terça-feira, 3 de setembro de 2013

Entrevista: Charles Dumaresq

DE MALAS PRONTAS PARA O FUTURO

Em uma das últimas tardes de julho, fui à Pastelaria do Beto - na Feira dos Importados, em Brasília (DF) – com Nicolas Gomes e o capitão Claiton “Gancho” Cardoso. Para quem não conhece, nessa feira se encontra todo tipo de bugiganga. O forte é a área de eletrônicos e informática. Nada melhor do que um ambiente desses para entrevistar o analista de tecnologia da informação Charles Dumaresq Madureira Neto. Aos 32 anos de idade, esse potiguar de Natal planeja deixar o território papa-jerimum para alçar voos mais altos em São Paulo ou Brasília. Na bagagem ele tem para mostrar a participação no site de cobertura de eventos NatalX (campeão de acessos que superou o Cabugi.com), a esquematização e colaboração na estruturação de empresas como a GESTCON (Gestão de Condomínios) e – com o parceiro Ranieri Andrade – o protagonismo no último Jailbreak. Fazer Jailbreak significa alterar o sistema operacional IOS, da Apple, para permitir aos usuários de Ipads e Iphones personalizar e instalar aplicativos livremente em seus equipamentos. Charles e Ranieri foram os responsáveis por apontar a falha de segurança que permitiu essa quebra. Agora ele está envolvido em um projeto que permite, por exemplo, que eu – morador de Brasília – tenha um ramal em Natal para receber ligações. Quem ligar para mim pagará o preço de uma ligação para telefone fixo. Mas Charles não está satisfeito, ele quer mais. Quem duvida que esse ex-gordo (chegou aos 150 quilos e hoje está com 94) conseguirá alcançar seus objetivos? Eu não. (robertohomem@gmail.com)

ZONA SUL – Como você gostaria de começar essa entrevista?
CHARLES – Lembrando um amigo, Caio César. Se estivesse vivo, seu aniversário seria hoje. Morreu de um ataque cardíaco fulminante, aos 41 anos de idade. Acordou, tomou café e depois parou.
ZONA SUL – Nós vamos conversar sobre “vida”... No caso, a sua.
CHARLES - Quando nasci, meus pais moravam no pé do morro de Mãe Luiza, onde hoje é a “Faz Propaganda”. Depois mudamos para Areia Preta, Barro Vermelho, Neópolis e Parnamirim, onde morei dez anos.
ZONA SUL – Fale sobre os seus pais.
CHARLES – Meu pai, Eugênio Sérgio Bezerra de Oliveira, é fisioterapeuta concursado da Assembleia. Era surfista, roqueiro e doidão. Meus pais separaram muito cedo. Não tenho recordação dele com a minha mãe, que sempre foi do lar. Meu avô, por parte de mãe, foi presidente do Iate Clube: Charles Dumaresq Madureira. Dele herdei o nome. Meu bisavô foi um dos fundadores da Labre (Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão). É uma associação que congrega os radioamadores. Meus avôs sempre tiveram restaurante: Iate Clube, AABB... Meu avô é responsável pelo crescimento da estrutura da Lagoa do Bonfim. Ele era dono de mais da metade daquelas terras. Ajeitou o restaurante e mandou organizar a área de piscina e de banho. Já o meu avô por parte de pai chegou a ser secretário de Finanças do Rio Grande do Norte. Ele deu uma organizada geral na parte de arrecadação de tributos. Seu nome era Francisco das Chagas. Começou como jornalista. Foi muito amigo de Agnelo e Aluízio Alves. Integrou as primeiras equipes do Diário de Natal e da Tribuna do Norte.
ZONA SUL – Como seu pai virou “doidão” e surfista sendo filho de um jornalista e secretário de Finanças?
