domingo, 9 de janeiro de 2011

Entrevista: Franco do Vale

O MÁGICO DOS EVENTOS E DAS PRAIAS DE NUDISMO

Conheci Franco do Vale em Belém, durante a realização da Feira Pan-Amazônica do Livro. Ele ocupava um espaço no estande da Fantoches Jodane. Com seus truques de ilusionismo e mágicas, Franco se transformou em uma das atrações do evento que reuniu cerca de 500 mil pessoas (números divulgados pelos organizadores) durante os dez dias de funcionamento. Estive lá diversas vezes tentando descobrir como ele fazia aqueles truques com cartas, moedas, lenços e outros objetos. Não consegui. Mas pelo menos consegui, com a ajuda do advogado potiguar Carlyle Madruga, fazer o mágico contar sua história para o Zona Sul. (robertohomem@hotmail.com)

ZONA SUL – Como é o seu nome completo?
FRANCO – Franco do Vale.
ZONA SUL – Esse é o nome que consta na sua certidão de nascimento?
FRANCO – Não. Fui registrado no cartório como Francisco Osmar do Vale. Franco do Vale é o meu nome artístico.
ZONA SUL – Onde foi o seu nascimento?
FRANCO – Nasci em São Paulo. Morei naquela cidade até os 18 ou 19 anos. Depois fui para o Rio de Janeiro. Estou residindo em Santa Catarina já há 14 anos.
ZONA SUL – Como foi o período de sua vida em São Paulo?
FRANCO – Meu pai era industrial. Quando completei 12 anos, ele começou a me levar para a sua empresa. Sua intenção era que eu desse continuidade ao trabalho dele. Eu estudava. Aos 18 anos resolvi viver a minha vida. Saí de casa e virei mágico.
ZONA SUL – Qual o ramo de atividade do seu pai?
FRANCO – Ele era industrial no ramo de peças de caminhão.
ZONA SUL – Como foram seus estudos em São Paulo?
FRANCO – Fiz somente até a conclusão do ginásio. Até a oitava série.
ZONA SUL – A mágica já fazia parte de suas brincadeiras de criança?
FRANCO – Já. Com catorze anos eu comprei um baralho mágico. Comecei fazendo aqueles truques apenas para os amigos, como hobby. Pura brincadeira. Na faixa dos 18 para 19 foi que aquilo virou mesmo profissão. Há 28 anos sobrevivo apenas da mágica.
ZONA SUL – Como o seu pai recebeu a notícia de que você passaria a ganhar a vida como mágico, ao invés de sucedê-lo nos seus negócios?
FRANCO – Ele achava muito engraçado quando eu fazia mágica. Tinha orgulho de mostrar para os amigos os truques que eu sabia fazer com o baralho. Gostava muito quando eu fazia objetos aparecerem ou desaparecerem. Quando eu disse que ganharia a vida com a mágica ele não foi contra. Ao contrário, me deu um conselho importante: “se é o que você quer, vá e siga a sua profissão. Mas faça bem feito”.
ZONA SUL – Da época em que você comprou o seu primeiro baralho mágico - aos 14 anos - até os 18 - quando resolveu encarar a profissão de mágico – como foi seu aperfeiçoamento na arte do ilusionismo e da prestidigitação?
FRANCO – No começo, como eu falei, era mesmo apenas hobby. Depois passei a estudar e a me aperfeiçoar. Até hoje eu costumo treinar pelo menos uma hora por dia. Sempre procuro aprender as técnicas e as mágicas novas. Faço parte de uma associação de mágicos em Santa Catarina. Também dou aulas para mágicos.
ZONA SUL – Até ingressar na profissão você conheceu muitos mágicos? Alguns deles o influenciaram na escolha dessa carreira?
FRANCO – Conheci pouquíssimos. Nenhum deles era famoso. Hoje em dia sou amigo de vários. Até os 18 anos não recebi influência de mágico nenhum. Somente após eu decidir que essa seria a minha profissão foi que passei a me mirar em alguns artistas da mágica.
ZONA SUL – Fale sobre a saída da casa dos seus pais.
