segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Entrevista: ABRAÃO BATISTA

NO MUNDO ENCANTADO DO CORDEL






Principal cordelista em atividade no país. Homem culto, dotado de inteligência aguçada, humanista escancarado, nacionalista empedernido e, sobretudo, um grande observador e contador de histórias. Abraão Batista é o presente de Natal que o Zona Sul trouxe para o seu leitor neste final de ano. A entrevista exclusiva, foi concedida em Belém do Pará.


Na última vez que utilizei o Google (endereço de busca na Internet) para pesquisar informações sobre Abraão Batista, encontrei 106 resultados. O primeiro deles - de um site do Graphicstudio - Institute for Research in Art, da Flórida, Estados Unidos - trata Abraão como “um dos mais famosos autores de cordel e um venerável artista do folclore nordestino brasileiro”. Em outra página, um release da Universidade de Colônia, Alemanha, anuncia a realização de uma exposição de artes plásticas, em 2001, na qual foram expostas xilogravuras de Abraão. Já a Istoé Gente dedica matéria sobre a utilização da contracapa dos cordéis de Abraão para a venda de espaço publicitário. No jornal O Mossoroense, o articulista Cid Augusto comunica que uma mesa redonda, com a participação de Abraão, debaterá o tema “Xilogravura na ilustração da literatura de cordel”. Homem importante da cultura popular, Abraão Batista participou recentemente da VIII Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém do Pará. Foi lá que o conheci. Ele procurava informações sobre o ex-presidente Juscelino Kubitschek, para servir como tema de um futuro cordel. Do bate-papo, surgiu a idéia da entrevista que você acompanha agora. (Roberto Homem)



ZONA SUL – Encontrei na Internet informações suas em páginas da Alemanha e Estados Unidos, além de dezenas de outras matérias hospedadas em provedores brasileiros. No meio de tanta informação, surgiu uma dúvida: alguns sites dizem que você nasceu em 1936, enquanto outros informam que foi em 1935. Quem tem razão?
ABRAÃO – Nasci em 1935, no dia 4 de abril. Mas alguns dos meus documentos também estão atrapalhados. Um deles diz que foi em 4 de maio. Quando eu fiz o alistamento militar, o babaca lá, anotou errado. Ainda hoje sofro com esse erro de anotação. Eu nasci em 4 de abril, mas só fui registrado, por meu pai, em 4 de maio, embora com a data certa.

ZONA SUL – Seu nascimento foi próximo da morte de duas personalidades: Padre Cícero e Lampião, muito citados no mundo do cordel. Esses acontecimentos têm alguma coisa a ver com sua paixão pelo cordel?
ABRAÃO – Não digo precisamente a morte daqueles dois. O que tem a ver é o vivencial, o cosmo, o mundo em que eu nasci e me criei. O mundo fantástico do padre Cícero, de Lampião, da justiça, da fé, das trapalhadas da polícia, dos políticos, da igreja. Morei toda a minha infância e juventude vizinho à Igreja Nossa Senhora das Dores. Ouvi missa pelo resto da vida. Sem eu querer, querendo, aprendi e convivi com aquilo tudo. Hoje sou o que sou graças a essa convivência, a esse aprendizado.

ZONA SUL – Fale um pouco sobre a visão que tem a respeito de Lampião e Padre Cícero.
ABRAÃO – São dois pontos chaves do mundo nordestino, brasileiro. Primeiro, Padre Cícero foi o maior assistente social que esse país já teve e tem. Ainda hoje ele é um assistente social, um cabo eleitoral, um conselheiro, um vértice de salvamento e esperança. É um santo para aqueles mais ingênuos. Para mim, santo mesmo só tem Deus, o resto são homens, criaturas semelhantes a nós. Já Lampião caiu no cangaço graças à injustiça social. O juiz, o delegado e os políticos daquela época deixaram que a injustiça cometida contra ele - a morte dos pais e o incêndio premeditado de sua casa - permanecesse impune.

