sábado, 24 de abril de 2010

Entrevista: Ricardo Menezes

DO ROCK E DA GUITARRA

AO CAMARÃO COM SOM DE VIOLÃO

José Ricardo de Castro Menezes nasceu em Natal, no ano de 1963. Viveu a infância no bairro de Lagoa Seca. Na época em que estudou na então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, fincou raízes na música e no esporte. Como jogador de basquete, entrou para a história da modalidade ao integrar importantes times que representaram o estado em competições nacionais. Na música, empunhou guitarra nas bandas “Cabeças Errantes” e “Cantocalismo”. Trocou o rock pesado pelo choro. A guitarra pelo violão. Ricardo é proprietário do Restaurante Veleiros, palco de muitas das conversas que viraram entrevista nas páginas do jornal Zona Sul (http://zonasulnatal.blogspot.com/) . Como não poderia deixar de ser, essa entrevista também foi gravada lá. Contou com a participação dos jornalistas Costa Júnior e Roberto Fontes, do advogado e meu irmão Ronaldo Siqueira e do amigo policial legislativo Carlos Cézar Soares. (robertohomem@gmail.com)


ZONA SUL Como foi a sua infância?

RICARDO – Fui uma criança de brincar muito na rua, com carrinho e outras brincadeiras daquele tempo. Aos 12 anos fui jogar basquete. Pratiquei esse esporte até os 37. Troquei o brinquedo pela bola de basquete. Comecei a jogar na Escola Tiradentes e depois fui para a ETFRN. Também joguei em clubes e, durante dez anos, fiz parte da Seleção do Rio Grande do Norte.

ZONA SUL – Qual a sua altura?

RICARDO – Um metro e oitenta.

ZONA SULHoje não seria uma boa altura para jogador de basquete.

RICARDONão era tão boa já naquela época. Hoje tenho um problema grande com varizes porque compensei a baixa estatura para o basquete fazendo um trabalho grande de impulsão. Cheguei a ter uma impulsão de 93 centímetros. Eu enterrava fácil, sem problemas. Disputei alguns campeonatos brasileiros.

ZONA SUL – Quais os momentos marcantes de Ricardo jogador de basquete?

RICARDOTive grandes momentos. Um deles foi a participação em um campeonato comemorativo pelo aniversário do Náutico, em Recife. Pouco tempo antes o time deles tinha sido campeão brasileiro adulto de clubes. Nosso time, a ETFRN, tinha, além de mim, Carlão – que já faleceu – e João de Deus, entre outros. Conquistamos o título em Recife e eu fui cestinha do campeonato. Eu era um ala esquerda armador. Hoje as posições não são mais definidas, até porque a estatura de um time é quase toda uniforme. O Náutico era tão favorito àquela conquista que as medalhas que recebemos no pódio depois foram recolhidas para alterar a gravação que já vinha escrita nelas: “Náutico campeão”.

ZONA SUL – Que água vocês jogaram no chope do Náutico... Foram como coadjuvantes e voltaram como protagonistas.

RICARDO Com essa equipe fomos campeões de todos os campeonatos norte-nordeste que disputamos. Também fomos vice-campeões brasileiros de escolas técnicas. Perdemos a final para Salvador, por uma diferença de três pontos. Era uma equipe muito boa. Quem conhece basquete em Natal, lembra dela.

ZONA SUL – Com tanto interesse pelo basquete, como a música conquistou espaço na sua vida?
RICARDO – Quando eu estava com 15 anos
, meu pai comprou um violão pra meu irmão, que tinha 17. Ele começou a aprender, não com papai ensinando, mas trocando informações com a garotada da rua que tocava, na Avenida 1. Quando meu irmão relaxou, comecei a olhar o violão e a tocar. Por coincidência foi na mesma época em que entrei na Escola Técnica e conheci Rosimar e Rogério Tavares, que hoje mora na Itália. A música foi ganhando espaço. Eu já devia carregar algo genético. De lá pra cá, não parei mais. O basquete esqueci há dez anos, mas a música não tem como esquecer.

ZONA SUL - Você tocou profissionalmente...