FRANCO – Logo que resolvi sair de casa para tomar as rédeas da minha vida, arrumei um emprego como balconista em uma loja de mágicas, em São Paulo. Aquela filial fazia parte de uma rede de lojas, inclusive algumas instaladas em shoppings. Até então aquele era o único fabricante de artigos mágicos no Brasil. Durante um ano trabalhei lá. Depois fui trabalhar por conta própria. Abri meu primeiro ponto de venda no terminal rodoviário do Tietê, ainda em São Paulo. Já faz 26 ou 27 anos. Depois que comecei a participar de feiras e eventos, não parei mais. Faço mágica em feiras de livro, eventos industriais e comerciais, encontro de carros antigos... Já editei quatro livros sobre mágica e gravei vários DVDs.
ZONA SUL – Também já se apresentou em emissoras de televisão?
FRANCO – Já. Um dos programas que participei foi o “Tribos”, no canal de televisão por assinatura Multishow, apresentado pela Daniele Suzuki. Sou o único mágico naturista do Brasil: faço mágicas sem roupa. Daniele me entrevistou quando foi gravar um programa na praia do Pinho, local de prática do naturismo em Santa Catarina. Frequento aquele local há 16 anos. Todas as vezes em que estou lá e aparece uma emissora de televisão, o repórter sempre pergunta se faço mágicas sem roupa. No Youtube (http://www.youtube.com) têm vídeos postados, inclusive esse com a Daniele Suzuki, do programa “Tribos”, onde faço mágica sem roupa. Sou o único mágico no Brasil que faz mágicas sem roupa.
ZONA SUL – Como as pessoas recebem esse tipo de apresentação?
FRANCO – Todos gostam muito. Sempre digo que sou um privilegiado por ganhar a vida provocando sorriso nas pessoas. Às vezes alguém encosta meio sisudo para ver uma mágica. Com uma brincadeirinha eu já tiro um sorriso dele. Sou mesmo privilegiado: faço o que gosto e o que eu gosto é a minha fonte de renda.
ZONA SUL – Você se preparou para fazer mágica sem roupa ou a oportunidade surgiu de repente?
FRANCO – Começou meio que por brincadeira. Por ser naturista, eu já frequentava a praia há muito tempo. Um dia alguém brincou: faça uma mágica agora, sem roupa. Peguei o baralho e fiz uma brincadeira. Depois criei algumas mágicas específicas e sempre as apresento quando estou na praia. As pessoas gostam muito.
ZONA SUL – O que é ser um mágico?
FRANCO – Essa pergunta é interessante. Pra mim, ser mágico é saber tirar um sorriso de onde menos se espera. É mexer com a imaginação da criança. É muito bom quando você faz aparecer um coelho ou um pombo e a criança fica querendo descobrir de onde surgiu aquele bicho. Algumas delas já me perguntaram: “o que você faz depois com o coelho que aparece?”. Geralmente respondo que vou guardando em casa e que já tenho um monte de pombos e coelhos lá. A mágica tem essa coisa lúdica.
ZONA SUL – Que tipo de preparação é necessária para alguém se tornar um mágico?
FRANCO – As pessoas que compram um aparelho em um site ou em uma loja de mágicas vão conseguir fazer aquilo ali. É o chamado arroz com feijão. Agora, para ser um mágico de verdade, a pessoa tem que estudar e se dedicar. É igual ao que acontece nas outras profissões. Existem muitas técnicas e informações que a pessoa precisa conhecer. Têm números que chego a levar três meses treinando até poder executar para alguém. Treino no mínimo uma hora diariamente, até chegar ao ponto de eu achar que está bom e que já posso apresentar. Alguns aparelhos não precisam de tanto esforço.
ZONA SUL – Qual sua principal mágica?
FRANCO – Gosto muito de cartomagia, que são as mágicas com cartas. Faço mágicas grandes, também, as grandes ilusões - como fazer aparecer ou desaparecer um carro. Mas gosto mesmo é de cartomagia por causa daquela coisa do close-up, da interação com as pessoas. Adoro quando vejo a pessoa perguntando como eu consegui fazer aquele truque estando na sua frente, e em uma distância tão próxima. O close-up, que antigamente se chamava micro-mágica, desperta muito a atenção das pessoas. Aprendi que não é necessário fazer grandes mágicas para realizar um bom show. Com objetos simples também é possível.
ZONA SUL - Além de participar de feiras você também faz shows?
