quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Entrevista: BECO

ROCK AND ROLL COM TEMPERO POTIGUAR






Carlos Gondim, Duda, Rômulo, Alex e o Japa - integrantes da banda potiguar “Beco” - foram os entrevistados deste mês. Na conversa, da qual também participaram o jornalista Costa Júnior, o empresário Sérgio Almeida e o prestador de serviços à CEF Aderson Neto, o quinteto relembrou a história do grupo, revelou o andamento da gravação do primeiro CD e emitiu polêmicas opiniões sobre o mundo da música, em particular sobre o rock potiguar. Na noite de uma terça-feira agradável, no final de julho, Carlos Gondim abriu sua casa em Natal e recebeu o Zona Sul. Antes das perguntas, pudemos assistir a um ensaio onde o Beco mostrou parte do seu repertório. (Roberto Homem)


ZONA SUL – Por que a banda se chama Beco?
GONDIM – A idéia do nome Beco surgiu de uma conversa que tive com Rômulo, há muito tempo. Lamentávamos a morte de um senhor chamado Ratinho, freqüentador assíduo do Beco da Lama - que é um celeiro cultural e boêmio do centro de Natal. Ele era alcoólatra e vivia por lá. Ratinho foi assassinado brutalmente pela polícia. Depois de ler a notícia no jornal, comentei com Rômulo. Aquilo ficou na nossa memória pelo choque que a morte de Ratinho causou.

RÔMULO – Por causa desse crime falamos tanto em Beco da Lama que um dia Gondim sugeriu que a banda se chamasse Beco. Foi consenso na hora. Só que algum tempo depois o Japa descobriu que em Minas Gerais existe uma banda com o mesmo nome, e que até já tem CD gravado.
JAPA – E DVD também.
RÔMULO – DVD? Eu nem sabia disso. De qualquer forma, estamos nessa dúvida se mantemos ou não o nome Beco. A sorte é que sempre resta a possibilidade de mudar para Beco da Lama, já que a idéia inicial foi essa. Quando formos lançar o CD, se for necessário, retomaremos esse nome para diferenciar desse Beco de Minas.

ZONA SUL – Quando a banda começou e como surgiu a idéia de montá-la?
RÔMULO – (irônico) Foi uma tragédia! Eu estava com minha vida muito tranqüila, vivia muito bem com minha esposa – hoje estou separado – aí Carlos Gondim apareceu. Ele queria tocar porque estava estressado. Mal sabia ele que ficaria mais ainda. Uns 20 anos antes eu tinha feito umas coisas com Alex, em uma banda chamada Memória de Elefante. Mas tinha parado de tocar. Gondim insistiu. Combinamos fazer um ensaio e, se fosse legal, continuaríamos. Ele tinha algumas músicas da banda antiga dele. Na verdade, ele montou essa banda com os integrantes antigos. Eu era o único diferente. Ele tirou o baterista dele - até porque era pior do que eu, acreditem! Já estamos tocando há mais de dois anos e nesse período foram feitas várias alterações. Já mudou vocalista, baixista... O próprio Alex, quando entrou na banda, era guitarrista. Alex tinha chegado de Minas, onde tinha terminado seu curso. Agora estabilizamos com essa formação, mas recentemente quase que Japa e Duda saíram por irresponsabilidade... (risos)
DUDA – (mais irônico ainda) Não foi bem assim. Estávamos em um nível muito superior ao da banda e então quase fomos postos para fora por causa dessa incompatibilidade.
RÔMULO – Enfim eles tomaram vergonha na cara e estamos tocando. Começou assim, era uma brincadeira... Aliás, ainda hoje é uma grande brincadeira. Se bem que para Gondim tem um lado mais importante porque ele quer registrar o que não conseguiu gravar na época em que tocava.
GONDIM – Com o patrocínio de Marcos Valério agora deu para gravar o CD e estamos gravando (risos). Mas, falando sério, a banda começou há mais de três anos. Nos anos 90 fiz parte do Havana Londres. Éramos eu, Serginho, Artimar, Ricardo Freud na bateria e Mano Maurício no baixo. Retornamos com essa formação, à exceção de Ricardo Freud, que saiu para dar lugar a Rômulo. Mas a banda foi renovando. Alex entrou no lugar do baixista, Maurício, e Duda no lugar de Artimar. Japa entrou como guitarrista-solo, que não tinha. A gente sempre tentava colocar uma guitarra solo, mas ninguém queria tocar com a gente. Japa começou a assistir aos ensaios, começou a gostar...
DUDA – Japa entrou na banda porque pegava carona comigo na volta da faculdade para casa. Quando eu tinha que ensaiar, ele vinha e ficava assistindo. Ele tocava em uma banda de reggae. Agüentava o sofrimento de assistir nossos ensaios para não pegar um ônibus à noite. Sabendo que estávamos precisando de um guitarrista, falei com Gondim. Japa já tinha decorado as músicas de tanto escutá-las e acabou ficando na banda.
GONDIM – Tinha mesmo algumas músicas que eu gostaria de registrar. Nós até chegamos a gravar algumas coisas, mas um maluco da faculdade pegou essas gravações e pediu emprestado. Condensamos várias músicas em uma fita para um festival que ocorreria em Parnamirim. Esse cara deu sumiço, e tudo o que a gente tinha, perdeu. Até hoje quando o encontramos ele diz que a fita está guardada e que vai procurar. Está procurando faz tempo.