RICARDO - Toquei muito tempo, profissionalmente. Comecei quando estudava no Instituto Kennedy. Na época da inauguração daquela escola, foram comprados vários equipamentos, como guitarra, contrabaixo... Então formamos uma banda. Meu irmão, Maurício Menezes, tocava guitarra e eu, contrabaixo. Hoje meu irmão é prefeito de Poço Branco. Fiz o primeiro ano do científico no Kennedy e depois fui para a Escola Técnica. Na ETFRN conheci a galera mais pesada da época, com relação a música: Pedrinho Mendes, Sueldo Soares, Manasses Campos... Todos foram desse período. Toquei com todos eles. Como guitarrista, fiz shows com Pedrinho no auge dos carnavais de Barra de Maxaranguape. Antes disso, fiz parte da banda de rock pesado "Cabeças Errantes". Pedro Pereira e Castelo Casado, que fazia um personagem tipo hoje é o Falcão, tinham umas performances ótimas. Para você ter uma ideia, em um show Castelo Casado chegou montado em cima de uma jumenta. (risos). Isso lá no Chernobyl. Os roqueiro quiseram linchá-lo. Pense aí. Era assim: a gente tocando o maior rock and roll e ele chegava para cantar brega. O pessoal todo doido... (risos). Pedro Pereira fazia a parte cênica, de pintura.

ZONA SUL - Tinha público?

RICARDO - Tinha. O rock fez muito sucesso nos anos 80. Surgiram em Natal, na mesma época, o Cantocalismo, os Fluidos e os Cabeças Errantes. Era o tempo em que havia o Festival do Forte.

ZONA SUL - Vamos retornar mais um pouco no tempo. Antes de seu pai comprar o violão para o seu irmão você já se relacionava de alguma maneira com a música?

RICARDOEu nem ouvia música. Acho que papai ficou tão frustrado com o episódio do amigo dançando com a sua namorada que lá em casa nem sequer tinha equipamento de som. Quando comecei a tentar aprender a tocar violão eu era ajudado por um amigo de infância, Sérgio. Ele costumava participar daquelas matinês do Aero e do América, que abriam espaço para calouros. Eu pegava as músicas no violão ouvindo esse amigo cantar. Eram músicas que eu gostava: de Fagner, Zé Ramalho, Belchior e do pessoal dessa época. Depois, de tanto minha mãe insistir, meu pai comprou uma vitrolazinha daquelas que a tampa era a caixa de som. O primeiro disco que ganhei de presente foi um da banda Casa das Máquinas.

ZONA SUL - Como foi a transição da mpb para o rock?

RICARDOEla se deu quando conheci Vlamir Cruz. A mãe dele é prima do meu pai. Vlamir, na época, trabalhava embarcado no Rio. Veio para Natal trazendo instrumentos e pedais de distorção. Montamos a banda Cabeças Errantes para participar do Festival do Forte. Depois, quando Roberto Tauffic foi para a Itália, o substitui na banda Cantocalismo. O disco Rock and Roll já tinha sido gravado. Quando entrei, a banda já tinha ficado meio que comercial. Depois participei da gravação do segundo elepê, já completamente comercial, totalmente diferente do primeiro. O disco seguiu a linha daquele samba-reggae da Bahia que estava surgindo. Mas o disco não fez muito sucesso.

ZONA SUL - Nos shows dos Cabeças Errantes o público fazia muita loucura também ou era só a banda?

RICARDO - O principal era mesmo a loucura no palco. Em um festival de música da ETFRN, Pedro Pereira, do alto de uma escada, pintava uma camiseta. Toda vez que ele molhava o pincel, a lata balançava e caía tinta sobre a banda. Eu e o baterista Rildo perdemos as camisas nesse show. Ficaram estragadas por causa da tinta. Pedro Pereira tinha umas coisas engraçadas demais. Um dos poucos shows que me apresentei de baixo astral foi um que coincidiu com a morte do meu avô materno. Por eu fazer parte de uma banda de rock, muitos achavam que eu era maluco e que fumava maconha. Mas nunca enveredei para esse lado. Eu tocava e extravasava no palco pelo prazer que sentia na música. Muito do nosso comportamento no palco era espelhado no que a gente via das bandas de rock de fora. Era mais encenação. Sempre fui muito atento a ler sobre rock. Lembro que certa vez li uma entrevista do guitarrista Erick Van Halen e ele se queixava que algumas pessoas pensavam que para ser músico bastava deixar o cabelo crescer, fumar maconha e tocar uma guitarra distorcida. Ele reclamava que nunca mostravam o duro que o cara deu estudando para aprender a tocar e se aperfeiçoar no instrumento. Outro fato que contribuiu para eu nunca ter enveredado para a bebida e o vício foi o esporte. Depois de velho foi que passei a tomar cerveja. No esporte não tem lugar para a bebida.

ZONA SUL - Por que a banda Cabeças Errantes acabou?

