer a comunicação não só pela informação, mas também pela integração. Tentávamos promover novas amizades. O colégio Objetivo tinha chegado como uma coisa muito nova, pré-vestibular, cursinho, todo mundo muito novo. Lembro de uma matéria do Eco que causou uma confusão boa no colégio. O coordenador era Josué. Ele custeava as cópias xerox do jornal e eu estampava os folhetins na porta das salas. Em uma das últimas edições, já às vésperas do vestibular, eu tinha feito uma pesquisa na escola, baseado na minha intuição, sem nenhum fundamentado científico, e apontei que o colégio não teria uma aprovação no vestibular superior a 40%. Quando divulguei isso, soou como se eu estivesse jogando contra a escola. Dias depois da divulgação do resultado, eu curtindo aquelas ressacas intermináveis de festa de vestibular, eu estava na loja do meu pai, a Protel, lá no conjunto Tirol, e chega Josué em seu Jeep. Ele entra e me dá os parabéns, confessando que não sabia como eu tinha chegado aquele percentual, mas que a escola tinha alcançado 38% de aprovação. Este número batia com os até 40 que eu tinha publicado, contrariando todos os princípios de estatística e fazendo o Ibope tremer nas bases, com esse forte concorrente.

ZONA SUL - E a sua trajetória no jornalismo?
ATILA – Quem não é estudante de jornalismo talvez não crie a expectativa de assistir uma aula de Vicente Serejo, de Cassiano Arruda... De estar diante das pessoas que escrevem a história do Rio Grande do Norte. Para mim isso sempre foi muito bacana. Na disciplina Técnicas de Produção e Difusão do Jornalismo, montei uma novela com personagens que não se limitavam ao número de pessoas da equipe. Imitávamos outras vozes para completar e colocar mais gente nas novelas. A partir daí surgiu uma oportunidade para fazer imitação na Rádio Poti. A emissora enfrentava dificuldade financeira muito grande, não podia contratar. Eu imitava vozes em trechos de crônica policial dentro do plantão da Poti. Na verdade, criei um personagem chamado Gil Berto. Era uma imitação de Gil Gomes. Gil Berto recebia cartas, tinha até fã clube! Às vezes, quando eu passava pelas Rocas, ouvia o povo comentar as histórias do Gil Berto. Isso era gratificante, porque a Poti dava traço de audiência.

ZONA SUL – Essa experiência durou muito tempo? O que fez depois?
ATILA - Foram dois, três meses, mas bem interessantes. Terminei deixando a Poti porque não recebia nada pelo trabalho e também para me dedicar a um novo projeto com Flávio Resende. A intenção era criar um programa de entretenimento para a TV. A idéia inicial veio de umas gravações que eu fazia, umas matérias mais irreverentes. Por exemplo: fizemos uns trabalhos de entrevistar profissionais da noite. Fomos em postos de gasolina 24 horas, conversamos com telefonistas e até fomos à zona do baixo meretrício. Fazíamos as entrevista, montávamos os compactos e o nosso vídeo saía. Flávio achou que aquilo ali poderia ocupar um espaço na tv comercial. Montamos o projeto, mas por questões pessoais, Flávio acabou abdicando. Procurei Tota Farache e executamos o programa junto com Adriana Trindade. Margot, hoje na TV Cabugi, era uma das apresentadoras ao lado do próprio Tota. Eu fazia as reportagens. O programa, que era exibido na TV Potengi, começou em março de 1993. O próprio programa piloto ficou tão bacana que foi ao ar. Gravava muitas externas à noite. O programa rodou um ano e meio nesse formato, depois a gente foi mudando. Ele passou um tempo gravado todo na rua, depois ficou todo no estúdio, e ao vivo.