ZONA SUL – Faça uma comparação entre a sua infância e a dos dias de hoje.
ABRAÃO – A minha infância foi uma infância fantástica do faz-de-conta, do imaginário, da felicidade. Pés descalços, só um calçãozinho... Segundo os contemporâneos, os amigos do meu pai, eu sempre fui assim vermelho, com a pele alva muito corada e os cabelos assanhados. Eu nunca levei em conta pentear o cabelo. Gosto do vento na face, no cabelo, soprando no rosto. Pra mim é uma coisa espetacular. Meu pai é do Rio Grande do Norte, de Natal, e minha mãe é de Pernambuco. Sou filho de romeiros, nascido em Juazeiro do Norte. Por essa razão me sinto obrigado a compreender a alma nordestina. A minha infância foi extraordinária, mas não vou dizer que quero voltar àquela época. Eu quero ver o que vem pela frente. O que passou, passou. Quero, desde sempre, desde quando eu me lembre, o novo. Descobrir, aprender, seguir. A meta do homem na terra é o infinito. E o infinito não se alcança nunca.

ZONA SUL – Existem registros da história da literatura de cordel, de como ela teria surgido?
ABRAÃO – Existe muita balela, muita conversa furada, muito enchimento de saco dos intelectualóides, daqueles que acham que sabem. Eu aprendi que o cordel surgiu com o próprio homem. Davi, por exemplo, foi um dos primeiros trovadores e cordelistas, mesmo sem papel e sem viola. Ele cantava o próprio criador. Quando os mouros invadiram a Europa, e lá passaram entre 600 a 800 anos, arrastaram consigo seus trovadores e poetas. Não tinham viola, não tinha papel. Hoje, se você escuta uma música espanhola ou portuguesa, você percebe a influência dos árabes. Os portugueses, quando invadiram o Brasil, trouxeram aquela herança que não é deles. Aliás, o europeu, fundamentalmente, é um assaltante, um desordeiro, um pirata. Você vê que quem inventou a pirataria em todos os setores foram os ingleses. Mas, na minha visão, o folheto, essa tradição dos trovadores, veio com os invasores, através do México, dos Andes, até chegar na Paraíba. A Paraíba é o trampolim da literatura popular brasileira para o resto do Brasil. Campina Grande, João Pessoa, Recife e finalmente Juazeiro do Norte, onde o cordel atingiu uma fase áurea com tiragens que chegaram a 40 mil exemplares por edição. No Juazeiro o cordel tomou uma conotação nacional e até universal. Então, a origem do cordel não é a que o europeu divulga e tenta impor. Ele veio com a própria humanidade. O primeiro livro escrito foi em xilogravura. Lá pelo século XIV. Eu não era nascido ainda naquele tempo, mas os estudiosos comprovaram isso. A história da terra precisa ser recontada com cuidado, com carinho e com os pés no chão, sem precisar puxar a brasa para a sardinha de qualquer um.

ZONA SUL – O mundo hoje conhece o cordel?
ABRAÃO – Como conhece! O professor Joseph Luyten, que é um holandês radicado no Brasil, professor da UsP, em São Paulo, e que passou um período no Japão, como professor em Tsukuba, em Tóquio, há mais de seis anos, disse que aquela universidade japonesa tinha uma coleção ultrapassando 3 mil cordéis. Soube através de um boliviano que trabalha para as bibliotecas de Washington e de Berlin, que o acervo de cordel em Berlin ultrapassa 25 mil exemplares.

ZONA SUL – O cordel gera muitos empregos?
ABRAÃO – Muitos empregos, não. Mas gera muita alegria, muita felicidade e muito descobrimento. É o nosso jornal, é a nossa trombeta, é o nosso palanque, é a nossa assembléia. Enquanto, no jornal, os escritores que são acadêmicos têm medo do ridículo, os cordelistas de verdade não têm esse medo. Enfim, o cordel dá mais do que emprego: dá a vida, a brasilidade e o reconhecimento do que somos.

ZONA SUL – O senhor tem um cordel publicado com tradução em inglês, como foi a experiência?
ABRAÃO – Não sei porque cargas d’águas um professor de uma universidade do sul da Flórida gostou do meu trabalho. Por intermédio de uma grande pesquisadora e incentivadora da nossa cultura, Dodora Guimarães, mulher do artista plástico Sérvulo Esmeraldo, esse professor me fez o convite para ir aos Estados Unidos. Aceitei. As passagens aéreas e a estadia no hotel Hollyday Inn foram pagas, além de um cachê de 500 dólares. Também vendi muitos cordéis lá, embora em português. Ainda nos Estados Unidos, escrevi o cordel Um brasileiro na Flórida e fiz uma xilogravura grande, quase de um metro quadrado, a qual vendi por 3 mil dólares. Eles gostaram do cordel, por sinal o primeiro cordel meu acompanhado por oito xilogravuras. Publicaram o texto em inglês, com autorização minha. Também fizeram um álbum espetacular.

