sábado, 22 de setembro de 2007

ENTREVISTA: MEIRINHOS DO FORRÓ

OS OFICIAIS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA



Francisco Carlos Freire é o pai biológico de Cláudio Freire, Clauberto Freire e de Ana Cláudia Freire e também pai adotivo de Anderson Bezerra da Silva. Esta turminha integra os Meirinhos do Forró, que já traz no currículo dois CDs gravados e cinco idas a Portugal, com uma série de apresentações no Porto e em Lisboa. Mas, para chegar ao patamar no qual estão, não foi fácil. Os versos iniciais feitos por Luiz Gonzaga para a canção Pau-de-Arara dão uma idéia do que eles enfrentaram. “Quando eu vim do sertão, seu moço / Do meu Bodocó / Meu malote era um saco / E o cadeado era o nó / Só trazia coragem e a cara / Viajando num pau-de-arara / Eu penei, mas aqui cheguei”. O Zona Sul entrevistou todos eles, em um começo de noite de julho, no Churrasquinho do Pedrão. Como a tropa dos Meirinhos era grande, a do Zona Sul não poderia fazer feio. E não fez. Muito pelo contrário. Além de mim, estiveram presentes no bate-papo os jornalistas Costa Júnior, Paulo Wagner e Carlos Roberto Pereira e os músicos Tico da Costa, Mirabô Dantas e Dudé Viana. O resultado você confere a partir de agora. (Roberto Homem)




CARLOS FREIRE

ZONA SUL – Você é o técnico do time Meirinhos do Forró. Qual a escalação dessa equipe?
CARLOS – Cláudio é vocalista e também toca pandeiro. Clauberto é sanfoneiro e também arranjador das músicas. Aliás, tudo começou com ele. Cláudio foi quem tomou a iniciativa de tudo. Ana Cláudia toca triângulo e hoje já está fazendo vocal também. Anderson é o zabumbeiro. Atualmente a família Meirinhos do Forró tem quatro integrantes, mas teve cinco. Um outro filho adotivo, José Roberto do Nascimento, saiu. Eu criei ele enquanto meu irmão estava em uma situação difícil.


ZONA SUL – Como tudo começou?
CARLOS – Sempre gostei da música nordestina, daquele estilo de Luiz Gonzaga. Fui criado ouvindo violeiros, emboladores de coco e forró, todo fim de tarde na rádio Rural de Mossoró. Essa rotina me educou e também me levou a ter interesse pela música. Depois que me casei e que meu primeiro filho, Cláudio, completou um ano de idade, fui morar na cidade. Saí de Baraúnas para Bom Jesus, que fica a 65 quilômetros de Natal. Eu tinha que botar o filho para estudar. Depois nasceram Clauberto e os outros. Os meninos foram crescendo ouvindo música também. Todos os dias quando voltava do trabalho, eu gostava de brincar com um violãozinho. Apesar disso, não toco, nem canto. Mas em casa, eu toco e canto. Meus filhos foram ouvindo e se interessando pela música. Pequenos ainda, já faziam seus próprios instrumentos, para brincar. Tudo o que pegavam era para fabricar instrumentos. Cresceram assim. Mas eu sempre pensei que eles eram quietos demais para um dia se interessarem pela música como profissão. Eu estava enganado, pois na hora em que eu mais precisei, na hora em que eu não tive outro meio de vida, que fiquei em uma situação difícil, eles estava tocando.


ZONA SUL – Qual era a sua profissão?
CARLOS – Eu trabalhava de motorista. Antes, fui agricultor. Quando cheguei na cidade aprendi a dirigir. Era motorista de caminhão. Fazia entregas, carregava material e coisas desse tipo. Quando eles começaram a tocar, eu não estava trabalhando. A quem Deus promete, não falta. Quando me vi sem ter outro jeito, quando percebi que a coisa não estava boa, eu pensei que não, mas eles estavam tocando. A caminhada foi longa para chegar até esses instrumentos que você está vendo aqui hoje.