ZONA SUL – Qual o repertório que vocês costumam tocar atualmente?
ALEX – O repertório da banda baseia-se no rock-pop, mas de um ano pra cá estamos sofrendo influência também da música nordestina, como, por exemplo, Zé Ramalho. Uma das canções, O Boi, é uma mistura de hard rock com aboio nordestino. O hard rock fica por conta de Rômulo. Em outras prevalece o suingue, com influência do soul. As letras são de Carlos Gondim. Ele consegue casar bem com a sonoridade da banda. O Beco passeia por vários estilos. Finalmente estamos conseguindo uma unidade, depois de muito tempo. Na montagem das músicas, Gondim costuma trazer uma letra com uma melodia meio acabada
RÔMULO – (provocando) Mal acabada...
ALEX - ... e cada um de nós contribui com a linha do seu instrumento, e a gente vai ajustando cada parte, vendo o que fica bom e o que pode ser dispensado. Com o tempo a música vai amadurecendo, a gente vai burilando e termina dando certo.
GONDIM – (em tom de vítima) Ele esqueceu de dizer que quando trago pro ensaio e toco essa proposta de nova música, sou esculhambado por todo mundo, sou malhado e massacrado. Um dia decidi não trazer mais nenhuma música para a banda. Mas depois de um certo tempo, percebi que seu eu não trouxesse mesmo, não me dispusesse a agüentar a esculhambação, não saía mais nenhuma música. Alex é o único músico de formação da banda, é uma pessoa que tem tanto a prática quanto a teoria, o único que tem talento. Apesar de não dar aula para nós, os pseudo-músicos, ao longo desse tempo ele conseguiu ir conduzindo com pequenos detalhes o aperfeiçoamento do instrumental de cada um.

