DE
MALAS PRONTAS PARA O FUTURO
Em
uma das últimas tardes de julho, fui à Pastelaria do Beto - na Feira dos
Importados, em Brasília (DF) – com Nicolas Gomes e o capitão Claiton “Gancho”
Cardoso. Para quem não conhece, nessa feira se encontra todo tipo de bugiganga.
O forte é a área de eletrônicos e informática. Nada melhor do que um ambiente
desses para entrevistar o analista de tecnologia da informação Charles Dumaresq
Madureira Neto. Aos 32 anos de idade, esse potiguar de Natal planeja deixar o
território papa-jerimum para alçar voos mais altos em São Paulo ou Brasília. Na
bagagem ele tem para mostrar a participação no site de cobertura de eventos
NatalX (campeão de acessos que superou o Cabugi.com), a esquematização e
colaboração na estruturação de empresas como a GESTCON (Gestão de Condomínios)
e – com o parceiro Ranieri Andrade – o protagonismo no último Jailbreak. Fazer Jailbreak
significa alterar o sistema operacional IOS, da Apple, para permitir aos
usuários de Ipads e Iphones personalizar e instalar aplicativos livremente em
seus equipamentos. Charles e Ranieri foram os responsáveis por apontar a falha
de segurança que permitiu essa quebra. Agora ele está envolvido em um projeto
que permite, por exemplo, que eu – morador de Brasília – tenha um ramal em
Natal para receber ligações. Quem ligar para mim pagará o preço de uma ligação
para telefone fixo. Mas Charles não está satisfeito, ele quer mais. Quem duvida
que esse ex-gordo (chegou aos 150 quilos e hoje está com 94) conseguirá
alcançar seus objetivos? Eu não. (robertohomem@gmail.com)
ZONA SUL – Como você
gostaria de começar essa entrevista?
CHARLES – Lembrando um
amigo, Caio César. Se estivesse vivo, seu aniversário seria hoje. Morreu de um
ataque cardíaco fulminante, aos 41 anos de idade. Acordou, tomou café e depois
parou.
ZONA SUL – Nós vamos
conversar sobre “vida”... No caso, a sua.
CHARLES - Quando nasci,
meus pais moravam no pé do morro de Mãe Luiza, onde hoje é a “Faz Propaganda”. Depois
mudamos para Areia Preta, Barro Vermelho, Neópolis e Parnamirim, onde morei dez
anos.
ZONA SUL – Fale sobre os
seus pais.
CHARLES – Meu pai,
Eugênio Sérgio Bezerra de Oliveira, é fisioterapeuta concursado da Assembleia.
Era surfista, roqueiro e doidão. Meus pais separaram muito cedo. Não tenho
recordação dele com a minha mãe, que sempre foi do lar. Meu avô, por parte de
mãe, foi presidente do Iate Clube: Charles Dumaresq Madureira. Dele herdei o
nome. Meu bisavô foi um dos fundadores da Labre (Liga de Amadores Brasileiros
de Rádio Emissão). É uma associação que congrega os radioamadores. Meus avôs
sempre tiveram restaurante: Iate Clube, AABB... Meu avô é responsável pelo
crescimento da estrutura da Lagoa do Bonfim. Ele era dono de mais da metade daquelas
terras. Ajeitou o restaurante e mandou organizar a área de piscina e de banho. Já
o meu avô por parte de pai chegou a ser secretário de Finanças do Rio Grande do
Norte. Ele deu uma organizada geral na parte de arrecadação de tributos. Seu
nome era Francisco das Chagas. Começou como jornalista. Foi muito amigo de
Agnelo e Aluízio Alves. Integrou as primeiras equipes do Diário de Natal e da
Tribuna do Norte.
ZONA SUL – Como seu pai
virou “doidão” e surfista sendo filho de um jornalista e secretário de
Finanças?