CHARLES – Ele realmente não teve a quem puxar. Talvez seja coisa da rebeldia típica da geração anterior. Na família, sou a sucessão dele. Meu pai sempre gostou de rock, minha veia roqueira, herdei dele. Apesar das dificuldades de logística, meu pai gostava de consumir produtos de fora. Consumia fervorosamente discos e selos. Até hoje ainda mantém contato com pessoas do mundo todo devido a essa atividade como filatelista. No rock, ele gostava da rebeldia de Jim Morrison, dos The Doors, de Pink Floyd, dos Beatles... Também se ligou no surf. Naquela época, surfista era marginalizado. O curso de Fisioterapia, que ele escolheu, também não era bem visto. Meio pai sempre teve uma visão na frente das coisas.
ZONA SUL – Como seus pais se conheceram?
CHARLES – Minha mãe, na época, era estudante. Morava em frente à Igreja do Galo. Um dos nossos primos, o teatrólogo Paulo Jorge, foi quem os apresentou. Começou como amizade, depois se envolveram. Quando minha mãe engravidou de mim, tiveram que casar. Passaram um tempo juntos, mas separaram. Tempos depois, voltaram e tiveram meu irmão. Separaram novamente. É por isso que praticamente não existe, na minha memória, lembrança dos meus pais juntos. Até porque, pouco tempo depois de ter sido aprovado no concurso da Assembleia, conheceu a atual esposa dele e foi deslocado para trabalhar em Currais Novos. Está lá há mais de vinte anos. Na minha infância e adolescência, praticamente o via uma vez por mês. Hoje somos mais próximos, temos contato quase toda semana.
ZONA SUL – Onde você estudou?
CHARLES – Desde o maternal até o segundo ano do segundo grau, estudei no Auxiliadora. Antes, passei dois ou três meses no Instituto Brasil. Fiquei na Congregação Salesiana até o 2º ano do 2º grau. Estava morando em Parnamirim, o transporte era difícil e o Pré-Vestibular era à noite. Por isso troquei o Auxiliadora pelo Colégio GEO, que era mais perto e tinha um bom conceito. Fui aprovado no vestibular para Computação, mas só fiquei dois meses. Não gostei. Fui fazer cursinho no CDF. Passei novamente, dessa vez para Engenharia de Materiais. Fiquei uns três quatro anos, mas desisti. O curso não me motivou e o corpo docente também contribuiu para eu desistir. Da metade para o final eu ia para a faculdade só tomar cachaça. Então meu pai sugeriu que eu procurasse algo que quisesse fazer.
ZONA SUL – O que você escolheu?
CHARLES – Sempre cogitei estudar Administração, mas eu tinha o preconceito de que só fazia Administração o filho de um pai que fosse dono de algum negócio para ele tomar conta. Por isso não optei desde o princípio por Administração. Quando surgiu essa nova chance, resolvi arriscar. Na época eu já tinha envolvimento com o pessoal de Publicidade. O problema é que eu não tinha “feeling” para a coisa. Não combinava comigo ter sempre um cara junto, com um tridente, cutucando, cobrando criação. Eu conseguia fazer tudo, mas no meu tempo. Não gostava era da pressão. Por isso, resolvi fazer Administração e me encaminhar na área do Marketing. No meio do curso, eu já sabia que queria trabalhar fazendo um gancho entre a organização e a publicidade. Ainda cursei um ano acumulando Materiais e Administração. Depois desse período, desisti definitivamente de Engenharia de Materiais e fui fazer Administração, lá na Universidade Potiguar (UnP).
ZONA SUL – Vamos voltar um pouco no tempo, até o período do Auxiliadora. Você sofreu muito para se enquadrar em um colégio que tinha como foco a formação religiosa?
CHARLES - Sempre fui atento a questões que me trazem interrogações. E o espaço, as estrelas e a religião sempre me trouxeram interrogações. Gosto de ler sobre esses temas. Nunca fui uma pessoa 100% católica, apesar de a minha família ser. No Auxiliadora, questionava algumas coisas. Por exemplo: se Deus havia criado o homem e a mulher, por que o meu professor de religião era homossexual? Nada contra o homossexualismo, muito pelo contrário! Mas era contraditório aquele professor falar isso e aquilo e não ser um celibatário. Algumas vezes ia para a escola sentindo vontade de assistir à missa. Nessas ocasiões saía de casa mais cedo, prestava atenção à oratória do padre, tudo direitinho. Em outras ocasiões, a freira tentava obrigar todos a irem à igreja. Eu questionava. Ela dizia que era para falar com Deus. Mas eu retrucava que já tinha falado com Ele ao acordar e no caminho até a escola. Algumas vezes eu ia e, quando chegava à capela, tinha um cara que nem era o padre. Se fosse pelo menos um padre, um cara que estudou para celebrar uma missa com embasamento... Por essas e outras, não fiz primeira comunhão, mas comunguei pela primeira vez por conta própria.