ZONA SUL – Como está o CD que vocês estão gravando?
JAPA – Essa gravação do CD já rola há mais de um ano. Começou antes de eu entrar. Agora estamos em estúdio. As baterias e o baixo estão praticamente prontos. Algumas músicas já estão gravadas. Acho que no máximo em dois meses estará tudo finalizado. A intenção é que em setembro ou outubro o CD saia. Esse tempo foi bom porque melhoramos tanto musicalmente como até mesmo no nosso convívio. Ficamos mais abertos uns com os outros.
RÔMULO – Na verdade, à exceção de Alex, nunca tínhamos entrado em um estúdio. Vimos que a realidade de um estúdio é complicada. Lá no estúdio foi tudo feito de forma rigorosa. As linhas de bateria foram gravadas duas vezes. Quando fui fazer as primeiras baterias, a gente tocava de um jeito. Passado um tempo, tive que gravar tudo de novo. Fiz outras baterias porque a banda estava com outra pegada. Agora é pra valer. Já estamos conseguindo nos acostumar com o estúdio, saber como funcionam os equipamentos. O produtor é Jota Marciano, a gente está gravando no Studium Produções. No começo, Alex dirigia a gravação. Ele estava sobrecarregado. Passamos a direção para Jota.
GONDIM – O próprio Jota sentiu uma evolução desde quando a banda entrou no estúdio e sugeriu que era melhor perder o trabalho que já tinha sido feito do que insistir. Foi uma posição até do próprio estúdio, porque a gente já tinha ganhado bem mais qualidade. O disco terá dez músicas, todas nossas.
RÔMULO – As músicas que fazemos, embora tenham letras curtas, a parte musical é bem longa. Cada música tem de quatro a cinco minutos. Por isso o CD vai ter dez faixas. O interessante é que, dentro do próprio estúdio, no processo de gravação, foram feitas novas composições. Começamos com seis músicas. Agora tem um detalhe que eu gostaria de dizer. É uma proposta de Carlos Gondim. A gente tem dez músicas, mas com o primeiro vocalista tem duas músicas que são boas, fazem parte da história da primeira formação da banda, e a gente quer registrar. Então, o CD vai sair com dez faixas Duda cantando e vamos incluir duas faixas cantadas por Artimar, o primeiro vocalista da banda. Virá de bônus track no CD.

ZONA SUL – Depois da gravação do CD, o que vocês pretendem fazer?
DUDA – Segundo Rômulo, depois que o CD sair acaba a banda. Acho que por enquanto a gente tem que se preocupar com a gravação agora e esquecer qualquer tipo de show ou evento. Em outras ocasiões, aparecia show e a gente topava, mesmo estando em estúdio. O resultado é que a gente fazia o show e terminava desandando por completo a banda. Depois que o CD estiver finalizado, vamos tentar colocar algumas faixas em emissoras de rádio e partir para tocar e fazer shows.

ZONA SUL – Quais as influências musicais de cada um de vocês?
DUDA – Eu aprendi a escutar reggae há dez anos, quando minha idade era 12 ou 13. A primeira vez que escutei reggae foi através de Gondim, que, como eu, é fã de Bob Marley. Então, meu estilo mesmo, a música que eu curto mesmo é o reggae. A banda sofre influência de cada um dos seus integrantes. Cada um de nós tem seu estilo predileto. Cada um traz um pouquinho do seu suingue, da sua batida. A gente faz uma embolada e consegue andar com isso. Eu já toquei em várias bandas de reggae, há muito tempo: Velho Chico, Baseado em Reggae...
RÔMULO – Eu odeio reggae. Odeio reggae. Detesto reggae. Não sei tocar reggae. Minha influência é a seguinte: eu realmente curto hard. O que curto mesmo é hard rock. Mas sempre que toquei, nunca me importei com o estilo que a banda fosse tocar. Eu me adapto ao estilo da banda. Minha função é tocar bateria, não interessa o caminho que está sendo seguido. Se me chamam para tocar, vou lá e toco. Agora, sempre quero colocar essa coisa mais pesada, o hard mesmo. Mas como Alex me conhece há muito tempo, e é velho como eu para falar isso aí, ele sabe que eu nunca me deixei levar por um tipo de estilo só. Então, eu estava brincando quando disse que odiava o reggae. Eu já escuto esse estilo faz tempo, como MPB, jazz e outros tipos de música. Eu gosto de qualquer música boa! Menos a do Beco...
JAPA – Agora chegou a parte complicada. Gosto muito de reggae, já até toquei em uma banda com o Duda antes, o Baseado, e... Em termos de música, eu gosto de tudo. De Calypso a Wes Montgomery.
RÔMULO – Rapaz, fala sério! Você gosta de Calypso?
JAPA – (irônico) Eu gosto. Vá para uma festa, cheia de mulher, para você ver como é bom Calypso. O que gosto mesmo de música é de Led Zeppelin. De guitarrista, gosto muito de Wes Montgomery. Todos os grandes guitarristas eu gosto, mas em especial Wes e Jimmy Page, do Led, uma lenda na guitarra.
ALEX – Antes de eu ir embora de Natal, quando eu tocava com Rômulo, eu era guitarrista. Naquela época a minha proposta como guitarrista era tocar muito pesado, era heavy metal mesmo. Heavy, trash... Na banda Memória de Elefante, que foi nosso primeiro trabalho, o pessoal reclamava porque eu tocava com a guitarra muito alta e com muita distorção. Depois, quando Rômulo começou a comprar discos de B.B. King, Beethoven, eu comecei a achar que ele estava ficando doido. Continuamos muito amigos, mas, musicalmente, eu achava que ele era doido. E ele achava que eu era insuportável. Aí apareceu uma viagem, fui para São Paulo. Lá eu conheci música contemporânea, tipo Frank Zappa, comecei a ouvir King Crimson. Rômulo já tinha me mostrado um disco deles e dito que eram bons. Eu achei que ele estava desgovernado do juízo. Mas quando conheci a música contemporânea, compreendi que Rômulo tinha razão. As músicas eram boas mesmo. O tempo foi passando, eu sempre trabalhando com música, terminei entrando na universidade. Fiz um curso de música em Minas Gerais. Lá conheci a parte teórica, as possibilidades de trabalhar com os elementos da música e foi quando me interessei por arranjo, por direção, enfim, todas as possibilidades que o ofício propicia pra quem estuda música. Atualmente, além desse trabalho com a banda Beco, tenho um outro com uma banda de música contemporânea. Comecei como guitarrista, mas hoje sou baixista. Gosto da música contemporânea, mas gosto muito do soul, do hard rock pesado e escuto música brasileira também.
GONDIM – Tive muita influência musical de Deep Purple e Black Sabbath. Deep Purple, principalmente, tenho que registrar, por influência de Rômulo, já que ele é Deep Purple até o pescoço. Influencia dele e de Zezinho, meu irmão cinco anos mais velho. Eu, boy, e Zezinho tinha todos os discos, vinis, de Deep Purple, Iron Maiden, ACDC, Led Zeppelin e, principalmente, Black Sabbath. Tive uma influência muito forte de Ozzy Osbourne. Quando eu era mais novo, ouvia só pancada, só heavy metal, por conta de Zezinho e de Rômulo.