CHARLES – Ele realmente
não teve a quem puxar. Talvez seja coisa da rebeldia típica da geração
anterior. Na família, sou a sucessão dele. Meu pai sempre gostou de rock, minha
veia roqueira, herdei dele. Apesar das dificuldades de logística, meu pai
gostava de consumir produtos de fora. Consumia fervorosamente discos e selos. Até
hoje ainda mantém contato com pessoas do mundo todo devido a essa atividade
como filatelista. No rock, ele gostava da rebeldia de Jim Morrison, dos The
Doors, de Pink Floyd, dos Beatles... Também se ligou no surf. Naquela época,
surfista era marginalizado. O curso de Fisioterapia, que ele escolheu, também
não era bem visto. Meio pai sempre teve uma visão na frente das coisas.
ZONA SUL – Como seus
pais se conheceram?
CHARLES – Minha mãe, na
época, era estudante. Morava em frente à Igreja do Galo. Um dos nossos primos,
o teatrólogo Paulo Jorge, foi quem os apresentou. Começou como amizade, depois
se envolveram. Quando minha mãe engravidou de mim, tiveram que casar. Passaram
um tempo juntos, mas separaram. Tempos depois, voltaram e tiveram meu irmão.
Separaram novamente. É por isso que praticamente não existe, na minha memória,
lembrança dos meus pais juntos. Até porque, pouco tempo depois de ter sido
aprovado no concurso da Assembleia, conheceu a atual esposa dele e foi
deslocado para trabalhar em Currais Novos. Está lá há mais de vinte anos. Na
minha infância e adolescência, praticamente o via uma vez por mês. Hoje somos
mais próximos, temos contato quase toda semana.
ZONA SUL – Onde você
estudou?
CHARLES – Desde o
maternal até o segundo ano do segundo grau, estudei no Auxiliadora. Antes,
passei dois ou três meses no Instituto Brasil. Fiquei na Congregação Salesiana
até o 2º ano do 2º grau. Estava morando em Parnamirim, o transporte era difícil
e o Pré-Vestibular era à noite. Por isso troquei o Auxiliadora pelo Colégio
GEO, que era mais perto e tinha um bom conceito. Fui aprovado no vestibular
para Computação, mas só fiquei dois meses. Não gostei. Fui fazer cursinho no
CDF. Passei novamente, dessa vez para Engenharia de Materiais. Fiquei uns três
quatro anos, mas desisti. O curso não me motivou e o corpo docente também contribuiu
para eu desistir. Da metade para o final eu ia para a faculdade só tomar
cachaça. Então meu pai sugeriu que eu procurasse algo que quisesse fazer.
ZONA SUL – O que você
escolheu?
CHARLES – Sempre
cogitei estudar Administração, mas eu tinha o preconceito de que só fazia Administração o filho de um pai que fosse dono de algum negócio para ele tomar
conta. Por isso não optei desde o princípio por Administração. Quando surgiu
essa nova chance, resolvi arriscar. Na época eu já tinha envolvimento com o
pessoal de Publicidade. O problema é que eu não tinha “feeling” para a coisa.
Não combinava comigo ter sempre um cara junto, com um tridente, cutucando,
cobrando criação. Eu conseguia fazer tudo, mas no meu tempo. Não gostava era da
pressão. Por isso, resolvi fazer Administração e me encaminhar na área do Marketing.
No meio do curso, eu já sabia que queria trabalhar fazendo um gancho entre a
organização e a publicidade. Ainda cursei um ano acumulando Materiais e
Administração. Depois desse período, desisti definitivamente de Engenharia de
Materiais e fui fazer Administração, lá na Universidade Potiguar (UnP).
ZONA SUL – Vamos voltar
um pouco no tempo, até o período do Auxiliadora. Você sofreu muito para se
enquadrar em um colégio que tinha como foco a formação religiosa?
CHARLES - Sempre fui
atento a questões que me trazem interrogações. E o espaço, as estrelas e a religião
sempre me trouxeram interrogações. Gosto de ler sobre esses temas. Nunca fui
uma pessoa 100% católica, apesar de a minha família ser. No Auxiliadora, questionava
algumas coisas. Por exemplo: se Deus havia criado o homem e a mulher, por que o
meu professor de religião era homossexual? Nada contra o homossexualismo, muito
pelo contrário! Mas era contraditório aquele professor falar isso e aquilo e
não ser um celibatário. Algumas vezes ia para a escola sentindo vontade de
assistir à missa. Nessas ocasiões saía de casa mais cedo, prestava atenção à
oratória do padre, tudo direitinho. Em outras ocasiões, a freira tentava
obrigar todos a irem à igreja. Eu questionava. Ela dizia que era para falar com
Deus. Mas eu retrucava que já tinha falado com Ele ao acordar e no caminho até
a escola. Algumas vezes eu ia e, quando chegava à capela, tinha um cara que nem
era o padre. Se fosse pelo menos um padre, um cara que estudou para celebrar
uma missa com embasamento... Por essas e outras, não fiz primeira comunhão, mas
comunguei pela primeira vez por conta própria.