ZONA SUL – O que mais você fez na TV?
ATILA - Emendou com programas que a gente fazia sobre o Carnatal. Começamos o De Olho na Folia, em 1994. A Potengi mantém até hoje, para cobrir o Carnatal. Só que está bem mais incrementado. Na época fazíamos um programa pequeno. Os primeiros foram até custeados pelos blocos. Hoje a TV tem autonomia e um monte de patrocinadores. Em parceria com Serginho Oliveira, que hoje está gerenciando o shopping Midway, fizemos o Potengi Express. Serginho fazia cinema nos Estados Unidos, e tinha muita proximidade e conhecimento com material de vídeo-clip, trailler de cinema, e já tinha feito diversas entrevistas com atores. Ele mandava o material de Miami para Natal. Eu montava a agenda cultural, editava e a gente fazia um bate-bola com um VJ direto dos Estados Unidos, o Vlad. Mas a TV foi afracando, os problemas financeiros atrapalharam não só esse programa mas alguns planos que a gente tinha. Um dos projetos que chegou a ser executado foi transmitir as corridas de kart ao vivo. Fizemos duas corridas e uma tentativa. Fazíamos com aquele aspecto de corrida de formula 1 mesmo. Temos que valorizar o que é nosso, tem muita gente boa por aqui. É só lembrar do dia em que Nélson Piquet veio disputar uma corrida de kart e fez uma lambança. Não admitiu perder para os nossos pilotos humildes, com equipamento limitado, que deram um show em cima do tri-campeão e do filho dele.

ZONA SUL – E depois da Potengi?
ATILA – Quando saí da Potengi passei um tempo ruim, acabei tendo que me envolver mais com a publicidade. Cheguei a trabalhar diretamente na Pró-Vendas, uma agência simples mais voltada para o varejo e fui fazendo publicidade por minha conta também. Fiquei seis meses trabalhando com produção de arte, serigrafia e publicidade, até que, em janeiro de 1996, Sérgio Oliveira voltou para Natal. Estava cheio de ideais. Uma delas era montar um programa falando sobre carros. Fui convidado para ficar responsável por essa unidade de produção e trabalhar diretamente com o programa. Foi quando montamos o Trânsito Livre. Na época eu tinha decidido terminar a faculdade, já que estava naquela enrolação de trabalhar muito e não terminar o curso. Na universidade encontrei com Gustavo Chileno, que estava na produtora da Cabugi, a Cabugitec, que tinha proposta de voltar a fazer o Valeu o Boi. Fui chamado para fazer esse programa, mas a TV Cabugi acabou desistindo do Valeu o Boi. Nesse meio tempo, Ana Luiza soube que eu estava lá à disposição e me chamou para assumir o lugar do repórter Marcos Bezerra, que estava indo para Mossoró substituir Geraldo Gurgel, que por sua vez iria morar em Brasília, para trabalhar na sucursal da Cabugi.

ZONA SUL – Você abraçou a reportagem e deixou para lá o projeto com Sérgio Oliveira?
ATILA – Não, eu fiquei em paralelo montando o programa com Serginho. Mas ele foi se envolvendo com outras coisas e terminei assumindo como editor, pela TV, do programa, que mudou de nome. Deixou de ser Trânsito Livre e virou Rodas e Motores. Passou a ter participação mais efetiva de Fernando Siqueira. Uma vez ele chegou para mim e disse que o Vectra que ele tinha testado tinha andado 207 km por hora. Eu disse: “Fernando, você testou onde?”. Ele respondeu que na Reta Tabajara. Eu falei que não colocaria uma informação daquela na matéria por dois motivos: o primeiro é que ele teria cometido uma imprudência, o segundo é que a história era mentira, pois o Vectra não atinge tal velocidade. Ele explicou: “foi Aluízio Alves quem me ensinou a dizer sempre um número quebrado senão as pessoas não acreditam”. Completei: “nem quebrado eu acredito”. Mas no final de 1998 uma consultoria concluiu que a TV tinha que reduzir o quadro para 100 empregados. Eles encheram uns dois ônibus para tirar de gente lá de dentro, eu inclusive.