FRANCO – Sim. Também faço trabalhos para empresas. Nesse caso crio e apresento mágicas temáticas. Se alguma empresa me contrata para o lançamento de um produto, crio números de mágica em cima daquele produto, para divulgar.
ZONA SUL - Quais os principais shows que você já fez?
FRANCO - Estou envolvido com um projeto muito legal, que, pra mim, é o melhor. Chama-se “Nada na manga, tudo na rua”. É uma parceria da Fundação Cultural de Criciúma com a Associação dos Mágicos de Santa Catarina e o Sistema Municipal de Educação. O objetivo é proporcionar ao público acesso a uma arte diferenciada. Também queremos mostrar como a mágica pode auxiliar na criatividade e na capacidade intelectual das pessoas. São três mágicos se apresentando a cada 15 dias nas escolas e no teatro de Criciúma. A gente está procurando fazer mágica para quem nunca teve oportunidade de ver mágica.
ZONA SUL - Essa experiência é direcionada apenas aos jovens e adolescentes?
FRANCO - Não. Recentemente pegamos um grupo da terceira idade e, quando acabou o show, várias senhoras vieram nos cumprimentar. Elas tinham achado demais. Com mais de 70 anos, nunca tinham visto um mágico de perto em ação. É bastante gratificante. Não tem dinheiro que pague ver um sorriso em uma senhora dessas.
ZONA SUL - Você comentou que até os 18 anos não recebeu influência de mágico nenhum. E depois dessa idade?
FRANCO - Tem alguns mágicos que considero como referência. Mas, é engraçado, na mágica cada um tem seu próprio estilo. Quando certo mágico tenta copiar um outro, geralmente não dá certo. Não adianta, aquilo é dele. Gosto muito do David Copperfield e de um mágico muito conhecido por quem é do ramo, mas não da mídia: Rafael Gomez Perez. Ele é cubano. É a minha referência com relação a estudo, a dedicação. Rafael ensaia entre oito a dez horas diariamente. É um mágico fora de série. Se existe alguém em quem eu me espelho, no meio artístico, no meio mágico, é Rafael Gomez Perez.
ZONA SUL - Ele já se apresentou no Brasil?
FRANCO - Já viajou por alguns lugares, mas ainda não é muito conhecido e divulgado pela mídia. Já esteve no Jô Soares. É uma pessoa fora de série
ZONA SUL - Como você conheceu o trabalho desse cubano?
FRANCO - Em Balneário Camboriú. Há anos fico por lá de dezembro a março. Instalo um quiosque de vendas em um ponto turístico chamado “Cristo Luz”. Rafael fica encarregado de fazer a parte do show. Quem quiser pode conferir no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=Z23sWz-_jl0). Fazemos essa parceria durante a temporada de alta estação. Ele se tornou meu amigo pessoal. Freqüentamos a casa um do outro. Rafael está comigo nesse projeto “Nada na manga, tudo na rua”.
ZONA SUL – Quer dizer que ele costuma passar temporadas no Brasil...
FRANCO - Atualmente ele mora no Brasil. Saiu de Cuba há alguns anos. Voltou recentemente ao seu país para matar saudades da mãe, que não via há anos.
ZONA SUL – Quais mágicos brasileiros você destacaria?
FRANCO - Temos muitos mágicos bons. A nova está muito bem representada por gente como Philip Blue. Sou fã de carteirinha dele, que é bastante jovem. Deve ter vinte e poucos anos. Um outro que está bastante em evidência é o Ricardo Malerbi. Ele está integrando o elenco do programa “Formigueiro”, da Rede Bandeirantes. Eu poderia citar vários outros nomes.
ZONA SUL - Como você compararia o Brasil com o restante do mundo, no mercado da mágica?
FRANCO - O Brasil ainda não tem a cultura, por exemplo, de você pegar a sua mulher, seus filhos, e sair de casa para assistir a um show de mágica. Nos Estados Unidos isso é normal. O brasileiro até vai para um circo ou para um teatro. Mas não sai de casa para um show específico de mágica. Mas essa realidade está começando a mudar. A divulgação dos espetáculos de mágica cresceu muito. Depois do surgimento de Mister M, a mágica ficou em evidência. Muita gente me pergunta sobre ele, se o considero ético ou não. Sempre respondo que ele foi pago para aquilo. Está fazendo o trabalho para o qual se propôs a fazer. Não vou criticá-lo nem elogiá-lo. Cada um sabe o que faz. Mas ninguém pode negar que ele colocou a mágica em evidência. Nunca se falou tanto em mágica no Brasil como depois da aparição de Mister M.