ZONA SUL – E o seu relacionamento
com os colegas?
CHARLES – Apesar de eu
sempre ter sido gordo na vida, nunca tive problema mais grave por isso. Esse negócio de “bullying” é modismo de hoje em dia. Na época um bulia com o outro
na brincadeira, sem problema. Sempre soube me adaptar. Fui gordo na paz. Não
deixava que aquela zoação me desmerecesse. Ao contrário, fiz com que aquilo
contribuísse para eu crescer. Hoje em dia todo mundo tira onda com esse negócio
de “bullying”. Antigamente, ninguém chegava em casa chorando e dizendo para a
mãe que fulano o tinha chamado de gordo, careca, cegueta (por usar óculos) ou fanho...
Só está faltando inventarem a bolsa-gordo, bolsa-fanho, bolsa-tudo...
ZONA SUL – Como você emagreceu?
CHARLES – Fiz cirurgia
bariátrica há sete anos. Cheguei aos 150 quilos, meço 1,80. Resolvi fazer a
cirurgia quando surgiram problemas como pressão alta, tendência a diabetes,
apneia no sono e o próprio cansaço. Quando trocava uma camisa, saía pingando de
suor, morto de cansaço. Dois anos antes de fazer realmente a operação, comecei
a pesquisar. Dieta não tinha adiantado. Minha obesidade também era hormonal,
familiar... Pratiquei esportes no colégio. Fiz judô, futebol e vôlei. Sempre
gostei muito de caminhar. Quando resolvi encarar a cirurgia, meu pai me
aconselhou aguardar um pouco, já que aquela técnica estava apenas começando. Dois
anos depois fui para a mesa de operação sabendo todo o processo.
ZONA SUL – Você sentiu
muita dificuldade para se acostumar com o novo corpo?
CHARLES – Depois da
cirurgia, seu estômago fica com um volume muito pequeno, de aproximadamente 50
ml. Por isso é colocado um anel no esôfago, um dosador, para evitar que grandes
quantidades de comida desçam e arrebentem o estômago. É comum dar umas golfadas
quando não mastiga muito ou come um bico de pão com café e aquilo ali incha. Em
alguns momentos é chato, mas tudo é aprendizado no dia a dia. A pessoa tem que
aprender a respeitar o seu novo organismo, que nunca mais será o mesmo. Eu fiz
há sete anos e estou no meu peso normal. Cheguei a 150 quilos, mas no dia da
cirurgia estava com 146. Hoje tenho 94.
ZONA SUL – Você foi bom
aluno?
CHARLES – Regular. Ia
para recuperação porque não admitia ter que pagar mais uma mensalidade sem
estar estudando (risos). Minhas notas eram intermediárias, mas nunca fui reprovado.
Mas era bem comportado. Não ficava na brincadeira, nem na baderna. Não chamava
atenção para ir pra coordenação. Nunca fui expulso de sala.
ZONA SUL – E na
universidade? Conseguiu fazer boas amizades?
CHARLES – Boas amizades,
você sempre faz. O negócio é ver se naquele momento elas levaram você para o
lugar certo. Mas foi graças a essa turma que pude crescer na vida. Na
universidade aprendi como desenrolar para conseguir alguma coisa. Na federal,
se você não correr atrás, ninguém vai lhe facilitar nada. Por outro lado, são
inúmeras as possibilidades que vão aparecendo: é mulher, é bebida, é festa, é
droga... Se você não tiver a cabeça boa, se deixa levar. Na UFRN, foi muito
libertino. Era muita brincadeira, fuzarca e cachaça. Durante um ano, tenho
certeza que dei um carro zero para Paulo, do Bar do Thomas. A zoação era grande.