ZONA SUL – Como vocês conseguem conciliar esses estilos todos? Como é a convivência de vocês, não enche o saco não?
GONDIM – Enche demais, vixe Maria! Mas é justamente através da convivência que a gente vai conciliando esses estilos diferentes. Até quando vou compor, tento traduzir naquela nova composição as influências de cada um. Quando compus O boi, por exemplo, que é uma das músicas do CD, pensei no estilo de Rômulo. A música traz influência que recebi do Black Sabbath, e do hardcore de Rômulo. Um reggae que também faz parte do nosso repertório foi composto para contemplar a influência de Duda, que gosta desse ritmo tanto quanto eu e o Japa. Alex sempre vai acompanhando e monitorando tudo isso aí. Mas a convivência é boa: quando a gente não está brigando, é porque está brigado (risos).
RÔMULO – Todos nós sabemos que o Beco foi formado por causa de Gondim. Ele é o mentor. A gente faz o segmento. Ele cria, mas a gente tem liberdade para propor modificações. O grande lance é esse: temos liberdade para colocar nossas influências. Por exemplo, muitas vezes ele compõe uma música que a gente não sabe definir. Duda acha um jeito de encaixar um reggae no meio dessa música. E fica essa coisa bem misturada. O Beco tem uma variação enorme. Uma música é bem diferente da outra. A gente tem músicas que você pode lembrar até um Pink Floyd, uma coisa progressiva. Toda banda, e até mesmo pela convivência, tem que ter uma liderança. Não estou falando que ele presta como líder, mas dizendo que tem que haver uma liderança, e, no caso do Beco, essa liderança passa por Carlos Gondim. Alexandre entra na função de organizar essa bagunça toda. Ele mostra o que pode e o que não pode ser feito. É um verdadeiro maestro em relação ao trabalho do Beco.