ZONA SUL – Os Meirinhos começaram a tocar lá em Bom Jesus? Como surgiu o convite para se apresentar em Natal?
CARLOS – Não, os meninos nunca tinham se apresentado em Bom Jesus. A história do convite, foi assim. Uma pessoa que trabalhava no restaurante Mangai ouviu os meninos na minha casa, em uma brincadeira. Como ele gostou, falou para a proprietária do restaurante. Ela, que é paraibana e gosta muito de forró, resolveu convidá-los para uma apresentação. O Mangai é um restaurante típico nordestino. Ela ligou em um sábado à noite para um orelhão que tinha vizinho à minha casa. Na época eu não tinha telefone. Quando ela telefonou, eu estava na missa com a família toda. Ao chegar da missa, fui dormir. No outro dia, me deram o recado. Pouco depois, ainda estávamos tomando o café da manhã, ela ligou novamente. Explicou que tinha ouvido falar nos meninos e que queria que eles tocassem no Mangai. Corri atrás de um carro para fretar. No dia marcado, arrumei os meninos e os levei para Natal. Foi o dia 11 de maio de 2002. A partir dessa data, nunca mais trabalhei em outra coisa que não fosse em função deles. Também nunca mais passei por dificuldades. Aliás, dificuldade todo mundo tem, mas, trabalhando, a gente consegue sobreviver. Graças a Deus a gente vem sobrevivendo até hoje desde esse primeiro convite. Através da música eu consegui colégio para eles em Natal, no Objetivo. Os dois mais velhos terminaram o segundo grau no final do ano passado. Através da música fiz boas amizades em Natal. Quando se fala em Meirinhos do Forró, em Natal, a pessoa diz logo que conhece.


ZONA SUL – Esse primeiro convite foi para apenas uma apresentação ou os meninos já vieram trabalhar contratados pelo restaurante?
CARLOS – Foi para uma apresentação. Continuamos morando em Bom Jesus. Na época, estava sendo disputada a Copa do Mundo. No domingo seguinte à primeira apresentação, o Mangai nos convidou novamente. A repercussão foi grande. Apareceu muito repórter de televisão e de jornal. O fato de os meninos serem todos pequenininhos e estarem tocando, chamou atenção do pessoal. A imprensa apareceu por lá a partir dos comentários. Tanto os clientes do Mangai quanto a imprensa, ajudaram para o sucesso dos Meirinhos. Terminado o mês de maio, vieram as festas juninas. Vários colégios telefonaram, querendo os meninos. Passamos o mês de São João todo em Natal. Quando mês terminou, as coisas foram ficando difíceis. Os cachês eram pequenos e a gente tinha que pagar o transporte. Todas as vezes, quando voltávamos para casa, eu ficava pensando que se nós morássemos em Natal o lucro poderia ser maior. Haveria uma redução dos gastos. Algumas pessoas já tinham sugerido pra gente morar em Natal. Eu sempre perguntava como. Eu precisava no mínimo de uma casa para botar os meninos. Fui me agüentando por Bom Jesus.


ZONA SUL – Com o fim da Copa do Mundo e das festas juninas, qual seria o mote para os Meirinhos voltarem a Natal?
CARLOS - Um dia o Sebrae nos convidou para fazer uma apresentação na praia de Búzios. Fomos. Na volta, já de tardezinha, quando estávamos passando pelo Cajueiro de Pirangi, pedi ao motorista para dar uma parada. Queria tirar umas fotos, já que nem eu nem os meninos conhecíamos o Cajueiro. Ele encostou o carro. Na entrada, falei com uma moça. Expliquei a ela que queria entrar com os meninos, para eles conhecerem. Ela cobrou um real por pessoa. Insisti que queria apenas tirar uma foto. Ela pediu que eu falasse com uma senhora da recepção. Falei. Repeti que era pai daqueles meninos e queria tirar uma foto. Ela permitiu, mas advertiu que não poderíamos tocar. Quando estávamos lá dentro, os turistas começaram a pedir para a gente tocar. Queriam também tirar fotografias com os meninos. Expliquei que lá dentro a gente não poderia tocar, mas que na saída os meninos tocariam. Eles tocaram uns 15 minutos. Arrodeou de turista tirando foto e filmando.