RICARDO - Com a minha saída, a banda esfriou. Saí porque voltei a tocar violão. Comecei a pesquisar um pouco de choro, voltei ao lado mais tranquilo do instrumento. Fiz um novo tipo de pesquisa e passei a encarar novos desafios musicais. O choro é um ritmo muito rico. Carlos Zens, o flautista, nesse mesmo período tinha acabado sua faculdade em São Paulo. Estava de volta a Natal. Tínhamos feito um trabalho, eu, ele e Rogério, antes. Carlinhos voltou com a mesma ideia de tocar choro, se apresentar com música instrumental. Foi aí que passei a ser violonista. A Cabeças Errantes continuou com outros guitarristas.

ZONA SULNessa época, paralelo à música, você desenvolvia alguma outra atividade profissional?

RICARDO - Sim, fui bancário. Quando terminei o curso de saneamento, na ETFRN, fiz estágio na CAERN (Compahia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte). Depois de um ano, fui chamado para o Bandern (Banco do Estado do Rio Grande do Norte). Fiquei lá uns oito ou nove anos, até a época que fechou. Quando o banco quebrou, pedi demissão. Fui um dos primeiros. Virei comerciante.

ZONA SUL - Você estudou música ou é autodidata?

RICARDO - Sou autodidata. Não leio partituras, mas leio cifras. Tenho apenas noção da pauta de notas, não consigo ler e tocar. Acho que se eu passar um ano com ela, vou tocar. Mas eu prefiro não fazer isso. Até porque não tive esse hábito, não tive essa escola.

ZONA SUL - Para o que você se propõe a fazer como músico a leitura das cifras é suficiente?

RICARDO – É. A cifra é universal. Em qualquer canto a linguagem é uma só. Além disso, existe a facilidade. O cara trás um show pronto pra você tocar e no máximo tem uma frase onde ele escreveu um pentagrama. Mas no geral estão apenas os acordes e a divisão de ritmo.

ZONA SUL - Essa sua parceria com Carlinhos Zens rendeu o que?

RICARDO - Rendeu shows e uma ida a Itália, em 1998. Foi através de Candinha Bezerra. Pedrinho Mendes foi com a gente. Fomos participar de uma bienal que houve em Loreto, a qual Carlinhos havia sido convidado a tocar.

ZONA SUL - Qual sua impressão da Europa?

RICARDO - Eu não conhecia ainda e voltei de lá com uma impressão muito boa. Eu gostaria de ir novamente, com certeza. Uma coisa que me surpreendeu foi a educação que eles têm para ouvir música. Nossa música foi muito bem aceita. Chegar na Europa e tocar Tom Jobim e Chico Buarque é uma coisa. Chegar lá e tocar choro, é completamente diferente. Mesmo assim as pessoas pararam para ouvir. Lembro que a gente fez um show, acho que em Roma, que ao final, quando o bar fechou, o dono tinha gostado tanto que baixou as portas pra gente ficar tocando para alguns convidados.

ZONA SUL - Vocês passaram quantos dias por lá? Conseguiram dar uma escapada por outros países da Europa?

RICARDO - Foram dezoito dias só na Itália. Não deu pra escapar porque, de todo o período, ficamos oito dias exclusivamente por conta do evento. Depois ficamos o restante do tempo na casa de Rogério Tavares, que já morava na Itália, em Ímola. Ele conseguiu outras apresentações. Tocamos todos os dias que ficamos na Itália. Recebemos até cachê. Foi uma experiência legal. Fiz muitos amigos por lá. Alguns deles até já vieram a Natal. Conheci, também, brasileiros morando na Itália. De Natal, além de Rogério, Roberto Taufic também estava morando por lá. O italiano recebe com todo apreço musical aos brasileiros que chegam. É um clima de muita amizade.

ZONA SUL - Quando você foi para a Itália já era dono do Veleiros?

RICARDO - Não. Eu trabalhava na Ponta Negra Fiat.

ZONA SUL - Ao sair do Bandern você foi vender automóveis?

RICARDO - Quando saí do Bandern arrendei um maquinário de padaria e passei três anos e seis meses nesse ramo. Foi terrível. Na época do Bar do Buraco eu ia tocar - ou então ia para a farra com a minha mulher, Adenilza - e tinha que abrir a padaria às quatro da manhã. Às vezes saía do bar para a padaria direto, sem dormir. A padaria era no Alecrim. Quando me desfiz desse negócio foi que entrei na Ponta Negra Fiat. Fiquei por lá até pouco tempo depois do meu retorno da Itália. Pedi demissão quando surgiu a possiblidade de abrir o Veleiros. Eu queria abrir tipo um “Bar do Buraco. Porém, meu cunhado, Fernando, irmão de Adenilza - que entrou como sócio e passou um ano comigo - sempre ele teve restaurante e me convenceu a montar restaurante ao invés de bar. Então montamos o Veleiros com essa proposta cultural. Já estou há dez anos nessa brincadeira.

