sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Entrevista: Marcos Brandão

O HEDONISTA QUE NUNCA DEIXOU DE SER PROFISSIONAL

Lembro de Marcos Brandão desde a época do I Festival de Música da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, realizado, em Natal, no início dos anos 1980. A canção defendida por ele e um grupo de músicos de Ceará-Mirim estava entre as favoritas para ganhar o primeiro prêmio do evento. Devo tê-lo assistido dezenas de meses também no bar da ASFARN (Associação dos Servidores Públicos Fazendários do RN), na Ponta do Morcego. Mas, infelizmente, nunca tinha sido apresentado a ele. A oportunidade surgiu agora, graças ao meu irmão e patrocinador de boas causas, Ronaldo Siqueira. Com ele e os jornalistas Roberto Fontes, Márcia Pinheiro, Fabiana Bagdonas e Costa Júnior, entrevistei Marcos Brandão no Restaurante Veleiros. O vinho, como sempre, estava na temperatura ideal. A comida servida pela equipe do Veleiros, comandada por Ricardo Menezes, foi o aperitivo ideal para a saborosa conversa. Marcos Brandão contou toda a sua trajetória: um cara que não se acovarda quando é o momento de pegar no pesado, mas que também não abre mão de experimentar todos os prazeres possíveis. (robertohomem@gmail.com)


ZONA SUL - Diga o seu nome completo.
MARCOS – Marcos Antônio Cocentino Brandão.
ZONA SUL – Você é das bandas de Ceará-Mirim...
MARCOS – Nasci por lá, minha infância foi toda lá. Meus pais também são da região. Minha família, Cocentino, é de origem italiana, mas se estabeleceu em Ceará-Mirim, no início do século passado. Meus pais eram agricultores, tinham propriedades, cultivavam cana-de-açúcar. Eles também tinham hortaliças e mexeram com cerâmica. Por último, entraram no ramo de restaurante. Administraram restaurantes pequenos, mas bem frequentados.
ZONA SUL – De alguma forma seus pais se envolveram com a música?
MARCOS – Minha mãe, na juventude, foi cantora e tocou violão. Aliás, todas as minhas tias maternas tocam violão. Desde a infância até hoje, vivi em um ambiente de música.
ZONA SUL – Sua mãe tocava violão apenas em casa?
MARCOS – No início ela tocou em banda, lá em Ceará-Mirim: fez shows na cidade e tudo. Depois que casou, deixou de tocar. Na casa da minha avó sempre tinha um violão afinado. Como todo mundo da família tocava ou conhecia alguma coisa do instrumento, quem chegava já ia logo fazendo um som. Comumente a gente se reunia, à noite, para tocar. Dos filhos e netos, eu e mais dois ou três, somente, nos interessamos pela música.
ZONA SUL – Fale um pouco sobre a sua infância, as primeiras recordações...
MARCOS – Inicialmente a minha infância transcorreu em uma pequena propriedade do meu avô no distrito chamado Várzea de Dentro. Depois de nascer em Ceará-Mirim, fui morar nesse distrito, onde sequer tinha energia elétrica! A família ia dormir às sete da noite, nunca esqueci esse detalhe. O jantar era servido às cinco. Depois, ficávamos um tempinho na frente da casa. Às seis e meia todos íamos para a cama. Em compensação, antes das cinco da manhã meu avô chegava da cidade e me levava para o curral, para a ordenha. Lá eu tomava meu copo de leite com Toddy. Depois disso ia tomar banho no rio para, em seguida, ir até Ceará-Mirim estudar. No final da aula voltava para a fazenda, a cavalo, acompanhado de um vaqueiro. Essa era a melhor parte: cavalgar até em casa. Percorríamos nove quilômetros em cerca de 40 minutos. Quando completei dez anos fui morar na cidade, em Ceará-Mirim. Foi uma mudança brusca: o ritmo de vida passou a ser outro, as brincadeiras eram diferentes... Na fazenda era muito mais agradável, embora a cidade foi onde comecei a ter mais curiosidade pela vida.
ZONA SUL – Na fazenda você convivia com outras pessoas da sua faixa etária?
MARCOS – Os trabalhadores da fazenda tinham filhos. Eu brincava e convivia com eles. Nosso dia era cheio de atividades, a principal diversão era passar horas tomando banho de rio. O Rio Ceará-Mirim passava no meio da propriedade. Ele ficava a cerca de dois quilômetros da casa onde eu morava. Qualquer tempo livre, corríamos para o rio. Fora isso, a gente também andava a cavalo, observava a ordenha, a separação de gado... A criação era de gado para corte e também de gado para leite. Eu adorava preparar a ração para o gado, auxiliando os trabalhadores. Porém eu preferia mesmo era andar a cavalo e tomar banho no rio.
ZONA SUL – E na cidade?