ZONA SUL – Os meninos tocaram de graça?
CARLOS – Sim. Mas um cara começou a gritar: “ei, rapaz, eles dão gorjeta, pede gorjeta, eles ajudam” Respondi que estávamos de passagem ali, que o melhor era deixar as coisas acontecerem. Os meninos tocaram e fomos embora. Mas fiquei com aquele negócio na cabeça. Pensei que era capaz de dar certo se voltássemos para tocar lá em troca das gorjetas dos turistas. Perguntei ao motorista quanto ele cobraria para voltar no sábado seguinte para passar o dia no Cajueiro. Acertamos o preço. No dia combinado, a mulher preparou nossa comida, ajeitou tudo e pegamos a estrada. Topamos aquela aposta. Ficamos até duas da tarde. Os turistas gratificaram. O apurado deu para pagar o carro e ainda sobrou uma coisinha. Fiquei pensando que se morasse em Natal, daria certo. Convidei o motorista para voltar outro dia. Ele topou. Na terceira vez que vim, aluguei uma casa e consegui colégio para os meninos.


ZONA SUL – Em qual ano foi isso?
CARLOS - Isso em 2003. Tomei emprestado o dinheiro para pagar o primeiro aluguel. Duzentos reais. Se eu não tinha o dinheiro do aluguel, também não tinha dinheiro pra nada, né? Tocamos dois dias no Cajueiro pra poder fazer a feira pra eles. Durante quatro meses, tocamos todos os dias pela manhã no Cajueiro. Começou a aparecer jornal, televisão e foram divulgando. Depois de quatro meses, fomos convidados para ir a Portugal pelo secretário de Turismo, que era Haroldo Azevedo.


ZONA SUL – O convite surgiu lá no próprio Cajueiro?
CARLOS – Não. Foi em uma feira, no Centro de Convenções. Ele gostou do trabalho dos meninos, viu que eles mereciam uma oportunidade. Identificou-se como secretário de Turismo e prometeu que me telefonaria depois. Eu pensei que ele arranjaria pra gente tocar em Macaíba ou até mesmo em Mossoró. Depois de 15 dias me ligou pedindo para eu ir à Secretaria. Fui. Ele me recebeu e disse que haveria uma feira de turismo em Portugal. “Quero ver aquela menina tocando triângulo em Portugal”, ele falou. Explicou que já tinha conseguido as passagens e a hospedagem para a gente. E também que a Secretaria tinha um cachê para nos pagar. Perguntou se eu tinha coragem para topar. Eu respondi que nem adiantava ele perguntar se eu tinha coragem, pois tendo ou não, a gente ia. Passamos oito dias em Portugal. Tocamos em Lisboa, no Parque das Nações, onde foi realizado o evento. O público chegava a 70 mil pessoas por dia. Dezessete países mostraram sua cultura no evento. Só os Meirinhos tocando forró pelo Brasil. Dos 17, cinco foram escolhidos pela RTP (Rádio Televisão Portuguesa) para dar entrevista ao vivo. Os Meirinhos estavam entre os cinco.


ZONA SUL – Como os portugueses receberam o forró dos Meirinhos?
CARLOS – Receberam muito bem. O português gosta muito de forró. Um dos lugares onde tocamos foi a casa chamada Casa Postal do Brasil. Lá tem até professor de dança. Em Portugal conheci um senhor dono de um restaurante onde fazíamos as refeições. Ele gostou tanto dos meninos que não queria mais nem cobrar a nossa refeição. Uma noite nos convidou para percorremos as casas noturnas de Lisboa. Onde tinha uma casa funcionando, ele conversava com os proprietários e botava os Meirinhos pra tocar. Teve gente do Brasil chorando quando ouvia os meninos tocarem. Quando voltamos desta primeira viagem, doutor Haroldo me chamou e disse que tinha conseguido bolsa-escola pra todos os meus filhos estudarem no Objetivo. Foi o homem que nos deu força, graças a Deus. Por causa dessa primeira viagem, todo ano recebemos convite para participar da feira de turismo de Portugal. Dos que se apresentaram no primeiro ano, nunca mais me encontramos ninguém.O evento completou cinco anos agora. Eu nunca tinha trazido a data do evento para o próximo ano. Agora em abril eu trouxe. Vamos estar em Lisboa nos dias 19 e 20 de abril de 2008.


ZONA SUL – Essa primeira viagem a Portugal abriu muitas portas para vocês aqui no Rio Grande do Norte?
CARLOS – Deu uma força. Quando chegamos da viagem, tinha Tribuna do Norte e Diário de Natal esperando para nos entrevistar. Também fizeram matéria para aquele São João do Nordeste, da Globo. Essa divulgação fez a gente ficar conhecido e, graças a Deus, não faltar mais trabalho. Alguns jornalistas de Natal perguntam como conseguimos ir a Portugal. Não é fácil conseguir passagens para a viagem. Eu respondo que não sei. Só Deus é quem sabe. Se eu for correr atrás, acho que não consigo.