Em um dos Jogos Universitários do Rio Grande do Norte (JURN's), fomos desfilar
bêbados, com dois litros de cachaça e um prato de paçoca. Um levava a bandeira,
o segundo uma garrafa de cana, outro com mais uma cachaça e o seguinte com a
paçoca. E o reitor lá na frente, sentado. De repente, caras de outras turmas
vieram comer da paçoca, foi uma esculhambação muito grande. Daqui a pouco,
quando apagaram as luzes para a passagem da tocha olímpica, uns caras correram
nus para acompanhar a tocha. Foram muitas as histórias como essa.
ZONA SUL – Então conte
mais uma.
CHARLES – Fui da
segunda turma de Materiais da UFRN. Como só havia uma turma antes da nossa, quando
entramos batemos de frente e não aceitamos ser vítimas de trote. Fizemos um
acordo para nos unirmos e fazer um trote pesado com a turma que entraria no ano
seguinte. Quando os calouros seguintes entraram, compramos um quilo e meio de
betonita, que é uma massa usada nas paredes de buracos, para elas não caírem.
Enchemos uma bacia grande com essa massa pastosa e jogamos um por um lá dentro.
Depois do mergulho, eles saíam sujos dos pés à cabeça. Os cabelos das meninas
duros, quase quebrando. Pegamos esse povo todo sujo, suado, feio e fedorento e
levamos para pedir dinheiro no sinal. Aquilo fede que só a moléstia. Mandamos
juntar dinheiro para um churrasco que seria na semana seguinte. Fizemos o tal
churrasco em São José de Mipibu, na granja de um amigo. Mas distribuímos com os
calouros um mapa de uma casa qualquer em São Gonçalo do Amarante. No dia
recebemos várias ligações dos calouros, que não estavam encontrando a casa. Respondíamos:
“é aqui, estamos todos esperando, entra na segunda rua...”. E eles rodando de
um lado para o outro... A experiência na UFRN fez com que eu chegasse na UnP e
desenrolasse tudo tranquilo. Foi na universidade que aprendi realmente a viver.
Foi lá onde tive a formação pessoal e profissional e aprendi a correr atrás e
não ficar esperando.
ZONA SUL – Na UnP você
continuou com a rotina de ir para a universidade beber?
CHARLES – Não. Cheguei
lá como outro aluno. Eu não queria ter amizade ou contato com ninguém. Falava
extremamente o necessário, porque eu já tinha passado por esse turbilhão todo.
Já sabia o que ia acontecer. Eu dizia muito: “se eu quisesse amigo ia pro
shopping, vim aqui pra consumir aula, quando acabar, conversamos”. Vi vários
alunos passando pelo que eu tinha passado na federal. Não haviam adquirido a
bagagem e o jogo de cintura que eu havia adquirido. Devido a essa experiência,
consegui tudo o que queria na particular, apenas com conversa. Eu sabia como
chegar e dialogar com o professor. Sabia o que podia e o que não podia exigir,
o que eles davam e o que não permitiam.
ZONA SUL – Durante o
período de estudo você trabalhou?
CHARLES – Meu pai
sempre disse que enquanto eu estivesse estudando, me dedicando aos estudos, não
precisava ir atrás de trabalho. Eu recebia minha mesada. Fui correr atrás de
trabalho quando estava saindo da federal e indo para a particular. Paguei
metade do curso na UnP. A outra metade foi meu pai. A pós-graduação eu também
paguei. Na UnP a minha concepção não era a mesma da maioria dos alunos. Para
começar, eu tinha uma idade mais elevada que a galera que estava entrando. Eu
já tinha gastado o tempo de brincar, de poder errar. Minha obrigação era fazer
a coisa certa.
ZONA SUL – Em que você
foi trabalhar?
CHARLES – Minha vida
toda eu tinha consumido tecnologia. Meu amigo Ranieri de Lira Andrade estava nessa mesma situação. Nos unimos e criamos uma empresa de consultoria em
tecnologia. Nunca precisamos correr atrás do mercado. Nos sete anos que
mantivemos a empresa, o mercado nos procurou. Sempre alguém indicava o nosso
trabalho. Devido a essa experiência, peguei muito da prática de organização.