MARCOS – Quando viemos morar na zona urbana, Ceará-Mirim ainda era uma cidade muito provinciana. Ainda era a época da ditadura. Só existiam dois partidos políticos. O que mais animava a cidade era a festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, que ocorria em dezembro. O São João e a época da campanha política também agitavam a população. Ceará-Mirim tem - e já tinha naquela época - uma biblioteca muito boa, chamada Dr. José Pacheco Dantas. Desde que fui morar na cidade, me tornei assíduo frequentador de lá, apesar de ter apenas 10 ou 11 anos de idade. Na verdade, sempre gostei muito de ler.
ZONA SUL – O gosto pela leitura foi incentivado pelos seus pais?
MARCOS – Quem mais me incentivou foi uma tia, a tia Darilene, que, infelizmente, já faleceu. Ela era professora. Aliás, duas tias maternas foram professoras: tia Dilma e tia Darilene. Tia Darilene tinha uma ânsia de ensinar muito grande. Então ela incentivou bastante esse meu gosto pela leitura.
ZONA SUL – O que você lia nessa época?
MARCOS – Eu gostava de ler Neimar de Barros, alguns livros clássicos e Machado de Assis. Li também muitas obras filosóficas. Por incrível que pareça, meu gosto era voltado para esse lado. Meus irmãos e irmãs não se interessaram por essa área, a filosofia, que foi uma leitura que muito me agradou naquela época. Eu também gostava de ler o trivial, como os livros de romance e os de aventura. Na verdade, eu gostava mesmo era de ler. Lia até bula de remédio, rótulo de desinfetante e tudo o mais que fosse possível.
ZONA SUL – Também ouvia muita música? O que costumava ouvir?
MARCOS – Sim, ouvia muita música. Na época lembro que escutei muito Roberto Carlos, aprendi a cantar dezenas de canções dele. Sempre gostei da boa música brasileira: Noel Rosa, Sílvio Caldas, Sinhô... Também ouvia a jovem guarda: eu gostava de Celly Campelo. Outros que me agradavam eram Erasmo Carlos e Raul Seixas, entre tantos outros.
ZONA SUL – Pelo visto, você gostava de músicas mais antigas do que as de sua geração...
MARCOS – Realmente o meu gosto é mais antigo. Talvez por ter sido o primeiro neto, eu andava muito com o meu avô, Danilo Brandão. Eu ia com ele, de jipe, comprar farelo em João Câmara. O jipe não tinha som, então ele cantava a viagem inteira. O detalhe é que ele andava a 30 quilômetros por hora. De Ceará-Mirim para João Câmara são 48 km. Nós gastávamos quase uma hora e meia para chegar lá. Nesse percurso, ele ia cantando. Então, eu ouvia muita coisa. Também contribuiu para esse meu gosto o fato de na casa da minha avó paterna haver muitos discos antigos de intérpretes como Nélson Gonçalves, Carlos Gardel, Milton Carlos e Paulo Sérgio. Até morei uma época com os meus avôs.
ZONA SUL – No colégio você participou de manifestações culturais? Havia algum movimento musical?
MARCOS – Desde o jardim de infância, de cara, quando entrava em uma escola eu já procurava a bandinha. Eu ensaiava para tocar corneta no desfile de 7 de Setembro. No Grupo Escolar Barão de Ceará-Mirim eu fiz parte de uma bandinha de fanfarra que tinha.
ZONA SUL – Qual o instrumento?
MARCOS – Sempre corneta, sempre instrumento de sopro. Também estudei pistom na banda de música, porém, sofri um acidente de carro e fiquei com uma sequela no lábio. O resultado é que perdi a embocadura. Foi por isso que deixei de tocar pistom. Mas sempre a minha atenção foi voltada para a música. Quando chegava em qualquer escola procurava me informar se havia banda. Se a resposta fosse positiva, eu procurava logo fazer parte.
ZONA SUL – Quer dizer que o violão foi uma alternativa quando você perdeu a condição de tocar instrumentos de sopro.
MARCOS – Foi. É bom ressaltar que antes do violão eu já cantava. Antes de tocar eu tive bons parceiros para me acompanhar. Só que às vezes acontecia algum imprevisto de aquele músico faltar e eu ser obrigado a ter que conseguir outra pessoa, de última hora, sem sequer ter ensaiado. Isso contribuiu para eu desenvolver o interesse pelo violão. No começo eu tocava com o violão emprestado por um vizinho. Aprendi olhando aquelas revistinhas de acordes. Foi assim até o dia em que, ao chegar em casa, meu pai tinha comprado um violão usado. A partir daí me interessei realmente pelo instrumento. Na sequencia montei um repertório com o qual eu tinha condições de me apresentar em qualquer lugar, para os amigos. Posteriormente virei músico profissional.