ZONA SULMuita gente boa já tocou aqui no palco do Veleiros?

RICARDO - Praticamente todos os artistas locais já passaram por aqui. Canjas de artistas de fora, foram poucas. Mas muitos vieram fazer refeições. Lenine teve por aqui, mas não deu canja. Jorge Vercillo, deu. O pessoal do Quinteto Jô Soares, que na época era Sexteto, também esteve aqui. Toninho Horta não deu canja. Cátia de França fez um show muito legal. Renato Braz deu canja. Mário Gil, que é parceiro de Renato Braz, já fez show aqui. Chico César teve por aqui. Muita gente. Até o presidente Lula esteve aqui em uma de suas campanhas.

ZONA SUL - Esses artistas quando vinham ao Veleiros sabiam que o dono do restaurante era músico?

RICARDOEm alguns casos, sim. A gente sempre apóia a realização de peças e de shows. Alguns atores e atrizes também já almoçaram por aqui.

ZONA SUL - O Veleiros também tem projetos próprios.

RICARDO - Muitos. A Bossa ainda é nova foi um deles. Fizemos também o Papary Jazz, que antes era realizado em Petrópolis, no bar de Paulinho Sarkis. A última edição foi no Veleiros. Reunia música instrumental e vocal. Até a Alcatéia Maldita se apresentou. Raul estava parado há um bocado de tempo. Vlamir era o produtor, fez o convite. Raul topou. O show dele foi maravilhoso. O “Papary Jazz” durou meses, sempre às quartas-feiras. Foram nove quartas. O público lotou. Foi uma surpresa grande, já que parte do evento era de música instrumental. Já o projeto “Quinta do Choro foi produzido por mim. Geralmente firmo parcerias com produtores musicais. Os projetos Retrovisor e o Poticanto começaram aqui. O Poticanto atualmente está com a Fundação José Augusto. Um artista canta músicas de um outro artista da terra.

ZONA SUL - Você, como músico, já se apresentou no Veleiros?

RICARDO - Já. Geralmente me apresento dando canja. Show meu, nunca fiz. Sempre acompanho alguém. Toquei muito tempo com Andrezza, toquei com Valéria Oliveira... Fiz shows com minha filha, Clara, que canta. Ela tem 17 anos. Já participou de algumas coisas comigo. Está no caminho. Toca e compõe MPB.

ZONA SUL - Você também compõe?

RICARDO - Tenho algumas coisas não mostráveis, mas tenho. (risos) A maioria é instrumental. Tenho duas parcerias com minha filha, estamos fazendo gravações caseiras. Tenho alguns projetos com ela.

ZONA SULVocê hoje se considera mais músico ou empresário do ramo da gastronomia?

RICARDO - Depois que eu abri o Veleiros as pessoas passaram a me ver muito mais como empresário do que como músico. Eu fico muito triste com isso. Prefiro que me apresentem como Ricardo Menezes, o músico, do que como Ricardo Menezes empresário.

ZONA SUL - Mas você é o atual presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

RICARDO - Como é que você descobriu isso? Como a vida é feita de desafios, esse está sendo um deles. Cada desafio que aparece, a gente tem que encarar. A Abrasel não tem fins lucrativo. Mesmo assim não é fácil trabalhar com a nossa categoria. Hoje mesmo estávamos no escritório, tentando apanhar alguns dados dos 46 associados. A secretária chegou num ponto em que não agüentou mais. Era uma pesquisa para o bem do associado, ele não gastaria nada. Teria retorno com barganha de preços, cursos, treinamento e projetos. Ainda tenho pouco menos de um ano e meio de mandato.

ZONA SUL - E a internet? Você utiliza de alguma forma?

RICARDO - Mais pelo lado profissional. Uso, por exemplo, para divulgar os eventos do restaurante, essas coisas. Mas, como músico, não tenho site. No Youtube apareço em um clipezinho caseiro, tocando com minha filha Ana Clara Menezes. Tem algumas coisas que fiz com o violonista Alexandre Atmarama, na página do Buraco da Catita no Youtube. A parceria com Alexandre foi muito boa e estamos conversando para quem sabe voltar a tocar juntos. Ele é professor da Escola de Música. Tem vídeos também com Carlos Zens.

ZONA SUL - Você nunca pensou em ser cantor, além de instrumentista?