ZONA SUL – E o seu relacionamento com os colegas?
CHARLES – Apesar de eu sempre ter sido gordo na vida, nunca tive problema mais grave por isso. Esse negócio de “bullying” é modismo de hoje em dia. Na época um bulia com o outro na brincadeira, sem problema. Sempre soube me adaptar. Fui gordo na paz. Não deixava que aquela zoação me desmerecesse. Ao contrário, fiz com que aquilo contribuísse para eu crescer. Hoje em dia todo mundo tira onda com esse negócio de “bullying”. Antigamente, ninguém chegava em casa chorando e dizendo para a mãe que fulano o tinha chamado de gordo, careca, cegueta (por usar óculos) ou fanho... Só está faltando inventarem a bolsa-gordo, bolsa-fanho, bolsa-tudo...
ZONA SUL – Como você emagreceu?
CHARLES – Fiz cirurgia bariátrica há sete anos. Cheguei aos 150 quilos, meço 1,80. Resolvi fazer a cirurgia quando surgiram problemas como pressão alta, tendência a diabetes, apneia no sono e o próprio cansaço. Quando trocava uma camisa, saía pingando de suor, morto de cansaço. Dois anos antes de fazer realmente a operação, comecei a pesquisar. Dieta não tinha adiantado. Minha obesidade também era hormonal, familiar... Pratiquei esportes no colégio. Fiz judô, futebol e vôlei. Sempre gostei muito de caminhar. Quando resolvi encarar a cirurgia, meu pai me aconselhou aguardar um pouco, já que aquela técnica estava apenas começando. Dois anos depois fui para a mesa de operação sabendo todo o processo.
ZONA SUL – Você sentiu muita dificuldade para se acostumar com o novo corpo?
CHARLES – Depois da cirurgia, seu estômago fica com um volume muito pequeno, de aproximadamente 50 ml. Por isso é colocado um anel no esôfago, um dosador, para evitar que grandes quantidades de comida desçam e arrebentem o estômago. É comum dar umas golfadas quando não mastiga muito ou come um bico de pão com café e aquilo ali incha. Em alguns momentos é chato, mas tudo é aprendizado no dia a dia. A pessoa tem que aprender a respeitar o seu novo organismo, que nunca mais será o mesmo. Eu fiz há sete anos e estou no meu peso normal. Cheguei a 150 quilos, mas no dia da cirurgia estava com 146. Hoje tenho 94.
ZONA SUL – Você foi bom aluno?
CHARLES – Regular. Ia para recuperação porque não admitia ter que pagar mais uma mensalidade sem estar estudando (risos). Minhas notas eram intermediárias, mas nunca fui reprovado. Mas era bem comportado. Não ficava na brincadeira, nem na baderna. Não chamava atenção para ir pra coordenação. Nunca fui expulso de sala.
ZONA SUL – E na universidade? Conseguiu fazer boas amizades?
CHARLES – Boas amizades, você sempre faz. O negócio é ver se naquele momento elas levaram você para o lugar certo. Mas foi graças a essa turma que pude crescer na vida. Na universidade aprendi como desenrolar para conseguir alguma coisa. Na federal, se você não correr atrás, ninguém vai lhe facilitar nada. Por outro lado, são inúmeras as possibilidades que vão aparecendo: é mulher, é bebida, é festa, é droga... Se você não tiver a cabeça boa, se deixa levar. Na UFRN, foi muito libertino. Era muita brincadeira, fuzarca e cachaça. Durante um ano, tenho certeza que dei um carro zero para Paulo, do Bar do Thomas. A zoação era grande. Em um dos Jogos Universitários do Rio Grande do Norte (JURN's), fomos desfilar bêbados, com dois litros de cachaça e um prato de paçoca. Um levava a bandeira, o segundo uma garrafa de cana, outro com mais uma cachaça e o seguinte com a paçoca. E o reitor lá na frente, sentado. De repente, caras de outras turmas vieram comer da paçoca, foi uma esculhambação muito grande. Daqui a pouco, quando apagaram as luzes para a passagem da tocha olímpica, uns caras correram nus para acompanhar a tocha. Foram muitas as histórias como essa.