ZONA SUL - Quer dizer que, de certa forma, foi bom.
FRANCO - Posso dizer que no meu caso ajudou muito. Alguns amigos mágicos concordam. Outros discordam. Tem mágico que até quer matar o Mister M. Ele foi processado por várias associações de mágicos. Infelizmente não ganharam nenhuma ação contra ele nem contra a Globo. Mas ainda estão tramitando algumas ações que foram movidas por associações. No meu caso, eu, Franco do Vale, a mim não atrapalhou nada. Discordo do mágico que diz que deixou de fazer shows porque Mister M revelou alguns segredos. Não acredito que isso aconteça.
ZONA SUL - Como você compararia o nível dos profissionais da mágica brasileiros com os do exterior?
FRANCO – Também temos, aqui no Brasil, mágicos de alto nível. O que mais dificulta é o poder aquisitivo dos nossos mágicos com relação aos do exterior, principalmente dos Estados Unidos. David Copperfield consegue fazer uma produção enorme. Os mágicos de Las Vegas fazem produções caríssimas. Isso para um mágico no Brasil é muito difícil. Só com um patrocínio muito bom. Mas a coisa já está em um crescente também. Em mais uns anos estaremos batendo de frente com eles.
ZONA SUL - A televisão por assinatura, A&E, passa um programa de um mágico chamado Criss Angel. O que você acha dele?
FRANCO - Tenho uma opinião própria sobre ele. Alguns colegas gostam e outros não. O considero muito bom, não dá para tirar o seu mérito. Mas ele usa algumas coisas que eu não concordo, eu não faria. Acho que ele não precisaria usar certos artifícios.
ZONA SUL - Quais?
FRANCO - Agora fica meio que um segredo aqui de mágico. (risos). Mas ele usa alguns recursos que eu não usaria e outros mágicos também não. Ele não precisa disso.
ZONA SUL - Em um dos truques que apresenta, Criss Angel levita em plena rua. Aquilo ali é efeito de câmera de televisão?
FRANCO - Por ética eu não vou poder responder.
ZONA SUL - Às vezes fica a sensação de que ele está usando algum artifício da tv.
FRANCO - Truque de edição, é o que você quer dizer...
ZONA SUL - É.
FRANCO - Então vamos deixar essa carta na manga. (risos) Mas ele, nossa, é muito bom mágico. O marketing dele é muito bem feito. Criou um personagem que hoje é conhecido mundialmente. Criss Angel é uma referência na mágica. Da mesma forma como é o Issao Imamura, para o Brasil. Se alguém perguntar a qualquer brasileiro o nome de um mágico, ele pode até não lembrar, mas vai citar “aquele japonês”. Issao é a marca do mágico no Brasil. É um mágico muito bom, que soube fazer o seu marketing.
ZONA SUL - Ele está sempre na mídia.
FRANCO - Sim. Outro que sempre se apresenta em emissoras de televisão é o Oriental Magic Show, composto pelos mágicos Phantom, Fujija, e Ossamá Sato. Existe um pessoal bem atuante no Brasil.
ZONA SUL – Em determinada época, Silvio Santos tinha aberto espaço para os mágicos em seu programa de domingo à noite.
FRANCO – Era uma disputa entre mágicos, o vencedor levava para casa um prêmio em dinheiro.
ZONA SUL – Pensou em se inscrever para participar?
FRANCO – Não. Eu não gosto muito de concorrer nessas categorias. Outro impedimento foi a falta de tempo. Participo de muitas feiras e eventos, viajo muito. Saio de uma feira e já estou arrumando as malas para a próxima. Não sobra muito tempo para esse tipo de programa, mas acho válido. O que for feito em benefício dos mágicos eu assino embaixo.
ZONA SUL – Você já passou por alguma situação constrangedora durante uma apresentação?