ZONA SUL – E o que você achou dos Estados Unidos?
ABRAÃO - Já naquela época, isso foi em 1997, eu disse para esse professor, através da intérprete brasileira Vitória Abreu, que eu não gostaria de estar na pele do norte-americano. O americano não é flor que se cheire. Hoje nós podemos dizer que o Tio Sam pegou outro nome: FMI (Fundo Monetário Internacional). O FMI é o maior agiota da terra. Os americanos são ricos e poderosos graças ao nosso trabalho, ao nosso suor. Eles são os banqueiros, os agiotas. Ganham muito dinheiro em cima da gente. É preciso que eles entendam que é melhor ter o Brasil como companheiro, como parceiro e como amigo do que ter o nosso país como um adversário semelhante a Bin Laden. Eu não escondo, não: se mexerem com o Brasil, eu, mesmo já estando na terceira idade, pelo menos um gatilho ou um botão, aperto. Não sou de brigar frente a frente porque um cara com 1 metro e 80 me dominaria facilmente. Mas existem as ferramentas que tiram essa diferença. O que o Bush anda fazendo e o que os ingleses já fizeram no Afeganistão, na Índia, no Paquistão, tudo isso é crime. O que eles fizeram na América, também.

ZONA SUL – E o norte-americano? Ouvi você contando que sentiu falta de povo por lá...
ABRAÃO – Como senti! Eu não via o povo. Só tinha aquelas louronas, a maioria mal feitas de corpo... Mas, claro que tinha também as lourinhas bonitas, de olhos azuis. Perdoe-me a minha mulher – apesar de eu não trocá-la por um balaio daquelas americanas – mas, como poeta, não posso deixar de notar as coisas bonitas. Mas, eu passei alguns dias perguntando ao professor e aos seus assessores: cadê o povo? Eles respondiam que estava ali, na minha frente. Mas na minha visão, aquelas pessoas não eram o povo. Levaram-me para o centro da cidade, e lá avistei um cara, um louro, um coitado com uma placa na titela, com alguma coisa escrita em inglês. Traduziram que aquele cara ali tava dizendo que aceitava qualquer trabalho. Quando foi no domingo, já com a maleta pronta para voltar ao Brasil, me debrucei na sacada do hotel, e aí sim vi o povo. Alguns negros e morenos vasculhando lixo e carregando roupa suja. O égua do brasileiro vai para os Estados Unidos na doce ilusão de se dar bem e termina como escravo. Vai mesmo é pegar no pesado, fazer o tipo de serviço que o povo americano não quer mais. Ele bota o brasileiro, o mexicano, o latino, os éguas todos, os lascados, para pegar no pesado. Mas eles que tomem cuidado, porque aquele atentado das Torres Gêmeas foi um ponto referencial de uma nova era. Antes eles lutavam contra o comunismo, hoje o inimigo é o terrorismo. O problema é que o terrorismo é internacional, é como a cobra cascavel, está em todo lugar. Não tem bomba de 500 quilos que dê jeito. Pode bombardear, matar criança, velho, adolescente, arrombar tudinho, que não tem jeito.

ZONA SUL – Qual dos seus cordéis atingiu maior repercussão?
ABRAÃO – No início o que causou maior repercussão histórica e social foi O homem que deixou a mulher para viver com uma jumenta na Paraíba. Baseado em uma história real, ocorrida em junho de 1976, no sítio Lagoa do Cumbe, na Paraíba.