ZONA SUL – Os Meirinhos receberam convites para se apresentar em outros países, além de Portugal?
CARLOS – Ainda não. Pessoas de outros países já perguntaram se a gente ia para lá. Sempre respondo que se a gente conversar bem direitinho, pode ser que aconteça. Essas viagens para Portugal são sempre seguras. Temos uma parceria com a Secretaria de Turismo, já existe uma confiança.


ZONA SUL – Como é, para um pai, conduzir, como empresário, a vida de quatro filhos?
CARLOS – É uma coisa que eu nunca pensei. Mas, como diz o ditado, a dor ensina a gemer. Eu não sabia nem pra onde ir. Estou aprendendo, pouco a pouco, com o tempo. Para vir para Natal, sem conhecer ninguém, eu morando em uma cidade pequena no interior, foi difícil. Tudo o quanto eu tinha eram cinco filhos e uma mulher. Não tinha contrato com ninguém. Viemos tocar só com a coragem. Eu bolei uma caixinha. Botava à vista e as pessoas tiravam foto com os meninos e contribuíam. No final do mês tinha o dinheiro para o aluguel, o colégio deles e para fazer a feira. Depois da viagem de Portugal começou a aparecer convite. Alguns colégios, o secretário nos contratou para tocar no aeroporto. Os Meirinhos passaram a receber todos os vôos internacionais que chegavam a Natal. Ficaram um ano. Deu para comprar um carrinho para andar com eles. Até então andávamos a pé ou fretávamos um carro. Só não conseguimos ainda uma casa, mas estamos trabalhando para conseguir.


ZONA SUL – Vocês tocam fixo em algum lugar?
CARLOS – Nunca tivemos um lugar fixo para apresentação. Vivemos, de 2002 para cá, com o que o celular toca. A pessoa telefona, eu atendo. Não temos um contrato assinado com ninguém até hoje, e vivemos só da música.


ZONA SUL – Como surgiu a oportunidade para registrar em CD o trabalho dos Meirinhos?
CARLOS – O primeiro CD foi difícil. Não sabia por onde começar, até conhecer Dudé Viana. Nosso primeiro encontro foi organizado por um primo meu. Nesse dia, as primeiras palavras de Dudé foram no sentido de nos ensinar. Ele disse que já tinha visto os meninos pela televisão e tinha gostado muito. Dudé foi para o Rio de Janeiro e eu esperei que ele voltasse para nos orientar. O que mais dificultou foi correr atrás de patrocínio. Fizemos um CD direitinho, um disco original, bem trabalhado, com responsabilidade. Hoje está mais fácil fazer um CD. Já temos um segundo disco gravado ao vivo.


ZONA SUL – Qual a maior dificuldade que vocês enfrentaram até agora?
CARLOS – A maior dificuldade foi com os produtores de casas de show. Não tenho medo, hoje, de os meninos se apresentarem mesmo se o Rei do Baião ressuscitar. Tenho certeza que ele iria apoiar. Sei o trabalho que a gente tem. O problema são os produtores. Eles trazem a banda ou o grupo ou o sanfoneiro da Paraíba, de Pernambuco ou do Ceará. Pagam bem o cara, mas o artista nosso não tem valor. Fizemos agora nesse mês junino um trabalho bem direitinho. Acho que vai deixar um bom retorno.


ZONA SUL – Que trabalho foi esse?
CARLOS – Investimos na qualidade do show. Fizemos apresentações bem trabalhadas, mostrando muita força de vontade. Recentemente os Meirinhos estiveram na Paraíba se apresentando com Luizinho de Iraçuba e com Pinto do Acordeon. Antes dos meninos subirem no palco, o cara que contratou ficou com medo e pensou em desistir, porque não conhecia o trabalho. Temia não agradar. Combinamos que a apresentação dos Meirinhos seria às 3 da manhã. Mas, quando chegamos, à noite, ele resolveu que ao invés de tocar na madrugada, os Meirinhos tocariam às 10 da noite, abrindo a série de shows. No outro dia, ele ligou e disse: “olha, dos três, o show dos meninos foi o melhor”. Era um show da prefeitura e o negócio foi tão bom que a prefeita já nos contratou antecipadamente para tocar na festa do próximo ano. Também estivemos em Macaíba, pelo terceiro ano seguido, animando o São João da cidade. É uma festa no meio da rua que reúne cerca de 30 mil pessoas.