ZONA SUL – Então conte mais uma.
CHARLES – Fui da segunda turma de Materiais da UFRN. Como só havia uma turma antes da nossa, quando entramos batemos de frente e não aceitamos ser vítimas de trote. Fizemos um acordo para nos unirmos e fazer um trote pesado com a turma que entraria no ano seguinte. Quando os calouros seguintes entraram, compramos um quilo e meio de betonita, que é uma massa usada nas paredes de buracos, para elas não caírem. Enchemos uma bacia grande com essa massa pastosa e jogamos um por um lá dentro. Depois do mergulho, eles saíam sujos dos pés à cabeça. Os cabelos das meninas duros, quase quebrando. Pegamos esse povo todo sujo, suado, feio e fedorento e levamos para pedir dinheiro no sinal. Aquilo fede que só a moléstia. Mandamos juntar dinheiro para um churrasco que seria na semana seguinte. Fizemos o tal churrasco em São José de Mipibu, na granja de um amigo. Mas distribuímos com os calouros um mapa de uma casa qualquer em São Gonçalo do Amarante. No dia recebemos várias ligações dos calouros, que não estavam encontrando a casa. Respondíamos: “é aqui, estamos todos esperando, entra na segunda rua...”. E eles rodando de um lado para o outro... A experiência na UFRN fez com que eu chegasse na UnP e desenrolasse tudo tranquilo. Foi na universidade que aprendi realmente a viver. Foi lá onde tive a formação pessoal e profissional e aprendi a correr atrás e não ficar esperando.
ZONA SUL – Na UnP você continuou com a rotina de ir para a universidade beber?
CHARLES – Não. Cheguei lá como outro aluno. Eu não queria ter amizade ou contato com ninguém. Falava extremamente o necessário, porque eu já tinha passado por esse turbilhão todo. Já sabia o que ia acontecer. Eu dizia muito: “se eu quisesse amigo ia pro shopping, vim aqui pra consumir aula, quando acabar, conversamos”. Vi vários alunos passando pelo que eu tinha passado na federal. Não haviam adquirido a bagagem e o jogo de cintura que eu havia adquirido. Devido a essa experiência, consegui tudo o que queria na particular, apenas com conversa. Eu sabia como chegar e dialogar com o professor. Sabia o que podia e o que não podia exigir, o que eles davam e o que não permitiam.
ZONA SUL – Durante o período de estudo você trabalhou?
CHARLES – Meu pai sempre disse que enquanto eu estivesse estudando, me dedicando aos estudos, não precisava ir atrás de trabalho. Eu recebia minha mesada. Fui correr atrás de trabalho quando estava saindo da federal e indo para a particular. Paguei metade do curso na UnP. A outra metade foi meu pai. A pós-graduação eu também paguei. Na UnP a minha concepção não era a mesma da maioria dos alunos. Para começar, eu tinha uma idade mais elevada que a galera que estava entrando. Eu já tinha gastado o tempo de brincar, de poder errar. Minha obrigação era fazer a coisa certa.
ZONA SUL – Em que você foi trabalhar?