ZONA SUL – Você costuma levar para suas histórias personalidades ou pessoas que conhece. Desses personagens que o senhor transcreveu da vida real para o mundo do cordel o que se tornou mais famoso foi o Seu Lunga?
ABRAÃO – É, exatamente. O cordel Seu Lunga, 1º volume assanhou a sociedade leitora e assanhou os jornalistas ao ponto de canais de televisão do Ceará, como a TV Globo e outras organizações, irem a Juazeiro para entrevistar o seu Lunga e comprovar se eu falava a verdade ou não. No início, Lunga tinha pavor a mim. Dizia que eu era um mentiroso. Tive que suportar isso, mas eu nunca detratei, nem nunca vou detratar o Lunga. Eu apenas contei aquilo que o povo conta. O Lunga é uma criatura pública e notória. Os filhos dele queriam cobrar direitos autorais, ora bolas... Daí eu perguntei a eles quem tinha escrito as histórias. Falam da rainha da Inglaterra, do presidente dos Estados Unidos, do príncipe da Dinamarca, de não sei quem, de Ho-Chi-Min, então...

ZONA SUL – A família de Lampião nunca pediu...
ABRAÃO – As netas de Lampião são meio mercenárias... Meio não, são mercenárias. Não quero nem conversa com elas. Querem logo dinheiro. Mas a entrevista que Lunga deu na televisão só fez aumentar a curiosidade sobre o cordel. Então lancei o segundo volume. Depois disso, meus colegas de Fortaleza lançaram quase uma dezena, tudo simultâneo. Mas eles inventaram. Eu não invento, eu escrevo, em 32 páginas, aquilo que eu escuto do gosto popular. Não vou dizer que ele foi candidato, que tem projeto quando for prefeito... Meus colegas de Fortaleza fizeram isso. Aí sim, nesse caso, o camarada está passível de um processo.

ZONA SUL – Que outro cordel também pode ser considerado campeão de vendas?
ABRAÃO – Hoje, um cordel que chega a vender tanto quanto os de seu Lunga é O poder que o peido tem. Inclusive, eu me inspirei em dois grandes poetas de Natal: o José de Souza e o Celso da Silveira. Quer saber como foi que cheguei a escrever O poder que o peido tem? Em Brasília, eu vi o J. Borges, grande gravador, vendendo, como se fosse dele, O valor que o peido tem. Eu achava que era de J. Borges. Quando fui à uma feira de artesanato em Natal, conheci um artista, um empresário da cultura, que me disse que aquele cordel era do Celso da Silveira e do José de Souza. Esse empresário disse também que os dois pensaram em processar o J. Borges. Mas, depois de ouvirem algumas pessoas, chegaram à conclusão que era melhor deixar passar, já que o J. Borges poderia ter feito aquilo ingenuamente. Eu resolvi escrever um cordel, não com esse título, mas tendo O valor que o peido tem como catalisador. Então fiz O poder que o peido tem, diferente d’O Valor que o peido tem. Já Expedito Sebastião, que é outro cordelista, ele já morreu, escreveu As conseqüências do peido. Depois eu telefonei para Celso da Silveira e pedi autorização para editar o cordel dele e de José de Souza. Já é a segunda vez que eu faço. A tiragem é dividida, meio a meio. Também pedi a Celso que me mandasse uma foto. Com ela fiz uma xilogravura do Celso bem gordinho, está uma belezura. Depois o Celso disse: “Abraão, eu tenho aqui o cordel da bufa”. Depois que li, percebi que o cordel da bufa é muito grotesco, muito agressivo. Na minha visão, o cordel deve ser uma leitura para todos. Você não deve publicar um cordel que uma criança não possa ler ou que a deixe escandalizada ou enojada. Eu não faço isso nem que me dêem o dinheiro do mundo todo. Não que eu seja beato ou santo, mas este é meu temperamento.
ZONA SUL – Qual seu cordel favorito?
ABRAÃO – Não é favorito, mas tem um que quero muito bem. É uma lição chamada Aprenda a ser feliz. Nele a natureza me abriu as portas do grande ensinamento para a felicidade. Eu procuro, dentro da minha limitação, ensinar ao meu leitor a aprender a ser feliz. Quero muito bem a ele, embora ele nem venda muito. O vejo como um anjo. Escrevi esse cordel em Brasília. Aliás, todas as vezes que vou a Brasília ficou azougado. A energia de lá me banha, me favorece. Na penúltima vez que lá estive, escrevi cinco cordéis. Bati um recorde sem querer.