ZONA SUL – Qual a grande matéria que você fez?
ATILA – Como eu estava muito mais ligado ao Globo Esporte, talvez as melhores matérias tenham sido as desta editoria. Foi inesquecível, por exemplo, acompanhar a entrada do Rally dos Sertões dentro do estado, com gente como Klever Couberg, representante brasileiro na categoria maratona do Rally Paris-Dakar. Uma matéria legal foi um ano depois da inauguração do prolongamento da avenida Prudente de Morais até o Satélite. O motoqueiro Juca Bala topou o desafio de tentar subir de moto um paredão de areia nas dunas que ninguém conseguia subir nem a pé, já que quando se tentava o morro vinha descendo. Na terceira tentativa ele subiu de moto. E não foi só uma vez. Filmamos várias vezes. Para não deixar por menos, outro motoqueiro maluco, Beto Caronado, fez uma travessia em uma lagoa de mais ou menos 50 metros, por cima da água! Isso foi lá em Alcaçuz, perto do presídio. É uma das imagens mais bacanas que fizemos. Tem uma época do ano em que a lagoa fica mais rasa, a terra fica quase nivelada com a água. Beto acelerou até mais ou menos uns 60 km por hora e detonou sua moto na água, flutuando, sem afundar, até ganhar a outra margem.

ZONA SUL – E na cobertura do futebol, o que lhe marcou?
ATILA – Um dos momentos inesquecíveis foi uma partida América e Flamengo, pela primeira divisão, em que o América já estava quase rebaixado e o adversário ainda lutava para ficar entre os oito. A torcida do América foi ao Machadão de vermelho e preto naquele dia. Já se esperava que os flamenguistas enchessem o estádio, pois o time vinha de uma goleada aplicada no Vitória, por 4 a 0, em Salvador. Além disso, o plantel contava com Romário, Sávio, Paulo Nunes, Clemer, Ricardo Rocha e Beto. Já o América tinha um time repleto de jogadores teoricamente rejeitados pelos outros clubes - que faziam parte do segundo ou terceiro time de Vasco, Fluminense e Botafogo - cedidos a um custo mais baixo. O resultado é que esse pessoal estava louco para provar o seu valor. Mas essa partida foi cheia de particularidades. Uma delas já se deu no primeiro lance do jogo: um gol do América. Na filmagem (ela está disponível no arquivo da TV) tem uma pessoa no estádio - que vou preservar o nome - fazendo xixi. A cena foi transmitida em cadeia nacional, ao vivo. Foi assim: esse cara chegou perto de mim e perguntou onde podia fazer. Eu disse que não tinha banheiro por perto. Como estava caindo aquele chuvisquinho, e eu estava vestido com uma capa de chuva da TV, sugeri que fizesse ali mesmo, por trás do gol defendido pelo Flamengo. Eu disse a ele que todo mundo estava olhando para a bola, e que somente as pessoas da arquibancada de trás é que poderiam ver alguma coisa. Então dei cobertura. Abri a capa e fiquei por trás dele, até que o serviço fosse feito. Só que quando ele estava ali tentando recolher o material pra fechar o zíper, acontece o gol do América. Imagine um americano tentando comemorar com as mãos ocupadas. Ainda mesmo nesse jogo, marcante foi quando o América desempatou a partida (Beto, do Flamengo, tinha empatado aos 5 do segundo tempo). Quando Rogers fez o gol, consegui ver quase a metade da torcida do Flamengo comemorando. Eram os americanos que tinham entrado no campo fantasiados de flamenguistas. Quando viram que o América estava ganhando, colocaram para fora o verdadeiro “eu”. Defendo a teoria de que você não consegue torcer por um time em Recife, outro em Natal e outro no Rio. Sou contra essa linha de pensamento. Posso admirar outro time, mas não torço por ele.