CHARLES – Minha vida toda eu tinha consumido tecnologia. Meu amigo Ranieri de Lira Andrade estava nessa mesma situação. Nos unimos e criamos uma empresa de consultoria em tecnologia. Nunca precisamos correr atrás do mercado. Nos sete anos que mantivemos a empresa, o mercado nos procurou. Sempre alguém indicava o nosso trabalho. Devido a essa experiência, peguei muito da prática de organização. Como eu já estava cursando administração, pude focar na fusão da parte empresarial com a tecnológica. Eu via no ambiente corporativo o mesmo que estava estudando academicamente. Gostei principalmente da parte de planejamento estratégico e de organização. Então comecei a desviar o meu foco para isso daí. Deixei de lado o modelo de fazer as coisas brincando e investi em um formato mais profissional. Quando estabeleci essa parceria com Ranieri, ele vinha tocando com outros amigos um projeto que fez muito sucesso na Internet, o NatalX. Era um site que funcionava como um ponto de encontro da juventude potiguar. Para você ter ideia, ele teve mais acessos que o Cabugi.com
ZONA SUL – Fale um pouco sobre o NatalX e explique por que ele acabou.
CHARLES – O NatalX surgiu há uns dez anos. Foi ideia de Ranieri. Não havia aquela visão comercial ou uma busca de lucro. A intenção era aproximar as pessoas de Natal, servir como um espaço onde as pessoas poderiam se ver online. O slogan era “onde Natal se encontra”. Entrei já na fase final. Todos éramos jovens, verdinhos e o conflito de ideias fez com que o NatalX acabasse. Em determinado momento, quisemos colocar no mercado o site como sistema de comunidade. Mais ou menos o que seria o Orkut anos depois. Nós tínhamos essa ideia na cabeça, mas alguns integrantes do grupo não compartilhavam dessa visão. Queríamos pensar NatalX como marca, já que é um nome muito forte, uma marca espetacular.
ZONA SUL – Tem dono?
CHARLES – Temos ainda a patente. Tudo pago, bonitinho. Dá para fazer muita coisa com esse nome ainda. Propusemos criar a grife NatalX, dar para a galera vestir o nosso conceito. Mas alguns dentro do negócio não concordaram. Alegavam que NatalX não era o cara que estava consumindo a ideia, mas nós, os idealizadores e os que estávamos tocando o site. Da proposta de criar uma comunidade para todo mundo conversar, o máximo que conseguimos foi construir um mural. Mais do que isso não concordaram. A alegação era de que quanto mais pessoas criassem um perfil no NatalX, mais gente se sentiria dona do site. Se for parar para pensar, nossa linha era direcionar o site para o que são hoje as redes sociais. Muitos dos que naquela época batiam de frente com essa ideia, hoje pagam pau nas redes sociais. O sucesso do NatalX pegou todo mundo desprevenido. Minha participação não foi tão grande porque já entrei do meio para o final. Foi surpreendente um site formado só por criança bater em número de acessos o Cabugi.com – que tinha todo o fomento da televisão e dos principais jornais. Ganhamos até prêmio Ibest de site de entretenimento mais bem colocado. A imaturidade das pessoas fez com que se botassem os pés pelas mãos. Foi quando Ranieri, que era o detentor oficial da marca, saiu. Pedi pra sair também, saiu mais outro e se criou uma ruptura. Uma galera ainda ficou tentando manter o NatalX. Passaram uns seis meses, até que retiramos a autorização para o site funcionar e ele saiu do ar.
ZONA SUL – Como estão os planos para reutilizar a marca NatalX?
CHARLES – Tem vários projetos, mas cada coisa tem seu tempo e sua ocasião. Uma das ideias é bolar algo onde o natalense pode passar informações sobre sua cidade. Um barzinho que acha legal, um restaurante, um ponto turístico. Mais ainda: estender esse serviço para os quatro cantos do Brasil, juntar informações de natalenses espalhados pelo país. Criar essa afinidade entre os próprios natalenses. Em função de toda a tecnologia atual, a potencialidade da coisa cresceu muito mais.
ZONA SUL – Fale sobre a empresa de consultoria que você montou quando foi cursar Administração na UnP.