Como eu já estava cursando administração, pude focar na fusão da parte
empresarial com a tecnológica. Eu via no ambiente corporativo o mesmo que
estava estudando academicamente. Gostei principalmente da parte de planejamento
estratégico e de organização. Então comecei a desviar o meu foco para isso daí.
Deixei de lado o modelo de fazer as coisas brincando e investi em um formato mais
profissional. Quando estabeleci essa parceria com Ranieri, ele vinha tocando
com outros amigos um projeto que fez muito sucesso na Internet, o NatalX. Era
um site que funcionava como um ponto de encontro da juventude potiguar. Para
você ter ideia, ele teve mais acessos que o Cabugi.com
ZONA SUL – Fale um pouco
sobre o NatalX e explique por que ele acabou.
CHARLES – O NatalX
surgiu há uns dez anos. Foi ideia de Ranieri. Não havia aquela visão comercial
ou uma busca de lucro. A intenção era aproximar as pessoas de Natal, servir
como um espaço onde as pessoas poderiam se ver online. O slogan era “onde Natal
se encontra”. Entrei já na fase final. Todos éramos jovens, verdinhos e o
conflito de ideias fez com que o NatalX acabasse. Em determinado momento, quisemos
colocar no mercado o site como sistema de comunidade. Mais ou menos o que seria
o Orkut anos depois. Nós tínhamos essa ideia na cabeça, mas alguns integrantes
do grupo não compartilhavam dessa visão. Queríamos pensar NatalX como marca, já
que é um nome muito forte, uma marca espetacular.
ZONA SUL – Tem dono?
CHARLES – Temos ainda a
patente. Tudo pago, bonitinho. Dá para fazer muita coisa com esse nome ainda. Propusemos
criar a grife NatalX, dar para a galera vestir o nosso conceito. Mas alguns dentro
do negócio não concordaram. Alegavam que NatalX não era o cara que estava
consumindo a ideia, mas nós, os idealizadores e os que estávamos tocando o
site. Da proposta de criar uma comunidade para todo mundo conversar, o máximo
que conseguimos foi construir um mural. Mais do que isso não concordaram. A
alegação era de que quanto mais pessoas criassem um perfil no NatalX, mais gente
se sentiria dona do site. Se for parar para pensar, nossa linha era direcionar
o site para o que são hoje as redes sociais. Muitos dos que naquela época batiam
de frente com essa ideia, hoje pagam pau nas redes sociais. O sucesso do NatalX
pegou todo mundo desprevenido. Minha participação não foi tão grande porque já
entrei do meio para o final. Foi surpreendente um site formado só por criança
bater em número de acessos o Cabugi.com – que tinha todo o fomento da televisão
e dos principais jornais. Ganhamos até prêmio Ibest de site de entretenimento
mais bem colocado. A imaturidade das pessoas fez com que se botassem os pés
pelas mãos. Foi quando Ranieri, que era o detentor oficial da marca, saiu. Pedi
pra sair também, saiu mais outro e se criou uma ruptura. Uma galera ainda ficou
tentando manter o NatalX. Passaram uns seis meses, até que retiramos a
autorização para o site funcionar e ele saiu do ar.
ZONA SUL – Como estão os
planos para reutilizar a marca NatalX?
CHARLES – Tem vários
projetos, mas cada coisa tem seu tempo e sua ocasião. Uma das ideias é bolar
algo onde o natalense pode passar informações sobre sua cidade. Um barzinho que
acha legal, um restaurante, um ponto turístico. Mais ainda: estender esse
serviço para os quatro cantos do Brasil, juntar informações de natalenses
espalhados pelo país. Criar essa afinidade entre os próprios natalenses. Em
função de toda a tecnologia atual, a potencialidade da coisa cresceu muito
mais.
ZONA SUL – Fale sobre a
empresa de consultoria que você montou quando foi cursar Administração na UnP.