ZONA SUL – O que incluía esse seu primeiro repertório?
MARCOS – Até hoje gosto muito mais das coisas antigas do que das novas. Na época eu já curtia Chico Buarque, Caetano Veloso, Alceu Valença... Isso era a década de 1980. Foi quando desenvolvi um repertório para tocar de forma profissional. O auge daquele tempo eram as canções estilo Cazuza e as daquelas bandas de rock, como Titãs e Paralamas do Sucesso. Porém eu estava voltado para Chico Buarque, Caetano, Tom Jobim, Vinicius de Moraes... Posso voltar um pouco no tempo para contar uma coisa que eu esqueci de dizer antes?
ZONA SUL – Claro, a entrevista é sua.
MARCOS – Nas férias escolares da minha infância – que iam de dezembro até o início de março – a tia sobre quem falei, Darilene, me pegava em Ceará-Mirim e me levava para a casa dela, em Natal, na Rua Jundiaí. Lá tinha muitos discos, como, por exemplo, de Luiz Gonzaga, Chico Buarque. Tudo o que saía, ela comprava. Então eu passava esses três meses de férias ouvindo música da melhor qualidade. O esposo dela, Edgar, que também me influenciou muito, da mesma forma tinha um gosto musical fantástico. Sua paixão pela leitura era maior ainda. Na casa desses tios foi onde realmente conheci muita coisa boa da música. Na época eu tinha uns 13 anos.
ZONA SUL – Você começou a compor antes de passar a tocar nos bares?
MARCOS – Não.
ZONA SUL – Então, antes de entrar na fase das composições, explique como se deu a transição de tocar para os amigos para se apresentar em bares.
MARCOS – Meu pai tinha uma indústria de cerâmica em sociedade com o meu avô e com esse tio por afinidade, Edgar. A cerâmica enfrentou dificuldades financeiras, em 1982, e acabou fechando. A cerâmica foi vendida e houve um rolo. Meu pai acabou perdendo tudo. Então ele resolveu abrir um bar. Foi nesse bar que fiz minhas primeiras apresentações. Eu tocava junto com Jean Carlos – que hoje é do Grogs e é um grande cantor. Na época ele cantava somente músicas dos Beatles. A irmã dele, Giane, que hoje é professora, também cantava. Seu repertório eram músicas de Simone, Gal Costa e Maria Bethânia. Eu cantava Chico, Caetano, João Bosco... Um dos gêneros fortes do bar era a seresta. Lá tocava muito Noel Rosa, Bororó, Lupicínio... A música ao vivo durava umas oito horas: de meio-dia às 8 da noite. Era um bar e restaurante.
ZONA SUL – Quem frequentava?
MARCOS – Naquela época ainda não tinha a rodovia nova, que vai para o litoral norte. Então, quem ia para as praias do litoral norte tinha que passar por Extremoz (se fosse para as praias mais próximas), ou por Ceará-Mirim. Muitos dos que pretendiam ir para as praias mais longe, ao passar no bar, paravam lá mesmo ficavam, nem seguiam viagem. Preferiam ficar ouvindo a música, que, como eu já disse, ia até 8 da noite. Nós, os músicos, íamos nos revezando. A partir daí surgiu a oportunidade para eu vir cantar em Natal, pela primeira vez, no Restaurante ASFARN, lá na Ponta do Morcego. Toquei lá um bom tempo. A partir daí fui me profissionalizando cada vez mais. Na verdade, esse termo profissional eu utilizo com pouca propriedade, já que nunca fui um bom profissional. Sempre fui aquela pessoa que agradava bastante cantando, mas nunca fui aquele músico profissional ao pé da letra. Por exemplo: meu repertório nunca foi fechado. Eu chegava chegava e cantava uma aqui, outra acolá, até descobrir o fio da meada. Era nesse filão que eu investia. Eu também bebia e fumava no palco. Quer dizer, nunca fui um músico exemplar. Em minha defesa tem a explicação de que, naquela época, anos 1980, a boemia era muito ligada à produção musical. Era diferente de hoje, que ainda aceita os boêmios no palco, mas exige uma certa discrição.
ZONA SUL – Quando você veio tocar em Natal já tinha concluído os estudos?
MARCOS – Tinha terminado o segundo grau, mas ainda não havia começado o ensino superior.
O negócio é que casei muito cedo. De fato eu casei duas vezes. A terceira foi praticamente um casamento. Casar precocemente fez com que eu parasse os estudos e começasse a tentar ganhar dinheiro. Eu sempre trabalhei.
ZONA SUL – Qual seu primeiro emprego?
MARCOS – Meu primeiro emprego fora de um negócio da família foi em uma empresa subsidiária da Petrobras. Lá eu fui almoxarife. Trabalhava durante o dia e tocava à noite, de domingo a domingo. Foi uma época muito boa da minha vida, apesar de bastante cansativa.