ZONA SUL – Além de Rio Grande do Norte e Paraíba, em quais outros estados vocês já se apresentaram?
CARLOS – Em São Paulo fizemos um show no Expo Center Norte, em uma feira de turismo chamada Roteiros do Brasil. Os meninos tocaram um forró pé-de-serra que balançou os paulistas. Paulista gosta de forró. O forró dos Meirinhos é música pura, que corre na veia. Sempre que eles estão tocando, eu fico lá na frente ouvindo o som e também prestando atenção nos comentários das pessoas. Já vi até soldado de Polícia olhar para o braço e comentar: “rapaz, tou todo arrepiado”. Também já vi gente chorar dizendo que aquela música era a cara do seu pai ou então do seu avô. “Vixe, meu pai gostava demais, que música boa, isso aí é que é forró”. Hoje já posso dizer que os Meirinhos está testados no chão, no pequeno palco e também no grande palco. Em Portugal, por exemplo, os meninos dividiram o palco com outros 17 grupos. Eles bem pequenininhos e eu pensando se aquilo daria certo. Quando chegou a hora deles, todos aplaudiram e pediram bis. Onde for, a gente faz o show. Pode até ser dentro d’água.



ZONA SUL – Como o repertório é definido?
CARLOS – Todos nós trabalhamos com o repertório. Os Meirinhos cantam o forró no estilo de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Marinês... Os meninos não cantam música de banda, já tem muita gente fazendo isso. Algumas pessoa já pediram, mas não sai. Tocamos música sem duplo sentido.


ZONA SUL – Quais os planos para o futuro?
CARLOS – Meu amigo, eu planejo para o futuro ver os meninos conhecidos no mundo como bons artistas. Mas eu também quero que eles estudem. Os dois maiores terminaram o segundo grau, mas eu quero que eles façam uma faculdade. Só não começaram porque o cachê ainda está pequeno, não é o suficiente. Eu quero que eles façam carreira na música, mas sem deixar de estudar. Acho que as coisas poderiam ser mais fáceis se os Meirinhos tivessem um padrinho. Dominguinhos, por exemplo, teve Luiz Gonzaga. Elino Julião saiu de Natal e encontrou Jackson do Pandeiro. Mas mesmo assim vamos desistir ou perder a fé e a esperança.


ZONA SUL – A Internet já está sendo utilizada pelos Meirinhos para divulgação?
CARLOS – Sim, um pouco. Temos um site (http://www.meirinhosdoforro.com.br/). há um ano. Está um pouco desatualizado, mas vamos chegar lá, se Deus quiser.


ZONA SUL – Como alguém pode entrar em contato para contratar shows ou adquirir os CDs dos Meirinhos do Forró?
CARLOS – Já recebi ligações até de Minas Gerais, Ceará, Espírito Santo e de São Paulo, pedindo o CD. Nós sempre levamos os CDs para vender nos shows. A divulgação é grande, inclusive fazemos até promoções. Cheguei a deixar o CD em algumas lojas de Natal, mas é difícil receber, mesmo depois que eles vendem. Fiquei triste com isso e resolvi não botar mais. Se a pessoa for de Natal e quiser comprar o disco, pode ligar para mim que a gente marca um lugar para eu ir deixar. Se a pessoa estiver em qualquer outra parte do país pode manter contato que eu mando pelos Correios como carta, pois sai mais barato o frete. Não tem dificuldade não. Contato para disco ou show é só ligar para (84) 9413-3861 ou (84) 3272-4756.


ZONA SUL – Para finalizar, explique o motivo de o grupo se chamar Meirinhos do Forró.
CARLOS – Quando os meninos começaram, eram Mirins do Forró. Esse nome foi escolhido pelas próprias pessoas que viram eles tocando bem novinhos. Depois, o próprio público passou a cobrar um novo nome, já que os meninos estavam crescendo. Eu não queria mudar. Recebemos várias sugestões, como por exemplo, Chapéu de Couro. Um dia eu estava com Dudé na casa de um primo dele, Tião. No meio da conversa, Dudé falou para seu primo: “Tião, rapaz, a gente está procurando um outro nome para o grupo dos meninos”. E Tião, que é um cara muito inteligente e meio avexado, andando mesmo sugeriu: “bota Meirinhos”. Ele explicou que o antigo oficial de justiça era conhecido por meirinho. Era o responsável por cumprir as determinações do juiz. Hoje, os Meirinhos do Forró são os oficiais da música popular brasileira.