CHARLES – Éramos contratados
para destrinchar toda a área tecnológica da empresa. Levei para sala de aula muitas
dessas experiências empresariais que eu vivenciei. Eu confrontava com o que
estava sendo ensinado. Ao entrar no curso, minha visão era muito ligada à
tecnologia. O conhecimento que adquiri em Administração serviu para eu
apresentar projetos de TI com uma visão mais abrangente e não apenas de um
profissional especializado em tecnologia. Eu preferir fazer consultoria em empresas
que estavam realmente começando. Eu recebia informações básicas como o tipo do
negócio, a clientela em potencial, o layout pretendido e montava toda uma
estratégia, agregando valor. Meu maior laboratório foi a GESTCON, que é uma
empresa de gestão de condomínios. Pertence a um amigo, Leonardo Rodrigues
Alves, que administrava condomínios verticais e horizontais em São Paulo, e
voltou para Natal por questões familiares. Quando comecei esse trabalho, ele só
tinha o local da empresa. Nem logomarca havia sido criada. Desenhamos toda a
empresa, que depois de um crescimento fenomenal em cinco anos no mercado, já
está consolidada. Hoje é referência na gestão de condomínios.
ZONA SUL – Como está sua
vida profissional hoje?
CHARLES – Toco alguns projetos.
um deles é o “Meu ramal”. É uma operadora VOIP que está funcionando em fase
experimental. Queremos oferecer esse produto em todo o Brasil.
ZONA SUL – Como
funciona?
CHARLES – Quando
qualquer pessoa em Natal liga para o nosso número de telefone fixo (3032-9032),
ela ouve uma gravação orientando a discar um número de ramal. Essa ligação é
automaticamente transferida o nosso usuário que adquiriu aquele ramal. Por
exemplo, uma pessoa que mora no Rio de Janeiro pode ter um ramal aqui em Natal
para que seus amigos possam ligar para ele a custo de uma ligação local. Existe
também a possibilidade de a pessoa adquirir um número exclusivo, sem a
necessidade de passar por um ramal. Nesse caso o preço seria mais caro. Estamos
viabilizando um preço acessível para tornar o serviço bem popular. A intenção
é, por exemplo, chegar a 10 reais por cada ramal. Está em fase de testes há
três meses. Outro detalhe é que você utilizando esse ramal pode ligar para
qualquer número fixo do Brasil a custo zero. Estamos assinando um pacote que
permitirá ligar para qualquer número do Brasil, inclusive celular, também
pagando zero. Pegando isso e colocando no meio corporativo, aí é que é
vantajoso mesmo. Imagine uma pousada, que precisa confirmar reservas, por
exemplo. A um custo fixo ligaria para qualquer telefone do país sem variar seu
custo. O único ponto negativo é que você não pode utilizar o serviço de VOIP
como sua linha exclusiva, já que ele não funciona como telefone emergencial.
Você não pode fazer ligação para números de emergência, como bombeiros ou
polícia. O outro ponto é que se a Internet não estiver funcionando, você não
vai ligar.
ZONA SUL – Quem se
interessar em adquirir uma linha no “Meu Ramal”, como deve fazer?
CHARLES – Pode ligar
para (84) 9152-1122 ou (84) 9112-7552, ambos da operadora Claro. Ou então
enviar um email para charlimbraw@gmail.com . Também estou
entrando em uma empresa que desenvolve aplicações para todo tipo de
teleconteúdo digital. A HXD é referência no Brasil e no exterior no
desenvolvimento de aplicativos interativos para múltiplas plataformas
tecnológicas, tendo como ponto de convergência a televisão. Também pretendo dar
um gás para ver se entro em um mestrado na USP. Quero debandar para São Paulo. Agora
estou concluindo uma pós em Comunicação Digital, na UnP. Caso meu plano de
morar em São Paulo não dê certo, vou tentar carreira em Brasília. Nos últimos
meses coloquei na cabeça que tenho que sair de Natal de qualquer forma. A
cidade é legal, é massa, mas preciso sair para poder ter um crescimento. Natal
ainda é bastante provinciana e tem uma mentalidade muito fechada, tanto
profissional quanto pessoal. Quero sair para poder, em outro lugar, medir de
verdade o potencial que tenho. Sinto que Natal está me limitando.
ZONA SUL – Por falar em
extrapolar limites, você e Ranieri colaboraram para que o último Jailbreak
pudesse ser lançado...