ZONA SUL- Quando você resolveu retomar os estudos?
MARCOS – Vivi, na noite, 22 anos tocando como profissional. Em uma casa só, passei 14 anos. Isso foi em um bar lá na Praia dos Artistas que começou como “Trampolim” e depois passou a ser “Trem de Minas”. Comecei lá em 1991 e saí em 2005, quando parei de tocar em barzinhos. Eu tocava e cantava. Às vezes era acompanhado por uma percussão ou outro músico.
ZONA SUL – Destaque alguns artistas que se apresentaram com você nesses anos todos.
MARCOS – Alexandre Lacerda, que é um grande compositor de Ceará-Mirim, foi um deles. Toquei também com João Maria Varela, um violonista também de Ceará-Mirim. Aqui em Natal me apresentei com Marcelo Randemarck, com Edmar (da Banda Anos 60), com Romildo Soaress, com o baterista Carlinhos... Também fiz shows em bares e participei de festivais com Galvão Filho. Enfim, toquei com praticamente toda a turma da década de 1980 até o final dos anos 1990.
ZONA SUL – Como surgiram as primeiras composições?
MARCOS – Meu parceiro Alexandre Lacerda foi a pessoa que mais me influenciou. Ele
compunha compulsivamente, não parava de compor: sempre estava com uma ideia na cabeça. Alexandre me mostrava, eu dava uma opinião. Algumas de nossas parcerias eu fiz a melodia e ele colocou a letra. Em outras participei, com ele, na letra da música. Compus também com Zeca Brasil. Inclusive, Zeca gravou “Jura”. Compus com Ivando Monte, com Michelle Lima... Ivando Monte é, pra mim, atualmente, um dos melhores compositores de Natal. O meu lado musical foi mais para a interpretação do que para a composição. Todas as minhas músicas são em parceria. Tenho alguns poemas que aos poucos estou levando ao conhecimento de colegas para musicar. Tenho uma dificuldade terrível em musicar. Prefiro fazer a música e depois colocar a letra do que o contrário. Tenho muito mais facilidade em compor a letra do que a música.
ZONA SUL – Suas composições têm algum tema específico?
MARCOS – Não. Por exemplo: em parceria com Alexandre Lacerda fiz uma música baseada naquele livro “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Com Zeca Brasil fiz uma canção retratando uma paixão que estava sentindo por determinada pessoa, naquele instante. Com Michelle Lima e Ivando Monte também fiz músicas sentimentais. Quer dizer, não existe um tema específico.
ZONA SUL – Você senta e escreve uma música ou espera a inspiração chegar para poder compor?
MARCOS – Normalmente a música vem pra mim como um sentimento. Ela nunca me vem como uma história. Geralmente ela vem mais pelo que estou sentindo, pelo que estou passando.
As coisas me ocorrem quando estou caminhando pela manhã, quando começo a pensar... Eu deveria gravar essas ideias. Hoje em dia todo celular grava, mas nunca fiz isso. Depois é que tento relembrar e vou escrevendo aos poucos. Hoje escrevo um pouquinho, amanhã lembro e retomo o que escrevi, ou modifico tudo. Comigo acontece assim, mas pode até ser que saia alguma coisa se decidir fazer uma música a qualquer momento. Mas normalmente não funciona assim.
ZONA SUL – Vamos falar de sua fase participando de festivais.
MARCOS – O primeiro festival do qual participei foi um da UFRN, no começo dos anos 1980. A música não era minha, era de Alexandre Lacerda. Conseguimos classificar duas músicas para esse festival. Uma chamava-se “Terceiro mundo”, uma crítica ao sistema político-econômico brasileiro. A outra era “Sarjai o Apartheid”. Estava na época de Mandela e do Apartheid na África do Sul. Nesse festival ficamos em terceiro lugar com “Sarjai o apartheid”. Aconteceram alguns fatos curiosos. O primeiro foi que estava combinado para, no início da música “Sarjai o apartheid”, por se tratar de um tema afro, eu dizer: “um axé para todos”. Na hora embolei a língua e pronunciei “um axê”. Um elemento lá da plateia olhou e disse: “o nome não é axê, não, animal: o nome é axé”. Pouco tempo depois, quando subi ao palco para defender uma música no festival da ETFRN, o camarada estava lá e me reconheceu: “diga aí, Axê”. Era um gordão, bonachão, daqueles caras divertidos. Quase morro de vergonha. Outro fato curioso é que a música ficou empatada com o segundo lugar. No dia do festival, trouxemos, de Ceará-Mirim, uma torcida maravilhosa para nos aplaudir. No meio veio o meu irmão mais novo, Renato. Ele tinha ido mais pela farra do que pelo festival. Quando saiu o resultado de empate, pediram que uma pessoa da plateia que escolhesse o vencedor, que desempatasse. Pediram ao meu irmão e ele votou na música do concorrente. Por isso ficamos em terceiro. (risos)
ZONA SUL – Esse foi o da UFRN. E depois?