FRANCO – Já. Meu primeiro show grande foi em Brasília, para 1.500 pessoas. Eu nunca havia me apresentado em palco. Foi logo no começo da carreira. Existe um truque de levitação com uma bola que anda em um lenço e dá a volta no corpo do mágico. Pela minha inexperiência, a bola travou em determinado ponto da minha roupa. E eu não tive como tirar. Me aproximei do microfone, que estava em um pedestal, e falei: “se eu quiser essa bola sai rolando no palco”. Ao ouvir isso a assistente percebeu que algo havia saído errado, mas não sabia o que. Dei um puxão no lenço e a bola saiu rolando pelo palco. As pessoas aplaudiram. O leigo não sabe o que vai acontecer, então para ele tudo é válido. Certa vez ganhei um vídeo com gravações de erros de mágico. Tem muita coisa engraçada.
ZONA SUL – Essa sua experiência mostra que uma das qualidades que um bom mágico deve ter é jogo de cintura...
FRANCO – Sim. Desenvolvi a capacidade de lidar com os imprevistos graças à venda. O trabalho de venda - quer seja em shoppings, feiras ou outro tipo de evento - é bastante cansativo. Ao final de um dia, já cansado, às vezes estou fazendo um truque de cartas, por exemplo, e esqueço qual é aquela que a pessoa escolheu. Nessas ocasiões o jeito é dizer a verdade em tom de piada: “eu esqueci a carta que está na sua mão, então vou fazer uma mágica melhor”. Isso ocorre por uma estafa causada pelo dia, por cansaço.
ZONA SUL – Que outras características uma pessoa deve ter para se tornar um bom mágico?
FRANCO – O fundamental é ter a capacidade de fazer um raio-x da pessoa para quem você vai apresentar um truque. Tem que descobrir até que tipo de mágica aquela pessoa gosta. Já peguei casos de pessoas que não sabiam distinguir o que era mágica. Pensavam que havia algo de sobrenatural, que eu tinha feito um pacto para ficar com aquele poder. Isso é meio chato. Você tem que explicar para a pessoa que tudo não passe de truque. Em um dos meus livros eu cito isso. Se você pegar alguns quadros ou fotos antigas de mágica vai encontrar coisas meio macabras, algo meio esquisito. Hoje em dia não dá para dizer que a pessoa tem poderes paranormais. Qualquer criança senta diante de um computador e descobre vários truques na Internet. Eu uso a habilidade, e não poderes sobrenaturais, para fazer um truque sem que você descubra o segredo. Tem gente que vai para a TV e diz que é paranormal, sai entortando talheres, fazendo outras coisas. Não passa de truque.
ZONA SUL – O israelita Uri Geller era um deles?
FRANCO – Apenas entortando talheres e parando relógios ele ficou milionário e mundialmente conhecido. Imagine se ele fizesse, na década de 1970, o que alguns mágicos fazem hoje... Eu também entorto talheres. Uma vez fui fazer um trabalho para uma fabricante de talheres, em uma feira. Eu entortava vários talheres de outra marca. Quando pegava os dessa empresa, eu dizia: “esse aqui não entorta nem com mágica”. (risos). Foi um marketing que ficou bem legal.
ZONA SUL – Você tem site na Internet?
FRANCO – Tenho: http://www.francomagicshow.com/ . Lá tem fotos de trabalhos, produtos... Vendo produtos para mágicos iniciantes e para amadores. A pessoa pode adquirir pela Internet. Apesar de manter essa página, o Orkut (http://www.orkut.com/) é uma ferramenta que eu utilizo muito mais. É só procurar por Franco do Vale. No Youtube também tenho alguns vídeos. Não postei mais devido a falta de tempo.
ZONA SUL – Como uma empresa pode contratar seu show?
FRANCO – Pode ser através do meu email francomagicshow@hotmail.com . O foco do meu trabalho é fazer uma apresentação personalizada. A pessoa que fechar comigo não estará apenas contratando um mágico para ir lá distrair as pessoas. Posso fazer um show inteiro em cima dos seus produtos. Crio mágicas para divulgar a marca da empresa ou produtos que ela queira colocar em destaque. Recentemente participei de uma parte da campanha de lançamento da Fanta citrus e da Fanta maçã.
ZONA SUL – Que tipo de produtos você vende no seu site?