ZONA SUL – Falem um pouco sobre a música potiguar atual.
RÔMULO – (exagerando) Você quer que eu fale realmente da música potiguar? A música potiguar é horrível! Primeiro porque acho que nem música é. As bandas que têm aqui nessa cidade são tristes. Você escuta cada porcaria, você ouve cada negócio, que não tem condição. Na verdade, eu odeio o rock potiguar. A proposta do Beco é fazer com que esse rock ridículo, horroroso e mal acabado, melhore. Esse pessoal que toca hoje em dia não tem influência de absolutamente nada. Nós pelo menos temos, para trazer alguma idéia de novo. As bandas daqui são tão ruins que nem os nomes prestam. Originalidade, nenhuma. Estamos tentando trazer para a cena daqui de Natal algo novo realmente.
DUDA – Eu discordo um pouco de Rômulo. Eu não acho que tudo seja uma porcaria. Acredito que existem músicos muito bons aqui em Natal. Só que eles não são bem aproveitados. Não temos locais apropriados nem uma cultura de ter shows e eventos que favoreçam a esses músicos. Eles acabam tocando em bandas que não estão no nível deles. Temos grandes instrumentistas e cantores, mas eles acabam tocando em bandas de pop rock que só fazem covers de outras bandas, pra poder ganhar seu sustento. Aqui em Natal, ou você faz isso, ou não faz. Acho que temos músicos bons, mas aqui no estado não há condições para que eles possam tocar.
RÔMULO – Resumindo: a gente tem músicos bons e música ruim.
ALEX – Eu cheguei de Minas Gerais há três anos e, por isso, conheço menos o trabalho dos músicos que estão no mercado de Natal. Mas observei que nosso mercado tem bastante músico bom, tem compositores interessantes, mas é um mercado que está sendo feito agora. Os músicos agora é que estão se organizando profissionalmente, que estão conseguindo realizar mais, com mais moral para poder cobrar pelo seu trabalho perante os donos de casa noturna. Estão mais organizados, enquanto banda, também no sentido de ensaiar, manter os integrantes, achar a formação ideal e trabalhar com prioridades. Esses fatores são altamente importantes para definir um mercado. Acho que Natal é um mercado que está se potencializando agora, no sentido de que os artistas estão tentando fazer um trabalho com mais perfeição.
GONDIM – Discordo de Rômulo. Acho que em Natal tem grandes músicos. Onde você for você vai ver música aflorando. Agora, o que acontece é que não tem um mercado contínuo que gere uma rotina, onde o músico possa trabalhar, manter sua banda e viver da música. Isso tem gerado um problema sério que é o êxodo dos grandes músicos. A maioria dos grandes músicos vai para fora, para sobreviver. Natal está recheada de grandes instrumentistas, bandas e compositores. Por exemplo: Pedrinho Mendes, Bethoven, Jubileu, Sérgio Farias, Di Stéffano que está fazendo um trabalho no Brasil todo e já foi até para a Europa. Eu não vou mais citar para não esquecer de muitos. Tem músicas boas também. Mas, é aquela história, o que está faltando é mesmo o mercado, respeito e financiamento público para a cultura. Se não tem esse mínimo, é impossível para a arte acontecer. O músico hoje tem que fazer outra coisa para poder tocar, para poder ser músico. A música termina sendo ou um bico ou um sacrifício.
JAPA – Eu gostei muito da frase de Rômulo: que tem músicos bons e música ruim. Mas tem músicas boas também. Toda a regra tem exceção ou toda exceção tem sua regra. Em Natal as bandas conhecidas são as que tocam covers, que tocam na noite. Se não tocar cover, o povo não gosta e a banda acaba. Esse problema em Natal acontece muito. Ou toca cover e faz sucesso entre o pessoal pra ser conhecida, ou toca música própria, ninguém conhece e termina acabando, não toca em canto nenhum. Então acaba pagando para tocar, como é o caso do Beco. (risos)