MARCOS – Depois participamos do Festival do SESI. Houve um fato curioso com a música “Veias abertas da América do Sul”, baseada no livro do Eduardo Galeano. A música ficou em quarto lugar. O curioso é que o apresentador, famoso em Natal, na hora de nos apresentar, disse: “agora vamos convidar Marcos Brandão para interpretar a música “Véias (de velhas) abertas da América do Sul'”. Todo mundo caiu na gargalhada. Quando cheguei no palco tive que corrigir aquela gafe. Depois teve o festival da ETFRN, que foi muito bom, apesar do problema que foi a acústica do ginásio. Ficamos em terceiro lugar. Ao todo, participamos de três festivais do SESI. Ganhamos o prêmio de melhor intérprete com Sueldo, que fazia parte do nosso grupo. Em um desses festivais também ficamos em primeiro lugar com a música “Natureza”, de Alexandre Lacerda.
ZONA SUL – Fora de Natal você se apresentou?
MARCOS – Em festivais, não. Mas toquei em São Luís, do Maranhão. A empresa que sempre trabalhei, Transpel - Transportes de Petróleo, tem negócios em São Luís. Fui lá substituir um gerente nosso que estava com problema de saúde e acabei ficando alguns meses. Naturalmente levei o violão e lá surgiram vários contatos. Trabalhei bastante em São Luís. Também fiz shows em Recife.
ZONA SUL – Em São Luís você conheceu alguns músicos que aconselharia o leitor a procurar se inteirar do trabalho dele?
MARCOS – Fiz vários shows, lá, sozinho. Mas conheci muita gente boa. Para não correr o rico de esquecer alguns deles, vou citar o nome de apenas um que me agradou bastante: Beto Pereira. Ele já está mais ou menos no cenário nacional. É um dos que eu recomendo.
ZONA SUL – No Maranhão, se apresentando em São Luís, você chegou a incluir no seu repertório canções de artistas potiguares?
MARCOS – Sim, principalmente de Alexandre Lacerda. Trabalhamos juntos uns dez anos. Apresentei muitas canções dele, tenho boas músicas dele no meu repertório que apresento em qualquer lugar. Sempre procuro mostrar as músicas de Alexandre, que são muito boas. Também cantei Ivando Monte e algumas canções antigas, como “Praieira”. Gosto muito de Chico Eliont e Elino Julião, por exemplo. Certa vez jantei na casa de Elino, foi maravilhoso.
ZONA SUL – Como foi? Como era Elino Julião na intimidade?
MARCOS – Foi maravilhoso. O cardápio incluiu batata-doce, linguiça do sertão... Elino era uma pessoa tão simples que pedia desculpas para falar. Ele dizia: “desculpa aí, deixa eu falar aqui uma coisa...”. Participei de um jantar organizado por dois amigos. Estivemos lá eu, Lene Macedo, Jô Fernandes, Marcelo, Carlos... Levamos o som. Era aniversário de Elino. O jantar era comida do sertão. Aquela coisa de você comer e passar a semana cheio. Foi divertido demais. Ele, na janela, pegou um gravadorzinho de fita cassete e ficou lá gravando a gente cantar. A simplicidade nasceu dele. Elino Julião era um compositor fantástico.
ZONA SUL – Infelizmente, como tantos outros, Elino Julião morreu quase que esquecido. Por que, no geral, o artista potiguar não tem o reconhecimento que merece?
MARCOS – Há uma lacuna enorme, mas eu responderia com uma pergunta: qual a característica do povo potiguar? Qual a característica que marca? O que o faz reconhecer um potiguar fora de Natal? Se você chegar no Rio de Janeiro, facilmente identificará um cearense, um pernambucano, um baiano, um paraibano... E o potiguar? Já busquei essa característica e não encontrei. Não há essa característica exclusiva que faça o potiguar ser reconhecido onde vá, como ocorre com os nascidos nos outros estados que citei. Outra coisa: qual o prato típico potiguar? Qual a comida originária do Rio Grande do Norte?
ZONA SUL – A carne de sol do Seridó é espetacular.
MARCOS – É, mas quando se chega no centro sul do país, só se fala na carne de sol da Paraíba. O povo potiguar, talvez por ser extremamente hospitaleiro, valoriza mais os que vêm de fora do que os da sua própria terra. Talvez até pela influência americana no país, na época da segunda guerra mundial. Então, não há valorização do conterrâneo. Houve uma época em que eu tinha uma bandinha, que não tinha nome, mas que tocava todo tipo de festa. O repertório ia desde o Trio Irakitan até Chico Buarque, incluindo a música dos anos 60.