ANA CLÁUDIA
13 anos, voz e triângulo.

ZONA SUL – Por que o triângulo? Foi opção sua ou sobrou esse instrumento para você?
ANA – Foi opção, cada um de nós se interessou por um instrumento. Cada qual procurou o seu, e eu gostei do triângulo. Escolhi por intuição mesmo. Olhei e percebi que ele era legal. Gostei. Eu era pequeninha, ficou o pequenininho mesmo pra mim.


ZONA SUL – Você começou com qual idade? Como foi para aprender a tocar?
ANA – Comecei com sete anos. O Clauberto foi quem ensinou a todos nós. Ele passou as dicas para cada um. Depois fomos aperfeiçoando.


ZONA SUL – Desde quando você percebeu que o que você queria mesmo era essa vida voltada para a música?
ANA – Desde o começo. Não tem outro jeito, isso aqui é que é a minha vida mesmo. Não tem outra.


ZONA SUL – Quando você não está tocando ou ensaiando, o que costuma escutar? O que você gosta de ouvir?
ANA – Gosto dessas coisas aqui que a gente toca mesmo, como Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Marinês, Elino Julião e Luiz Gonzaga. É sempre esse repertório que escuto. É o meu gosto particular mesmo.


ZONA SUL – E como você está nos estudos?
ANA – Estou bem, graças a Deus. Tenho 13 anos e estou fazendo o nono ano.


ZONA SUL – Você pensa na Universidade? Alguma faculdade lhe interessa?
ANA – Não penso apenas em uma. Quero fazer música e artes cênicas. Tudo na área de artes.


ZONA SUL – Nesse tempo todo de estrada, qual a maior emoção que você teve?
ANA – Quando me encontrei pela primeira vez com Marinês. Isso faz uns dois anos. Foi em uma Caminhada da Paz que houve aqui em Natal. Marina Elali nos apresentou e começamos a conversar. Pedi permissão para cantar as músicas dela. Ela autorizou e me aconselhou a não cantar aquele tipo de música que não tem nada pra ensinar. Disse que já estava ficando velha e que tinha que ter alguém para ficar no seu lugar.


ZONA SUL – Quais suas pretensões dentro da música?
ANA – Quero ser conhecida no meio artístico mundial e cursar uma faculdade.


ZONA SUL – O triângulo é um instrumento que exige muito aperfeiçoamento? Depois que você aprendeu o básico procurou se aperfeiçoar de alguma forma?
ANA – Procurei. Olho todos, observo o jeito de cada um tocar.


ZONA SUL – Mande um recado para quem pensa em ingressar no mundo da música.
ANA – Tem que batalhar. A vida de músico é difícil, mas quem trabalha Deus ajuda. O resultado compensa muito.


CLAUDIO FREIRE
19 anos, Vocalista e pandeirista.

ZONA SUL – Esse seu pandeiro com a bandeira do Brasil significa que você é nacionalista ou que é torcedor da Seleção de Dunga?
CLÁUDIO – Eu sou nacionalista, amo o meu país. Antigamente eu tocava em um pandeiro de coro, isso no início. Mas, como suo muito nos shows, o pandeiro de couro desafinava na metade da apresentação. Batia água em cima, ele afrouxava. Então escolhi um de nylon.


ZONA SUL – Tem alguma diferença no som?
CLÁUDIO – Tem, eu gosto mais desse daqui. Tem um som bom todo. Com esse aqui eu posso suar tranqüilo, que do jeito que começa termina. Outra diferença é que ele é um pouco mais pesado.


ZONA SUL – Como o pandeiro terminou nas suas mãos, dentro dos Meirinhos?
CLÁUDIO – Eu comecei apenas cantando. Mas um dia meu pai disse que eu tinha que tocar pandeiro também. Eu perguntei como é que eu ia tocar, já que não sabia. Ele me mandou dar o meu jeito. Segui o conselho e fui dando meus pulos. Hoje toco um pouquinho de alguma coisa e a cada dia que passa vou aprendendo cada vez mais. O bom da música é isso: cada dia que passa é cheio de descobertas.