CHARLES – Éramos contratados para destrinchar toda a área tecnológica da empresa. Levei para sala de aula muitas dessas experiências empresariais que eu vivenciei. Eu confrontava com o que estava sendo ensinado. Ao entrar no curso, minha visão era muito ligada à tecnologia. O conhecimento que adquiri em Administração serviu para eu apresentar projetos de TI com uma visão mais abrangente e não apenas de um profissional especializado em tecnologia. Eu preferir fazer consultoria em empresas que estavam realmente começando. Eu recebia informações básicas como o tipo do negócio, a clientela em potencial, o layout pretendido e montava toda uma estratégia, agregando valor. Meu maior laboratório foi a GESTCON, que é uma empresa de gestão de condomínios. Pertence a um amigo, Leonardo Rodrigues Alves, que administrava condomínios verticais e horizontais em São Paulo, e voltou para Natal por questões familiares. Quando comecei esse trabalho, ele só tinha o local da empresa. Nem logomarca havia sido criada. Desenhamos toda a empresa, que depois de um crescimento fenomenal em cinco anos no mercado, já está consolidada. Hoje é referência na gestão de condomínios.
ZONA SUL – Como está sua vida profissional hoje?
CHARLES – Toco alguns projetos. um deles é o “Meu ramal”. É uma operadora VOIP que está funcionando em fase experimental. Queremos oferecer esse produto em todo o Brasil.
ZONA SUL – Como funciona?
CHARLES – Quando qualquer pessoa em Natal liga para o nosso número de telefone fixo (3032-9032), ela ouve uma gravação orientando a discar um número de ramal. Essa ligação é automaticamente transferida o nosso usuário que adquiriu aquele ramal. Por exemplo, uma pessoa que mora no Rio de Janeiro pode ter um ramal aqui em Natal para que seus amigos possam ligar para ele a custo de uma ligação local. Existe também a possibilidade de a pessoa adquirir um número exclusivo, sem a necessidade de passar por um ramal. Nesse caso o preço seria mais caro. Estamos viabilizando um preço acessível para tornar o serviço bem popular. A intenção é, por exemplo, chegar a 10 reais por cada ramal. Está em fase de testes há três meses. Outro detalhe é que você utilizando esse ramal pode ligar para qualquer número fixo do Brasil a custo zero. Estamos assinando um pacote que permitirá ligar para qualquer número do Brasil, inclusive celular, também pagando zero. Pegando isso e colocando no meio corporativo, aí é que é vantajoso mesmo. Imagine uma pousada, que precisa confirmar reservas, por exemplo. A um custo fixo ligaria para qualquer telefone do país sem variar seu custo. O único ponto negativo é que você não pode utilizar o serviço de VOIP como sua linha exclusiva, já que ele não funciona como telefone emergencial. Você não pode fazer ligação para números de emergência, como bombeiros ou polícia. O outro ponto é que se a Internet não estiver funcionando, você não vai ligar.
ZONA SUL – Quem se interessar em adquirir uma linha no “Meu Ramal”, como deve fazer?
CHARLES – Pode ligar para (84) 9152-1122 ou (84) 9112-7552, ambos da operadora Claro. Ou então enviar um email para charlimbraw@gmail.com . Também estou entrando em uma empresa que desenvolve aplicações para todo tipo de teleconteúdo digital. A HXD é referência no Brasil e no exterior no desenvolvimento de aplicativos interativos para múltiplas plataformas tecnológicas, tendo como ponto de convergência a televisão. Também pretendo dar um gás para ver se entro em um mestrado na USP. Quero debandar para São Paulo. Agora estou concluindo uma pós em Comunicação Digital, na UnP. Caso meu plano de morar em São Paulo não dê certo, vou tentar carreira em Brasília. Nos últimos meses coloquei na cabeça que tenho que sair de Natal de qualquer forma. A cidade é legal, é massa, mas preciso sair para poder ter um crescimento. Natal ainda é bastante provinciana e tem uma mentalidade muito fechada, tanto profissional quanto pessoal. Quero sair para poder, em outro lugar, medir de verdade o potencial que tenho. Sinto que Natal está me limitando.
ZONA SUL – Por falar em extrapolar limites, você e Ranieri colaboraram para que o último Jailbreak pudesse ser lançado...