FRANCO – Tudo de close-up em geral, que são essas mágicas que você faz perto das pessoas usando moedas, baralhos, dados, cordas e talheres, entre outros objetos. Também ofereço DVDs, kits e livros de mágica. Certa vez recebi um email muito gratificante. Um pai havia comprado um livro de mágicas para o filho, em uma feira. Ele escreveu que o filho, até então, não lia sequer gibis da Mônica ou do Cebolinha. Quando chegaram em casa, o filho pediu para o pai ler. O pai se negou e disse: “já que você comprou, você é quem vai ler, se quiser aprender os truques”. Isso fez com que aquele menino criasse o hábito de ler. O pai me escreveu dizendo que agora o filho já lia vários assuntos, não apenas os relacionados à mágica. Foi muito gratificante.
ZONA SUL – Você foi leitor da revista do mágico Mandrake?
FRANCO – Não, mas conheço o personagem. Ele era um daqueles mágicos sobre os quais eu falei: que parecia ter poderes sobrenaturais. Antigamente se fazia muito isso. Nas muitas viagens que faço, às vezes encontro mágicos que se dizem paranormais.
ZONA SUL – Fale sobre seus livros.
FRANCO – Por enquanto escrevi apenas sobre cartomagia. Escolhi esse tema por ser um segmento que gosto muito na mágica e pela facilidade. Um baralho é fácil de encontrar em qualquer lugar, e dá para fazer muitos truques com as cartas. Estou preparando para lançar, no início de 2011, um curso prático de mágica para pessoas entre dez e 90 anos. Serão três DVDs e um livro. Vai incluir truques não apenas com cartas e objetos. Vou ensinar a fazer mais de cem mágicas. Será uma parceria com as editoras Jodane (http://www.jodane.com/) e a Pronadi (Comércio de Livros e Brinquedos) que passarão a divulgar os meus produtos. Também vou lançar uma revista de mágica voltada para a criança. Ela conterá mágicas e atividades, como desenhos para colorir. Hoje eu já comercializo um kit com uma capinha, uma varinha e uma cartola para as crianças. O leque de produtos que vem pela frente é muito grande.
ZONA SUL – Você já vendeu quantos exemplares dos seus livros?
FRANCO – O livro “Mágicas com cartas normais” vendeu mais de seis mil exemplares, se computados os quatro volumes publicados. Na feira de livros de Belém, por exemplo, não apenas o livro foi bem vendido, mas toda a linha de produtos. O movimento foi intenso. Além das vendas diretas, na hora, têm aquelas que só se concretizam depois, a partir dos contatos mantidos. Em Belém percebi uma peculiaridade que me deixou triste. Os mágicos são muito desunidos. A rivalidade é grande. Devido a isso, sequer há uma associação de mágicos na cidade.
ZONA SUL – Mostrar mais o seu trabalho na mídia, sobretudo na televisão, não lhe faz falta?
FRANCO – Não. Por incrível que pareça, nunca consegui fechar nenhum contrato em virtude de aparições na televisão. Acho que se deve ao fato de quase ninguém assistir televisão com caneta e papel na mão. Dessa forma, quando o telefone de contato daquela pessoa é anunciado, pouca gente anota. Meus shows sempre vêm através das feiras. Um evento puxa outro.
ZONA SUL – Quais dos seus produtos são os mais procurados?
FRANCO – O kit de mágicas é o campeão de vendas. Com ele qualquer criança de nove ou dez anos aprende a fazer um lenço ou uma moeda desaparecer. Uma coisa comum é aparecer um pai com uma criança muito pequeninha, de cinco ou seis anos. Nesses casos eu explico logo que aquele menino ou menina não vai conseguir fazer o truque. Tenho isso comigo: não vendo um produto para uma pessoa que não vai conseguir usar. Só que muitas vezes aquele pai está querendo comprar a mágica pra ele próprio. Por isso ele insiste, e termina comprando.
ZONA SUL – Qual a faixa de preço dos seus produtos?
FRANCO – Tenho mágicas a partir de cinco reais. Vai até quatro mil reais.
ZONA SUL – O Brasil tem escolas para mágicos?