ZONA SUL – Você está há quanto tempo com esse pandeiro? CLÁUDIO – Há cinco anos. Clauberto foi quem primeiro me passou umas dicas. Ele toca tudo. O que você botar na mão dele, ele toca.


ZONA SUL – Qual pandeirista você mais admira?
CLÁUDIO – Primeiramente, o Jackson do Pandeiro. Aquele homem tocava, cantava e dançava que era uma coisa de louco. Meu Deus! Admiro também um amigo daqui, Doutor Feijão. Ele também é um pandeirista de primeira.


ZONA SUL – Você também compõe?
CLÁUDIO – Sim. Eu, papai e o Clauberto também. Faço música. A música-título do nosso primeiro CD, Sertão do Cabugi, é minha em parceria com um amigo de Baraúnas, o José Cícero. Eu nasci em Angicos. Queria homenagear aquela minha terra. A melhor forma que encontrei foi fazer essa música e cantá-la. Em Angicos só fiz nascer. Fui para Bom Jesus com um ano de idade. Vim para Natal com 16 anos.


ZONA SUL – Você teve alguma dificuldade de adaptação pelo fato de trocar uma cidade pequena por uma maior? Quais são seus planos para o futuro?
CLÁUDIO – Tive. Mas com o tempo me acostumei. Meu sonho é a música, quero viver dela e também quero ajudar minha família. Esse é o meu maior sonho. Ao meu pai e à minha mãe devo a vida. E meu sonho é ajudá-los. Viemos em busca de dias melhores. e vamos chegar lá, você vai ver.


ZONA SUL – Se despeça do leitor do jornal.

CLÁUDIO – Quero dizer para todos os jovens do país que a melhor coisa do mundo é a família. É a coisa mais importante que existe na face da terra. Aconselho que os filhos obedeçam e escutem seus pais. Infelizmente, a juventude hoje está se destruindo com essa coisa de drogas e prostituição. Música de má qualidade influencia muito os jovens. É uma pena que seja moda no Brasil as emissoras de rádio e televisão tocarem música ruim. Mas como toda moda, essa música que toca hoje será esquecida amanhã. É o contrário do repertório dos Meirinhos. A música que a gente toca, fica. E devargazinho a gente vai conseguir chegar onde pretendemos.



FRANCISCO CLAUBERTO
18 anos, sanfoneiro.

ZONA SUL – Seu pai e seus irmãos, todos eles, falaram muito do seu talento com todos os instrumentos. Como você aprendeu a tocar tanta coisa?
CLAUBERTO – Eu sempre gostei de instrumentos musicais, de mexer neles. Eu aprendo mais sozinho. Mas também gosto de ir buscar as técnicas, de saber informações sobre cada instrumento. O primeiro que aprendi a tocar foi uma flauta doce que ganhei do meu pai. Eu tinha dois anos. Pai sempre gostou de instrumento. Ele sempre trazia uma flautinha, um pandeirinho ou um violãozinho, comprados na feira. Dava pra gente. Lá em casa sempre teve um violão. Só que ninguém sabia tocar. Meu pai tirava um som, sinal que sempre gostou. Mas não tinha nenhum instrumentista em casa, só o violão.


ZONA SUL – Você aprendeu a tocar flauta, pandeiro e violão apenas experimentando?
CLAUBERTO – Sim. Mas o instrumento que eu sempre admirei foi a sanfona. Acho ela muito especial, com aqueles dois lados e o fole no meio. Eu sempre gostava quando via na televisão. Meu sonho era ter uma sanfona de brinquedo. Acho que o destino ajudou, pois um certo dia um vizinho nosso comprou uma sanfona de verdade. É justamente essa que estou com ela aqui. Tenho outra em casa. No dia que o vizinho comprou, meu pai me levou para ver o instrumento. O vizinho entregou a sanfona para meu pai, mas ele disse que não sabia tirar som nenhum. Passou a sanfona pra mim. Sentei em uma cadeira e ele botou a sanfona nas minhas pernas. Comecei a tirar um som, no teclado. Eu olhava aqueles botões e achava aquilo tudo muito bonito. Comecei a puxar o solo de Asa Branca, já na primeira vez que peguei. O vizinho não deixou eu tocar muito.