CHARLES – Sim. Eu e
Ranieri, o bat-parceiro, temos telefones da Apple desde o Iphone 2. Sempre consumimos
muita tecnologia. Hoje em dia ficou fácil para o usuário fazer um Jailbreak. Basta
clicar em um botão e o bicho faz sozinho. Antigamente tinha que quebrar mesmo o
sistema. Era mais complicado. Foi desvendando o Iphone 2 que aprendemos tudo.
Destruímos tudo mesmo. Depois que houve a atualização do IOS, logo após o
penúltimo Jailbreak, continuamos lendo os fóruns, conversando, pesquisando...
Passou um grande período, e nada de sair o Jailbreak. Depois de muito tempo
mandamos um email apontando as brechas no sistema que utilizávamos para colocar
programas de monitoramento. Eles responderam agradecendo, dizendo que a brecha
era realmente válida e que tinha dado certo. O Jailbreak foi desenvolvido por
eles, mas o acesso para instalar no Iphone foi fruto do nosso toque. Mesmo
depois das últimas atualizações, ainda acredito que ser viável mais um ou dois
Jailbreaks. Reza a lenda que é impossível, mas eu tenho um último respingo de
esperança.
ZONA SUL – E a vida
sentimental?
CHARLES – Estou
solteiro já há muito tempo, apesar de nunca ter sido casado nem noivo. Nunca
subi no altar, nem botei aliança no dedo. Mas não fico preocupado, pensando ou
procurando. Deixo rolar. Agora que estou passando do meu primeiro quarto de
vida, já que pretendo viver pelo menos até os 120. Quando eu passar da metade,
penso nisso.
ZONA SUL – Um medo que
existe hoje é de a pessoa ter seu computador, tablete, notebook ou telefone
invadido. O que você recomendaria a respeito de segurança na navegação na internet?
CHARLES – O engraçado é
que 90% das invasões ou roubos não são nem roubo, nem invasão. A própria pessoa
revela seus segredos. A recomendação é saber o que vai falar e expor para as
pessoas. O negócio é se controlar na hora de digitar. Certa ocasião, na época
do Orkut, passamos uns quinze dias brincando de roubar, entre aspas, email das
pessoas. Era só pensar um pouquinho para conseguir. Não precisava de nenhum conhecimento
tecnológico. Nas comunidades de solteiros e solteiras do Orkut conseguíamos o email
do MSN das meninas e íamos lá recuperar a senha. Pergunta secreta: qual a
comida que mais gosto? Voltava para o Orkut e lá olhava as comunidades da
menina: eu amo chocolate, apaixonada por lasanha... Era só usar um pouco a
inteligência. Depois a pessoa reclamava que tinha sido hackeada... Nada disso,
ela própria se dedurou. Uma boa dica para evitar esse tipo de problema é não se
expor demais. Quanto mais se expor, mais frágil fica.
ZONA SUL – E Brasília? Você
gosta da cidade?
CHARLES – Me sinto como
na minha segunda casa. Sempre gostei muito de Brasília. Se eu não conseguir pegar o vínculo em São Paulo, um dos cantos que vou correr é para cá. A cidade
é legal, boa pra viver. A parte verde é muito grande, isso é fantástico. A
cidade é toda projetada, pensada. Às vezes confunde tantas quadras e blocos
iguais. Mas aqui me sinto totalmente acolhido. Gosto também do clima: calor
durante o dia e frio à noite. Na primeira vez que vim, passei uma semana. Na
segunda, quinze dias. Nessa terceira já estou há mais de vinte. Na próxima
serão alguns meses. Se não der certo em São Paulo, venho correndo pra cá.
ZONA SUL - Deixe um
recado para o “Zona Sul”.
CHARLES – Para qualquer
lugar que você se vira, hoje em dia, há uma carga infinita de informações. Por
isso você tem que delimitar quais as que servem para você e quais não. É
necessário usar um bom filtro, até porque grande parte daquelas informações é
lixo. Outro recado tem a ver com esse período em que o povo saiu às ruas para
exigir mudanças e protestar. Se você é a favor das mudanças, comece tentando
mudar a si próprio. Não adianta estar nas ruas gritando e protestando se você
chega em casa e comete os mesmos pecados que criticou. Por fim, uma frase: não
acredite em tudo que você lê, que você vê e que você ouve, tudo na vida é uma Matrix.
Valeu.
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