CHARLES – Sim. Eu e Ranieri, o bat-parceiro, temos telefones da Apple desde o Iphone 2. Sempre consumimos muita tecnologia. Hoje em dia ficou fácil para o usuário fazer um Jailbreak. Basta clicar em um botão e o bicho faz sozinho. Antigamente tinha que quebrar mesmo o sistema. Era mais complicado. Foi desvendando o Iphone 2 que aprendemos tudo. Destruímos tudo mesmo. Depois que houve a atualização do IOS, logo após o penúltimo Jailbreak, continuamos lendo os fóruns, conversando, pesquisando... Passou um grande período, e nada de sair o Jailbreak. Depois de muito tempo mandamos um email apontando as brechas no sistema que utilizávamos para colocar programas de monitoramento. Eles responderam agradecendo, dizendo que a brecha era realmente válida e que tinha dado certo. O Jailbreak foi desenvolvido por eles, mas o acesso para instalar no Iphone foi fruto do nosso toque. Mesmo depois das últimas atualizações, ainda acredito que ser viável mais um ou dois Jailbreaks. Reza a lenda que é impossível, mas eu tenho um último respingo de esperança.
ZONA SUL – E a vida sentimental?
CHARLES – Estou solteiro já há muito tempo, apesar de nunca ter sido casado nem noivo. Nunca subi no altar, nem botei aliança no dedo. Mas não fico preocupado, pensando ou procurando. Deixo rolar. Agora que estou passando do meu primeiro quarto de vida, já que pretendo viver pelo menos até os 120. Quando eu passar da metade, penso nisso.
ZONA SUL – Um medo que existe hoje é de a pessoa ter seu computador, tablete, notebook ou telefone invadido. O que você recomendaria a respeito de segurança na navegação na internet?
CHARLES – O engraçado é que 90% das invasões ou roubos não são nem roubo, nem invasão. A própria pessoa revela seus segredos. A recomendação é saber o que vai falar e expor para as pessoas. O negócio é se controlar na hora de digitar. Certa ocasião, na época do Orkut, passamos uns quinze dias brincando de roubar, entre aspas, email das pessoas. Era só pensar um pouquinho para conseguir. Não precisava de nenhum conhecimento tecnológico. Nas comunidades de solteiros e solteiras do Orkut conseguíamos o email do MSN das meninas e íamos lá recuperar a senha. Pergunta secreta: qual a comida que mais gosto? Voltava para o Orkut e lá olhava as comunidades da menina: eu amo chocolate, apaixonada por lasanha... Era só usar um pouco a inteligência. Depois a pessoa reclamava que tinha sido hackeada... Nada disso, ela própria se dedurou. Uma boa dica para evitar esse tipo de problema é não se expor demais. Quanto mais se expor, mais frágil fica.
ZONA SUL – E Brasília? Você gosta da cidade?
CHARLES – Me sinto como na minha segunda casa. Sempre gostei muito de Brasília. Se eu não conseguir pegar o vínculo em São Paulo, um dos cantos que vou correr é para cá. A cidade é legal, boa pra viver. A parte verde é muito grande, isso é fantástico. A cidade é toda projetada, pensada. Às vezes confunde tantas quadras e blocos iguais. Mas aqui me sinto totalmente acolhido. Gosto também do clima: calor durante o dia e frio à noite. Na primeira vez que vim, passei uma semana. Na segunda, quinze dias. Nessa terceira já estou há mais de vinte. Na próxima serão alguns meses. Se não der certo em São Paulo, venho correndo pra cá.
ZONA SUL - Deixe um recado para o “Zona Sul”.
CHARLES – Para qualquer lugar que você se vira, hoje em dia, há uma carga infinita de informações. Por isso você tem que delimitar quais as que servem para você e quais não. É necessário usar um bom filtro, até porque grande parte daquelas informações é lixo. Outro recado tem a ver com esse período em que o povo saiu às ruas para exigir mudanças e protestar. Se você é a favor das mudanças, comece tentando mudar a si próprio. Não adianta estar nas ruas gritando e protestando se você chega em casa e comete os mesmos pecados que criticou. Por fim, uma frase: não acredite em tudo que você lê, que você vê e que você ouve, tudo na vida é uma Matrix. Valeu.
 

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