ZONA SUL – Quem fazia parte dessa banda?
MARCOS – Eu tocava violão de seis cordas, Alexandre Lacerda uma viola de 12 cordas, a
percussão ficava por conta de Arimatéia e Zé Maria. Era uma banda bem eclética. Qualquer tipo de festa que você quisesse fazer, a gente tocava. Uma vez, lá em Ceará-Mirim, contrataram uma banda para fazer uma festa. Ceará-Mirim, mesmo tendo grandes músicos, trazia gente de Natal pra tocar. Já Natal trazia de outros estados. Mas eu dizia que esse grupo contratado cobrou o triplo do que nós cobraríamos e, sem falsa modéstia, talvez tivéssemos a mesma qualidade deles. Mas o grupo faltou no dia da festa. O clube municipal, lotado, e nada do conjunto para tocar. Como eu morava vizinho ao clube, o organizador do evento foi me procurar. Eu disse que topava tocar, mas cobrei seis vezes mais do que o cachê acertado com o grupo de Natal. Ele quis reclamar, mas eu falei: “se você tivesse nos procurado antes, teria um grupo lá agora, nesse momento”. Coisa parecida acontece com o Carnatal, que poderia ser muito bem feito só com músicos da terra. Temos artistas excelentes que fariam com a mesma animação. O problema é que não se valoriza. Basta ver os shows do Projeto Seis e Meia. As pessoas entram no teatro no meio do show da atração local. Quando entra o artista nacional, o teatro está lotado.
ZONA SUL – O pior de tudo é que o artista de fora recebe antes e o daqui pena para receber seu cachê. Outro dia li Isaque Galvão cobrando, no Facebook, o cachê do São João do ano passado.
MARCOS – Conheço vários casos desse. Outro problema é a diferença enorme de cachê. O artista local, além de receber bem menos, às vezes nem recebe.
ZONA SUL – Você nunca pensou em gravar um CD para registrar o seu trabalho?
MARCOS – Sou uma pessoa niilista. Esse é um termo muito abrangente que resume-se no seguinte: é aquela pessoa pra quem nada tem valor. Nada é importante, a não ser aquilo que estou vivendo naquele momento. Então, não gravei Cds sozinho. Gravei em bar e participando de discos de outros artistas. Gravei, por exemplo, com Ivando Monte. Porém, passei todas as cópias que ele me deu para pessoas queridas de quem gosto. Gravei com Lene Macedo, mas também não tenho o disco. Gravei um CD do “Estação de Minas”. Nesse gravei três músicas, mas, da mesma forma, não tenho uma cópia. Se você me pedir que eu mostre algum desses trabalhos, não tenho como. Agora, quando chego na casa dos meus amigos, todos têm. Também praticamente não tenho fotografias minhas em casa.
ZONA SUL – Youtube, Facebook, Myspace... Você utiliza algum desses recursos?
MARCOS – Tenho Youtube e Facebook, mas alimento muito raramente, até por falta de estímulo. De fato, esses são instrumentos viciantes. Se você se envolver, acaba demandando muito tempo. E eu exerço várias atividades simultaneamente. Essas coisas fazem com que o meu tempo se torne bem curto. Prezo muito pela qualidade de vida. Sempre destinei, prioritariamente, um tempo para o lazer, para o prazer. Trabalho desde os onze anos de idade. Apesar de o trabalho me fascinar, entre a qualidade de vida e desenvolver uma obra fantástica, inesquecível ou memorável, prefiro a primeira opção.
ZONA SUL – Como encontrar você nessas redes sociais?
MARCOS – Basta procurar Marcos Brandão. Vai achar alguma coisa no Youtube, Orkut, Facebook... Se digitar Marcos Brandão, surgirão alguns. Eu estarei lá, no meio.
ZONA SUL – Hoje em dia qual a sua relação com a música?
MARCOS – Sou um eterno apaixonado pela música. Tenho dois violões e não me separo deles. Toco violão praticamente todo dia, nem que seja por 30 segundos. Meu violão fica desencapado. Mesmo que eu chegue tarde da noite, toco nem que seja 30 segundos. Não ando sem o violão na mala do carro. Digo muito que a música deveria ser uma disciplina obrigatória: desde o ensino fundamental até o superior. Em qualquer curso que se fizesse, devia ter uma cadeira chamada música. Em todas as escolas, na minha infância, tinha música. Pelo menos em educação artística se pagava um crédito de música. Comecei estudando pistom, como falei. A música é matemática pura e simples. Todos os compassos e notas têm uma divisão. A música ajuda no desenvolvimento do intelecto. Muito do que aprendi na vida foi por causa da música. Se a música fosse obrigatória, teríamos uma sociedade mais culta e certamente menos violenta.
ZONA SUL – Como foi a sua vida acadêmica?