RICARDO - Já cantei. Desisti porque me preocupo mais com a harmonia do que com o canto. Isso me faz não ter muito interesse pelo canto. Quando cantei, foi por obrigação. Passamos três anos e seis meses, eu e Carlos Zens, na praça de alimentação do Natal Shopping. Tocar choro em um shopping - e reunir um público de todas as idades durante tanto tempo - não é fácil. Depois de alguns meses, começaram a surgir bilhetinhos pedindo essa ou aquela música. Carlinhos Zens, que hoje grava cantando, naquela época não cantava. Nem eu. Resolvemos cantar algumas músicas para o pessoal que pedia. Foi a única época em que cantei. Hoje só em farra mesmo para eu cantar.

ZONA SUL - O que você costuma ouvir, atualmente?

RICARDO - Escuto Raphael Rabello, Guinga, Yamandu, Marco Pereira... São as pessoas que mais escuto. Yamandu é um show à parte. Admiro muito seu trabalho.

ZONA SULComo você analisa a freqüência no Veleiros?

RICARDO - É sazonal. Mas, como diz o matuto, a gente vai se acostumando. Confesso que hoje pra mim é gratificante ter o Veleiros. Mas passei um período, que é natural, de adaptação, onde bateram as dúvidas e o temor de que o negócio não desse certo. Ponta Negra é um bairro onde a exigência é constante. Não só por parte do turista, mas do publico local. A gastronomia hoje é vista com muito respeito. Essa é uma constatação mundial. Depois que passei a participar de eventos como feiras, encontros e congressos, inclusive os da Abrasel, percebi que não adianta ser apenas mais um. O negócio é ser diferenciado. Trabalho para buscar fazer essa diferença.

ZONA SUL - O que o cliente procura aqui no Veleiros?

RICARDO - Nosso maitre, por ser o profissional que mais diretamente lida com os clientes, está sempre atento às observações que eles fazem. Baseado também nas observações que ele faz, eu e a minha esposa procuramos transformar o Veleiros em um segmento do lar de cada um que em aqui. Procuramos buscar o lado familiar: receber bem o pai e a mãe, mas também oferecer um espaço agradável para os filhos. Foi pensando nisso que criamos um espaço infantil. Sinto orgulho de dizer que, mesmo localizado em Ponta Negra, entre 60% a 70% do público do Veleiros é natalense. Geralmente quem vem, volta. Tenho grandes amizades construídas aqui. Tem crianças que vinham com os pais, nos primórdios do Veleiros, e hoje já aparecem com seu namoradinho ou namoradinha. Faço tudo o que posso para melhorar não só para os clientes, mas também para os meus funcionários. Quero que eles também tenham uma vida digna. Tenho mais de um funcionário que está há dez anos dividindo as angústias, os prazeres e os sucessos junto comigo.

ZONA SUL - O que os turistas gostam mais do Veleiros?

RICARDOA qualidade da comida, a boa música e o ambiente descontraído e harmonioso. Aqui, por exemplo, não fazemos restrição alguma em trocar uma porção por outra, quando o cliente escolhe seu prato. Lógico que não vou tirar um camarão e botar carne. Mas no nosso cardápio é flexível. Isso é um diferencial.

ZONA SUL - Qual o prato mais requisitado do cardápio do Veleiros?

RICARDO - São os pratos com camarão. Também oferecemos carne de sol, porque muitos turistas gostam. Mas acho que carne de sol deveria ser considerado prato típico de Caicó. Natal tem que ter peixe e camarão. Natal é a terra dos frutos do mar. Nossa peixada também é muito procurada.

ZONA SUL - Quais os dias de maior movimento?

RICARDO - Sexta e sábado à noite e domingo durante o dia.

ZONA SUL - O que você planeja para sua carreira como músico e como atrações culturais para o Veleiros?

RICARDO - Quero fazer um show com a minha filha. Atualmente estou no processo de produção de um CD do senhor Antonio Emídio, que é o pai de Rogério Tavares. Ano passado fiz a produção e os arranjos, junto com Eduardo Tauffic, de um disco de bolero que ele gravou. Esse ano estamos preparando um de samba. Logo depois quero partir para o projeto com minha filha. Para o restaurante, estamos planejando abrir espaço para outras vertentes culturais. Já fizemos muitas exposições de artes plásticas e lançamentos de livros e CDs. Queremos retomar esse caminho. O Veleiros tem que continuar sendo um lugar onde a pessoa pode não apenas degustar uma boa comida, mas também ouvir música de qualidade. Essa é a proposta: harmonizar a culinária com a cultura, especialmente a música. Tenho planos também de ter um bar, voltado só para a noite. Se aparecer algum doido querendo entrar de sócio comigo, pode entrar em contato... (risos).