ZONA SUL – Escale a banda ideal de todos os tempos.
JAPA – Vocês vão rir de mim, mas para a bateria eu escolheria Phill Collins. Um baixista seria Arthur Maia. No teclado, o bicho do Gênesis, Tony Banks. Um maluco, pirado, drogado. Vocalista, não em termos técnicos ou de qualidade, mas o que gosto é de Robert Plant. Sou suspeito pra falar do Led Zeppelin. O guitarrista seria Jimmi Page. Minha banda está aí, integrada por loucos.
RÔMULO – Só existe uma banda que realmente pode ser chamada de banda: o Deep Purple. A banda dos meus sonhos teria os integrantes do Deep Purple todos, sem exceção. Esse mundo se acaba, cria-se outra terra e eles permanecem. O Deep Purple teve várias formações. Começou com Nick Simper (baixo), Rod Evans (vocal), Jonh Lord (teclado), Ritchie Blackmore (guitarra) e Ian Paice (bateria). Ainda em 1969 saíram Evans e Simper, substituídos por Ian Gillan e Roger Glove. Em 1974 entraram David Coverdale e Glenn Hughes, nos lugares de Gillan e Glove. A atual formação do Deep Purple, é Ian Paice na bateria, Ian Gillan nos vocais, Steve Morse na guitarra, Don Airey nos teclados e o maestro Roger Glover.
ALEX – É uma pergunta pesada, mas vamos arriscar aí. Eu colocaria três guitarristas: Jimi Hendrix, Edward Van Halen e Ritchie Blackmore. Eu gosto de muitos baixistas, mas fico com Jaco Pastoris, que além de dominar o instrumento, é arranjador e compõe muito bem. Para a bateria, atualmente o que estou gostando mais, é o baterista de uma banda chamada Primus: Tim Alexander. Ele é uma revelação e um super músico atualmente. Como eu montaria uma big band, para os teclados eu chamaria John Lord e Keith Emerson. Para o vocal, no estilo do rock, eu acho fantástico o Ian Gillan.
GONDIM – Teclados: John Lord. Nas guitarras: Ritchie Blackmore e Pat Metheny, Vocal: Ozzy Osbourne. No baixo, outro também do Black Sabbath: Geezer Butler. Para a bateria pensei em Rômulo, mas só não voto nele porque no acordo para essa entrevista ficou definido que não podia indicar ninguém da banda (risos). Por isso, como baterista, escolho o Ian Paice.
DUDA – Como amante do reggae, se pudesse escolher, eu só trocaria Bob Marley... O seja, a banda dos meus sonhos é Duda, Marley e The Wailers. Não tem como. Eu seria mais feliz se tivesse nascido vinte anos antes do que nasci para poder estar vivo na época em que Bob Marley tocou com The Wailers. Então, a banda que eu formaria seria a mesma banda, tirando Bob Marley e me colocando em seu lugar. Bob Marley até poderia fazer backing vocal para mim. A banda dos meus sonhos jamais seria uma que eu apenas assistisse.


ZONA SUL – Agora fica o espaço para as despedidas e o recado final de cada um.
DUDA – É um prazer estar me dirigindo, através dessa entrevista, para o povo de Natal, em especial da zona sul da cidade, espero que todo mundo compre e goste do CD que estamos gravando e que em agosto deverá estar sendo finalizado.
JAPA – Gostei muito dessa entrevista, porque eu conheci coisas que eu nunca imaginei conhecer desse povo aqui. Sério mesmo, foi muito bom. Até detalhes da história da banda que eu não conhecia.
RÔMULO – Eu queria deixar claro que, apesar da gente fazer por diversão, música é algo muito sério. Esse trabalho que o Beco está fazendo, apesar da simplicidade, é feito com muita dedicação, com muito respeito à música. É em homenagem aos vários músicos que citamos aqui, é por respeito a eles, que fazemos o nosso trabalho simples, mas honesto.
ALEX – Como Rômulo falou, a simplicidade é o grande lance do nosso trabalho. O resultado final sonoro está ficando cada vez mais perto do que a gente quer. Quanto à entrevista, foi muito bom porque deu para perceber o quanto sou ruim de entrevista. (risos)
GONDIM – Me despeço mandando uma mensagem para as casas de música, de shows, os bares e restaurantes que contratam e convidam músicos para tocar: abram espaço mais ainda para que cada banda possa tocar suas músicas e produções próprias. Percebemos que há uma dificuldade na sobrevivência das bandas porque elas não podem assumir uma identidade. Não há espaço pra você se identificar com o estilo de uma banda. As casas perdem um público cativo que aquela banda poderia formar, se pudesse divulgar seu trabalho.