MARCOS – Como falei, comecei a trabalhar aos onze anos. Meu pai tinha uma indústria de cerâmica em Ceará-Mirim. Eu queria ter salário, mas não de graça. Queria fazer alguma coisa. Por isso, fui trabalhar. Ganhava 30 cruzeiros por semana, enquanto a maioria dos jovens da minha idade recebia um cruzeiro para ir ao cinema. Depois, aos 18, comecei a trabalhar na empresa subsidiária da Petrobras a qual me referi. Casei muito novo e tive uma filha. No segundo casamento tive outra filha. Como eu tocava e queria ver minha filha crescer, optei por não estudar. Dessa forma também pude curtir a vida que eu tinha na época. Somente depois foi que voltei a estudar e fiz o curso de Direito. Me graduei e me tornei advogado. Hoje trabalho nessa empresa e advogo. Todos os dias chego em casa às onze da noite. Antes vou ao escritório fazer também o meu trabalho de advocacia. Só que na sexta, sábado e domingo não existe mais nada pra mim a não ser a vida, a não ser a noite. Já era assim quando eu estudava.
ZONA SUL – Fala-se muito em acabar o exame da OAB por supostamente ele ser uma prova muito difícil de passar. O que você acha disso?
MARCOS – Realmente há uma polêmica grande com relação à OAB. No meu caso, nunca perdi um final de semana por causa desse exame. Passei na OAB antes de terminar o curso de Direito, no décimo período. É só uma questão de determinação ou de necessidade para passar. No eu caso foi de necessidade. Muitas pessoas fazem Direito apenas para adquirir conhecimento. Algumas dessas pessoas até já estão bem empregadas. Na minha turma a maioria tinha mais de uma graduação. Nem todos se interessavam muito. Minha primeira paixão é a música, mas a segunda é a advocacia. Minha vida profissional hoje resume-se ao trabalho na empresa que gerencio e à advocacia. Posso dizer que sou um advogado praticamente em início de carreira. Não sou um velho advogado, sou um advogado velho.
ZONA SUL – Se tivéssemos que fazer mais uma pergunta a você, qual seria ela?
MARCOS – Vocês perguntariam como eu sou.
ZONA SUL – Tudo bem. Então, como você é?
MARCOS – Gosto de me descrever assim: sou um cara extremamente espontâneo, que não temvergonha de absolutamente nada. Não há nada que eu não possa fazer, se eu quiser. Sou uma pessoa muito prestativa. Às vezes os outros se incomodam, mas me dá prazer servir às pessoas. Vivi minha vida inteira desse jeito. Também posso dizer que não tenho apego a nada material e que sou um hedonista. Sou capaz de sair daqui pra Baía Formosa pra comer um goiamum. Cansei de sair daqui pra lá, de andar 90 quilômetros, pra sentar, comer um goiamum e voltar. O prazer me move.
ZONA SUL – Você tem um diferencial no seu repertório: canta muito lado B, ou seja, as canções que não fizeram tanto sucesso. Isso é proposital? É seu gosto pessoal ou foi uma demanda do público?
MARCOS – Isso advém de um desejo incontrolável que tenho de descobrir o desconhecido. Gosto de pesquisar, sou apaixonado pela pesquisa. Às vezes descubro uma música que ninguém ouviu falar. Nesses casos, procuro apresentar essa nova canção ao maior número possível de pessoas. Tenho duas filhas: Maria Claria, que tem um gosto mais parecido com o meu, e Luiza Helena, que prefere as músicas mais modernas. Quando descubro algo diferente, mostro primeiro a elas. Eu acho que deveria ter feito História, antes de Direito. Quem sabe um dia anda não concluo esse curso... A História ensina muita coisa. A própria música pode ser instrutiva. Por exemplo: Em “Alfonsina e el mar” Mercedes Sosa canta a história de Alfonsina Storni, filha de pais argentinos que nasceu na Suiça. Era uma poetisa que descobriu que estava com câncer de mama e suicidou-se andando para dentro do mar. Imagine que dor ela sentiu pra cometer um gesto desses. Descobri pesquisando, após ouvir a música. Quando descubro uma nova canção fico igual a um menino que ganhou um brinquedo novo. Onde chego quero mostrar. Descobrir o novo é muito interessante.
ZONA SUL – Recentemente Amy Whinehouse morreu. O que você falaria sobre ela?
MARCOS – Antes de falar sobre essa intérprete, gostaria de dizer que o sucesso é um mar bravio difícil de atravessar. São poucos os que conseguem atravessar, incólumes, o esplendor do sucesso. A história comprova isso. Vários roqueiros morreram aos 27 anos, e aos 30, aos 50, enfim... Amy tinha uma voz belíssima, uma interpretação fantástica. Seu repertório era ótimo. Ela tinha uma expressão fora de série. Acredito que um dos atributos fundamentais dela era a espontaneidade. Era espontânea até demais. Gosto das pessoas que não se preocupam. Faço a barba todos os dias por necessidade, pelo meu trabalho. Mas admiro a pessoa que sai de casa com a barba por fazer, que não usa roupas de marca, que usa palito de dentes. Admiro as coisas espontâneas, que você faz sem querer, faz por fazer.