ZONA SUL – E a xilogravura?
ABRAÃO – A xilogravura está para o cordel como a fotografia está para a revista e a manchete está para o jornal. Uma é a imagem do outro. A xilogravura ajuda a vender o cordel, como a manchete e a fotografia ajudam a vender o jornal e a revista. Se você vê uma revista com uma foto bonita, ou um jornal com uma manchete atrativa, compra, mesmo sem saber o conteúdo. É o mesmo jeito com o cordel, quando você encontra uma xilogravura expressiva.

ZONA SUL – Você começou o cordel e a xilogravura na mesma época?
ABRAÃO – Comecei no mesmo momento. Eu pensava que tinha sido em 1969, mas outro dia minha mulher esclareceu. Ela lembrou que eu tinha escrito quando ela estava grávida de uma de nossas filhas. Pra você ver como a mulher tem um referencial. Por causa disso, hoje posso dar uma informação exata. Eu conhecia o mestre Nosa, e sabia que ele fazia xilogravura. Era um imaginário, um escultor de imagens de santos. Eu fui lá pedir um pedacinho de pau, ele me deu. Eu já tinha visto, várias vezes, mestre Nosa trabalhar. Quando cheguei em casa, peguei um canivete tipo corneta, que tem um aço bom, amolei, risquei a tábua, lixei e fiz. Foi a minha primeira gravura. O cara faz, sente a prática, mas aprende com o cotidiano. Meu professor foi a minha prática. É certo que eu tinha visto um grande mestre fazer. Mas o grande mestre não me deu aulas. Aliás, deu... Mas sem saber que eu estava aprendendo.

ZONA SUL – E seu trabalho como professor universitário?
ABRAÃO – Foi muito saboroso, mas também algumas vezes amargo. O brasileiro não tem a cultura de estudar. Sempre fui exigente na minha maneira de ser. Muitas vezes diziam que eu era um carcará, um bicho-papão, mas quando eles aproximavam-se de mim, terminavam confessando que pensavam que eu era de outro jeito. Quem vê cara, não vê coração. Eu não vou andar com os dentes arreganhados pra todo mundo. É bom o sujeito ter muitas amizades, mas não é bom ter amizades falsas. Senti na minha pele, desde a adolescência, o efeito e a garra da hipocrisia.

ZONA SUL – A Internet e as novas tecnologias ajudam no seu trabalho?
ABRAÃO – Como ajudam! Alguns cordelistas do Crato são bobos, dizem que têm que continuar compondo os cordéis letra por letra, porque é a tradição... Ora, quem vive de tradição é museu. O homem deve obrigatoriamente acompanhar a evolução. Esse modo de ver foi motivo de uma discussão educada que tive com um professor na 22ª Feira do Livro de Brasília. O cara, que tinha uma faixa etária semelhante a minha, chegou reclamando alto. “Ah, tão mudando a forma do cordel”. Eu não me contive, levantei-me e disse. “O senhor sabe a diferença de forma e formato? Pois tá aqui, o cordel continua com a mesma forma, a sextilha. Agora, o formato, tem que evoluir”. Ele ainda disse não sei o que e eu falei que até a máquina de escrever já tinha sido aposentada. Ele revelou que continuava escrevendo com a dele. Eu me arretei e falei: “o senhor é um saudosista. Já pensou se eu viesse lá de Juazeiro do Norte pra Brasília num carro de boi? Como é que eu ia chegar? Já pensou o senhor vestido de Luís XV com sapato alto e tudo?” Aí o camarada apertou a minha mão, disse até mais e foi embora. Desse diálogo surgiu o cordel Discussão de um cordelista com o professor Mané do Brejo.

ZONA SUL – Como o público de Natal pode ter acesso ao seu trabalho?
ABRAÃO – Não precisa você ir a Europa para comprar os cordéis de Abraão. Basta, de casa mesmo, uma telefonada, um pedido. Se não sabe usar a Internet, escreve uma cartinha, que eu atendo e mando por reembolso postal. Uma das coisas sérias que temos ainda é o Correio nacional. É facílimo.
Abraão Batista pode ser contatado pela Caixa Postal 204 – CEP 63031-200 – Juazeiro do Norte (CE) – Brasil – Telefones (88)3572-0658 ou email: artesaopadrecicero@ig.com.br

2 comentários:

  1. boa matéria com um dos mestres do cordel.

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  2. Grande mestre Abraão! Tenho orgulho de ser brasileira quando leio coisas assim!

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