FRANCONão que eu conheça. Por outro lado, tem muitos cursos pela Internet, alguns até gratuitos, o que eu acho legal. Mas a principal mídia para cursos é o DVD. Infelizmente o Youtube disponibiliza muitas mágicas reveladas. Eu me pergunto a troco de que um garoto compra uma mágica e revela o truque na Internet. A troco de nada. Talvez queira ser um Mister M, coitadinho, quer mostrar que sabe o segredo. Nós, mágicos, já tentamos nos mobilizar, mas não é fácil. Li hoje que um mágico muito conhecido no nosso meio está se apresentando em um programa revelando mágicas. Alguns no Orkut estava criticando essa postura. Mas parece que o programa é daqueles cujo modelo é importado de fora. A emissora compra e adapta sua versão com um mágico local. Nesse caso, não sou contra. Alguns truques mais simples podem ser mostrados. O que não pode são os segredos mais fechados. Têm mágicas que a pessoa compra comigo ou em qualquer site, e têm aquelas que permanecem em segredo entre os mágicos profissionais.
ZONA SUL – Quais as principais dificuldades que um profissional da sua área enfrenta?
FRANCO – No começo da carreira, o problema é a falta de informações sobre algumas mágicas. O negócio é estudar e entrar em um grupo de mágicos para que, com o tempo, possa galgar degrau por degrau e ir se aperfeiçoando. Já no meu caso, eu não tenho dificuldades de nada. A vida me abençoa muito. Às vezes as coisas caem até no meu colo, sem que eu procure. Na época em que eu não fazia feiras de livros, eu tinha muita vontade de fazer. Achava que era um local legal para conhecer meu trabalho. Conheci o presidente da Câmara Catarinense do Livro. Ele me abriu as portas para as feiras. Mas o ser humano sempre quer mais. Depois de fazer algumas feiras, senti vontade de participar das grandes bienais: São Paulo, Rio... Foi quando conheci meus amigos da Pronade e da Jodane. Eles me colocaram nos grandes eventos. Hoje alguns organizadores de feiras me convidam como atração. Eles cedem um espaço para eu vender meus produtos e, em troca, eu faço shows durante o evento. A vida é assim: se você plantar uma coisa boa, você vai colher coisa boa.
ZONA SUL – Nas décadas de 1950 e 1960 um personagem formou grandes espectadores: Tihany. Você chegou a conhecê-lo? Foi influenciado por ele?
FRANCO – Não. Apenas tive a honra de assistir a alguns de seus espetáculos, em circos. Meu pai me levou. Ele tem aquela coisa glamourosa que hoje em dia quase não se vê mais. O circo partiu para outra linha como o Cirque du Soleil ou como o Le Cirque.
ZONA SUL - E Houdini?
FRANCO – Houdini foi o maior, foi o precursor. Gosto muito de ler sobre ele. Não me inspiro porque é outra linha de mágica, mas admiro. Um amigo me deu um vídeo sobre a vida de Houdini. Ele chegou a um ponto em que não admitia haver um mágico melhor que ele. Se alguém inventava um aparelho muito bom, ele comprava aquele equipamento para que fosse dele. Tinha que ser o melhor. O forte dele era o escapismo. Também aguentava dores. Se alguém lhe dava um soco no abdômen, aguentava. Ele morreu devido a um soco de um boxeador amador, que o golpeou de surpresa no abdômen, no intervalo de uma de suas sessões. Provavelmente ele já estava com algum problema, talvez no apêndice, por isso morreu. Mas era um fora-de-série.
ZONA SUL – O espetáculo circense continua em voga ou já está em decadência?
FRANCO – Não está em decadência, continua. Estive agora no Le Cirque, em Santa Catarina. Lá vi um palhaço desenvolver uma nova rotina. Não são mais aquelas gags de antigamente. Eu achei ótimo. O circo é isso mesmo: o riso do palhaço, o suspense do trapézio e o mistério do mágico.
ZONA SUL – Alguns filmes retratam a vida no circo, como “O maior espetáculo da terra”.
FRANCO – Muito bom filme. Nossa, eu tinha até esquecido dele. Você foi buscar bem longe, na memória, esse filme. Existem também filmes sobre mágicos: “O grande truque”, “O ilusionista”, “Atos que desafiam a morte”... Falar nisso, tivemos recentemente o caso de um tigre que atacou um mágico durante espetáculo em Las Vegas. Acabou a carreira dele.
ZONA SUL – Deixe um recado para o leitor.
FRANCO – Espero que essa entrevista desperte no povo potiguar o interesse em conhecer o meu trabalho. Não conheço Natal. Parece que tem uma feira de livros agendada para lá, em 2011. Se isso realmente acontecer, será ótimo, pois visitarei pela primeira vez a cidade e poderei mostrar meus principais truques para o público natalense.

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