ZONA SUL – Como essa sanfona do vizinho passou a ser sua?
CLAUBERTO – Demorou um pouco. Depois desse dia, meu pai falou que conhecia um cara que tinha uma sanfoninha velhinha, e que pedir para ele deixar eu tocar um pouco. Fomos várias vezes à casa desse amigo, seu Chico. Eu decorava as músicas, em casa, ouvindo nos elepês, e quando voltava na casa de seu Chico eu desenvolvia a música na hora. Essa sanfona de seu Chico passou um mês lá em casa. Meu avô, vendo esse esforço todo, se admirou, e, vendo que eu estava aprendendo, disse que ia tentar conseguir uma sanfona pra mim. Meu avô tinhas umas terras lá em Baraúnas e criava um gadinho. Ele ofereceu trocar um garrote pela sanfona do meu vizinho. O vizinho disse que tinha comprado a sanfona pra aprender, e que já estava velho e não aprenderia mais. Topou. Eu sou muito zeloso, a sanfona ainda está bonitinha. Com essa sanfona em casa, desenvolvi mais rápido ainda. Comecei a trabalhar o lado dos baixos. Eu era mais solo no teclado. Comecei a aprender as cifras, os acordes.


ZONA SUL – E quando seu pai chegou com essa história de ir para Natal tocar? O que você achou?
CLAUBERTO – Eu ainda não sabia nem puxar muito a sanfona. Ainda era lento. Mas eu entreguei a Deus. Felizmente as pessoas gostaram muito. Eu não sinto medo de tocar. Sei que Deus sempre ajuda a gente. Mas tem canto que a gente sobe e treme um pouco. Fica imaginando como é que vai ser o som, essa coisa toda.


ZONA SUL – De onde você tira inspiração para compor?
CLAUBERTO – Esse dom meu pai também tem, apesar de não tocar nenhum instrumento. Acho que se ele tivesse tido oportunidade, no tempo da infância, de ter um instrumento nas mãos, seria um bom instrumentista. Infelizmente o instrumento que ele teve foi a enxada. Mas a inspiração eu busco nas músicas nordestinas que escuto, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Marinês, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Os 3 do Nordeste


ZONA SUL – Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
CLAUBERTO – Não. Só isso. Eu sou um cara que falo pouco.


ZONA SUL – Fala pouco, mas toca muito.
CLAUBERTO – Obrigado.


ANDERSON
14 anos, zabumba.

ZONA SUL – Escolheram logo um instrumento pesado pra você?
ANDERSON – É. Mas eu gosto. Adaptei-me muito bem ao instrumento. Comecei a aprender o Clauberto me ensinando com um baldezinho. Também treinei em uma bacia. Isso até que um sanfoneiro emprestou seu instrumento para Clauberto, que começou a puxar algumas músicas. Esse homem da sanfona tinha todos os instrumentos: zabumba, triângulo... Deixou lá em casa um bocado de tempo. Antes a gente brincava com instrumentos de lata. Montava um baldezinho e começava a tocar. Passou uns três meses e comecei a tocar num instrumento de verdade.


ZONA SUL – Como foi deixar de tocar um balde para tocar uma zabumba de verdade?
ANDERSON – Foi um pouco diferente. Eu não conhecia o que era uma zabumba. A passada foi muito diferente. Mas eu gostei do que eu peguei. Pegar no instrumento de verdade até aumentou a motivação.


ZONA SUL – O que você sentiu quando soube que iria se apresentar em Natal?
ANDERSON – Me senti muito alegre. Me assustei um pouco também. Mas eu gostei. A gente foi fazer um trabalho que a gente gosta, e nossa apresentação agradou. No começo ficamos nesse vai-e-vem de vir tocar e voltar para Bom Jesus. Mas agora está melhor, recebemos muitos convites para tocar em festas e em eventos. São muitos shows que estamos fazendo.


ZONA SUL – Qual foi a maior dificuldade que você experimentou em trocar o interior pela capital?
ANDERSON – Foi no colégio. Já existiam as turmas, eu não conhecia ninguém. Mas agora está diferente. Hoje todos me tratam bem.


ZONA SUL – Você faz mais sucesso com as meninas do que faria se não fosse artista?
ANDERSON – (risos) Acho que sim.


ZONA SUL – Você planeja para o futuro seguir nessa vida de músico?
ANDERSON – Sim. Gosto muito. É isso que eu quero. Até a música que eu prefiro ouvir é forró pé-de-serra. Luiz Gonzaga está na frente de todos. É o meu preferido.

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