ZONA SUL – Chegou a hora de você se despedir do leitor do jornal.
MARCOS – Agradeço demais por essa oportunidade. Era um sonho antigo fazer parte desse sucesso que é o trabalho desenvolvido pelo jornal Zona Sul. Sou uma pessoa que pouco falo de mim. Muitos dizem que sou trancado, que não exprimo sentimento. Aprendi que os sentimentos devem ficar dentro de cada pessoa. Porém, essa oportunidade foi muito boa. Falei tanto sobre mim como nunca tinha falado na vida. Gostaria de agradecer a todos vocês, especialmente a Ronaldo Siqueira, que é uma pessoa por quem tenho grande carinho. Todos vocês me deixarão tão à vontade que eu consegui dizer tudo o que gostaria. Talvez eu também tenha dito algumas besteiras. Se for o caso, peço desculpas por isso. Mas é bom lembrar que não há quem não diga as suas bobagens. Agora o que me resta é esperar essa entrevista ser publicada. Obrigado.




2 comentários:

  1. Adorei a entrevista c Marcos Brandão, pessoa que tanto admiro. Assim pude conhecê-lo um pouco mais. Cibelly Plhares - Ceará-Mirim RN

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  2. SÃO ESSAS COISAS BOAS QUE VEJO AQUI NA NET QUE FAZEM-ME SUPERAR A SAUDADE QUE TENHO DO MEU PAÍS, DA MINHA CIDADE, DOS MEUS COSTUMES, DAS PESSOAS... E COMO FOI BOM LER ESSA ENTREVISTA COM ESTE MEU CONTERRÂNEO "MARCOS BRANDÃO". LEMBRO-ME BEM DESTA FASE DO MARCOS A CANTAR EM CEARÁ-MIRIM. MUITOS MÚSICOS SURGIRAM NESTA MESMA ÉPOCA E UM DELES FOI MEU MANO: MARCOS CÂMARA, QUE HOJE VIVE DA MÚSICA TAMBÉM! ATÉ SUGIRO UMA ENTREVISTA COM ELE, ROBERTO! NÃO É POR SER MEU IRMÃO, MAS CONFESSO QUE SERÁ UMA ÓTIMA HISTÓRIA DE VIDA MUSICAL. COMO TAMBÉM SUGIRO O PRÓPRIO "ALEXANDRE LACERDA", SIMPLES E INTELIGENTE! BEM, VOLTANDO AO MARCOS BRANDÃO... CONFESSO QUE NÃO CONVIVI MUITO COM ELE, MAS... AS POUCAS VEZES QUE O VI CANTAR, CONSTATEI QUE É UM CARA HUMILDE, ATÉ NO JEITO DE FALAR! E AO SABER QUE ELE TAMBÉM SEGUIU OUTRO CAMINHO FORA DA MÚSICA, QUE FOI A ADVOCACIA, FICO IMENSAMENTE FELIZ, PORQUE ESTE MUNDO DA MÚSICA É EFÊMERO E QUEM TEM SORTE DE FAZER SUCESSO, TEM QUE SER MUITO SÁBIO PARA NÃO SE VISLUMBRAR. OU SEJA, TEM QUE SABER DESCOBRIR O CAMINHO DA FELICIDADE SEM SE PERDER EM ATALHOS (FOI O CASO DA AMY WHINEHOUSE E DAQUELES QUE MORRERAM CEDO, NÃO SÓ NA IDADE, COMO TAMBÉM NO POUCO TEMPO DE SUCESSO E CAÍRAM NO ANONIMATO!). NO CASO DO "MARCOS BRANDÃO", DE UMA FORMA ELUCIDADA, ELE SE SENTE REALIZADO E COMPLETO NO SEU PAPEL COMO SER HUMANO NESTA ESCOLA DA VIDA. SINTO-ME FELIZ POR ELE, QUE PARA MIM, JÁ É SUCESSO! PARABÉNS PELA ENTREVISTA, ROBERTO! ESTOU CADA VEZ MAIS GOSTANDO DESTE SEU BLOGUE! AQUI HÁ MUITOS ENTREVISTADOS BONS, VIU! E CONTINUE ME ENVIANDO AS NOVAS ENTREVISTAS. GRANDE ABRAÇO, AINDA DO ALÉM-MAR... (POIS PRÓXIMA SEMANA TÔ CHEGANDO AÍ! RISOS...). BJIM...

    CEICINHA CÂMARA

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