ZONA SUL – Conte outra história que marcou sua atuação como repórter.
ATILA – As disputas de boxe de Adenúbio Melo, que hoje é vereador, foram fantásticas também. Teoricamente falando, ele era fadado a não participar de nenhum esporte. Até uma perna menor do que a outra ele tem. Trocou o full contact pelo boxe no tempo em que o Rio Grande do Norte nem tinha escola dessa modalidade. Foi tudo no peito e na raça, inventando os equipamentos para treinar, improvisando os sparrings... De tanto batalhar ele conquistou o título da Comissão Mundial de Boxe, que é até da Argentina, e está lá pelo décimo segundo lugar entre as federações de boxe. Mas foi por intermédio dela que Adenúbio teve a chance de lutar pelo cinturão de outra companhia, uma das quatro maiores. Ele tinha que enfrentar o campeão duas vezes: a primeira para se habilitar a disputar o cinturão. Se Adenúbio ganhasse a primeira, depois de três meses teria a segunda luta, aí sim valendo a unificação. Adenúbio ganhou a primeira. Quando seu adversário veio a Natal para a segunda luta, voltei a perguntar uma coisa que já tinha indagado da vez anterior: se ele tinha perdido a luta por perder. Ele respondeu com outra pergunta: “você prefere ganhar 3 ou 13?” O mexicano estava se referindo à bolsa que receberia pelas lutas. Seu prêmio para a primeira luta seria US$ 3 mil. Se houvesse a segunda, valendo pelo título, ele embolsaria mais US$ 10 mil, se vencesse. Pensando em ganhar os 10 mil, ele se submeteu. Só que na segunda luta só faltou Adenúbio estar pintando de vermelho, com rabo e chifre. Ele estava o cão em cima do ringue. Deu uma surra no mexicano! Nunca vi alguém jogar boxe como ele lutou nesse dia. Parecia que desconhecia todas as regras. A única coisa que Adenúbio parecia ver era o queixo e a testa do adversário. Foi campeão do mundo.
ZONA SUL – E a poesia?
ATILA – Augusto dos Anjos é, para mim, a maior expressão poética. Ele é um jornalista, apesar de ter feito direito. Foi sua veia literária que me deu um ponto de inspiração. Quando gosto de sintetizar alguma coisa, faço um poema. Pode ser uma glosa, um soneto ou uma quadra. Vou montando a poesia de acordo com a necessidade da informação que preciso passar. Sempre vem uma boa poesia quando há um assunto. Quando comecei a juntar meus primeiros poemas, recebi apoio do meu pai e de um tio para lançar um livro. A conseqüência é que em 1991, em 19 de dezembro, um dia depois de eu completar 20 anos, lancei um livro. Foi lá no Clube de Radioamadores. Consegui fazer algo que deve ser recorde em Natal até hoje. Consegui vender 420 exemplares no lançamento. Amigos, familiares, colegas de faculdade... Quem você imaginar de gente apareceu. Mas a maior satisfação foi ver pessoas que eu nem conhecia. Apareceram por terem lido nota publicada no Diário de Natal. Aliás, a nota até saiu errada. O nome do livro é Fantasias de um Declínio Poético. No jornal trocaram o “fantasias” por “fantasmas”. O prefácio foi de Vicente Serejo. Até hoje ainda faço reflexões sobre o texto que ele escreveu. Cheguei a participar de concursos de poesias na universidade, só lamento que os prêmios geralmente eram livros. Não tinha 5 ou 10 mil reais ou passagens para Fernando de Noronha ou Nova York. Um momento marcante do meu livro foi tê-lo lançado em João Pessoa. Por causa dele também fiz amizade por correspondência com o poeta Ronaldo da Cunha Lima, que foi governador da Paraíba. Também tenho particular agradecimento ao presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, pessoa que mandou o livro a Paraíba e ainda encaminhou boas referências. Atualmente estou com um monte de poesias, apenas aguardando um novo livro. Quem sabe vou lançá-lo no Clube de Radioamadores ou então na próxima Bienal de Natal? O título até já foi escolhido: “Nunca é Tarde pra Chegar Atrasado”.

ZONA SUL – E sua mudança para Brasília?
ATILA – Em 1998 estive em Brasília de férias e gostei da cidade. Descobri que, com a facilidade proporcionada pela Internet de a gente poder trabalhar em qualquer lugar, Brasília poderia ser um ponto de referência. Não estava nem pensando em arrumar trabalho, queria relaxar, pois nos meses anteriores eu tinha trabalhado muito, sem sequer ter descanso em feriado ou final de semana. Mas com uma semana na cidade recebi cinco propostas de emprego. Terminei aceitando um convite para trabalhar como webdesigner de uma empresa de informática chamada Politec. Em pouco tempo passei a atuar como instrutor e acabei virando analista de sistemas. Agora estou concluindo uma pós-graduação na área de gerência de projetos. E é esse o rumo da minha vida atual.


Jenner Marinho, Átila Pessoa e Roberto Homem